Quem é gabriela hardt

Quando deixou a 13ª Vara Federal em Curitiba para assumir o superministério de Jair Bolsonaro, Sergio Moro deixou mais que uma substituta em seu lugar. O breve histórico da juíza Gabriela Hardt mostra que ela era uma executora de ordens do ex-juiz e dos procuradores da Lava Jato paranaense.

O caso mais famoso envolve uma acusação de ter feito “Ctrl C + Ctrl V” em uma decisão contra Lula – ela copiou a sentença de Moro sobre o triplex e a replicou em sua decisão sobre o sítio de Atibaia. A afinidade é tanta que, entre os procuradores da Lava Jato, conforme mostram mensagens obtidas pela Operação Spoofing, ela ganhou um apelido que faz referência ao padrinho: Russa.

Russo é o apelido do ex-juiz Moro dentro dos grupos de Telegram dos procuradores da Lava Jato. A justiça parcial e pessoal do ex-juiz era “o CPP de Russo”: um Código de Processo Penal próprio cuja “expressão era usada pela ‘lava jato’ para designar sabida inobservância do Direito posto em relação ao Reclamante”, segundo argumenta a defesa de Lula na petição que traz os novos diálogos obtidos na Spoofing.

Ou seja, coube a Hardt seguir aplicando o “CPP do Russo” nos casos envolvendo o ex-presidente, em flagrante ilegalidade e prática de lawfare. O “CPP” de Moro, vale lembrar, incluía grampos ilegais da defesa do petista, condenação sem provas e interferência direta na procuradoria, incluindo orientação de denúncia.

Nas conversas, Deltan Dallagnol e aliados comemoraram quando Hardt foi indicada como a juíza interina da Vara federal.

Deltan: “Russa: Só pra registro, Malucelli me disse que pretendem votar a remocao em 8 de fevereiro. Bonat está convocado até 19 de fevereiro e pretende tirar uns dias de ferias antes de vir. Devo ficar até o final de fevereiro pelo menos”.

Julio Noronha: “Excelente!! Pelo menos até o final de fevereiro”.

A proximidade foi tanta que Deltan literalmente orientou como Hardt – ou Russa – deveria trabalhar e quais processos deveria priorizar. Do alto de sua boa vontade, ele criou uma planilha no Google para “ajudar” a juíza.

“Gente, importante: 1) Gabriela não sabe o que é prioridade. Há 500 processos com despacho pendentes e não sabe o que olhar. Combinei de criarmos uma planilha google e colocarmos o que é prioridade pra gente. Quem quiser que suas decisões saiam logo, favor criar e indicar os autos, prioridade 1, 2 ou 3 e Sumário ao lado, e me passar o link para eu passar pra ela”, declarou Deltan.

Quando interrogou o ex-presidente Lula no processo do sítio de Atibaia, em novembro do ano passado, a juíza da Lava Jato, Gabriela Hardt, 43 anos, deixou claro que o petista continuaria a não ter vida fácil. Ela substituiu o ex-colega Sergio Moro e herdou as ações do petrolão na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba.

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Nesta quarta-feira (6), Gabriela condenou Lula no caso do sítio de Atibaia por corrupção e lavagem de dinheiro a 12 anos e 11 meses de prisão – pena mais rigorosa que a aplicada por Moro no caso do triplex do Guarujá, em julho de 2017, de 9 anos e seis meses – essa pena foi elevada mais tarde, em janeiro de 2018, a 12 anos e um mês de reclusão pela segunda instância da Justiça Federal.

Já nos primeiros minutos do interrogatório, a juíza e o ex-presidente protagonizaram uma discussão. Lula disse que não sabia do que estava sendo acusado e a juíza sintetizou a acusação do Ministério Público Federal: o petista seria o real dono da propriedade, que foi reformada pelas empreiteiras Odebrecht e OAS como forma de mascarar o pagamento de propina.

Em seguida, Lula perguntou a Gabriela em tom desafiador se ele era o dono do sítio em Atibaia – ponto central da peça de acusação. A magistrada reagiu com firmeza. “Senhor presidente, isso é um interrogatório e se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema. Então vamos começar de novo. Eu sou a juíza do caso, eu vou fazer as perguntas”, disse. A reação da magistrada repercutiu nas redes sociais e até virou frase de camiseta da primeira dama, Michelle Bolsonaro.

Na sentença desta quarta-feira, a juíza disse que restou comprovado que as obras no sítio “foram feitas a pedido de Lula e em benefício de sua família” e que “toda a execução das obras foram realizadas de forma a não ser identificado quem a estava executando e em benefício de quem seria realizada”.

Paranaense de Curitiba, Gabriela Hardt cresceu na cidade de São Mateus do Sul (PR), onde o pai, engenheiro químico, trabalhava na usina de beneficiamento de xisto da Petrobras. Lá, aprendeu a nadar, hábito que cultiva até hoje, participando inclusive de competições de natação e triatlon.

Chegou a cursar dois anos de engenharia, mas foi no Direito que Gabriela se encontrou. Formou-se advogada na Universidade Federal do Paraná, onde Moro dava aulas. Prestou concurso para a Justiça Federal, em 2007, e foi nomeada juíza dois anos depois para uma vaga em Paranaguá, no litoral do Paraná.

“Eu entrei na carreira de juiz federal um pouco mais tarde que o habitual. Entrei já com 34 anos e com família formada. Já tinha minhas filhas e meu marido já tinha profissão consolidada”, disse, em entrevista à Ajufe (Associação dos Juízes Federais) disponível no YouTube.

Gabriela também foi corregedora da Penitenciária Federal de Catanduvas, onde lidava com presos perigosos, como líderes de facções criminosas. É juíza federal substituta desde 2009, quando passou a conviver com Moro mais rotineiramente.

Em 2014, foi nomeada juíza substituta na 13ª Vara Federal e assumia os trabalhos quando o juiz Sergio Moro estava ausente ou saía de férias. Em uma dessas ocasiões, em maio de 2018, ela mandou prender o ex-ministro José Dirceu, que na sequência conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF).

Desde novembro do ano passado, Gabriela responde interinamente pela 13ª Vara, até que o novo juiz titular, Luiz Antônio Bonat, assuma o cargo. A magistrada deve ficar no posto que foi de Sergio Moro até abril deste ano.

Veja a entrevista que a juíza concedeu à Ajufe:

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