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O trauma grave é uma das causas de morte mais expressivas no mundo, chegando a ser responsável por 10% das causas de morte entre adultos jovens. Por outro lado, quando o paciente recebe o manejo inicial do trauma de maneira adequada, as chances de mortalidade diminuem consideravelmente. Com isso, fica claro que é de suma importância que você como médico(a) esteja familiarizado com o manejo inicial do paciente traumatizado. Complemente seu raciocínio com um caso clínico do paciente politraumatizado. Avaliação primária do traumaA abordagem primária do paciente traumatizado é avaliar lesões que oferecem um risco iminente à sua vida. Com isso três pilares devem orientar a sua condução nesse momento: clareza, organização e agilidade. Esses três pontos orientam a avaliação dos dados vitais do seu paciente, da sua gravidade e a sua reanimação. Com isso em mente, é fundamental que você e equipe sejam rigorosos na condução do atendimento baseado no famoso XABCDE, garantindo que todas as condições que oferecem risco de morte sejam avaliadas e contidas. X: hemorragia exsanguinante A: Via aérea com proteção da coluna cervical B: Ventilação e respiração C: Circulação com controle e hemorragia D: disfunção, estado neurológico E: Exposição/controle do ambiente: despir completamente o doente, prevenindo a hipotermia A maneira mais simples e rápida – 10 segundos – de avaliar os pacientes traumatizados ou politraumatizados é perguntar: “O que aconteceu?”. Nesse momento, havendo uma resposta apropriada, evidencia, assim, a perviedade das vias aéreas (A). Ademais, uma respiração presente (B) e uma circulação, especialmente cerebral, possivelmente adequada (C), além de uma avaliação neurológica breve (D). A reanimação também segue a sequência ABC, e deve ser realizada simultaneamente à avaliação. Vias aéreas, ventilação e respiração no trauma grave (A e B)É importante frisar que uma via aérea pérvia, por si só, não é garantia de uma ventilação adequada: troca de gases (oxigenação e uma eliminação de gás carbônico em um grau máximo). Não sendo esse o caso, o paciente entrará em hipóxia, podendo levá-lo a morte em poucos minutos. Como medida inicial para permeabilizar a via aérea do seu paciente e prevenir uma possível queda de base de língua, recomenda-se a manobra de elevação do mento (chin lift) e tração da mandíbula (jaw trust). Tais manobras devem ser realizadas com a proteção da estabilidade da coluna cervical do seu paciente. Figura 1: Manobras de proteção de vias aéreas no trauma. Disponível em: https://bit.ly/376foHl. Acesso em: 02/04/2022. .Pensando nisso, para uma avaliação rápida, deve-se expor o pescoço e o tórax do paciente, avaliando a distensão das veias jugulares, posição traqueal e movimentação da parede torácica. Assim, a fim de confirmar o fluxo de ar nos pulmões, é necessário que se faça uma ausculta torácica. Com isso, o que se espera que seja triado nesse momento são lesões que podem prejudicar gravemente a ventilação do paciente num curto prazo, como:
Lembre-se: manter a maca do paciente em um leve ângulo de cerca de 30 graus (posição de Trendelenburg reversa), caso não haja precauções na coluna cervical, pode prevenir aspiração e melhorar a capacidade pulmonar, reduzindo a pressão abdominal no peito. Mnemônico LEMONUma maneira de avaliar as vias aéreas do paciente traumatizado é através do mnemônico LEMON, da seguinte maneira:
Alguns equipamentos de vias aéreas de resgate podem ser utilizados no trauma, sendo úteis no manejo, como máscara laríngea (supraglótica). Reanimação das vias aéreas, ventilação e oxigenaçãoO controle definitivo da via aérea do paciente vitima de trauma é a intubação traqueal, para aquelas que estejam comprometidas por fatores mecânicos ou que estejam inconscientes. No entanto, se houver qualquer dúvida da sua parte ou da equipe de que o paciente é capaz de manter sua via aérea pérvia, deve estabelecer-se a via aérea definitiva (intubação). Além disso, todo paciente traumatizado deve receber oxigenoterapia suplementar, por meio de máscara com reservatório de oxigenação máxima, associado ao uso de um oxímetro de pulso, para monitorar a saturação de hemoglobina. Circulação e hemorragias no trauma grave (C)Estando as vias aéreas e a respiração do seu paciente estabilizadas, realize uma avaliação do estado circulatório do paciente. Para isso, palpe os pulsos centrais: carotídeo e femoral. Uma avaliação rápida das condições circulatórias do paciente no trauma são avaliar:
Reanimação da circulaçãoCaso seu paciente esteja com hemorragia, é necessário a reposição de volume através da inserção de 2 cateteres endovenosos (EV) calibrosos, por punções venosas periféricas nos membros superiores, inicialmente. Além disso, a gasometria e o nível do lactato devem ser obtidos para avaliar a presença de choque. A partir disso, deve ser infundido fluídos cristaloides osotônicos, sendo o de primeira escolha o Ringer Lactato. Uma infusão em bólus de 1 a 2 litros de solução pode ser necessária para se alcançar uma resposta apropriada nos adultos. Diante de um paciente vítima de trauma e com hemorragia, fica fácil prever que as soluções cristaloides, antes de infundidas, devem ser aquecidas a uma taxa entre 37ºC e 40ºC, a fim de evitar uma hipotermia, que pode ser letal para vítimas de trauma. Disfunção neurológica no trauma grave (D)Através da Escala de Coma de Glasgow (GCS), é possível uma avaliação neurológica rápida, de forma simples. Figura 3: Escala de coma de Glasgow para avaliação no trauma. Fonte: Ministério da Saúde. Disponível em: https://bit.ly/373mA77. Acesso em 02/04/2022.O rebaixamento do nível de consciência do paciente pode representar uma diminuição da oxigenação cerebral, alertando você e sua equipe a manterem a reavaliação de ventilação, oxigenação e perfusão durante o atendimento. É válido ressaltar aqui que o paciente pode já ter um nível de consciência rebaixado previamente ao evento que o levou ao quadro atual, como por hipoglicemia, abuso de álcool ou uso de narcóticos. Ainda, atente-se para uma possível armadilha no ambiente de trauma: TCE fechado. Isso porque, se for esse o caso do seu paciente, ele pode ter um rebaixamento de consciência de forma muito rápida, tendo um intervalo lúcido anterior a esse evento. Esse intervalo é geralmente associado ao hematoma epidural agudo, no qual sua gravidade pode ser exemplificada com “fala e morre“. Medidas auxiliares à avaliação primária no trauma graveMonitorização eletrocardiográficaÉ importante que a monitoração eletrocardiográfica seja feita em todos os traumatizados. Isso porque achados no exame podem evidenciar traumas contusos. Tais achados podem ser arritmias, fibrilação atrial, contrações ventriculares prematuras e alterações no segumento ST. Por outro lado, havendo bradicardia, condução aberrante ou extrassístole, você deve suspeitar imediatamente de hipóxia ou hipoperfusão. Sondas urinárias e gástricasUrináriasConsiderando que o débito urinário é um importante indicador da qualidade da volemia do paciente, ele pode refletir também a perfusão renal. Assim, através da inserção de uma sonda vesical o débito urinário pode ser melhor monitorizado. No entanto, a lesão uretral contraindica o uso de sonda. Mas quando desconfiar desse quadro? Diante dos seguintes achados:
GástricasA sonda gástrica é indicada para diminuir a distensão gástrica do paciente, além dos riscos da aspiração e avaliação de hemorragia. É importante frisar que, para que a sonda seja eficiente, ela deve estar muito bem posicionada, e conectada a um sistema eficiente de aspiração que esteja funcionando bem. Caso haja presença de sangue no aspirado gástrico, suspeita-se de trauma no momento da colocação da sonda ou sangue orofaríngeo. Perguntas frequentes
Referências
Qual a manobra utilizada para estabilizar a coluna cervical no trauma?No caso de uma possível lesão na coluna cervical, a manobra de tração da mandíbula, na qual o pescoço é mantido em posição neutra, é preferível à manobra de inclinação da cabeça e elevação do queixo.
Qual o procedimento em caso de suspeita de trauma cervical?Nesse caso de suspeita de traumatismo cervical, em primeiro lugar, o socorrista deverá se ater aos seguintes fatores:. Observar se a vítima relata formigamento, paralisia ou perda de sensibilidade dos membros;. Observar se a vítima relata dor espontânea e a palpação do local;. Quando fazer a manobra de Chin Lift?É utilizada em pacientes inconscientes, pois a hipotonia da língua pode obstruir a hipofaringe. Para corrigir prontamente essa forma de obstrução, é indicado pelos profissionais de saúde utilizarem as manobras de Jaw Thrust ou Chin Lift.
O que é manobra de Jaw Thrust?No caso da Manobra de Jaw-Thrust, que é a manobra de elevação da mandíbula, o procedimento consiste na utilização das duas mãos do examinador, posicionando os dedos médios e indicadores no ângulo da mandíbula, projetando-a para frente, enquanto os polegares deprimem o lábio inferior, abrindo a boca e permitindo a ...
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