Por que mesmo derrotados os paulista também saíram vitoriosos na Revolução de 1932?

Muitos erros se propagam a respeito da Revolução Constitucionalista de 1932. Observei na internet alguns deles e os respondi. Segue, abaixo, uma coletânea dos mais destacados.

Alguns amigos de outros estados sentem dificuldade de entender por que o 9 de julho é tão celebrado pelos paulistas. Num destes posts que expressava perplexidade, colocando a Revolução de 32 entre outras revoltas da história brasileira, perguntando-se porque outros “derrotados” também não as comemoram, respondi:

Uma revolta do período regencial que é muito celebrada é a Revolução Farroupilha, do RS. E não vejo nenhum inconveniente nisso. Portugal não tem por que comemorar; perdeu o que tinha de melhor.

Em 32, São Paulo não quis se separar do Brasil. Esta era a propaganda de Vargas para os outros estados (não províncias) verem em SP um traidor. O levante ocorreu, entre outras coisas, porque os interventores eram de fora, militares e desligados de qualquer liderança paulista. O movimento constitucionalista lutou por democracia quando isso era fora de moda (de 29 até o fim da Segunda Guerra, democracia liberal era xingamento), exigiu interventor local durante o governo provisório, a deposição de Vargas e Constituição. Finda a guerra, Getúlio nomeou interventor paulista para SP e convocou constituinte. A guerra foi perdida sobretudo porque outros envolvidos mudaram de lado de última hora.

Os ideais ligados a 32, os grandes feitos e a vitória parcial são dignos de recordação. Não foi mera revolta separatista, levada a cabo por uma facção. Foi um estado inteiro, provavelmente maior união cívica de nossa história, contra uma tirania, exigindo constituição.

— Professor, pode falar um pouco sobre “de 29 até o fim da Segunda Guerra, democracia liberal era xingamento”?

— Claro! Em 1929, ocorre a Grande Depressão nos EUA. Grande parte do mundo, encara o fato como uma evidente derrota do experimento democrático liberal. Surgem então ditaduras pelo mundo prometendo melhores caminhos: Mussolini, Hitler, Stálin, Franco, Salazar, Getúlio. Ao fim da guerra, EUA já estavam recuperados e saíram vitoriosos com os aliados. O mundo abriu-se novamente à democracia liberal. O Brasil é um exemplo: Getúlio tratou de permitir a existência de partidos políticos, largou o poder e abriu eleições.

*

A despeito da moda das ditaduras, São Paulo deu sangue em 1932 por constituição e democracia. E ainda relativizam a importância de 32! Viva SP!

Neste post da Sara Winter, feicebuqueiros estavam brigando nestes termos, e tive que corrigi-los depois, vejam:

— Graças a Deus, Getúlio venceu, senão, teríamos a manutenção da República Velha.
— Felizmente, Getúlio venceu, afinal, ele lutava contra os comunistas do tenentismo.
— Getúlio é mau porque era fascista.

Comentei isto:

São Paulo não estava lutando para restabelecer a República Velha — e Vargas estava com quem tinha poder. As oligarquias não representavam, de jeito nenhum, o interesse exclusivo dos líderes paulistas, e isto fica evidente ao menor estudo. Os membros do PRP (Partido Republicano Paulista, forte na República Velha) haviam se unido com o partido que lhe combatia com todas as forças, o Democrático (tanto que a união foi chamada de Frente Única), que inclusive lutou a favor de Vargas em 30. E os estudantes de Direito se integraram ao movimento para pedir Democracia, Constituição e Justiça.

A Revolução de 30, que empossou Vargas, só alcançou êxito por causa do tenentismo, que tinha L. C. Prestes à frente, futuro agente comunista. Isso quer dizer que flertaram com o socialismo revolucionário em 30, não em 32. Os interventores nomeados por Vargas a SP eram tenentes socialistas, e isso inflamou São Paulo.

Vargas estava com quem tinha poder. Em 32, era São Paulo que estava contra a comunização geral, não Vargas. Getúlio se voltará contra comunistas em outros momentos, e tornará a se aproximar deles noutras vezes. Para concordar comigo, basta relacionar o que ele fez com Olga com o queremismo e com sua boa relação com Jango, no final de sua vida. Ele não era ideologicamente enquadrável. Enxergar Getúlio Vargas dentro do espectro ideológico comum não me parece tarefa frutífera porque ele era mestre em se aliar ao poder e em inventar maneiras de não estar nem num lado, nem noutro.

[A isto, o amigo Rafael Vitola Brodbeck acrescentou:]

Esses teus apontamentos são verdadeiros. Tanto que:

1) Getúlio era discípulo de Borges de Medeiros, por sua vez discípulo de Júlio de Castilhos. Borges era delegado de Polícia e desembargador e mais tarde governador do RS, sucedendo a Júlio. Os três, Júlio, Borges e Getúlio, eram pica-paus/chimangos, contra os quais se levantaram os maragatos em duas guerras, em 1893 (contra Júlio e seus pica-paus) e em 1923 (contra Borges e seus chimangos). Maragatos usavam lenço vermelho (menos os uruguaios que os apoiavam em 1893, pois eram comandados lá por Aparicio Saravia, castelhano do Partido Blanco, conservador, irmão do General Gomercindo Saraiva, riograndense e delegado de Polícia em Santa Vitória do Palmar, onde eu também fui delegado), enquanto os pica-paus e chimangos usavam lenço branco.

2) Getúlio só chegou ao poder em 1930 porque após a guerra gaúcha de 1923, maragatos e chimangos fizeram as pazes graças ao Tratado de Pedras Altas. Essa aliança entre antigos inimigos, capitaneada por Getúlio o fez governador do RS e presidente do Brasil.

3) Todavia, quando Getúlio demonstrou um viés ditatorial, que fez explodir a Revolução Constitucionalista de 1932, os maragatos que o apoiavam (ele era chimango, lembrem) apoiaram aqui no RS os paulistas, entrando mesmo em guerra. Alguns maragatos gaúchos foram até SP lutar. Outros lutaram aqui no RS mesmo apoiando os paulistas.

4) Já os chimangos ficaram em sua maioria ao lado de Getúlio em 32, contra os paulistas.

5) Um fato interessante: o padrinho político de Getúlio, Borges de Medeiros, que o fez governador do RS e o apoiou na Revolução de 1930, líder dos chimangos e que fez de Getúlio um chimango, ao ver as pretensões dos paulistas em 32, não ficou ao lado de seus correligionários chimangos, mas apoiou, com alguns amigos, os seus históricos inimigos maragatos. Borges viu seu padrinho, Júlio, ser atacado pelos maragatos em 1893, cresceu com ódio aos maragatos, lutou contra os os maragatos de 1923, uniu-se a eles com todos os chimangos por interesse puramente político em 1930, e ficou seu aliado contra os próprios chimangos em 1932.

6) Nos campos da família da minha esposa e em outros locais daqui de Piratini, houve intensas batalhas na Revolução de 32. Não foi só em SP que eclodiu a revolta desejando uma Constituição. Borges, antigo padrinho político de Getúlio e agora seu inimigo, lutou aqui em Piratini APOIANDO OS PAULISTAS.

Por que podemos afirmar que a Revolução paulista de 1932 saiu derrotada e vitoriosa ao mesmo tempo?

Em 1o de outubro de 1932, quase quatro meses depois de iniciado o conflito, os paulistas renderam-se, pois não tinham mais soldados suficientes e nem mantimentos para manterem a batalha contra o Governo Provisório. As forças militares fiéis a Vargas derrotaram as tropas paulistas.

Por que podemos afirmar que a Revolução Constitucionalista de 1932 foi vitoriosa?

O movimento exigiu que o país tivesse uma Constituição e fosse mais democrático. Na época, Getúlio Vargas ocupava a presidência da República devido a um golpe de Estado, aplicado após sua derrota para o paulista Julio Prestes nas eleições presidenciais de 1930.

Qual foi o resultado que os paulistas conseguiram com o movimento?

Os paulistas resistiram por três meses depois foram serrotados militarmente pelas forças de Getúlio Vargas. Os resulta foram: reconstitucionalização do pais, a elaboração de uma constituição promulgada, a convocação da Assembleia Nacional Constituinte em 1934, atc.

Quais os resultados da Revolução paulista de 1932?

Quais foram as consequências da Revolução Constitucionalista de 1932? A batalha se arrastou por exatos 87 dias, com um saldo oficial de 934 mortos, embora estimativas apontem para mais de 2 mil pessoas falecidas. No dia 2 de outubro, no município de Cruzeiro, os paulistas se renderam e, assinaram a carta de rendição.