O que se trata a teoria da deriva continental proposta por Alfred Wegener?

Em 'A Origem dos Continentes e Oceanos', o geógrafo e metereologista defende a Teoria da Deriva Continental, precursora da Tectônica de Placas

Em 1912, o geógrafo e metereologista alemão Alfred Wegener contestou em seu livro “A Origem dos Continentes e Oceanos” a ideia vigente de que os continentes teriam sido interligados por pontes rochosas – na época, já submersas. Para ele, a explicação era outra: há centenas de milhões de anos, havia um único supercontinente, que, aos poucos, foi se fraturando. Estava criada a Teoria da Deriva Continental. “Wegener destacou em seu livro o ‘encaixe’ quase perfeito entre a margem leste da América do Sul e a margem oeste da África. Além disso, apontou que esses continentes vizinhos, quando reunidos artificialmente, proporcionavam observações quase que idênticas e espacialmente ligadas”, conta o professor titular do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Roberto de Souza, que explicou mais sobre a obra de Wegener e sua relevância para a ciência, na entrevista a seguir.

O que se trata a teoria da deriva continental proposta por Alfred Wegener?
Pangeia, supercontinente que se fragmentou e
deu origem aos continentes atuais
(Foto: Reprodução de TV)

Qual a ideia central do livro “A Origem dos Continentes e Oceanos”, de Alfred Wegener?
Hans Cloos, um conterrâneo de Wegener, fez uma interessante síntese do conteúdo desse livro: “...o documento apresenta ideias facilmente compreensíveis e extremamente interessantes baseadas em evidencias científicas sólidas. A pesquisa eliminou a noção de que os continentes estavam diretamente ligados ao núcleo da Terra, propondo que, na verdade, constituem icebergs de gneisses (granitos) emersos num mar de basalto. Nesse ambiente, os continentes flutuam, derivam, racham, se afastam e convergem entre si. Na medida em que os continentes racham e se separam um dos outros, fraturas, fendas e trincheiras são geradas. Quando os continentes colidem, cadeias de montanhas dobradas são formadas como parte do processo...”.

O trabalho de Wegener foi o primeiro da história a sugerir a Teoria da Deriva Continental e vários aspectos da hoje tão difundida Teoria da Tectônica de Placas. Ele propôs a existência de um supercontinente antigo, denominado Pangaea (do grego antigo PAN (toda) e GAIA (Terra), latinizado como Gæa; em português: Pangeia), que começou a fraturar-se há 200 milhões de anos. Os blocos individualizados após a fragmentação do Pangeia – ou seja, os continentes – derivaram ao longo do tempo geológico até atingirem suas posições atuais no planeta.

Qual a repercussão das ideias expostas nesse livro na época em que foi lançado, em 1915? Ele sofreu críticas ou foi bem aceito? O que se comentou a respeito?
O livro publicado em 1915 na Alemanha (e exclusivamente em alemão) na verdade foi uma expansão de uma publicação sua anterior de 1912 – “The Origin of Continents and Oceans”. Entretanto, como esse era o período da Primeira Grande Guerra Mundial, o livro passou despercebido pela comunidade científica fora da Alemanha. Contudo, em 1922, quando a 3ª edição revisada do livro foi lançada e, em seguida, traduzida para o inglês (1924), francês, espanhol e outras línguas, a teoria de Wegener sobre a deriva continental ganhou os holofotes entre os debates científicos da época.

Nessa publicação de 1922, Wegener defendia que havia um conjunto de evidencias geológicas indicativas de que a cerca de 300 milhões de anos todos os continentes atuais estavam unidos em um único supercontinente, que se estendia de polo a polo no planeta. Ele denominou esse supercontinente de Pangaea (“terra total “ou “todas as terras”), cuja fragmentação teria tido início há 200 milhões de anos, quando os continentes passaram, então, a se movimentar até atingir suas posições atuais. O livro inicialmente desarticulou uma das teorias vigentes na época, a de que os continentes eram ligados entre si através de “pontes” de rocha que teriam se rompido e afundado no mar como parte do processo de resfriamento e contração da Terra. Na medida em que a comunidade global de Ciências da Terra tomou conhecimento das ideias de Wegener e de sua teoria sobre a deriva continental, o trabalho recebeu fortes críticas e permaneceu no campo das controvérsias até a década de 60, quando da proposição da Teoria da Tectônica de Placas, que foi fortemente baseada nas teorias de Wegener.

Como Wegener chegou à conclusão sobre a Pangeia? E o que é a Teoria da Deriva Continental?
O termo "deriva continental" basicamente compreende o movimento dos continentes da Terra entre si, também apelidado como “dança dos continentes”.

O que se trata a teoria da deriva continental proposta por Alfred Wegener?
Wegener observou o "encaixe" entre a América do
Sul e a África (Foto: Reprodução de TV)

Wegener destacou em seu livro o “encaixe” quase perfeito entre a margem leste da América do Sul e a margem oeste da África. Além disso, apontou que esses continentes vizinhos, quando reunidos artificialmente, proporcionavam observações quase que idênticas e espacialmente ligadas, tais como (i) fósseis de répteis (mesosaurus – um dos primeiros répteis marinhos, mais antigos do que os dinossauros); (ii) fósseis de plantas (Glossopteris); (iii) rochas (camadas de carvão) e estruturas geológicas (cadeias de montanhas), demonstrando claramente que se tratavam de terrenos geológicos unidos num passado mais antigo.

Wegener vislumbrou que os continentes são constituídos por diferentes tipos de rochas menos densas (granitos, por exemplo) em contraponto a constituição do assoalho oceânico, formado por rochas mais densas (basaltos). Essa nova perspectiva sobre a composição da Terra permitiu a proposição de que os continentes “flutuam” de forma análoga a icebergs na água. Ele também notou que os continentes podem se mover para cima e para baixo, em um processo de manutenção de equilíbrio entre as massas, que ele denominou de “isostasia”. Um exemplo deste processo, citado por Wegener, foi a subsidência (afundamento) dos terrenos do hemisfério norte sob o peso exercido pelas camadas de gelo formadas no último período glacial, e sua ascensão (“elevação”) desde que o gelo começou a se derreter há 10 mil anos.

Considerando a diferença de densidade entre os continentes e o assoalho oceânico, o processo de isostasia, e registros fósseis e geológicos que demonstravam claramente que os continentes já haviam estado conectados no passado, Wegener imaginou uma alternativa mais lógica, onde os continentes faziam parte de um bloco único – o supercontinente Pangeia. Esse supercontinente teria se rachado em blocos menores (continentes), que se afastaram uns dos outros, em um mecanismo de deriva continental.

Na época, acreditava-se apenas em movimentos verticais da crosta terrestre e não horizontais, como Wegener propunha. O que levou a comunidade científica a aceitar a  deriva continental?
A mudança do conceito ocorreu a partir de 1915, quando da publicação do seu livro, que embora criticado no início, passou gradativamente a ser mais aceito na medida em que suas observações e hipóteses passaram a ser sistematicamente comprovadas. Mas o auge da aceitação de sua Teoria da Deriva Continental veio mesmo com o estabelecimento da Teoria da Tectônica de Placas nas décadas de 50 e 60, que não somente confirmou grande parte das observações e ideias de Wegener, mas fez um avanço fundamental ao propor os mecanismos responsáveis pela movimentação das placas tectônicas (em função de convecções no manto) e mecanismos de consumo (zonas de subducção; margens convergentes entre continentes) e geração (zonas de espalhamento do assoalho oceânico; margens divergentes entre continentes) de crosta na Terra. Outro forte suporte para a teoria de Wegener aconteceu também na década de 50, quando evidências paleomagnéticas (registros do campo magnético terrestre em rochas mais antigas) indicavam as movimentações dos continentes vislumbradas por Wegener.

Com o conhecimento que temos hoje sobre a teoria proposta por Wegener continua válida? O que permaneceu e o que já se tornou obsoleto?
Grande parte das observações geológicas de Wegener, e que deram suporte à Teoria da Deriva Continental, continua válida. O que mudou de lá para cá foram as propostas sobre os mecanismos responsáveis pela deriva continental, melhor explicados pela tectônica de placas.

O que a teoria da deriva continental proposta por Alfred Wegener explica?

A deriva continental é uma teoria, elaborada pelo meteorologista e geofísico alemão Alfred Wegener (1880-1930) no início do século XX, em 1912, que propõe que os continentes terrestres, antes de chegarem a sua forma e posição atual, compunham uma só massa chamada Pangeia há, aproximadamente, 225 milhões de anos.

Qual foi a conclusão do cientista Alfred Wegener sobre a deriva continental?

Wegener afirmou, em tese, que havia existido um super-continente e um super-oceano, respectivamente Pangeia, uma massa continental única cercada por Pantalassa, um oceano relativamente raso. Por sua vez, este continente teria se dividido a centenas de milhões de anos (cerca de 250 milhões).

O que diz a deriva continental?

deriva continental. Deslocamento das áreas continentais que se afastam ou se aproximam na dependência dos deslocamentos das placas tectônicas em que se inserem.

Qual é a importância da teoria da deriva continental?

Qual a importância da Teoria da Deriva Continental? Saber a definição da Teoria da Deriva Continental é fundamental para que possamos entender melhor o funcionamento da geomorfologia da Terra.