Por que as guerras napoleônicas e seus resultados geograficos e politicos

Autores: Estevão Pessoa, Diego de Andrade e Rafael dos Reis.

O QUE É GUERRA? O SEU PROPÓSITO E OS SEUS MEIOS

Por que as guerras napoleônicas e seus resultados geograficos e politicos

As Guerras Napoleônicas trouxeram consigo grandes transformações no continente europeu. Mudanças territoriais, econômicas, do mesmo modo políticas, foram geradas a partir das consequências geradas pela movimentação francesa na Europa, sobretudo o fenômeno da guerra. A ambição de Napoleão Bonaparte para construir um império, requeria a constituição de um grande exército, foi no povo que o estadista viu a oportunidade para a concretização dos seus anseios ao implementar uma “democratização” da guerra. A partir de então, o fenômeno perdia o seu caráter elitista e assumia a participação popular como um aspecto fundamental, ou seja, a guerra se tornava o empreendimento de um povo que partiria para os campos de batalha em nome, não de um nobre ou soberano, mas da nação a que pertencia, era a construção de um exército cidadão.

Tendo como cenário as Guerras Napoleônicas, a concepção moderna da guerra nasce a partir das transformações geradas pelo conflito. Como um observador atento às dinâmicas históricas que o cercava, Carl Von Clausewitz (1790 – 1831) vai se dedicar a compreender este fenômeno, e os seus principais aspectos. Militar pertencente à antiga Prússia, Clausewitz viu o seu país se render às vontades francesas, compreendendo a guerra como “um ato de violência destinado a forçar o adversário a submeter-se à nossa vontade.” Clausewitz (1996, I, I, p. 7). Para o autor, a guerra é uma das formas encontradas pela política para que os seus anseios sejam concretizados, isto é, um instrumento dos Estados que por meio dela buscam um fim, a conquista do inimigo.

Como uma manifestação da política, a guerra pode ser compreendida, estando à disposição dos Estados que podem ou não utilizá-la para atingir os seus objetivos. Sendo constituída pela “violência original do seu elemento, o ódio e a animosidade, que é preciso considerar como um cego impulso natural, depois, o jogo das probabilidades e do acaso, que fazem dela uma livre atividade da alma, e, finalmente, a sua natureza subordinada de instrumento da política” (CLAUSEWITZ, 1996, I, I, p. 30). Para Clausewitz, a guerra não é um fenômeno baseado na causalidade, mas uma construção humana que está sujeita à liberdade, sendo parte da natureza da sociedade internacional, que a instrumentaliza conforme for necessário, estando atrelada à política.

Embora a guerra seja um meio que se utiliza da violência para atingir os seus objetivos, ela não representa a falência dos direitos ou a atuação da irracionalidade humana, mas uma ferramenta que está a serviço de um fim, desarmar e conquistar o oponente. Para Clausewitz:

(...) a guerra não é um passatempo, nem uma pura e simples paixão do triunfo e do risco, tampouco a obra de um entusiasmo desenfreado: é um meio para alcançar um fim sério. Todo o prestígio cintilante do êxito que a guerra ostenta, todos os estremecimentos de paixão e de coragem, de imaginação e de entusiasmo que comporta não são mais do que as particularidades desse meio.(1996, I, I, p. 26).

Apesar de se utilizar da violência como uma constante, a guerra continua vassala da política, um fenômeno de natureza subordinado servindo aos seus interesses, como ressalta Clausewitz, sendo desarticulada a hipótese da prevalência dos objetivos militares sobre os políticos na condução da guerra.

AS RELAÇÕES DE PODER E AS POTÊNCIAS

Para Clausewitz, falecido general da Prússia, a guerra é a continuação da política por outros meios. Nesse sentido, para compreender a paz e a guerra, os seus fatores e os meios, as suas finalidades e o seu funcionamento, é necessário, primeiro, entender as relações políticas internacionais nos seus aspectos básicos, isto é, o relacionamento entre nações, especialmente, os seus fundamentos e as definições do que são as potências e as suas necessidades expansionistas.

A política internacional pode ser designada coloquialmente como a política do poder, um sistema de relações políticas entre Estados, nações e países independentes, cujos fins são diversos, mas que, sobretudo, sempre hão de esbarrar nas relações de poder (WIGHT, 1946). Apesar das nuances, esses Estados continuamente compartilham de interesses econômicos, comerciais e diplomáticos, e que historicamente sofreu várias transformações. Wight (1946, p. 1), afirma que ‘’O atual Sistema de Estados existe desde aproximadamente o início do século XVI, e temos a ilusão de que isto é normal’’. Essa concepção de política internacional, surgiu com a derrocada do sistema feudal e o nascimento do Estado Moderno. É sabido, pela história, que o homem europeu medieval, no geral, era costumeiramente leal ao seu senhor e mantinha obediência ao papa, contudo, com o surgimento de um novo regime de organização da sociedade ocidental, a modernidade trouxe consigo um forte sentimento de identidade nacional, capaz de suplantar na maioria as lealdades de outrora.

Dessa forma, surgiu o estado moderno; um vínculo de lealdade mais estreito e ao mesmo tempo mais forte do que na época da cristandade medieval. Em geral, o homem moderno tem demonstrado maior lealdade ao estado do que à Igreja, à classe social, ou a qualquer outro laço internacional. Uma potência é um estado moderno e soberano em seu aspecto externo, e quase pode ser definido como a lealdade máxima em defesa da qual os homens hoje irão lutar. De forma mais fundamental, houve uma mudança na estrutura moral da política. A política medieval estava calcada num sentimento profundo de unidade política e social, que enfatizava a importância do todo, em oposição à parte. A política medieval preocupava-se em definir ou interpretar uma hierarquia onde cada indivíduo possuía, teoricamente, seu lugar, desde o Papa e o Imperador até o barão feudal mais desprezível. (WIGHT, 1946, p. 4).

O que são potências?

Como supracitado, uma potência é um Estado Moderno e soberano no aspecto externo, cuja capacidade pode influenciar as condições entre Estado, ou seja, a forma como ela se relaciona afeta direta e coletivamente outras nações. Em seu livro ‘’ A Política do Poder’’, o britânico Martin Wight (1913-1972), estudioso das relações internacionais, revela que uma potência é composta por vários componentes básicos, dentre eles: o tamanho da população, posição estratégica e extensão geográfica; recursos econômicos e produção industrial (p. 5). Além disso, são elementos complementares e menos tangíveis: a eficiência administrativa e financeira; o aprimoramento educacional e tecnológico e, acima de tudo, a coesão moral.

Potências dominantes

Um dos temas mais observados da história internacional é a relação de dominância dos Estados. É possível notar, como muitas vezes uma potência influente tenta controlar o Sistema de Estados, de modo que é necessário um enorme esforço por parte das outras potências para suplantar a potência dominante. A invasão francesa da Itália em 1494 representa convencionalmente o começo da história internacional moderna, visto que na época as potências européias começaram a adotar por vontade própria os hábitos da política do poder que eram praticados pela Itália.

Na Europa do século XVII existiam dois sistemas de relações internacionais, parcialmente independentes um do outro. De um lado, na Europa Ocidental, as principais potências eram a Espanha, a França, a Holanda e a Inglaterra, enquanto ao norte, mais precisamente no Báltico e suas proximidades, as principais potências eram a Suécia, a Dinamarca, a Polônia e a Rússia. Suas guerras eram separadas, porém, estavam interligadas, assim como a guerra da Europa e do Pacífico, que formaram a Segunda Guerra Mundial. Ao norte, a Suécia tornou-se a potência dominante quando Gustavo Adolfo, o então rei da época, lançou-a na Guerra dos Trinta Anos. No entanto, um século após, na Grande Guerra do Norte (1700 a 1721) perdeu sua supremacia, foi quando Carlos XII embarcou num confronto contra a coalizão liderada pela Rússia, composta pela Prússia, Polônia, Dinamarca e Saxônia (WIGHT, 1946, p. 12).

Enquanto a Suécia era a potência dominante no Báltico, na Europa Ocidental a dominância foi transferida da Espanha para França, e essa supremacia causou duas guerras totais. A primeira guerra foi a de 1688-1713, na qual o rei Luís XIV da França foi derrotado por uma coalizão entre Holanda, Inglaterra e Áustria. A segunda, foi a guerra de 1792-1815, esse período é comumente chamado de Guerras Revolucionárias Francesas, os conflitos foram travados pela França revolucionária em oposição à aliança entre Grã-Bretanha, Rússia, Áustria e Prússia. É interessante observar, que naquele momento os dois sistemas internacionais citados já haviam se fundido e se tornado apenas um. Dessa forma, havia no continente europeu uma preponderância geopolítica, que ao longo do tempo foi transferida de país para país, o que evidencia o quanto a dominância de um país sobre outros Estados pode ser limitada, inconstante e suscetível à mudanças.

A história da predominância da Grã-Bretanha foi dividida por Martin Wight (1946, p. 14) em dois ciclos, o primeiro estendeu-se da Revolução Francesa (1789-1799) à Revolução Americana (1775-1784); teve seu ápice durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), quando o Canadá e a Índia foram conquistados, nesse momento a Grã-Bretanha havia atingido grande poder relativo, maior do que em qualquer época posterior. Quanto a sua supremacia naval e comercial, despertou muitas inimizades estrangeiras e rebeliões coloniais. Por exemplo, na Guerra de Independência Americana, ela precisou lutar contra uma coalizão composta pelos Estados Unidos, França, Espanha e Holanda; enquanto a Rússia, a Suécia, a Dinamarca, a Prússia e a Áustria se posicionaram numa neutralidade armada hostil querendo proteger os direitos das potências neutras. Naquele instante, a Grã-Bretanha estava isolada e derrotada. Todavia, ela pôde recuperar seu predomínio marítimo nas guerras revolucionárias e napoleônica. Para os britânicos, era uma luta generosa para libertar a Europa da tirania de Napoleão, para Thomas Jefferson (1743-1826), presidente americano, se tratava de uma visão completamente diferente:

Duas nações de poder excessivamente grande estão se esforçando para estabelecer, uma, um domínio universal por mar, a outra, por terra; e foi contra a primeira, e não a última, que os Estados Unidos eventualmente entraram em guerra.

O segundo ciclo de predominância britânica foi concluído com o isolamento diplomático das outras potências em relação à Grã-Bretanha. Quando ela conquistou as repúblicas de Boer na Guerra da África do Sul (1899-1902), provocou enorme hostilidade na Europa, principalmente entre a França, Alemanha e Rússia, que planejavam um meio para impor limites, e assim, finalmente derrubar a hegemonia dos britânicos. Porém, faltava-lhes a força e poderio naval suficientes e um interesse em comum que os unisse. Foi nesse sentido que a Alemanha trabalhou por bastante tempo, tornando-se uma potência terrestre dominante ao final do século XIX e construindo uma grande força naval, capaz de anos mais tarde fazer frente à Inglaterra na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Contudo, apesar do enorme esforço, os alemães foram derrotados, ao custo da Marinha Britânica, que perdeu sua capacidade hegemônica. Décadas depois, na Segunda Guerra Mundial, as configurações de poder foram alteradas; os Estados Unidos e a Rússia (União Soviética na época) eram as protagonistas no campo geopolítico mundial; os EUA como uma potência marítima dominante; e a Rússia como uma forte potência terrestre.

Se lembrarmo-nos de que uma definição política descreve um modelo, do qual todo exemplo histórico somente se aproxima, poderíamos definir potência dominante como uma potência capaz de medir forças contra todos os rivais juntos.

Uma potência dominante, em termos de poder e propósito, está focada no seu engrandecimento, mas também numa forma apelativa de unidade ou solidariedade internacional (WIGHT, 1946). Nessa ótica, toda potência dominante, pretende se tornar um império universal através da unificação política da sociedade internacional. Contudo, as coalizões que fazem oposição a essa unificação, como os exemplos citados no texto e em ocasiões não referidas, porém existentes, descrevem suas lutas com termos de liberdade e independência, como justificativas para o equilíbrio de poder. Geralmente, ao final de toda guerra total, há o estabelecimento de um consenso internacional, seja mediante tratados ou acordos, os quais buscarão instituir essas supostas liberdades e distribuir o equilíbrio de poder político pelas nações, de modo que a unificação no sentido geopolítico, fique mais distante.

Grandes Potências

"Potência dominante" não é um termo diplomaticamente aceito, porém, os Estados do sistema internacional podem reconhecer uma nação como capaz de ser dominante, alguns para estabelecer relações de apoio, enquanto outros para manifestarem oposição (Wight, 1946). Já a hegemonia, teoricamente nunca foi aceita por parte dos outros Estados, contudo do ponto de vista da potência dominante esse termo não só é aceito, como faz parte da visão política, cultural e diplomática daquela nação. Um exemplo desse comportamento, foram os Estados Unidos e a União Soviética na Guerra Fria, ambos sabiam da capacidade de estabelecer dominância no globo, mas jamais um aceitaria que o outro é hegemônico, não se submetiam de forma alguma à ideia de subserviência internacional.

Uma das questões centrais da política internacional é definir o que seria uma grande potência, porém é um ponto que é subjetivamente difícil de ser definido, bastando a história defini-lo. O termo foi encontrado pela primeira vez em escritos políticos datados do início do sistema internacional, e apenas 5 nações eram reconhecidas como grandes potências: Florença, Veneza, Milão, Nápoles e o Estado Papal. Porém, o status de grande potência só se tornou internacionalmente conhecido a partir do Congresso de Viena (1814-1815).

O status de grande potência pode ser perdido ou ganho através da violência. Uma grande potência não morre em seu próprio leito, ela pode perder sua posição numa guerra, mesmo sendo um conflito que acabe vitorioso, mas que pode enfraquecê-la consideravelmente. Tomamos como exemplo a Inglaterra pós-Segunda Guerra Mundial, sua posição como grande potência nunca mais foi a mesma, tendo em vista que se tornou dependente dos Estados Unidos (WIGHT, 1946).

A definição de uma grande potência que mais se aproxime da realidade é a ideia de que ela é mais forte do que o estado-padrão em relação a alguns elementos como: população, extensão territorial, recursos industriais, organização social e aspiração à grandeza da pelo menos alguns dos componentes do poder: população, extensão do território, recursos. Há também, outras definições, como a do professor e historiador britânico, Arnold Toynbee: ’’ uma grande potência pode ser definida como uma força política que exerce um efeito que se estende sobre o maior campo de ação da sociedade na qual opera’’ (Wight, 1946, p.33). Ou seja, as grandes potências são nações com motivações gerais, cujos interesses são amplos quanto ao próprio Sistema de Estados e que abrangem cultural e politicamente todo o mundo. Ademais, há uma conceituação mais voltada para o campo geopolítico e estratégico, como a do falecido parlamentar alemão, Heinrich von Treitschke – Um Estado pode ser considerado grande potência se uma coalização de outros Estados for necessária para levar a cabo sua destruição (WIGHT, 1946, p. 36).

Potências menores

As grandes potências sempre foram um pequeno número de Estados, em contrapartida, o Sistema de Estados é formado por diversos Estados, e modernamente, há um consenso aceitável pela maioria das organizações internacionais, inclusive a ONU (Organização das Nações Unidas, de que exista em torno de 193 Estados internacionalmente reconhecidos. Assim sendo, entende-se que a maioria dos Estados não são grandes potências, e que em muitos casos não se equiparam uniformemente às potências dominantes, porém compõem uma enorme parcela da população mundial e representam imprescindível importância social e política. Martin Wight, em seu livro A Política do Poder, argumenta:

A pequenez a que estamos nos referindo quando falamos dos pequenos estados é a relativa à sociedade internacional à qual pertencem. Argumenta-se frequentemente que as culturas mais elevadas e duradouras só foram produzidas por unidades políticas pequenas. "É um fato que os grandes legados da herança do Ocidente foram muitas vezes obra dos povos menores - de uma Atenas ou de uma Florença, da Inglaterra elizabetana, ou da Holanda Unida do século XVII."2 Estes últimos constituem exemplos infelizes. Cada qual era um grande povo, em termos de poder, riqueza ou população, em relação ao sistema de estados do qual fazia parte. Atenas, durante seu apogeu cultural sob Péricles, era a potência dominante da Hélade, possuía território muito mais amplo do que qualquer outro estado à exceção de sua rival Esparta, e era muito superior a Esparta em população, energia social e poderio econômico.

Além das potências da antiguidade, como Atenas, Esparta, Roma e outras, se levarmos em conta a extensão territorial do Brasil no sentido estrito e comparativo, temos exemplos de Estados geograficamente pequenos como a Grã-Bretanha, França, Alemanha, Japão, Itália, Portugal e Espanha, mas que ao longo dos séculos foram ocupando posições extremamente importantes para a política internacional e foram capazes de influenciar diversas culturas.

Há dois tipos de potência menores que se distinguem das demais: as grandes potências regionais e as potências médias. Vale ressaltar, que cada uma delas possui diferentes pontos e maneiras de agir, possuem peculiaridades, variam segundo a região e cultura. Ou seja, não agem de maneira uniforme, há regiões pelo globo que estão culturalmente unidas, porém, politicamente divididas. Como exemplos modernos, podemos tomar a Itália e a Alemanha, que por muito tempo estiveram fragmentadas politicamente, mas que possuíam uma relação intercultural entre suas divisões e subdivisões sociais. Há também, no sentido amplo, a América do Sul e o mundo árabe, que possuíam Estados com interesses regionais limitados e capacidade para agirem por si sós.O Egito e o Iraque, são grandes potências no mundo árabe; enquanto a Argentina e o Brasil desempenham função semelhante na América do Sul (WIGHT, 1946).

Essas potências regionais provavelmente serão candidatas a serem inseridas na categoria de potências médias no Sistema de Estados. Nesse sentido, é classificada como uma potência média, Estados com poderio militar, recursos e posição estratégica de tal modo que em tempos de paz as potências dominantes desejem ter seu apoio. Embora, em tempos de guerra, esses Estados não possuam capacidade plena para vencer uma grande potência, é possível que causem danos consideráveis e bem maiores do que esperados. Vale ressaltar, que as potências menores (incluindo as médias), apenas possuem os meios de defender limitadamente seus interesses e que a maioria delas possuem interesses muito restritos. Ademais, observa-se que elas não são capazes de dominar os continentes e os mares, nem controlar o mercado internacional, contudo, em alguns casos podem atingir estratégica relevância internacional, como é o caso da Suécia na Europa ou Israel no Oriente Médio.

A expansão das potências e a guerra

É da natureza política e militar das potências se expandirem. E, a menos que existam fortes obstáculos, capazes de impedir seus avanços, elas tendem a continuar avançando, fronteira por fronteira até à unificação.

Lord Acton descreveu-o como sendo o impulso governante da história moderna: "essa lei do mundo moderno, esse poder tende a se expandir indefinidamente, e transcenderá todas as barreiras interna e externamente, até que, encontrando forças superiores, produza o movimento rítmico da história. Nem a raça, nem a religião, nem a teoria política tem constituído um incentivo do mesmo nível à perpetuação da inimizade universal e da luta nacional".' O filósofo alemão Kant, em seu perspicaz ensaio Da Paz Perpétua) empurrou tal tendência para sua conclusão lógica quando disse: "... é desejo de todo Estado, ou de seu governante, atingir o estado de paz perpétua... submetendo o mundo inteiro, tanto quanto possível, ao seu controle"." Muito antes disso, Dante, refletindo a respeito da Itália no século XI descreveu como "a mente humana não se contenta com a possessão limitada de território, mas sempre deseja adquirir mais território, como vemos a partir da experiência", e argumentou que não haveria paz até que houvesse um Estado universal. (WIGHT, 1946, p.141).

Geralmente, são as grandes potências as detentoras de uma natureza coletivamente expansiva e dominante, contudo, a histórica revela que nem sempre são elas, mas também algumas pequenas potências. Pode-se tomar como exemplo, Portugal e Espanha, duas nações geograficamente pequenas, contudo, foram responsáveis por boa parte das expansões marítimas dos séculos XV, XVI e XVI. Além delas, temos a Suécia e a Dinamarca, que no passado foram potências militares no norte da Europa.

Todas essas nações e outras mais, que adotaram medidas expansionistas, sempre possuíram argumentos morais e financeiros para justificar suas anexações. Além disso, em todo país existem pessoas que possuem um senso de engrandecimento, que proporciona um anseio pela ampliação das fronteiras estatais. É nesse sentido, que surge o nacionalismo, o desejo de fazer o povo e a nação grandes o suficiente, para atingir novas fronteiras, e que posteriormente, evoluiu-se para o imperialismo, que é o estabelecimento de uma política determinista de governança de outros povos. Além desses fatores, a expansão das potências é produto da pressão interna; da fraqueza das potências alvejadas; da ganância financeira; da necessidade estratégica e também do medo. Em suma, se é da natureza das potências expandir, torna-se inevitável a existência de conflitos, ainda que alguns possam ser resolvidos diplomaticamente, ademais essas causas variam causticamente, devendo ser levado em conta as transformações históricas e políticas do sistema internacional de Estados e da formação de cada país membro.

O Sistema de Estados, a Anarquia Internacional e a Diplomacia

A diplomacia é a prática das relações internacionais entre os Estados, é a condução dos negócios estrangeiros de uma nação. É o sistema e a arte da comunicação entre Estados. Em suma, um instrumento para estabelecer contatos pacíficos entre governos que buscam sua própria autonomia. Na temática da diplomacia, deve-se entender a prática como a mediação a fim de harmonizar os interesses e evitar crises, especialmente a guerra. As guerras nem sempre supõem soluções claras e definitivas, portanto, a condução e a estratégia da condução diplomática são essenciais.

"A ideia de que a diplomacia seria capaz de erradicar as causas da guerra faz parte da grande ilusão posterior a 1919. Talvez a diplomacia possa fazer uma pequena parte para diminuir as condições sociais propícias à guerra; ela pode contornar as ocasiões de guerra, mas as causas da guerra, assim como a necessidade da própria diplomacia, permanecerão enquanto a multiplicidade de governos não for reduzida a um só governo e a política internacional não for transformada em política doméstica." (WIGHT, 1946).

O uso de representantes embaixadores é algo extremamente comum desde as primeiras civilizações. Porém somente a partir do Renascimento Italiano que se estima que houve o início do modelo de diplomacia moderna. A diplomacia veneziana é um modelo que funciona adequadamente desde o século XIII. A necessidade de institucionalização e coexistência pacífica entre os Estados italianos levou a desenvolvimentos interessantes na diplomacia a partir do século XV. O surgimento da imagem do embaixador e o fortalecimento da própria instituição desempenhou um papel crucial em um período de relativa estabilidade na Itália. Nesse sentido, o modelo diplomático moderno consiste na relação entre o Estado e os príncipes do Renascimento italiano. Tensões permanentes entre os principados da Itália, mediadas pela conclusão de tratados e alianças, justificavam o uso de enviados residentes e posições fixas. Florença teve Maquiavel e Dante como enviados. Esse fenômeno estabeleceu o direito de embaixada, ou seja, todo país tem o direito de enviar representantes diplomáticos para representar seus interesses em outros Estados e aceitar o princípio da representação diplomática recíproca. Isso ficou conhecido nos Estados Modernos como legação¹.

A forma moderna da diplomacia é a transmissão de mensagens entre duas comunidades políticas independentes. Nas formações diplomáticas das comunidades primitivas ou pré-históricas, sustenta que a forma mais elementar de diplomacia é o envio de um mensageiro, com o equivalente às modernas credenciais, por uma tribo ou grupo primitivo a uma tribo vizinha. Hoje, ao refletir sobre a diplomacia, precisamos levar em conta algumas distinções:

A diplomacia inclui a formulação e implementação de políticas externas do Estado. A formação desta política envolve a coleta e avaliação de informações sobre o ambiente internacional e políticas alternativas. A execução envolve a comunicação da política externa adotada a outros governos e povos, com o esforço de explicar e justificar essa política a eles e, quando necessário, obter sua cooperação ou neutralizar sua oposição por meio do soft power se possível, mas às vezes recorrendo a ameaças de violência e outros tipos de coerção. (BULL, 1989).

Alguns contatos diplomáticos, como o primeiro entre europeus e ameríndios, se davam puramente pela necessidade de passar algum tipo de mensagem ou fazer um acordo, sem implicar uma relação permanente ou um sistema diplomático mutuamente acordado, isolado de regras e convenções. Atualmente, os contatos diplomáticos entre Estados soberanos são institucionalizados porque permanecem independentemente de questões específicas que possam surgir; eles ocorrem no contexto de relações contínuas entre as partes interessadas, com base em regras e recursos conhecidos, em alguns casos, essas regras e recursos têm estatuto jurídico. As relações diplomáticas podem ser bilaterais ou multilaterais. As primeiras relacionam formalmente um estado ou governo com outro, mas na prática constituem também vínculos entre dois “povos” ou sistemas políticos. Assim como em outros tempos um embaixador representa seu soberano na corte de um outro, entende-se agora que o embaixador representa o seu povo (em conformidade com a doutrina da anarquia internacional e da própria soberania dos Estados).

Na abordagem realista das Relações Internacionais, pensa-se que o medo de não sobreviver ou de deixar de existir como integração regional leva os Estados a iniciarem e se engajarem em guerras. Além da guerra, a própria Anarquia internacional, isto é, a falta de uma autoridade legítima e soberana a nível internacional que garanta o direito de todos os atores. A influência maquiavélica na ênfase na sobrevivência do estado, a partir do uso da balança de poder e alianças é a solução de lidar com o desafio da segurança. Enquanto isso, a impossibilidade de estabelecer um conceito no plano internacional torna a anarquia uma característica definitiva das Relações Internacionais.

Legação: direito, inerente a um Estado soberano, de enviar agentes diplomáticos que o representem perante outros Estados.

Referências

FERNANDES, Cláudio. "O conceito de Guerra de Clausewitz"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/guerras/o-conceito-guerra-clausewitz.htm. Acesso em 08 de setembro de 2022.

BULL. Hedley. A sociedade anárquica. 1986

WIGHT. Martin. A política do poder. 1946

CLAUSEWITZ, Carl von. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Quais as consequências das Guerras Napoleônicas?

As Guerras Napoleônicas mudaram as relações geopolíticas da Europa. Na França, a dinastia Bourbon voltou ao poder numa monarquia constitucional. A vitória dos ingleses consolidou o predomínio da Marinha Real, abrindo caminho para que o Reino Unido se tornasse o império mais poderoso do mundo.

Qual a influência das Guerras Napoleônicas para o processo de independência do Brasil?

Consequências das Guerras Napoleônicas no Brasil Foram construídas fábricas, foram criadas universidades, a Biblioteca Real, a Academia de Belas Artes. Com essas estruturas, o Brasil ia se tornando independente da sua colônia.

Quais foram as consequências das Guerras Napoleônicas nas Américas?

As consequências do Bloqueio Continental foram o fortalecimento do império da França na Europa, apesar da rivalidade com a Inglaterra, e o início do processo de independência das colônias portuguesa e espanhola na América. As metrópoles ibéricas enfraqueceram-se por conta da invasão das tropas da França.

Quais são as principais características da era napoleônica?

Duas caraterísticas principais podem ser ressaltadas nesse período da história mundial: a consolidação das instituições burguesas nos Estados Nacionais e a expansão do Império Napoleônico para outros locais da Europa, configurando-se como uma ameaça ao Antigo Regime Absolutista do continente.