Onde tem o filme a viagem?

Índice Show

Onde posso assistir o filme a viagem?
Onde tem o filme Viagem ao Centro da Terra?

Crítica

Leitores

Sinopse

Seis histórias que, apesar de ocorrerem em épocas diferentes e em lugares distantes, possuem uma interligação.

Crítica

Falar de A Viagem mereceria páginas e mais páginas de uma tese sobre a desconstrução da sociedade, do ser humano e do amor entre duas pessoas. Afinal, em quase três horas de filme somos apresentados a um emaranhado de ideias que remetem a tais questões, assim como muitas outras. Porém, além de uma conexão entre tudo que existe (como o trailer sem sentido oferece) ou a simplicidade que o título brasileiro sugere, Cloud Atlas (o nome original) apresenta muito mais, apesar de uma certa irregularidade na narrativa.

Os cortes entre as histórias são rápidos, porém resumidamente pode-se dizer que no século XIX assistimos a um advogado que fica doente em uma viagem de navio e resolver proteger um escravo foragido. Cem anos depois, um jovem compositor que vive um caso homossexual e tenta criar uma obra prima (a Cloud Atlas do título) lê os diários do advogado da história anterior. Na década de 1970, as cartas entre o músico e seu amante servem como base para a luta de uma jornalista contra uma grande empresa de petróleo. No que seriam os dias atuais, um editor idoso tenta descobrir uma forma de publicar estas anotações investigativas, ao mesmo tempo que tem que descobrir uma forma de fugir de um cruel asilo. Esta fuga acaba virando filme e servindo como inspiração, centenas de anos depois, para uma escrava liderar uma revolução. Ela se transforma em mártir e, mais ainda no futuro, é reverenciada em uma terra devastada e com pouquíssimos habitantes.

A adaptação da obra literária de David Mitchell foi chamada de infilmável por muitos anos até cair nas mãos de Andy e Lana Wachowski (o casal de irmãos responsável pela trilogia Matrix, 1999 e 2003) e Tom Tykwer (diretor de Corra Lola Corra, 1998). O trio transformou as seis histórias contadas de forma linear no livro em uma trama rebuscada que vem e volta fazendo diferentes conexões ao longo do tempo. Aliás, percebe-se muito o que a obra inspirou nos diretores, já que há muito dos longas citados durante Cloud Atlas, especialmente as sequências futurísticas que implicam em revoluções a respeito da verdade e como todo ato acarreta uma consequência, seja no passado ou em um tempo distante.

Um dos aspectos mais interessantes do longa-metragem foi a forma como os diretores ousaram em usar os mesmos atores em todas as histórias, fazendo este grande elenco entregar performances incríveis, seja Halle Berry vivendo uma judia branca, uma anciã ou uma jornalista investigativa, Tom Hanks como um revolucionário que tem visões com um demônio (Hugo Weaving, repetindo vários personagens que se assemelham ao seu eterno Sr. Smith de Matrix) ou o falso médico que quer roubar o ouro de Jim Sturgess na primeira sequência. Sturgess também vive um asiático, assim como a coreana Doona Bae, que de revolucionária e mártir do futuro interpreta uma ocidental submissa no passado. Tudo isto através de uma maquiagem extremamente realizada e crível que, em dados momentos, engana tão bem que não identificamos diretamente o ator que está sob ela.

Apesar de excepcionais atuações, direção e montagem, o resultado da narrativa pode ficar um pouco aquém do esperado pelas próprias histórias. Ou melhor, por suas conexões. Algumas são menos interessantes que as outras e a ligação entre elas, por mais que exista e seja plausível, por vezes parecem enfraquecer a narrativa como um todo. Fica difícil também entender a necessidade de colocar tantos personagens em tela, por mais que se queira estabelecer a conexão entre eles através dos mesmos atores. Em algumas sequências, certos tipos são tão inúteis que não fazem a menor falta na narrativa como um todo.

Ainda assim, A Viagem é uma experiência extremamente sensorial em que o importante não é o significado material imposto por todos estes pequenos contos narrados na tela. O filme tem como principal pano de fundo histórias de amor, seja entre pessoas que estão distantes (física e temporalmente) ou simplesmente platônicas. E talvez seja muito mais pelo sentimento que a produção provoca do que por seus efeitos e megalomania que valha a pena dar uma chance a uma história tão bela e difícil de ser narrada como esta.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

Bio
Últimos Posts

é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.