Blogue do AR/VP — A guerra de Putin contra a Ucrânia já causou milhares de mortes, mas também graves prejuízos económicos a nível mundial. Temos de lidar com o impacto deste choque assimétrico, o terceiro no espaço de 15 anos, dentro e fora da União. Na cimeira informal realizada em Versalhes, os dirigentes da UE decidiram fortalecer a resiliência económica da Europa, reduzir radicalmente as nossas importações de energia da Rússia e avançar com um forte reforço da defesa europeia. Show
«Para fazer face ao amplo impacto da guerra contra a Ucrânia, temos de fortalecer a resiliência económica da Europa, pôr termo à nossa dependência energética em relação à Rússia e reforçar ainda mais a defesa europeia.» A guerra contra a Ucrânia iniciada por Vladimir Putin já está a ter consequências económicas consideráveis na Rússia; o rublo perdeu metade do valor e a inflação está a aumentar rapidamente. A bolsa de valores de Moscovo está fechada. Várias empresas internacionais, designadamente Ikea, McDonald’s, Visa e MasterCard, abandonaram o país. A economia russa deverá diminuir, pelo menos, 15 % este ano. Enfraquecida e isolada, a Rússia corre o risco de se tornar muito dependente da China no futuro. Gráfico — Conversão RUB-EUR O preço da liberdade e da democraciaAs consequências, no entanto, também se fazem sentir na Europa, com os preços da energia e vários outros a aumentar – uma tendência que provavelmente persistirá. No interior da UE também temos de pagar um preço para pôr cobro a esta guerra escandalosa e não provocada: o futuro da nossa segurança e das nossas democracias depende disso. O preço a pagar é o preço da liberdade. Gráfico — Inflação anual na área do euro e suas principais componentes, fevereiro de 2012 – fevereiro de 2022 (estimativa) A guerra na Ucrânia é o terceiro choque assimétrico, assim designado pelos economistas, que a União viveu nas últimas duas décadas, após a crise financeira e económica de 2008 e a subsequente crise da área do euro e a pandemia de COVID-19. Um choque assimétrico é uma alteração súbita das condições económicas que afeta alguns países da União mais do que outros. A guerra na Ucrânia está, de facto, a ter um impacto muito maior nos países à sua volta devido ao afluxo de refugiados e à sua forte dependência do gás russo. Para evitar que choques assimétricos enfraqueçam a UE, temos de intensificar a nossa capacidade de demonstrar solidariedade para com os países mais afetados. Foi o que fizemos, mesmo que com alguma lentidão, após a crise de 2008-2009. Foi o que fizemos após o impacto económico da pandemia de COVID-19, quer através da mutualização da compra de vacinas, quer através do Instrumento do plano de recuperação da União Europeia (Next Generation EU). É também o que temos de fazer agora. Figura 1: Produção interna e importação de gás natural anual na UE-27 (TWh) As consequências da guerra na Ucrânia foram o ponto central da reunião informal dos dirigentes da UE em Versalhes. Os Chefes de Estado ou de Governo acordaram em eliminar progressivamente a nossa dependência das importações de gás, petróleo e carvão da Rússia o mais rapidamente possível. Não podemos continuar a alimentar a máquina de guerra de Vladimir Putin através das nossas importações de energia. A Comissão apresentará, até ao final de março, um plano para garantir o nosso aprovisionamento energético para o próximo inverno e especificará, até ao final de maio, as medidas do plano REPowerEU destinadas a pôr termo à nossa dependência das importações de combustíveis fósseis provenientes da Rússia. Ao mesmo tempo, os Chefes de Estado ou de Governo analisarão o impacto do aumento dos preços da energia para os cidadãos e para as empresas da UE na próxima reunião do Conselho Europeu de 24 e 25 de março. Em especial, talvez seja necessário repensar o nosso sistema de fixação do preço grossista da eletricidade, atualmente ditado pelos preços do gás para todas as fontes de energia, apesar de a produção de eletricidade a partir de gás ser uma fração muito pequena do conjunto total. «As três formas de reduzir a nossa dependência em relação à Rússia são a diversificação dos aprovisionamentos de energia, a eficiência energética e a aceleração da transição para as energias renováveis.»Este plano tem muitas implicações internas importantes para a UE, mas também para a sua política externa. As três formas de reduzir a nossa dependência em relação à Rússia são a diversificação dos aprovisionamentos de energia, a eficiência energética e a aceleração da transição para as energias renováveis. No âmbito da diversificação, temos de aumentar a nossa aquisição de gás natural liquefeito (GNL) a fornecedores como os EUA, o Catar, a Noruega e os produtores africanos, entre outros. Para atingir este objetivo precisamos, nomeadamente, de infraestruturas capazes de receber e processar GNL. Estas infraestruturas estão atualmente distribuídas de forma muito desigual na Europa, havendo várias em Espanha, por exemplo, mas quase nenhuma na Alemanha ou nos países da Europa Central e Oriental. No entanto, atualmente não dispomos de ligações de gasodutos suficientes entre Espanha e o resto do continente. Teremos de criar novas infraestruturas e organizar conjuntamente o aprovisionamento de GNL. Figura 16 — Importações de GNL pelos Estados-Membros da UE provenientes de diferentes fontes no terceiro trimestre de 2021 (em milhares de milhões de metros cúbicos) Além disso, temos de reduzir o consumo de energia na UE e, por conseguinte, a nossa necessidade de gás, mas também de petróleo e de carvão, dos quais a Rússia é igualmente o nosso principal fornecedor. Caso contrário, os nossos esforços para reduzir a nossa dependência em relação à Rússia poderão conduzir a um aumento acentuado da fatura energética global da UE. Precisamos também de evitar simplesmente substituir uma dependência externa excessiva por outra. Ao mesmo tempo, temos de acelerar a transição para as energias renováveis: em 2020, quase todos os países da UE tinham ultrapassado os objetivos estabelecidos em 2008 para a quota de energias renováveis, mas continua a ser necessário reforçar esta tendência. Este é o objetivo do plano de ação Objetivo 55, proposto no ano passado pela Comissão, para cumprir os nossos compromissos de redução das emissões assumidos em Glasgow. Temos de agilizar a sua execução. A necessidade de aumentar as despesas com a defesa Por último, esta guerra obrigar-nos-á também a aumentar as nossas despesas com a defesa. Precisamos de gastar mais, mas sobretudo, de gastar melhor, ou seja, em conjunto. Alguns Estados-Membros, como é o caso da Alemanha, já tomaram novas medidas importantes neste contexto, prevendo 100 mil milhões de euros de despesas adicionais no domínio da defesa em 2022 e um aumento do orçamento da defesa para mais de 2 % do PIB a partir de 2024. O mesmo se deve repetir em todos os países em que as despesas com a defesa continuam a ser demasiado baixas. É certo que estas decisões são sempre dolorosas num contexto de elevada dívida pública e escassez de recursos públicos, mas Vladimir Putin claramente não nos deixa outra escolha. «Com o regresso da guerra ao solo europeu, todos nós na Europa devemos contribuir mais ativamente para assumir a responsabilidade pela nossa própria segurança. A Bússola Estratégica proporcionará um quadro para a utilização destes meios adicionais, assegurando a plena complementaridade com a OTAN.»Com o regresso da guerra ao solo europeu, todos nós na Europa devemos contribuir mais ativamente para assumir a responsabilidade pela nossa própria segurança. A Bússola Estratégica, que preparei e que está a ser adaptada à nova situação, deverá ser adotada pelo Conselho dos Negócios Estrangeiros em 21 de março. Proporcionará um quadro para a utilização destes meios adicionais de forma eficiente e coordenada na UE, assegurando a plena complementaridade com a OTAN. Em cooperação com a Agência Europeia de Defesa, analisaremos igualmente a estrutura das nossas despesas militares e os défices de investimento, e proporemos iniciativas adicionais para reforçar a base industrial e tecnológica da defesa europeia. O acolhimento dos refugiados Esta guerra também já está a provocar um afluxo maciço de refugiados à União Europeia. No momento em que escrevo, mais de 2 milhões de pessoas atravessaram as nossas fronteiras, prevendo-se que este número continue a aumentar nos próximos dias e semanas, enquanto Putin continuar com a sua agressão. Os Estados-Membros vizinhos da Ucrânia mostraram uma mobilização e solidariedade notáveis para acolher estes refugiados. Também já estamos a ajudar os países da UE mais diretamente afetados a fazer face a este afluxo e teremos de fazer ainda mais no futuro próximo. No entanto, a questão dos refugiados suscita também a problemática mais ampla da renovação da nossa política comum em matéria de asilo e migração a fim de promover a solidariedade, um processo que teve início em 2020 mas que ainda não foi concluído. A guerra na Ucrânia torna também mais urgente evitar a propagação deste conflito a outras partes do mundo e resolver outras crises. Há muito que trabalhamos para ajudar a encontrar uma solução política para a crise política e humanitária na Venezuela. Temos também de reduzir as tensões na região do Golfo, facto que está estreitamente ligado ao reatamento do plano de ação conjunto global (PACG), o acordo nuclear iraniano, um dossiê no qual temos trabalhado arduamente desde há muitos meses. Temos ainda de acompanhar de perto a situação nos Balcãs Ocidentais e no Cáucaso. Um impacto negativo nos países emergentes e em desenvolvimento Esta guerra terá também repercussões importantes para os países emergentes e os países em desenvolvimento que importam energia. Estes serão ainda mais afetados do que nós com o aumento do preço dos combustíveis fósseis. E não se trata apenas da energia: o impacto no mercado dos cereais (do trigo e do milho), do girassol e dos fertilizantes, de que a Rússia e a Ucrânia eram os principais exportadores, será igualmente significativo. Os preços dos produtos agrícolas de base, que já eram elevados, continuarão provavelmente a aumentar, com grande potencial para criar sofrimento e instabilidade política. «No ano passado, constatámos que os países em desenvolvimento tinham sido mais afetados pelo impacto económico da pandemia de COVID-19 do que os países desenvolvidos. A guerra na Ucrânia pode agravar ainda mais essa situação devido ao risco de grandes perturbações relacionadas com o aumento dos preços dos alimentos e da energia.»No ano passado, constatámos que os países em desenvolvimento tinham sido mais afetados pelo impacto económico da pandemia de COVID-19 do que os países desenvolvidos. A fome e a pobreza no mundo voltaram a aumentar significativamente. A guerra na Ucrânia pode agravar ainda mais a situação, devido ao risco de grandes perturbações relacionadas com o aumento dos preços dos alimentos e da energia, como já vimos acontecer no passado em circunstâncias comparáveis. Por conseguinte, e apesar das nossas próprias dificuldades, devemos aumentar o nosso apoio aos países mais pobres que serão gravemente afetados pelos efeitos indiretos desta guerra, incluindo em África e no Médio Oriente. Com a invasão da Ucrânia, Vladimir Putin obriga-nos a repensar urgentemente muitos elementos da nossa organização interna e da nossa visão mundial. Temos de estar à altura deste desafio para defender a nossa segurança e os nossos valores democráticos. Outras publicações do alto representante da UE, Josep Borrell, no seu blogue Quais os impactos econômicos da guerra?O custo econômico da guerra, desencadeada quando as feridas da pandemia ainda não estavam curadas, é especialmente difícil para as economias emergentes e em desenvolvimento, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), que antecipa uma perspectiva sombria para a América Latina.
Como a guerra na Ucrânia afeta a economia brasileira?A guerra teve outro impacto positivo: a valorização do trigo estimulou a produção brasileira, com aumento da área plantada. Entre as commodities agrícolas, foi a que mais subiu desde o início do conflito. De janeiro até o início de junho, o trigo teve alta de 27,8% no Brasil.
Quais seriam as consequências da invasão da Rússia na Ucrânia?Consequências econômicas imediatas da invasão da Ucrânia.
A Rússia tem o seu comércio exterior praticamente paralisado pelas pesadas sanções que recebeu, com exceção do comercio com a China. A Ucrânia, por sua vez, sofre isolamento total do comércio marítimo.
Como a guerra entre Rússia e Ucrânia afeta a economia do Brasil?O conflito na Ucrânia, de acordo com as expectativas do Banco Mundial, fará a economia do país encolher quase 45% em 2022. Os motivos que levam a essa queda são o fechamento das empresas, que não conseguem operar durante a guerra, e o corte de 90% na exportação de grãos.
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