A cada quatro mulheres, no Brasil, uma já passou por importunação ou assédio sexual dentro do transporte público. Mas nenhum homem admite ter feito isso. É o que mostra a pesquisa Percepções sobre controle, assédio e violência doméstica: vivências e práticas, do Instituto Patrícia Galvão, que ouviu mulheres e homens sobre o assunto. Show
O levantamento aponta que 45% das mulheres relataram ter tido o corpo tocado sem seu consentimento, em local público. E apenas 5% dos homens admitem que já fizeram isso. Para uma das diretoras do instituto, Marisa Sanematsu, os dados revelam que a noção de consentimento precisa entrar na educação dos meninos, desde a infância. É que muitos não têm noção de que estão sendo agressivos. Outro dado ainda mostra que 31% delas já sofreram tentativa de abuso sexual e mais de 40% foram agredidas ou xingadas por simplesmente dizerem não a uma investida. Segundo Marisa Sanematsu, os números, apesar de chamarem atenção, não trazem surpresa. Tanto o ambiente privado quanto o público ainda são espaços difíceis para as mulheres, apesar dos avanços. Do total de pessoas entrevistadas, 17% disseram que se envolveram em alguma briga séria, de 2020 para cá. Entre as mulheres, a maior parte dos conflitos foi com parceiros ou ex-parceiros. Já entre os homens, com familiares. Na avaliação de Marisa Sanematsu a conclusão é de que o ambiente doméstico, no geral, está “muito violento”. O levantamento foi feito junto com o IPEC e a empresa de transporte Uber. Os resultados mostram que ciúme e posse são o principal motivo de conflitos nos relacionamentos. Quando uma relação acaba, as agressões mais relatadas são controle, perseguição e calúnia. Por outro lado, mais de 90% dos entrevistados concordam que a Lei Maria da Penha contribuiu para que mulheres busquem ajuda e saiam de relacionamentos abusivos e violentos. E mais de 90% também acreditam que se deve intervir ao se deparar com um homem agredindo uma mulher. Qualquer situação de violência contra a mulher denuncie no telefone 180. Uma em cada cinco pessoas sofre com violência e assédio no empregoCerca de 23% das pessoas empregadas já sofreram algum tipo de violência e assédio no local de trabalho, seja físico, psicológico ou sexual. É o que mostra a primeira análise sobre o tema realizada pela Organização Internacional do Trabalho, OIT, com o apoio da Lloyd's Register Foundation, LRF, e o Instituto Gallup. A pesquisa global indica o tamanho do problema e suas diferentes formas. Também analisa motivos que impedem as pessoas de falar sobre suas experiências, incluindo vergonha, culpa ou falta de confiança nas instituições. Em alguns casos, a violência e o assédio são tidos como “normais”. A pandemia de Covid-19 destacou ainda mais o problema, com muitas formas de violência e assédio relacionados ao trabalho sendo relatadas Vítimas têm dificuldade de falar sobre o assuntoSegundo a OIT, a violência e o assédio no trabalho são difíceis de medir. O relatório revela que apenas metade das vítimas relatou suas experiências a outra pessoa, e muitas vezes somente depois de terem sofrido mais de uma forma de violência e assédio. Dentre as maiores razões para não falar estariam “perda de tempo” e “medo por sua reputação”. As mulheres são mais propensas a compartilhar suas experiências do que os homens, 60,7% em comparação com 50,1%. Globalmente, 17,9% dos trabalhadores disseram ter sofrido violência psicológica e assédio em sua vida profissional, e 8,5% sofreram violência física e assédio. Dos entrevistados, 6,3% relataram violência e assédio sexual, com as mulheres sendo particularmente expostas. Violência e assédio sexual atinge mais as mulheresEntre os grupos com maior probabilidade de serem afetados por diferentes tipos de violência e assédio estão jovens, trabalhadores migrantes e mulheres e homens assalariados. As jovens são duas vezes mais propensas que os jovens de enfrentar violência e assédio sexual, e as mulheres migrantes têm quase o dobro mais chance do que as mulheres não migrantes a denunciar. Mais de três em cada cinco vítimas contaram ter sofrido violência e assédio no trabalho, várias vezes e, para a maioria, o incidente mais recente ocorreu nos últimos cinco anos. A diretora-geral adjunta de Governança, Direitos e Diálogo da OIT, Manuela Tomei, destaca que “a violência psicológica e o assédio são prevalentes em todos os países e as mulheres estão particularmente expostas à violência e assédio sexual”. Para ela, o relatório ressalta a enorme tarefa de acabar com a violência e o assédio no mundo do trabalho. Convenção exige medidas dos governos para proteger os trabalhadores da violência e do assédio, especialmente às mulheres. Normas para diminuir a incidência do problemaA representante disse esperar que mais ações sejam tomadas para ratificar e implementar a Convenção 190 da OIT. O documento, junto com a Recomendação 206 são as primeiras normas internacionais de trabalho que fornecem uma estrutura comum para prevenir, remediar e eliminar a violência e o assédio no mundo do trabalho, incluindo gênero violência e assédio. A Convenção inclui o reconhecimento específico, pela primeira vez no direito internacional, do direito de todos a um mundo de trabalho livre de violência e assédio, e estabelece a obrigação de respeitar, promover e concretizar isso. O sócio da Gallup, Andrew Rzepa, afirma que “por muito tempo, empresas e organizações não souberam ou não quiseram lidar com a violência e o assédio no local de trabalho”. Segundo ele, estes dados fornecem uma linha de base que pode ser usado para rastrear o progresso necessário. Já a diretora de Evidências e Insights da Lloyd's Register Foundation, Sarah Cumber lembra que “para enfrentar desafios globais de segurança tão difíceis e enraizados como a violência e o assédio no trabalho, é fundamental ter bons dados para entender a extensão do problema e identificar aqueles que correm maior risco. As recomendações do relatório:
O estudo foi baseado em entrevistas realizadas em 2021 com quase 75 mil indivíduos empregados com 15 anos ou mais em 121 países e territórios. Quantas mulheres são assediadas na rua por dia?Mais de 60% das mulheres sofreram algum tipo de assédio, diz pesquisa. Uma pesquisa conduzida pelo aplicativo de transportes “99” indicou que 64% das mulheres afirmaram já ter sofrido assédio no cotidiano.
Qual o tipo de assédio mais frequente no Brasil?Em relação às formas de assédio sofridas em público pelas brasileiras, o assobio é o mais comum (77%), seguido por olhares insistentes (74%), comentários de cunho sexual (57%) e xingamentos (39%).
Quando começou o assédio no Brasil?ASSÉDIO COMO CRIME
Somente no ano de 1990 é que as discussões de assédio sexual começaram e ainda assim só valendo quando a vítima se encontrar uma posição inferior do assediador. Este crime, obviamente, se alimenta de características machistas, que predomina no Brasil e no resto do mundo, desde a Antiguidade.
O que é assédio e o que não é?O assédio pode ser configurado como condutas abusivas exaradas por meio de palavras, comportamentos, atos, gestos, escritos que podem trazer danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo o seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho.
|