Porque as primeiras indústrias brasileiras escolheram a cidade de São Paulo para se instalar?

Peroxissomos são organelas membranosas de contorno arredondado que ocorrem em células animais e de plantas. Estão diretamente ligados à oxidação de certas substâncias orgânicas, em especial ácidos graxos. São famosos por estarem relacionados com processos de desintoxicação da célula e, assim, do organismo.

1 de 6 Zona leste cresceu ao redor do eixo da Dutra a partir da década de 1950 — Foto: Antonio Basílio/Divulgação Prefeitura de São José dos Campos

Zona leste cresceu ao redor do eixo da Dutra a partir da década de 1950 — Foto: Antonio Basílio/Divulgação Prefeitura de São José dos Campos

Endereço das maiores empresas de São José dos Campos, a zona leste é considerada também polo tecnológico da cidade - abriga o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no Jardim da Granja; e o Parque Tecnológico, em Eugênio de Melo. Antes da instalação de gigantes como a General Motors, Ericson, Embraer e Petrobras, a atividade agrícola era a principal fonte de renda dos moradores da região. Hoje, a região dá impulso à economia da cidade.

Segundo a historiadora Maria Aparecida Papali, do Laboratório de Documentação e Pesquisa Histórica da Univap, a região cresceu no segundo 'boom' industrial da cidade, a partir dos anos 50 - um marco na história da cidade. O 1º processo de industrialização foi na zona norte, anos antes.

A especialista explicou que as megaempresas e multinacionais escolheram se instalar em São José porque buscavam áreas consideradas isoladas. Outras cidades do Vale, ainda com perfil ruralista, resistiam à industrialização. São José atraiu essas empresas na contramão de outras cidades do Vale do Paraíba.

“Depois da fase sanatorial de São José, focada no atendimento a tuberculosos, o segundo marco pode ser considerada a construção da Dutra, que junto trouxe o desenvolvimento industrial em seu eixo. A cidade que ainda tinha resquício rural aceitou o desafio da indústria e cresceu a partir disso”, contou.

A Dutra, uma das mais importantes rodovias do país, no eixo Rio-São Paulo, divide São José dos Campos.

2 de 6 Em 1953, placa anunciava a instalação da unidade da GM em São José dos Campos — Foto: Acervo/ General Motors do Brasil

Em 1953, placa anunciava a instalação da unidade da GM em São José dos Campos — Foto: Acervo/ General Motors do Brasil

3 de 6 Ex-operário da GM agora trabalha como cabeleireiro — Foto: Idelter Xavier/G1

Ex-operário da GM agora trabalha como cabeleireiro — Foto: Idelter Xavier/G1

Trabalhadores

A região leste tem perfil operário, com bairros ocupados pela mão de obra que é a força de trabalho da cidade. Além disso, bairros como Novo Horizonte e Jardim Nova Michigan, viraram reduto de trabalhadores vindos do norte do país para trabalhar na construção civil.

Milton Rodrigues, de 64 anos, saiu de Lambari, no sul de Minas Gerais, para trabalhar na General Motors - a empresa ja teve mais de 10 mil empregados. Ele conta que em 1972 comprou um terreno no Jardim São Vicente, na zona leste, e fixou residência em São José.

“Quando cheguei, o bairro não tinha nada de infraestrutura. Tive que fazer poço e fossa para casa, porque não tinha saneamento. Mesmo assim a gente vinha para cá porque era perto das fábricas e isso ajudava na hora de ser escolhido, de ser contratado”, afirmou Rodrigues, que se aposentou em 1997, deixou a montadora e virou cabelereiro.

No final da década de 1990, Pedro da Silva Pereira, de 42 anos, deixou a família em Pernambuco para tentar a vida na construção civil em São José dos Campos. Ele chegou à cidade logo depois de um grupo de conterrâneos deixarem o norte do país em busca de emprego em São Paulo.

“Meu primeiro emprego foi na construção da indústria, vim para uma obra de modernização da Petrobras. Eu só estudei o ensino fundamental, não concluí os estudos. Depois desse primeiro trabalho, continuei no ramo das obras, em outras empresas. Hoje ainda trabalho com isso, mas no setor imobiliário”, contou.

4 de 6 Casa do Norte mantém a tradições nordestinas na zona leste e ajudam os trabalhadores nordestinos a matarem a saudade de casa — Foto: Idelter Xavier/G1

Casa do Norte mantém a tradições nordestinas na zona leste e ajudam os trabalhadores nordestinos a matarem a saudade de casa — Foto: Idelter Xavier/G1

O amigo dele, Ednaldo Soares dos Santos, de 53 anos, é também de Pernambuco e veio para a cidade em 1982 para tentar um emprego. Trabalhou como vendedor porta a porta, foi feirante e nos anos 1990 conseguiu um emprego na linha de produção da GM.

“A cidade ainda crescia muito na época e tinha oportunidade para todo mundo. São José me abraçou e eu fiz minha vida aqui, trabalhei desde comércio até indústria. Hoje eu trabalho com transporte e consegui trazer minha mãe do norte para cá”, disse.

Os migrantes foram construindo os bairros no entorno das indústria - esse é o caso do Vista Verde e da Vila Industrial. Os ‘fundadores’marcaram a região com seu sotaque e tradições, mantidas nas 'Casas do Norte'. Os estabelecimentos, comuns na zona leste, vendem produtos típicos do nordeste, além de acessórios e pratos típicos da culinária nordestina.

O comerciante Antonio José da Silva,de 47 anos, vive do que aprendeu em sua terra natal. Ele deixou a Paraíba em 1986 e veio para São José dos Campos trabalhar na construção e abriu uma Casa do Norte no bairro Pararangaba. “Somos muitos aqui e a gente sente falta da nossa terra, mesmo sabendo que ela não tem mais a oferecer do que o que já temos aqui. Eu abri esse comércio e reúno meus conterrâneos, é uma forma de manter essa memória viva”, concluiu.

5 de 6 Inpe é polo científico no Brasil e atrai pesquisadores de todo país para São José — Foto: Idelter Xavier/G1

Inpe é polo científico no Brasil e atrai pesquisadores de todo país para São José — Foto: Idelter Xavier/G1

Ciência e pesquisa

Da década de 50 até hoje, a vocação da zona leste partiu do modelo industrial tradicional para a aposta em modelos de empreendimento chamados de 'startups'. Em São José, cientistas e pesquisadores pensam no país do futuro.

Essa vocação fez com que o primeiro motor a álcool e a primeira urna eletrônica nascessem em São José. A cidade também produz , na região leste, aviões e desenvolve satélites.

Para Papali, esses novos profissionais atraídos por São José mantém a mesma característica migratória que levou operários à região na segunda metade do século passado.No Parque Tecnológico, esses novos migrantes, atuam nos mais diversos ramos de pesquisa.

Um destes 'forasteiros' é o matemático Jeferson Alves, de 30 anos. Ele deixou a capital para fazer mestrado no Inpe e hoje atua no laboratório do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), referência no país.

“O instituto é um dos principais do país para a pesquisa e a cidade tem o perfil empreendedor, com grandes empresas. Elas são fomento para desenvolvimento de pesquisas, isso faz da cidade uma incubadora de pesquisa”, analisou Alves.

6 de 6 Condomínio Integração, o maior de São José dos Campos, fica na zona leste da cidade e supera Arapeí em número de habitantes — Foto: Idelter Xavier/G1

Condomínio Integração, o maior de São José dos Campos, fica na zona leste da cidade e supera Arapeí em número de habitantes — Foto: Idelter Xavier/G1

Integração

A região leste é a segunda mais populosa de São José dos Campos, atrás apenas da zona sul, tendo cerca de 161 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE). O maior condomínio residencial da cidade, o Integração, fica na Vila Industrial.

O conjunto fundado em 1981 tem 942 apartamentos e é onde moram pelo menos 3 mil pessoas, segundo a administração, mais do que o número de habitantes em Arapeí, por exemplo.

Rodolfo Rocha, de 52 anos, trabalha na administração do conjunto. Ele é morador do local há 18 anos e explica que o local funciona como uma cidade.

“Os problemas que temos aqui são os mesmos de uma cidade. Temos que buscar a segurança, resolver problemas de infraestrutura e sempre apresentar melhorias. A cobrança é a mesma que a de um prefeito. Para tudo funcionar é preciso muitas mãos”, afirmou.

Porque as indústrias se instalaram primeiro na cidade de São Paulo?

A gênese do desenvolvimento industrial no Estado de São Paulo iniciou-se em meados das décadas de 1880-1890, por meio dos capitais advindos da superprodução produção cafeeira e das iniciativas dos imigrantes europeus, que impulsionaram aqui o processo de industrialização (MAMIGONIAN, 1976).

Por que a indústria brasileira se concentrou em São Paulo?

A concentração da indústria brasileira em São Paulo foi determinada pelo processo histórico. Quando se iniciava o processo de industrialização, São Paulo, devido à cafeicultura, já estava provido dos principais fatores necessários para a instalação de indústrias: capital, mão de obra e mercado consumidor.

Onde as primeiras indústrias se instalaram?

As primeiras atividades industriais estabeleceram-se no mundo com a chamada Primeira Revolução Industrial, ocorrida na Europa, mais precisamente no Reino Unido, no século XVIII (por volta de 1760). Nesse período foi criada a máquina a vapor, e o carvão mineral era a principal fonte de energia.

Quais os motivos que levaram as atividades industriais se instalar em outras regiões brasileiras?

O motivo para esse recente movimento de expansão é, principalmente, o desenvolvimento da economia e o aumento do poder de consumo da população, o que aumenta a demanda pelos produtos dessas redes.