Imperador que oficializou o cristianismo no Império Romano no ano 391

Até o Concílio de Niceia, no ano de 325 d.C., igrejas eram incendiadas, cristãos eram caçados e tinham seus bens confiscados. As perseguições se agravaram sobretudo sob o imperador Diocleciano (cerca de 245-316). Este pretendia reviver a velha cultura pagã, tornando-a religião de Estado. Porém sua política anticristã fracassou e foi abolida pelo sucessor, o imperador Constantino 1º (cerca de 285-337).

O aparato militar e administrativo funcionava bem no Império Romano. Um espaço econômico comum trouxera prosperidade. Os direitos civis concedidos a todas as pessoas que habitavam o território estatal romano promoviam a coesão – menos no tocante à prática da religião.

O Concílio de Niceia

Imperador que oficializou o cristianismo no Império Romano no ano 391
Tessalônica hojeFoto: www.saloniki.org

No dia 19 de junho de 325, o imperador Constantino interferiu num conflito eclesiástico. Para pacificá-lo, ele convidou os bispos cristãos para um concílio em Niceia, nas proximidades da atual Istambul. A meta desse encontro, de que participaram mais de 300 representantes, não era a imposição do cristianismo como religião estatal, mas sim o estabelecimento de uma paz religiosa, a fim de estabilizar o Império Romano.

Após longos debates, Constantino 1º aceitou o consenso segundo o qual Deus e Jesus constituiriam uma mesma entidade. Com a assinatura dessa definição pelos religiosos presentes, teve fim a perseguição dos cristãos.

Porém notícias ainda melhores esperavam os adeptos da fé cristã. Pois em 27 de fevereiro de 380 o imperador bizantino Teodósio 1º (347-395) promulgou um decreto declarando o cristianismo religião de Estado e punindo o exercício de cultos pagãos.

"Cunctos populos"

A assinatura se deu em Tessalônica, na presença do imperador do Ocidente, Valentiniano 2º (371-392), e do meio-irmão e corregente Graciano (359-383).

Porém o texto do decreto "Cunctos populos" não confirmava apenas a posição privilegiada do cristianismo, como também a persecução aos adeptos de outras fés:

"Todos os povos sobre os quais exercemos regência bondosa e moderada devem (...) converter-se à religião comunicada aos romanos pelo divino apóstolo Pedro (...) e claramente professada pelo pontífice Damásio, como também pelo bispo Pedro de Alexandria (...).
Isto significa que nós, segundo a indicação apostólica e a doutrina evangélica, cremos numa divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, em igual majestade e em santa trindade.
Apenas aqueles que obedecem a esta lei poderão (...) chamar-se cristãos católicos.
Os demais, que declaramos verdadeiramente tolos e loucos, carregarão a vergonha de uma seita herética. Tampouco poderão ser chamados igrejas seus locais de reunião.
Por fim, que os persiga primeiramente o castigo divino, porém depois também nossa justiça punitiva, a nós outorgada por sentença celestial."

Simbiose entre Antiguidade e Cristianismo

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'Teodósio e Santo Ambrósio' em quadro de Rubens (1577-1640)Foto: picture-alliance / akg-images

Os praticantes de outras fés passaram então a ser atormentados com a mesma intensidade com que o eram antes cristãos e judeus. A prática de cultos pagãos passou a ser tratada como alta traição. Templos e relíquias foram destruídos, da mesma forma que o Oráculo de Delfos, lendário local de profecia da Grécia antiga.

Entretanto, o 27 de fevereiro de 380 constitui um marco da história europeia, pois nesse dia as raízes judaico-cristãs uniram-se à Antiguidade greco-romana, numa simbiose que perdura até hoje. A prévia história greco-romana do continente e a religião judaico-cristã definiram decisivamente a Europa – no bom como no mau sentido.

Pois nos séculos seguintes, sob a cruz de Cristo, não apenas se deu de comer aos pobres, como também foram assassinados críticos e dissidentes em nome do Senhor.

Autor: Matthias von Hellfeld
Revisão: Rodrigo Abdelmalack

Flávio Valério Aurélio Constantino (272 d.C. - 337 d.C.), chamado de "Constantino, o Grande", foi o segundo imperador romano da dinastia Constantina.

Foi o primeiro imperador a dar liberdade ao Cristianismo no Império Romano. Destacou-se também pela série de reformas administrativas, militares e religiosas realizadas durante o seu reinado.

Como Constantino se tornou imperador?

O pai de Constantino, o imperador Constâncio I, faleceu no ano de 306 d.C. em Eboracum (atual York, Inglaterra).

Suas tropas decidiram declarar seu filho como imperador. No entanto, como o regime da época era a tetrarquia, Constantino compartilhou o título de Augusto (o mais alto na hierarquia) com os imperadores regentes Magêncio (filho de Maximiano), Licínio e Maximino. Magêncio de Constantino dividiam o governo do Império Romano do Ocidente.

Em outubro de 312 d.C., Constantino I avançou para um confronto com Magêncio, pois pretendia dominar de forma exclusiva o Império Romano do Ocidente. Ele avançou pelo norte da Itália, passando por locais que hoje correspondem às cidades de Turim e Milão.

Sabendo da aproximação de Constantino I, Magêncio resolveu surpreendê-lo com sua tropa na Ponte Mílvia, ainda existente nos dias atuais sobre o Rio Tibre, pois sabia que interceptá-lo neste local seria crucial para impedi-lo de entrar em Roma.

Apesar de dispor de uma tropa com um total de homens inferior às de Magêncio, em 28 de outubro de 312 d.C., Constantino derrotou seu opositor que, durante a batalha, caiu no rio e morreu afogado. Assim, passou a reinar sozinho como imperador do Império Romano no Ocidente.

Imperador que oficializou o cristianismo no Império Romano no ano 391
Arco de Constantino, Roma, Itália - construção em comemoração à vitória de Constantino sobre Magêncio

Imperador único do Império Romano

As disputas de Constantino para defender sua posição incluíram uma série de acontecimentos como negociações diplomáticas e guerras civis.

Ao derrotar Magêncio, Constantino passou a liderar sozinho o Império Romano Ocidental. No entanto, o Império Romano Oriental ainda tinha como imperadores Maximino e Licínio.

Em uma negociação entre estes dois territórios ficou estabelecido, pelo Édito de Milão, que o Império Romano seria neutro no que diz respeito a religiões, Constantino oferece sua irmã em casamento para Licínio, o que culminou em uma maior proximidade entre os dois.

Esta aproximação criou tensões que resultaram no rompimento de relações de Maximino e Licínio em 313, que se enfrentaram na Batalha de Tzíralo, em 30 de abril de 313. Licínio saiu como vencedor e, meses depois, Maximino veio a falecer. Assim, Licínio passou a reinar sozinho no Império Romano do Oriente.

A esta altura, Licínio era o imperador da parte oriente do Império Romano, e Constantino, o imperador da parte ocidente. Entretanto, os dois passaram a se enfrentar de forma direta na luta pelo poder.

Em julho de 324 d.C., teve lugar a Batalha de Helesponto (atual Darnadelos), um combate naval do qual a tropa de Constantino, liderada por seu filho Crispo, saiu vitoriosa.

Posteriormente, o confronto final aconteceu em setembro de 324 d.C., na Batalha de Crisópolis. Após uma derrota esmagadora, onde perdeu grande parte de seu exército, Licínio conseguiu escapar.

Ao compreender que os soldados que haviam restado não seriam suficientes para um novo confronto, Licínio se rendeu ao inimigo, intermediado por sua esposa.

Constantino se comprometeu a atender o pedido da irmã para poupar a vida de seu marido Licínio, mas acabou por matá-lo após alguns meses. Com isso, chegou ao fim a Tetrarquia e Constantino passou a ser o único imperador de todo o Império Romano (ocidente e oriente).

Imperador que oficializou o cristianismo no Império Romano no ano 391
Império Romano Oriental e Império Romano Ocidental

Veja também: Imperadores romanos

Origem de Constantinopla

A cidade de Constantinopla foi estabelecida na cidade de Bizâncio, em 330 d.C. Atualmente, ela conhecida como Istambul, na Turquia.

Consciente de que Roma ficava um tanto afastada das fronteiras orientais do Império Romano, e que era palco de confrontos, Constantino resolveu mudar a capital do Império e escolheu o local por conta de sua localização estratégica.

Batizada de Constantinopla em sua própria homenagem, Constantino também chamou a cidade de “Nova Roma”. Governada pela legislação romana e marcada pela presença do Cristianismo, a língua oficial era o grego.

Constantino e o Cristianismo

Durante muito tempo, o Cristianismo foi interpretado pelo Império Romano como uma afronta, pois em vez de adorar ao Imperador, seus adeptos adoravam a Deus.

Nesse período, os cristãos foram perseguidos e muitas de suas propriedades e de seus lugares de culto foram confiscados. Era comum, por exemplo, atirar cristãos aos leões no Coliseu de Roma para entreter as multidões.

Constantino teve um papel fundamental em prol do Cristianismo quando, com Licínio, assinou em 313 d.C. o Édito de Milão, decretando o fim da perseguição religiosa e garantindo oficialmente a legitimidade não só do Cristianismo, mas também de todas as outras religiões.

Embora seja considerado como o primeiro Imperador romano a se converter ao Cristianismo, alguns historiados defendem a ideia de que Constantino, na verdade, era pagão.

Neste sentido, sua posição favorável à religião cristã nada mais era do que um interesse político, pois o apoio dado à Igreja Cristã era uma forma de manter a paz no Império Romano.

Prova disso é o fato de nunca ter frequentado missas ou outros atos religiosos, e de apenas ter pedido para ser batizado e cristianizado no final de sua vida, quando já sabia que a morte se avizinhava.

O Cristianismo só passou a ser a religião oficial do Império Romano em 380 d.C., através do Édito de Tessalônica, por ordem do imperador Teodósio I.

A cruz de Constantino

Um dia antes do confronto com Magêncio, que viria a ficar conhecido como a Batalha da Ponte Mílvia, Constantino teve uma visão enquanto olhava para o sol: viu as letras X e P entrelaçadas com uma cruz, com o dizer em latim "In Hoc Signo Vinces", que significa “Com este sinal, vencerás”.

Assim, ordenou que todos os seus soldados pintassem uma cruz em seus escudos e acabou por sair vitorioso do confronto. Uma segunda teoria afirma que não tenha se tratado de uma visão, mas sim de um sonho.

Imperador que oficializou o cristianismo no Império Romano no ano 391
As letras X e P são as duas primeiras da palavra "Cristo" em grego: Χριστός

O Império Romano sob o domínio de Constantino

Durante o reinado de Constantino, o Império Romano passou por uma série de reformas religiosas, administrativas e militares. Confira abaixo as principais.

Reformas religiosas

  • Legalizou o Cristianismo e as demais religiões através do Édito de Milão.
  • Unificou a igreja cristã, de modo a acabar com as divergências doutrinais.
  • Convocou, em 325 d.C., o Concílio de Niceia, que validou a natureza divina de Jesus através de uma votação.

Reformas administrativas

  • Fundou uma nova capital para o Império Romano: Constantinopla, também chamada de Nova Roma.
  • Estabeleceu que o cargo de senador deixasse de ser um cargo público e passasse a ser uma posição administrativa hierárquica.
  • Permitiu aos senadores liberdade para eleger quem ingressaria no Senado.

Reformas militares

  • Aboliu a guarda pretoriana, responsável por proteger a parte central do acampamento, onde ficavam os oficiais do exército.
  • Criou as escolas palatinas, que passaram a ser o núcleo do sistema militar romano.
  • Colocou praticamente todas as forças militares móveis à sua disposição imediata.

Curiosidades sobre Constantino

  • Decretou o domingo como dia do descanso.
  • Definiu a maneira de calcular a data da Páscoa.
  • Fixou o 25 de dezembro como o dia de Natal.

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  • Império Romano
  • Império Bizantino
  • Queda de Constantinopla
  • Queda do Império Romano

Imperador que oficializou o cristianismo no Império Romano no ano 391

Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.

Quem foi o imperador romano que oficializou o cristianismo?

Um dos momentos mais importantes da história do Cristianismo e, por consequência, da formação da civilização europeia foi a oficialização dessa religião pelo imperador Teodósio, o Grande, (imperador do Ocidente) em 380 d.C. Foi esse processo de oficialização que permitiu a institucionalização do que hoje conhecemos ...

Quem foi o primeiro imperador romano a se converter ao cristianismo?

Flávio Valério Aurélio Constantino (272 d.C. - 337 d.C.), chamado de "Constantino, o Grande", foi o segundo imperador romano da dinastia Constantina. Foi o primeiro imperador a dar liberdade ao Cristianismo no Império Romano.

Qual imperador tornou o cristianismo religião oficial do Império Romano no século IV?

O imperador Teodósio, por meio do Edito de Tessalônica, em 390, tornou o Cristianismo a religião oficial do Império.

Qual imperador romano adotou o cristianismo como religião oficial do Império Romano Quiz do Milhão?

O cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano no ano 380 por ordem do imperador Teodósio I, que tomou a medida numa lei conhecida como Édito de Tessalônica.