Quem será o próximo imperador do Japão?

Nesta terça-feira (30), o imperador Akihito, de 85 anos, abdicou depois de mais de 30 anos no trono japonês. O príncipe herdeiro Nahurito foi coroado imperador nesta quarta-feira (1°). No entanto, ele não possui herdeiros masculinos, apenas uma filha. Será que um dia o Japão verá uma mulher se tornar imperadora, como antigamente? Segundo pesquisas recentes, a resposta pode ser sim, se depender da vontade dos japoneses.

Bruno Duval, correspondente da RFI em Tóquio

A lei japonesa geralmente exige que os imperadores permaneçam no chamado Trono do Crisântemo até morrerem. Foi necessária uma lei excepcional para Akihito poder abdicar na terça-feira, o que prova que mudanças não são impensáveis no Japão contemporâneo. No entanto, o primeiro-ministro conservador japonês, Shinzo Abe, não queria reformar a instituição imperial. Ele aceitou a abdicação com relutância, inclinando-se à vontade do velho homem e da opinião pública.

"Na concepção ideal do japonês ultraconservador, mergulhado na cultura de sacrifício individual para o benefício do grupo (messhi hôkô, levada ao extremo durante o período militarista antes da Segunda Guerra), é esperado que o imperador permaneça no trono, e isso independentemente do seu estado físico", diz Thierry Guthmann, professor da Universidade de Mie.

Um risco para o futuro da linhagem imperial japonesa

A rigidez do sistema imperial, no entanto, pode comprometer o futuro desta instituição, no coração do Shinto – a primeira religião no Japão - e da constituição laica. A causa é a escassez de homens: o novo imperador Naruhito tem uma filha, e seu irmão, Akishino, tem um menino, Hisahito. Atrás dele, na linhagem imperial, resta apenas o irmão de Akihito, o velho tio Hitachi.

O futuro da linhagem mais antiga do mundo, o lendário Yamato, encontra-se, portanto, entre as mãos jovens do príncipe Hisohito, 12 anos, neto de Akihito e sobrinho de Naruhito. Se ele morrer sem ter um filho do sexo masculino, na próxima geração, nenhum homem será capaz de ascender ao trono. A questão está na mesa: deve-se reformar a lei japonesa para permitir que uma mulher possa subir ao trono?

Segundo as pesquisas, a grande maioria dos japoneses defende uma reforma. É o caso do aposentado entrevistado pelo correspondente da RFI na capital japonesa: "Um homem ou uma mulher no trono, eu não me importo", disse. “Mas eu digo a mim mesmo que uma mulher seria boa em termos de símbolo. E isso certamente traria muito progresso para as mulheres neste país", completou o cidadão japonês.

Em todo caso, não seria a primeira vez que uma mulher ascenderia ao Trono do Crisântemo. Há mais de mil anos, várias mulheres, chamadas de "tenno", eram de fato imperadoras reinando no Japão. A primeira delas, Suiko, reinou entre os sexto e sétimo séculos. Sua sucessora, no mesmo período, ascendeu ao trono duas vezes. Não é o único caso, e várias outras mulheres então reinaram depois delas.

Apego ao patriarcado do princípio da sucessão

O problema é que os eleitores ultraconservadores, como um auxiliar administrativo entrevistado pela reportagem, não querem nem ouvir falar em imperadora. "Eu não sou a favor disso. Parece-me importante manter absolutamente intacta uma instituição imperial que tem mais de 2.600 anos de idade", disse ele, visivelmente convencido de que os primeiros imperadores do Japão, na lista oficial do governo, realmente existiram, o que historicamente nunca foi provado.

Basicamente, aos olhos dos ultraconservadores japoneses, permitir que uma pessoa suba ao trono é uma coisa, mas permitir que a descendência dessa possível imperadora chegue o trono é outra completamente diferente. É aí que está o nó da questão, segundo os japoneses mais rígidos: nunca uma imperatriz reinante teve um sucessor homem. E a "pureza" da realeza japonesa dependeria disso.

"Na prática, isso significa que, até hoje, a linha imperial japonesa nunca teria sido “contaminado pelo espermatozoide de um plebeu”. “Esta dinastia de ‘pureza’ é, para ultraconservadores, um aspecto fundamental da realeza japonesa", diz Thierry Guthmann, especialista em nacionalismo japonês.

"A sociedade japonesa ainda é bastante patriarcal. Que uma reforma favorável às mulheres não tenha sucesso, não me surpreendente, infelizmente ", lamenta uma senhora em Tóquio. "As mulheres são boas chefes de Estado ou de governo. Por que, no Japão, elas não poderiam ascender ao trono? Eu nunca entendi como alguém poderia defender um sistema como esse", diz outro.

A vítima mais famosa da tradição japonesa é a nova imperatriz Masako, invisível na corte por mais de dez anos, sujeita à depressão e ataques de ansiedade aguda após críticas dos meios de comunicação e da classe política no passado. Naruhito teve que defendê-la publicamente. Sua única falha é que ela não deu filhos homens ao herdeiro do trono.

Com as mulheres excluídas do trono em resultado das regras da sucessão, o lugar do imperador Naruhito, de 61 anos, será um dia preenchido pelo sobrinho, o príncipe Hisahito, em vez do seu único descendente, a princesa Aiko. Mas se Hisahito, de 15 anos, não vier a ter um filho varão, a família real, cuja história remonta a mais de 2600 anos, ficará sem herdeiros masculinos para continuar a linhagem. As sondagens mostram que os japoneses apoiam de forma generalizada a ideia de uma mulher assumir o papel de imperatriz, um cargo que não detém qualquer poder político desde a adoção da Constituição após a Segunda Guerra Mundial, mas de enorme importância simbólica.

A pressão dos deputados e eleitores conservadores, que veneram a família real como o exemplo perfeito de uma família patriarcal japonesa, faz com que a sucessão feminina seja improvável em breve.

"Penso que a opinião pública está a perguntar-se o que há de errado com a princesa Aiko ascender ao trono."

As autoridades estão a refletir sobre possíveis soluções para o dilema, e há duas semanas um grupo de trabalho designado pelo governo apresentou duas sugestões. Uma é permitir que as mulheres da realeza mantenham o título e deveres públicos quando se casam fora da família. Atualmente, devem deixar a família, como fez a ex-princesa Mako em outubro, depois de se casar com o namorado. A segunda é permitir que os homens de 11 antigos ramos da família real, abolidos nas reformas do pós-guerra, regressem à linha direta.

O relatório do grupo de trabalho recomenda que as regras da linhagem masculina sejam preservadas pelo menos até que o príncipe Hisahito se torne imperador. Mas as suas ideias "não se baseiam em nada no atual sistema familiar no Japão nem nas ideias sobre igualdade de género", disse à AFP Makoto Okawa, professor de história na Universidade de Chuo, em Tóquio. "Penso que a opinião pública está a perguntar-se o que há de errado com a princesa Aiko ascender ao trono", disse este investigador do sistema imperial.

Embora os tradicionalistas digam que o Japão não deve quebrar a "linha imperial intacta", a sua lógica é falaciosa, argumentou Okawa, porque Aiko - que fez 20 anos este ano - é descendente direta do imperador e mais velha do que o seu primo Hisahito.

Hideya Kawanishi, professor associado de história japonesa na Universidade de Nagoia, advertiu que as propostas do grupo de trabalho "não resolverão o problema na sua essência". Algumas mulheres casadas podem não querer levar uma vida real restritiva, enquanto a entrada na família de membros masculinos que cresceram como cidadãos comuns seria complicada, disse.

A questão tem sido debatida durante anos. Após o nascimento de Aiko, um painel governamental concluiu em 2005 que a sucessão imperial deveria ser decidida por ordem de idade e não de género. Contudo, estas discussões perderam ímpeto após o nascimento de Hisahito em 2006, porque a linhagem masculina poderia continuar.

O último relatório do grupo de trabalho disse que era necessário discutir possíveis alterações às regras da sucessão no futuro mas, ao contrário de 2005, não utilizou as palavras "imperador feminino". Isto significa que, para as mulheres de varões como Hisahito, "haverá pressão para conceber rapazes para manter a linhagem", disse Kawanishi.

As mulheres da realeza têm percorrido um caminho difícil. A mulher de Naruhito, Masako, uma ex-diplomata de alto nível, lutou durante anos com uma doença relacionada com o stress depois de se ter juntado à família, o que alguns atribuíram à pressão de gerar um herdeiro masculino. Os jovens também são mantidos em padrões exigentes. Mako e o seu marido Kei Komuro, ambos de 30 anos, foram atormentados por mexericos de tabloides sobre alegações de que a família de Kei tinha dificuldades financeiras, levando a antiga princesa a desenvolver um complexo distúrbio de stress pós-traumático.

Uma imperatriz não é um conceito estranho no Japão: a família imperial descende da lendária deusa do sol Amaterasu. Contam-se oito imperatrizes ao longo da história, embora o seu reinado tenha sido por regra temporário. A última, Gosakuramachi, esteve no trono há cerca de 250 anos.

O estatuto divino da família imperial foi renunciado após a Segunda Guerra Mundial, na sequência das incursões militaristas pela Ásia em nome do imperador Hirohito. Desde 1947, a sucessão real tem sido ditada pela Lei da Casa Imperial, e as questões que a rodeiam continuam a ser um tema delicado, estreitamente ligado a ideias de identidade nacional.

Hoje em dia, os políticos têm "medo de mudar o sistema" enquanto estão em funções, diz Kawanishi. Mas depois do casamento de Mako ter merecido uma enorme atenção, uma das formas de se avançar é "o público interessar-se mais pelo assunto, e pressionar para o debate", disse.

Quem vai suceder Naruhito?

Com as mulheres excluídas do trono em resultado das regras da sucessão, o lugar do imperador Naruhito, de 61 anos, será um dia preenchido pelo sobrinho, o príncipe Hisahito, em vez do seu único descendente, a princesa Aiko.

Quem é o imperador do Japão 2022?

Naruhito é o atual imperador do Japão.

Quem é o rei do Japão hoje?

Naruhito (徳仁 Tóquio, 23 de fevereiro de 1960) é o atual Imperador do Japão desde 1 de maio de 2019, filho homem primogênito do antigo Imperador Akihito e da Imperatriz Michiko.

Qual foi o maior imperador japonês?

Hirohito, também conhecido como Imperador Showa, nasceu em 29 de abril de 1901. Foi o 124º imperador do Japão, reinando de dezembro de 1926 até sua morte, em 1989.