Alfabetização e letramento são processos distintos, com bases cognitivas e linguísticas específicas

O processo de “aprender a ler e escrever”, como é conhecido na cultura popular, passa pelas fases de alfabetização e letramento durante a etapa da educação básica. 

Porém, muita gente confunde esses dois conceitos e têm dúvidas sobre suas funções e como aplicá-los na construção da aprendizagem inicial da língua escrita. 

No texto de hoje, vamos esclarecer esses conceitos para que você, educador, se aprofunde no tema e possa, então, discernir quais os melhores caminhos para as suas práticas pedagógicas. 

Quais as diferenças entre alfabetização e letramento? 

O processo de alfabetização e letramento engloba o conhecimento teórico de diferentes fundamentos, entre eles podemos destacar: os psicológicos, os fonológicos, os linguísticos e os sociolinguísticos. Essa é a fundamentação básica para entender a dimensão e complementaridade entre os dois conceitos. 

A alfabetização é o processo de aprendizagem do sistema de representação dos sons da fala, ou seja, a transformação dos fonemas em letras ou grafemas. Mas não é só isso, segundo a professora Magda Soares, pesquisadora e autora de diversos livros sobre o tema, somente alfabetizar uma criança não é suficiente para que ela domine a língua escrita. Isso porque a língua escrita vai muito além de aprender a reconhecer e reproduzir grafemas. 

A língua escrita também tem suas funções sociais, isto é, ela serve para interação em sociedade, comunicação, registro de memórias entre outros fins. E esse aprendizado das funções sociais e culturais da língua escrita é chamado de letramento. 

Em resumo, a alfabetização é o processo de aquisição de uma tecnologia relacionada ao sistema alfabético e ortográfico. Já o letramento é o desenvolvimento de habilidades de uso da língua escrita nos diversos contextos sociais e culturais em que os indivíduos estão inseridos.  

Vale ainda acrescentar que os dois processos são distintos e com bases cognitivas e linguísticas específicas, mas que na aprendizagem inicial da língua escrita eles são complementares e precisam ser trabalhados ao mesmo tempo, respeitando suas especificidades. 

Como incentivar o letramento escolar?     

Em seu livro “Letramento: um tema em três gêneros”, Magda Soares aponta que o termo letramento é recente na Língua Portuguesa e surgiu por haver uma necessidade de nomear esse resultado da ação de aprender e ensinar as práticas sociais de leitura e escrita.            

E como incentivar as práticas sociais de leitura e escrita? O educador vai trabalhar esse incentivo através de propostas de interação com diferentes tipos de texto, os chamados “gêneros textuais”. Ou seja, práticas que promovam a leitura e produção textual, a compreensão do que foi lido, a habilidade de identificar contextos e intenções dos textos são algumas possibilidades de fomentar o letramento escolar. 

É importante ressaltar que, diferente do processo de alfabetização, o letramento deve ser incentivado ao longo de toda a vida escolar do estudante. Isto é, o letramento estará presente durante a consolidação da alfabetização, mas vai permanecer em construção mesmo após ela estar bem estabelecida, uma vez que a própria dinâmica das transformações sociais cria essa demanda. 

A BNCC aborda a prática do letramento de forma muito clara e objetiva na seção de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental. A proposta é que a diversidade cultural e social esteja contemplada nas atividades de incentivo ao letramento através das práticas que trabalham a diversidade textual. Seguem alguns trechos pertinentes sobre o tema: 

“Ao componente Língua Portuguesa cabe, então, proporcionar aos estudantes experiências que contribuam para a ampliação dos letramentos, de forma a possibilitar a participação significativa e crítica nas diversas práticas sociais permeadas/constituídas pela oralidade, pela escrita e por outras linguagens.” (p. 67)
“Não se trata de deixar de privilegiar o escrito/impresso nem de deixar de considerar gêneros e práticas consagrados pela escola, tais como notícia, reportagem, entrevista, artigo de opinião, charge, tirinha, crônica, conto, verbete de enciclopédia, artigo de divulgação científica etc., próprios do letramento da letra e do impresso, mas de contemplar também os novos letramentos, essencialmente digitais.” (p.69) 

Ou seja, é fundamental considerar a realidade desses estudantes no processo de letramento, entendendo que a leitura e a escrita estão a serviço de seus papéis sociais. Sendo assim, considerando que esses estudantes estão inseridos em um contexto social diverso, a palavra multiletramento surge como um conceito que tende a abarcar todas essas diversidades. 

Qual é o papel do pedagogo na alfabetização e letramento? 

O papel do pedagogo deve ser a mobilização dos fundamentos psicológicos, fonológicos, linguísticos e sociolinguísticos no trabalho com a alfabetização e o letramento infantil. 

Magda Soares afirma que essa fundamentação multidisciplinar não é bem trabalhada nos cursos de pedagogia. Por isso, o processo de alfabetização e letramento escolar dos alunos vai demandar do pedagogo estudo, informação, prática e formação complementar e continuada. 

A alfabetização vai exigir que o educador saiba orientar esse processo cognitivo e linguístico de ensino e aprendizagem da aquisição da tecnologia que é saber ler e escrever. A aquisição dessa tecnologia passa por diversas práticas, desde aprender a pegar um lápis e usá-lo num papel até a decodificação de signos.  

Já para o letramento, o pedagogo precisa trabalhar a compreensão de contextos e desenvolvimento de visão crítica. Esse processo mais amplo vai ser realizado através da construção e ampliação de repertório cultural para que seja possível estabelecer conexões com a turma, em sua diversidade, a fim de tornar e manter essa aprendizagem significativa. 

As tecnologias digitais no processo de letramento

Dada a importância de envolver os diferentes gêneros textuais e a diversidade cultural e social no processo de letramento, surge a necessidade de também promover o uso ético e crítico das tecnologias digitais, realidade da grande maioria dos estudantes atualmente. Por isso, outros termos que ganharam visibilidade recentemente, inclusive na BNCC, foram os de letramento digital e letramento midiático. 

Dessa forma, é possível concluir que o letramento é um processo que se mantém ao longo de toda a vida, para além da fase escolar, pois as transformações no mundo vão requerer novas práticas e conceitos, e vão também transformar nossas vivências e formas de comunicação.

Nesse aspecto, o uso de ferramentas digitais em sala de aula se torna mais que um benefício no processo de letramento, passa a ser fundamental para orientar e desenvolver habilidades dos estudantes nativos digitais em sua formação. 

Educador, ficou clara a diferença entre os conceitos de alfabetização e letramento? Percebeu como os dois processos se complementam e como o pedagogo exerce um papel fundamental nessas construções?

Esperamos que tenha gostado desse artigo sobre letramento e alfabetização. Continue a leitura sobre o tema em nosso blog, leia esse conteúdo sobre letramento digital!

O que são os processos de alfabetização e letramento?

A alfabetização é o processo de aprendizagem em que se desenvolve a habilidade de ler e escrever. É uma habilidade de uso individual, possibilitando codificar e decodificar a escrita e os números. Já o letramento, é um processo que envolve o uso competente da leitura e da escrita nas práticas sociais.

Quais os conhecimentos específicos da alfabetização e do letramento?

A alfabetização é o método para desenvolver o conhecimento da escrita e leitura e o letramento amplia o uso da leitura e da escrita nas práticas sociais. Uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada, ou seja, sabe ler e escrever, mas não sabe fazer uso social da leitura.

O que são os processos de alfabetização e letramento e por que eles são processos interdependentes e indissociáveis?

De acordo com Soares (2003), alfabetização e letramento são processos distintos, de natureza essencialmente diferente, porém, são interdependentes e indissociáveis, pois uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada ou ser letrada e não ser alfabetizada.

O que diz Piaget sobre alfabetização e letramento?

O processo de alfabetização no Brasil tem como principal teórico Jean Piaget, que fala sobre as dificuldades que há em se entender o foco central do construtivismo. Sua obra sobre Epistemologia Genética, baseia-se na inteligência e desconstrução do conhecimento, seja individual ou coletivo.