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RESUMO:O objetivo deste artigo é entender as motivações para o fracasso escolar (infrequência, reprovação e abandono escolar) na primeira série do Ensino Médio e as maneiras de revertê-lo. Foram realizados grupos focais com estudantes (15 a 19 anos) e entrevistas semiestruturadas com coordenadores(as) em três escolas da Rede Estadual de Ribeirão das Neves em 2014. Os motivos para o fracasso escolar são trabalho, questões familiares (falta de acompanhamento escolar, necessidade de cuidar de irmãos, maridos, filhos), não ter dinheiro para ônibus, violência, falta de interesse nas aulas, professores ruins, uso de drogas, más companhias, bullying e ter tido reprovação anterior. Para reverter o fracasso escolar, é preciso haver ações do Estado (infraestrutura, salários melhores, programas de incentivo à permanência), da escola (professores mais bem-preparados/motivados, novas práticas de ensino, diálogo entre diretoria e estudantes), da família (acompanhamento do desempenho escolar, participação em reuniões) e do próprio aluno (dedicação, atenção nas aulas). Palavras-chave: ABSTRACT:The purpose of this article is to understand the motivations for school failure (infrequency, grade repetition and dropout) in the first year of high school and ways to reverse them. Data were collected in 2014, through focus groups with students of 15 to 19 years old and semi-structured interviews with counselors. School failure is due to work; family matters (no supervision of school activities; taking care of siblings, husbands, children); lack of money to pay for transportation; violence; lack of interest in classes; bad quality teachers; drug use; bad companies; bullying; and previous grade repetition. School failure could be reduced with actions by the State (better infrastructure, higher salaries, programs to keep teens at school), the school (motivated teachers, new ways of teaching, more dialogue between directors and students), the family (supervision of school activities, participation in parent-teacher meetings), and the student (more dedication, attention during class). Keywords: IntroduçãoA partir da década de 90 do século passado, o
Brasil iniciou a caminhada no processo da democratização da educação. Em 2000, a cobertura do Ensino Fundamental (EF) chegou a 97,0% e, apesar de o Ensino Médio (EM) não ter atingido a universalização, a taxa de escolarização líquida (relação entre o número de matrículas na faixa etária adequada a determinado nível de ensino e a população na mesma faixa etária) teve uma expansão de 14,3%, em 1980, para 32,6%, em 2002 (CASTRO; TIEZZI, 2005CASTRO, M. H. G.;
TIEZZI, S. A reforma do Ensino Médio e a implantação do Enem no Brasil: os desafios da educação no Brasil. 2005. Disponível em:<Disponível em:http://www.schwartzman.org.br/simon/desafios/4ensinomedio.pdf >. Acesso em: 29 jun. 2009. O marco da discussão sobre o desempenho escolar foi o Relatório de Coleman et al. (1966COLEMAN, J. S. et al. Equality of educational opportunity. Washington, DC: US Department of Health: Education & Welfare, 1966.), que apontou a importância do background familiar sobre as desigualdades de desempenho escolar entre os alunos norte-americanos. O desempenho escolar é um resultado multifatorial e pode ser analisado de várias formas, tais como baixa proficiência em disciplinas, distorção idade-série, reprovação, repetência, não frequência escolar, abandono escolar, evasão escolar, dentre outros. O objetivo deste artigo é entender quais são as motivações para o fracasso escolar, medido através de infrequência, reprovação e abandono escolar na primeira série do Ensino Médio, a partir das visões de estudantes e coordenadores(as) de escolas pertencentes à rede estadual de ensino (REE) do município de Ribeirão das Neves (RN), MG. Os dados foram obtidos através de grupos focais com alunas e alunos e entrevistas em profundidade com coordenadoras e coordenadores, ambos realizados em escolas estaduais do município em julho de 2014. A infrequência escolar se refere ao não comparecimento do aluno a 75% da carga horária anual total, de acordo com a Resolução 2.197 da Secretaria de Estado de Educação (SEE), enquanto a reprovação, relacionada ao rendimento do(a) aluno(a) em determinado ano, corresponde à situação na qual este(a) aluno(a), no fim
do período letivo, obtém rendimento insuficiente para mudar de série, ficando impossibilitado de se matricular na etapa (série) seguinte no ano que se segue. Já o abandono escolar se refere ao movimento do(a) aluno(a) entre as séries e ocorre quando o(a) aluno(a) deixa de frequentar a escola antes de terminar o ano letivo, mas não se desliga formalmente desta através da transferência, fazendo com que, em sua matrícula, não haja informação sobre o rendimento escolar (BRASIL,
2010BRASIL. Ministério da Educação. Taxa de distorção idade-série, por dependência administrativa e localização, nos níveis de Ensino Fundamental de 8 e 9 anos e Médio, segundo a região geográfica, unidades da federação e seus respectivos municípios. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (MEC/INEP/DEED/CSI), 2013. Disponível em: <Disponível em: http://www.portal.inep.gov.br/indicadores-educacionais >. Acesso em: 18 nov.
2014. De modo geral, estudos realizados no Brasil sugerem que características individuais podem estar relacionadas ao desempenho escolar. Estudantes que são do sexo masculino (GUIMARÃES, 2010GUIMARÃES, R. R. de M. Probabilidade de progressão por série no Brasil: evolução, seletividade e aplicação de modelos de idade-período-coorte. 2010. 199 f. Tese (Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.; RIANI; RIOS-NETO, 2008Riani, J. L. R.; Rios Neto, E. L. G. Background familiar versus perfil escolar do município: qual possui maior impacto nos resultados educacional dos alunos brasileiros? Revista Brasileira de Estudos Populacionais, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 251-269, jul./dez. 2008.), que têm idade mais avançada (LEON; MENEZES-FILHO, 2002Leon, F. L. L.; Menezes Filho, N. Reprovação, avanço e evasão escolar no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro v. 32, n. 3, p. 417-451, dez. 2002.; RIANI; RIOS-NETO, 2008Riani, J. L. R.; Rios Neto, E. L. G. Background familiar versus perfil escolar do município: qual possui maior impacto nos resultados educacional dos alunos brasileiros? Revista Brasileira de Estudos Populacionais, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 251-269, jul./dez. 2008.), que são pardos (FRANCESCHINI; MIRANDA-RIBEIRO; GOMES, 2016FRANCESCHINI, V. C. L.; MIRANDA-RIBEIRO, P.; GOMES, M. M. F. The color of school failure: factors associated with academic failure of high-schhol students. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 3, p. 773-788, jul./set. 2016.) ou pardos e pretos (ALVES; Ortigão; Franco, 2007Alves, F.; Ortigão, I.; Franco, C. Origem social e risco de repetência: interação raça-capital econômico. Cad. Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 130, p. 161-180, jan./abr. 2007.; GONÇALVES, 2008Gonçalves, M. E. Análise de sobrevivência e modelos hierárquicos logísticos lontigudinais: uma aplicação à análise da trajetória escolar (4ª a 8ª série - Ensino Fundamental). 2008. 140 f. Tese (Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.; GUIMARÃES, 2010GUIMARÃES, R. R. de M. Probabilidade de progressão por série no Brasil: evolução, seletividade e aplicação de modelos de idade-período-coorte. 2010. 199 f. Tese (Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.), que trabalham (ALVES; Ortigão; Franco, 2007Alves, F.; Ortigão, I.; Franco, C. Origem social e risco de repetência: interação raça-capital econômico. Cad. Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 130, p. 161-180, jan./abr. 2007.; GONÇALVES, 2008Gonçalves, M. E. Análise de sobrevivência e modelos hierárquicos logísticos lontigudinais: uma aplicação à análise da trajetória escolar (4ª a 8ª série - Ensino Fundamental). 2008. 140 f. Tese (Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.; LEON; MENEZES-FILHO, 2002Leon, F. L. L.; Menezes Filho, N. Reprovação, avanço e evasão escolar no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro v. 32, n. 3, p. 417-451, dez. 2002.), cujas mães ou os próprios estudantes não têm filiação religiosa (CUNHA, 2012CUNHA, N. M. Religiosidade e desempenho escolar: o caso de jovens brasileiros da região metropolitana de Belo Horizonte. 2012. 125 f. Dissertação (Mestrado em Economia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.) e, no caso das alunas, que são pardas (FRANCESCHINI; MIRANDA-RIBEIRO; GOMES, 2016FRANCESCHINI, V. C. L.; MIRANDA-RIBEIRO, P.; GOMES, M. M. F. The color of school failure: factors associated with academic failure of high-schhol students. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 3, p. 773-788, jul./set. 2016.) e têm filhos (ABREU; MIRANDA-RIBEIRO; CÉSAR, 2000ABREU, D. M. X.; MIRANDA-RIBEIRO, P.; CÉSAR, C. C. “A gente na adolescência acha que sabe tudo mas não sabe nada”: gravidez na adolescência, redes familiares e condições de vida das jovens mães e de seus filhos em Belo Horizonte. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 12., 2000, Caxambu. Anais… Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP), 2000. v. 1.), tendem a ter pior desempenho escolar. Estudos quantitativos e qualitativos investigam a importância dos diversos aspectos dentro do universo da escola sobre o
desempenho escolar. Estudo com professores, administrador e alunos, através de entrevistas semiestruturadas, revela a importância da forte liderança institucional (empoderamento, decisão de fazer compartilhada e desenvolvimento da capacidade humana), eficácia coletiva (eficácia dos professores, abertura para comunicação, trabalho em equipe, flexibilidade, aprendizado organizacional) e foco na instrução diferenciada para o aluno (adaptação do currículo, constante monitoramento e programas
personalizados de orientação) como pontos importantes para se evitar o baixo desempenho escolar (AHUJA, 2007Ahuja, R. Towards an Understanding of Excellence in Urban Pedagogy: A Portrait of a High School. Qualitative Report, v. 12, n. 1, p. 1-19, 2007. Disponível em: <Disponível em: http://www.eric.ed.gov/PDFS/EJ800156.pdf >. Acesso em:14 mar.
2011. Entrevistas em profundidade, como com diretores, supervisores, professores de Língua Portuguesa e Matemática, alunos da terceira série do EM e também a observação direta do ambiente escolar e das aulas de Matemática e Português, sugerem que a excelência institucional é atribuída mais às qualidades de seus alunos do que à prevalência da excelência na rotina da escola, nas suas estruturas pedagógicas e administrativas. Mesmo assim, foram apontados aspectos importantes relativos à escola que contribuem para o desempenho dos alunos, tais como firmeza, objetividade e clareza da direção; ambiente favorável ao ensino/aprendizagem; corpo docente experiente e comprometido com os resultados dos alunos; clima interno favorável às inter-relações e estabilidade do quadro de pessoal (RESENDE, 2005RESENDE, M. A. M. Por que escolas com características semelhantes apresentam resultados tão diferentes? 2005. 134 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.). As características dos professores também são importantes no desempenho dos alunos, sobretudo aqueles que desenvolvem a prática reflexiva, conforme estudo que utiliza regressões múltiplas (AKBARI; ALLVAR,
2010Akbari, R.; Allvar, N. K. Teacher Characteristics as Predictors of Students’ Academic Achievement. TESL-EJ, v. 13, n. 4, 2010. Disponível em: <Disponível em: http://www.eric.ed.gov/PDFS/EJ898204.pdf >. Acesso em: 14 mar. 2011. A ausência de rotatividade dos professores durante o ano letivo, a experiência média dos professores com mais de dois anos em sala de aula, o uso do computador pelo professor para fins pedagógicos e a conexão com a internet apresentaram um efeito positivo sobre o
resultado médio obtido pelos alunos em Matemática (BIONDI; FELÍCIO, 2007Biondi R. L.; Felício, F. Atributos escolares e o desempenho dos estudantes: uma análise em painel dos dados do Saeb. Brasília, DF: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2007. Disponível em: <Disponível em: http://www.oei.es/pdfs/atributos_escolares_desempeno_brasil.pdf >. Acesso em: 6 jan.
2011. Dados para o Brasil e o estado de Minas Gerais indicam que o pior desempenho escolar durante o EM se dá na primeira série, em que são observados os maiores percentuais de reprovações, abandono escolar e distorção idade-série (quando o aluno cursa a série com idade acima da que seria correta). Em Ribeirão das Neves (RN), município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a situação não é diferente. Em 2013, a taxa de reprovação na rede estadual de ensino no País como um todo foi de 17,6% na primeira série e 7,1% na terceira série. Se Minas Gerais ficou bem melhor que a média nacional, com 8,9% de reprovação na primeira série e 6,6% na terceira, RN ocupou a posição intermediária, com 13,7% de reprovação na primeira série e 5,8% na terceira série. Já em relação às taxas de abandono escolar, 11,5% dos alunos do Brasil como um todo abandonaram a escola na primeira série e 6,5% na terceira série, números bem próximos dos observados em Minas Gerais - 12,6% e 6,0%, respectivamente - e RN - 12,5% e 6,8%, respectivamente. Finalmente, a distorção idade-série na primeira série em RN (35,2%) foi praticamente idêntica à de Minas (35,8%) e ficou muito próxima à média nacional (36,5%), ao passo que, na terceira série, ela foi menor em Minas (22,4%) do que em RN (25,5%), por sua vez menor que a do Brasil (28,9%) (CENSO…, 2013). Os números indicam, portanto, que a primeira série do EM pode ser considerada a porta de saída da escola no EM, sugerindo a necessidade de investigar mais a fundo o porquê do baixo desempenho escolar e buscar alternativas para que essa série seja tão somente a porta de entrada do EM. Ribeirão das Neves: um breve panoramaO município de Ribeirão das Neves (RN) está localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, possui cerca de 155 mil quilômetros quadrados e tinha quase 300
mil habitantes em 2010. É caracterizado por uma forte homogeneidade social e por ser um território de pobreza e sem tradição industrial (ANDRADE; MENDONÇA, 2010Andrade, L. T.; Mendonça, J. G. de. Explorando as consequências da segregação metropolitana em dois contextos socioespaciais. Cad. Metrop., São Paulo, v. 12, p. 169-188, jan./jun. 2010.). Apesar da redução no percentual de vulneráveis à pobreza nas últimas décadas passando de 71,2%
em 1991 para 53,6% em 2000, em 2010 ainda havia cerca de 30,0% dos habitantes do município nessa mesma condição (ATLAS..., 2013ATLAS do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013. Perfil do município de Ribeirão das Neves, MG. Disponível em: <Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_print/ribeirao-das-neves_mg >. Acesso em: 27 mar.
2014. O crescimento populacional de RN foi marcado pela migração de uma população com baixa escolaridade. Em 2000, cerca de 68,0% da população era composta por imigrantes, sendo que, no período de 1995-2000, quase 77,0% deles possuíam, no máximo, 8 anos de estudo, o que contribui para a reprodução da pobreza das
famílias (SOUZA, 2008Souza, J. A expansão urbana de Belo Horizonte e região metropolitana de Belo Horizonte: o caso específico do município de Ribeirão das Neves. 2008. 194 f. Tese (Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.). Em 2010, a maior parcela da população de RN ainda apresentava baixa escolaridade (quase 60,0% com EF incompleto e cerca de
20,0% com EM incompleto), uma pequena parcela tinha EM completo (em torno de 20,0%) e uma ínfima proporção tinha Ensino Superior (ES) completo (cerca de 2,0%). Entre a população com 18 anos ou mais, cerca 46,0% havia completado o EF e 27,0% o EM, ao passo que, entre a população de 25 anos ou mais, ainda havia 8,0% de analfabetos. Esse cenário pode ser efeito da composição da população, em função do peso das gerações mais antigas com menos escolaridade, mas revela, sem sombra de dúvida, uma
população que, além de ser pobre, também tem baixa escolaridade (ATLAS..., 2013ATLAS do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013. Perfil do município de Ribeirão das Neves, MG. Disponível em: <Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_print/ribeirao-das-neves_mg >. Acesso em: 27 mar. 2014. A baixa escolaridade da população de RN tem reflexos no rendimento mensal. Em 2010, quase 38,0% das pessoas com 10 anos ou mais de idade não possuíam rendimento mensal e cerca de 30,0% ganhavam menos de dois salários mínimos. Entre a população com idade de 18 anos ou mais que estava ocupada em 2013, 80,6% recebiam até dois salários mínimos, 52,7% tinham EF completo, 32,3% tinham EM completo e somente 3,0% haviam cursado ES (ATLAS...,
2013ATLAS do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013. Perfil do município de Ribeirão das Neves, MG. Disponível em: <Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_print/ribeirao-das-neves_mg >. Acesso em: 27 mar. 2014. Metodologia e dadosPara entender melhor quais são os motivos do fracasso escolar na perspectiva da infrequência, reprovação e abandono entre os adolescentes matriculados na primeira série do Ensino Médio, em 2014, em escolas da REE do município de RN, adotou-se a técnica de análise de Grupos Focais (GFs) com alunos e alunas, entrevistas em profundidade com coordenadoras e coordenadores. Em seguida, para análise das informações, aplicou-se a técnica da Análise de Conteúdo (AC). Todos os procedimentos realizados são descritos a seguir. A teoriaA análise qualitativa é um instrumento que possibilita captar informações que não são possíveis através da análise quantitativa, aprofundando nas questões de interesse com base nas perspectivas dos participantes. Apesar de as pesquisas qualitativas produzirem dados confiáveis e válidos (FAZITO, 2009FAZITO, D. Análises qualitativas na demografia: um exercício de autocrítca dos fundamentos e práticas no campo demográfico. In: MIRANDA-RIBEIRO, ANDREA; SIMÃO, A. (Org.). Qualificando os números: estudos sobre saúde sexual e reprodutiva no Brasil. 2. ed. Belo Horizonte: ABEP:UNFPA, 2009.), seu uso na demografia é mais recente que em outras áreas das ciências sociais. Os trabalhos pioneiros foram realizados por Caldwell, que fez etnografias na África ainda na década de 1970, e Knodel, que, na década de 1980, conduziu grupos focais, os quais, combinados com dados quantitativos, ajudaram a compreender a queda da fecundidade na Tailândia. No Brasil, a pesquisa qualitativa em demografia vem aos poucos ganhando espaço, uma vez que os demógrafos não se contentam só em saber “quantos”, mas querem entender “como” e “por que” (MIRANDA-RIBEIRO; SIMÃO, 2013MIRANDA RIBEIRO, P.; SIMÃO, A. B. How far have we progressed? Qualitative research in demography during the 21st century. 2013. Disponível em: <Disponível em: http://www.iussp.org/en/event/17/programme/paper/5685
>. Acesso em: 10 maio 2015. Entre as técnicas da pesquisa qualitativa estão os grupos focais (GFs), que tiveram início na metade da década de 80 do século passado (GATTI, 2005GATTI, B. A. Grupo focal na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Brasília: Liber Livro, 2005.), aplicados em áreas relacionadas às pesquisas de mercado, política, estudos de comunicação, educação, ciência política e saúde pública (MORGAN, 1996MORGAN, D. L. Focus Groups. Annual Review Sociol. v. 22, p. 129-152. 1996.). Ao utilizar a técnica de GF, o interesse do pesquisador está não em saber o que as pessoas pensam e expressam, mas, sim, como elas pensam e por que pensam daquela forma (GATTI, 2005GATTI, B. A. Grupo focal na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Brasília: Liber Livro, 2005.). O GF é uma reunião entre pessoas que discutem sobre um tema levantado pelo pesquisador, sob a condução de um moderador, que tem o papel de fazer fluir a discussão sem se posicionar a respeito de questões levantadas. As informações emanadas desse tipo de discussão podem implicar aspectos normativos e valorativos do tema (FALLON; BROWN, 2002Fallon, G.; Brown, R. B. Focusing on focus groups: lesson form a research project involving a Ganbladeschi communit. Qualitative research Copyright ©2002Sage Publications - London, Thousand Oaks, CA and New Delhi. v. 2, n. 2, p. 195-208. ago2002.; GATTI, 2005GATTI, B. A. Grupo focal na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Brasília: Liber Livro, 2005.; MORGAN, 1996MORGAN, D. L. Focus Groups. Annual Review Sociol. v. 22, p. 129-152. 1996.), tornando-se, portanto, uma fonte de dados (MORGAN, 1996MORGAN, D. L. Focus Groups. Annual Review Sociol. v. 22, p. 129-152. 1996.) e passíveis de ações políticas (FALLON; BROWN, 2002Fallon, G.; Brown, R. B. Focusing on focus groups: lesson form a research project involving a Ganbladeschi communit. Qualitative research Copyright ©2002Sage Publications - London, Thousand Oaks, CA and New Delhi. v. 2, n. 2, p. 195-208. ago2002.). Alguns aspectos importantes devem ser levados em conta no momento de realização do GF. Os papéis do moderador e do relator devem ser informados ao grupo, assim como o fato de a discussão ser gravada, justificando a necessidade de não se perderem as informações. A confidencialidade das informações também deve ser enfatizada no início da realização do GF, de forma a garantir aos participantes o anonimato (MORGAN, 1996MORGAN, D. L. Focus Groups. Annual Review Sociol. v. 22, p. 129-152. 1996.). Todas essas informações devem ser dadas quando da leitura do TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A seleção dos participantes dos GFs deve privilegiar características comuns entre os membros, que os qualifiquem para discussão do tema em questão, de modo que seja o mais homogêneo possível (FALLON; BROWN, 2002Fallon, G.; Brown, R. B. Focusing on focus groups: lesson form a research project involving a Ganbladeschi communit. Qualitative research Copyright ©2002Sage Publications - London, Thousand Oaks, CA and New Delhi. v. 2, n. 2, p. 195-208. ago2002.; GATTI, 2005GATTI, B. A. Grupo focal na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Brasília: Liber Livro, 2005.; MORGAN, 1996MORGAN, D. L. Focus Groups. Annual Review Sociol. v. 22, p. 129-152. 1996.). Há controvérsias a respeito da participação de pessoas que se conhecem, já que se prevê o anonimato, mas, muitas vezes, quando os participantes se conhecem, podem se sentir mais à vontade para se expressarem (FALLON; BROWN, 2002Fallon, G.; Brown, R. B. Focusing on focus groups: lesson form a research project involving a Ganbladeschi communit. Qualitative research Copyright ©2002Sage Publications - London, Thousand Oaks, CA and New Delhi. v. 2, n. 2, p. 195-208. ago2002.). O número de grupos necessários e o ambiente no qual será realizado também devem ser levados em conta. Segundo Morgan (1996MORGAN, D. L. Focus Groups. Annual Review Sociol. v. 22, p. 129-152. 1996.), grupos menores são indicados para temas que envolvem o emocional dos participantes e geram maior nível de participação dos mesmos, enquanto grupos maiores são apropriados para temas mais neutros, que demandam menor nível de envolvimento dos participantes. De acordo com Fallon e Brown (2002Fallon, G.; Brown, R. B. Focusing on focus groups: lesson form a research project involving a Ganbladeschi communit. Qualitative research Copyright ©2002Sage Publications - London, Thousand Oaks, CA and New Delhi. v. 2, n. 2, p. 195-208. ago2002.), o número de participantes deve ficar entre quatro e oito membros, sendo oito um número ótimo de participantes. Outro método também utilizado na pesquisa qualitativa é a entrevista semiestruturada, que tem como característica teorias e hipóteses que são as bases para os questionamentos centrais feitos através de um roteiro com perguntas. Apesar dessa característica, esse tipo de entrevista possibilita que informações surjam de forma mais livre, de modo que as respostas não são padronizadas (MAZZINI, 2004). As diversas técnicas qualitativas podem ser empregadas conjuntamente, dependendo dos objetivos dos pesquisadores. As informações obtidas nas diversas técnicas qualitativas podem ser analisadas através da análise de
conteúdo. Essa técnica surgiu no século XX, nos Estados Unidos, aplicada à interpretação de material jornalístico. A partir de 1960, passou a ser utilizada também em outras áreas das ciências humanas (CAREGNATO; MUTTI, 2006Caregnato, R. C. A.; Mutti, R. Pesquisa qualitativa: análise de discurso versus análise de conteúdo. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 15, n. 4, p. 679-84, out./dez. 2006. Disponível em: <Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/tce/v15n4/v15n4a17 >. Acesso em: 23 maio 2010. A práticaA população-alvo desta pesquisa foram os alunos da primeira série do EM, matriculados em escolas da REE, com idades entre 15 e 19 anos. As escolas escolhidas para a realização dos GFs e das entrevistas estavam entre as participantes da Pesquisa de Avaliação do Ensino Médio - Pesquisa Jovem, um survey de cunho longitudinal, realizado entre 2007 e 2010 pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Faculdade de Ciências Econômicas (FACE), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a colaboração da Secretaria de Estado de Educação (SEE) e o financiamento da Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDESE) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Das escolas estaduais do município de RN, onze fizeram parte da Pesquisa Jovem. A amostragem dessas escolas foi feita por conglomerados em um estágio, com estratificação geográfica. O número de escolas em cada um dos estratos geográficos foi proporcional ao número de escolas que pertenciam a cada uma das regiões (Amostragem Sequencial de Poisson) igual ao número de alunos matriculados na primeira série do EM. Para selecionar as escolas, foi utilizada a amostragem proporcional ao tamanho da escola (VIEIRA, 2009VIEIRA, M. T. Relatório 6: Cálculo dos Pesos Amostrais para a Pesquisa de Avaliação do Programa Poupança Jovem (PJ) da Coorte de 2008 (Linha de Base) no Município de Ribeirão das Neves e Municípios Adjacentes (Produto 6). Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais. ago2009.). A pesquisa qualitativa utilizada no presente trabalho, intitulada Conciliando trabalho e escola? Lições de uma coorte de alunos do 1º ano do Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino do município de Ribeirão das Neves, foi realizada em 2014, com a aprovação Comitê de Ética e Pesquisa (COEP) da UFMG (Parecer Consubstanciado 198.526). A coleta de dados foi autorizada pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais - Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação Básica, Comissão de Ética. Não houve conflito de interesse em relação aos métodos utilizados como parte da investigação ou interesse financeiro dos pesquisadores. Foram visitadas três escolas nas regiões de Justinópolis e Centro de RN, onde foram realizados oito GFs, com oito participantes em cada um. Quatro grupos eram compostos somente por alunas, e quatro, somente por alunos. Os GFs foram previamente agendados através de contato telefônico feito entre a primeira autora e a coordenação das escolas (diretores, supervisores ou coordenadores) e conduzidos em horário de aula, no período entre 16 e 25 de julho de 20141 1 A segunda quinzena do mês de julho foi período letivo em 2014, devido à antecipação das férias escolares, que coincidiram com a Copa do Mundo do Brasil, realizada entre 12/06/14 e 13/07/14. , utilizando um roteiro já testado previamente. Durante a realização do primeiro GF, percebeu-se a necessidade de ouvir, também, a direção da escola a respeito dos aspectos discutidos nos grupos. Era preciso entender o outro lado das estórias. Diante disso, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com coordenadores e coordenadoras nessas escolas. A partir das transcrições, a análise dos dados foi realizada com base na técnica de AC. O material foi transcrito, lido, grifado e codificado, considerando primeiramente os grandes temas e, em cada um deles, os respectivos subtemas. Também foi feita a identificação de cada fala, usando a codificação para todos os participantes, sempre indicados pela letra P, seguindo a posição que este ocupava na mesa do GF. A numeração foi feita em sequência com relação aos grupos, gerando 64 códigos (8 participantes x 8 grupos) para as falas (P1 a P64). Infelizmente, não foi possível identificar absolutamente todas as falas porque, em alguns momentos, os alunos e as alunas falavam ao mesmo tempo. Para não perder o conteúdo destas, lançou-se mão da codificação utilizando P?, sendo P o código para participante, e ?, aquele(a) cuja fala não foi identificada. Quando um nome que não correspondia a nenhum dos integrantes do GF era mencionado, foi utilizada a sua inicial. Para os coordenadores e as coordenadoras, a codificação utilizada foi a letra C, seguida de um número, que seguiu a ordem das entrevistas. Na escola 1, foram entrevistados os coordenadores do turno da manhã (C1) e o do turno da noite (C2). Na escola 2, somente o(a) coordenador(a) do turno da manhã (C3) foi entrevistado(a). O mesmo ocorreu na escola 3 (C4). As falas da moderadora foram identificadas pela letra M. Os trechos com as falas dos grupos estão identificados através da letra G e dos números de 1 a 8, que correspondem aos 8 grupos realizados. Os resultadosApós todos os procedimentos realizados conforme descrito na seção anterior, foi possível obter alguns resultados que são apresentados a seguir. Eles estão divididos conforme as visões de alunos(as) e coordenadores(as) a respeito das motivações para a infrequência, a reprovação e o abandono escolar e quais são as formas de reverter o fracasso escolar. Motivações para infrequência, reprovação e abandono escolar: o que dizem os(as) alunos(as) e os(as) coordenadores(as) das escolas?O trabalho é apontado por estudantes e coordenadores(as) como um dos motivos da infrequência. A literatura aponta que o trabalho ocorre, em maior medida, entre os alunos homens (ALVES; Ortigão; Franco, 2007Alves, F.; Ortigão, I.; Franco, C. Origem social e risco de repetência: interação raça-capital econômico. Cad. Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 130, p. 161-180, jan./abr. 2007.; GONÇALVES, 2008Gonçalves, M. E. Análise de sobrevivência e modelos hierárquicos logísticos lontigudinais: uma aplicação à análise da trajetória escolar (4ª a 8ª série - Ensino Fundamental). 2008. 140 f. Tese (Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.; LEON; MENEZES-FILHO, 2002Leon, F. L. L.; Menezes Filho, N. Reprovação, avanço e evasão escolar no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro v. 32, n. 3, p. 417-451, dez. 2002.). Segundo a fala de um coordenador, é exatamente isso que ocorre na escola em RN: trabalhar é mais comum entre os rapazes, muitos deles arrimos de família, responsáveis pelo sustento da casa. Mais vale o retorno imediato do trabalho, muito valorizado e necessário para a família, do que a possibilidade de um emprego melhor no futuro, em função de uma maior escolaridade. São exatamente os rapazes os mais afetados pelo baixo desempenho escolar, se comparados às alunas (GUIMARÃES, 2010GUIMARÃES, R. R. de M. Probabilidade de progressão por série no Brasil: evolução, seletividade e aplicação de modelos de idade-período-coorte. 2010. 199 f. Tese (Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.; RIANI; RIOS-NETO, 2008Riani, J. L. R.; Rios Neto, E. L. G. Background familiar versus perfil escolar do município: qual possui maior impacto nos resultados educacional dos alunos brasileiros? Revista Brasileira de Estudos Populacionais, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 251-269, jul./dez. 2008.). Há dificuldade em conciliar trabalho e estudo, conforme a fala de um participante de grupo focal, que se refere ao cansaço depois de um dia inteiro de serviço.
Outros aspectos que acabam interferindo na frequência escolar e/ou na continuidade dos estudos estão relacionados a questões familiares. Uma delas é o acompanhamento dos estudos. Apesar de os alunos já estarem no EM, os alunos e as alunas que não têm acompanhamento da família acabam tendo pior desempenho, chegando à reprovação.
Muitas vezes, a mãe precisa trabalhar e o adolescente acaba tendo a responsabilidade de cuidar dos irmãos, prejudicando seus estudos por não poder comparecer às aulas. Alunas casadas também têm tarefas domésticas, o que pode prejudicar a frequência à escola.
Quando ocorre uma gravidez na adolescência, o que primeiro vêm à mente é que as jovens mães abandonam a escola. No entanto, há exemplos na literatura de situações
de apoio das famílias às mães adolescentes através do cuidado dos bebês, o que permite às mães adolescentes continuarem na escola (ABREU; MIRANDA-RIBEIRO; CÉSAR, 2000ABREU, D. M. X.; MIRANDA-RIBEIRO, P.; CÉSAR, C. C. “A gente na adolescência acha que sabe tudo mas não sabe nada”: gravidez na adolescência, redes familiares e condições de vida das jovens mães e de seus filhos em Belo Horizonte. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 12., 2000, Caxambu.
Anais… Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP), 2000. v. 1.; BRANDÃO; HEILBORN, 2006BRANDÃO, E. R.; HEILBORN, M. L. Sexualidade e gravidez na adolescência entre os jovens de camadas médias do Rio de Janeiro, Brasil. Caderno de saúde pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 7, p. 1421-1430, jul. 2006. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v22n7/07.pdf >. Acesso em: 11 ago.
2009.
Outra dificuldade vivida por muitos adolescentes de RN é a dificuldade de custear a ida e a volta da escola. Não ter dinheiro para o transporte (ônibus convencional ou van escolar) contribui para que os estudantes de menor poder aquisitivo sejam infrequentes.
Assim como em muitas cidades brasileiras, a violência é um problema grave em RN e acaba sendo um dos motivos para não ir à aula. Cunha (2012CUNHA, N. M. Religiosidade e desempenho escolar: o caso de jovens brasileiros da região metropolitana de Belo Horizonte. 2012. 125 f. Dissertação (Mestrado em Economia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.), ao analisar a relação entre religião e desempenho escolar em alguns municípios de Minas Gerais, incluindo RN, indica que mais de 50% dos adolescentes percebe a vizinhança da escola como violenta. As falas dos alunos e das alunas de RN reforçam a ideia de que a violência, tanto dentro quanto fora da escola, contribui para infrequência.
A falta de interesse do próprio aluno é outro fator que interfere no desempenho, contribuindo para a infrequência escolar, que, por sua vez, pode levar à reprovação, tanto pelo número de faltas quanto pela perda de conteúdo. O problema da falta de interesse é que, muitas vezes, mesmo que a escola tenha uma postura de viabilizar a recuperação dos alunos para que possam progredir de série, isso não acontece.
A motivação e o empenho dos alunos para estudar estão muito relacionados à figura do professor (FRANCHIN;
BARRETO, 2006FRANCHIN, F.; BARRETO, S. M. G. Motivação nas Aulas de Educação Física: um enfoque no Ensino Médio. In: SEMINÁRIO DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, 1., 2006, São Carlos. Anais... São Carlos: CEEFE/UFSCar, 2006. Disponível em: <Disponível em: http://www.eefe.ufscar.br/pdf/fabiana.pdf >. Acesso em: 8 maio 2013.
Somam à lista das razões para o abandono escolar as drogas, as más companhias, a experiência de já ter sido reprovado, o bullying e a falta da presença familiar.
Em suma, os motivos para a infrequência, a reprovação e o abandono escolar apontados por estudantes e coordenadores(as) da 1ª série do EM em RN são bastante similares e se reforçam. São eles o trabalho, as questões familiares (falta de acompanhamento escolar por parte das famílias, necessidade de cuidar de irmãos, maridos e filhos), não ter dinheiro para o transporte escolar, a violência na escola e fora dela, a falta de interesse nas aulas, os professores ruins, o uso de drogas, as más companhias, o bullying e ter tido reprovação anterior. Quais são as formas de reverter essa situação? Esse é o tema tratado a seguir. Como reverter o fracasso escolar? O que dizem os(as) alunos(as) e os(as) coordenadores(as) das escolasAs opiniões dos participantes dos grupos focais e das coordenações das escolas a respeito das medidas que poderiam ser tomadas para mudar o quadro de infrequência, reprovação e abandono escolar foram muito similares e passam por ações do Estado, da escola, da família e do próprio aluno. Na esfera do Estado, percebe-se a necessidade de iniciativas do governo que possam motivar os alunos a completarem seu ciclo escolar, tais como o programa Poupança Jovem, bem como uma ação direta dentro das escolas, através do acompanhamento diário do que acontece com os adolescentes, como forma de intervenção mais rápida sobre os problemas. Além disso, é preciso haver investimento nas escolas e nos professores, sobretudo em termos salariais. Um professor que trabalha em várias escolas e/ou em três turnos não tem condições de preparar suas aulas a contento.
No que tange ao papel da escola no desempenho escolar dos alunos, alguns trabalhos apontam que o efeito da escola é menor, se comparado ao background familiar (RIANI, 2005RIANI, J. L. R. Determinantes do resultado educacional no Brasil: família, perfil escolar dos municípios e dividendo demográfico numa abordagem hierárquica e espacial.
2005. 234 f. Tese (Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.) ou à qualidade dos seus alunos (RESENDE, 2005RESENDE, M. A. M. Por que escolas com características semelhantes apresentam resultados tão diferentes? 2005. 134 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2005.; RIANI, 2005PORTO, I. C. M. G. Investigando a motivação de estudantes de Ensino Médio em relação à matemática. 2005. Disponível em: <Disponível em: http://www.ucb.br/sites/100/103/TCC/22005/IsabelCristinadeMeloGPorto.pdf >. Acesso em: 8 maio 2013. Nesse sentido, a gestão escolar, que também aparece na forma de como a escola estabelece a relação com os alunos, é um diferencial importante. Resende (2005RESENDE, M. A. M. Por que escolas com características semelhantes apresentam resultados tão diferentes? 2005. 134 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de
Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.) e Ahuja (2007)Ahuja, R. Towards an Understanding of Excellence in Urban Pedagogy: A Portrait of a High School. Qualitative Report, v. 12, n. 1, p. 1-19, 2007. Disponível em: <Disponível em: http://www.eric.ed.gov/PDFS/EJ800156.pdf >. Acesso em:14 mar.
2011.
Segundo a literatura, o papel dos professores em sala de aula é decisivo no processo de aprendizagem (AKBARI; ALLVAR, 2010Akbari, R.; Allvar, N. K. Teacher
Characteristics as Predictors of Students’ Academic Achievement. TESL-EJ, v. 13, n. 4, 2010. Disponível em: <Disponível em: http://www.eric.ed.gov/PDFS/EJ898204.pdf >. Acesso em: 14 mar. 2011.
É importante lembrar que o professor criativo pode promover aulas dinâmicas e interativas, mas a escola, através de sua infraestrutura, precisa ser uma aliada. Nesse aspecto, é necessária uma atenção maior tanto na qualidade quanto na forma de utilização dos recursos existentes nas escolas, uma vez que estudos apontam que as escolas, a partir de suas instalações, currículos e, principalmente, da qualidade dos professores interferem sobre o desempenho de seus alunos (COLEMAN, 2008COLEMAN, J. S. Desempenho nas escolas públicas. In: BROOKE, N.; SOARES, J. F. Pesquisa em eficácia escolar: origens e trajetórias. Belo Horizonte: UFMG, 2008. p. 26-32.). Outra questão relevante é pensar que, além da necessidade de o Estado garantir que as escolas tenham infraestrutura adequada, os professores precisam ser capacitados para utilizar os meios oferecidos, bem como que a escola seja capaz de manter o espaço conservado e em atividade. Um dos espaços muito desejados pelos adolescentes é a sala de informática, que, em algumas escolas, é subutilizada, ocupada para outra função ou não tem todos os equipamentos necessários.
Para diversificar e dinamizar a produção do conhecimento, atividades como excursões e palestras podem ser uma forma mais prazerosa de aprendizado. Essas são atividades muito desejadas por alunas e alunos. No entanto, como se trata de uma população de alta vulnerabilidade, seria necessário que elas fossem custeadas pelo Estado.
Para reverter o quadro que leva os(as) alunos(as) à infrequência, à reprovação e ao abandono escolar, são necessárias, também, ações das famílias e dos próprios alunos. Apesar de o EM ser uma
fase do ciclo de escolarização na qual o acompanhamento escolar pelos pais surte menores efeitos quando comparado ao EF (MARE, 1980MARE, R. Social Background and School Continuation Decisions. Journal of the American Statistical Association, v. 75, n. 370, p. 295-305, jun. 1980. Disponível em: <Disponível em: http://www.jstor.org/stable/2287448?seq=1#page_scan_tab_contents >. Acesso em: 29 jun.
2015.
Em suma, as vozes de estudantes e coordenadores(as) do 1º ano do EM em RN sugerem que algumas ações poderiam reduzir ou até mesmo reverter o fracasso escolar. São elas ações do Estado (infraestrutura nas escolas, salários de professores decentes, programas de incentivo à permanência na escola), da escola (professores mais bem-preparados e motivados, novas práticas de ensino, que vão além da aula expositiva, escuta dos problemas por parte da diretoria), da família (acompanhamento do desempenho escolar e maior participação em reuniões na escola) e do próprio aluno (mais dedicação e atenção em sala de aula). Considerações finaisOs problemas relacionados ao desempenho escolar vêm sendo abordados na literatura, em grande medida, através de metodologias quantitativas, em estudos que têm privilegiado, sobretudo, o Ensino Fundamental. Este artigo utilizou dados qualitativos para analisar outra fase escolar, qual seja, o Ensino Médio, o maior gargalo na educação brasileira atualmente. Com o objetivo de entender, de acordo com estudantes e coordenadores(as) de escolas da rede estadual do município do Ribeirão das Neves, MG, quais seriam as motivações para o fracasso escolar - entendido como infrequência, reprovação e abandono - e quais seriam os meios para revertê-lo, foram realizados oito grupos focais com os adolescentes e quatro entrevistas semiestruturadas com as coordenações. A análise dos dados foi feita através da técnica de análise de conteúdo. Em municípios de alta vulnerabilidade social, como é o caso de RN, os problemas relacionados a infrequência, reprovação e abandono escolar são ainda mais preocupantes. Cabe lembrar que, no que tange à 1ª série do EM, o município tem elevadas taxas de reprovação (13,7%) e abandono (12,5%) (CENSO…, 2013). Nesse sentido, os participantes dos GFs se constituem em um grupo bastante seletivo, pois permaneceram na escola até a 1ª série do EM. Os mais vulneráveis já evadiram antes disso. De modo geral, as percepções dos estudantes e das coordenações a respeito das motivações para os três tipos de fracasso escolar foram similares. As adolescentes do sexo feminino são, em grande medida, as responsáveis pelo cuidado de irmãos (em substituição às mães, que estão trabalhando), maridos (entre as unidas) e filhos (no caso das que são mães), assumindo o papel de cuidadoras. Em algumas situações de gravidez, a continuidade dos estudos somente é possível com a ajuda das famílias, sobretudo das avós. Já os adolescentes do sexo masculino, muitas vezes, são os responsáveis pelo sustento da família, assumindo o papel de provedores. Ambos os papéis de gênero, apesar de extremamente tradicionais, têm um impacto negativo no desempenho escolar, levando a um aumento da infrequência, da repetência e do abandono. Mesmo que o acompanhamento da vida escolar dos alunos pelos pais tenha maior peso no EF, a percepção tanto dos adolescentes quanto das coordenações é que ele ainda se faz necessário no EM. Foram mencionados acompanhamentos diários, através de monitoramentos, cobranças e incentivos, além de participação em reuniões nas escolas. É importante salientar que esse acompanhamento foi reconhecido pelos entrevistados como uma das maneiras de se reduzir o fracasso escolar. A falta de interesse por parte de alunos e alunas é assustadora, mas, ao mesmo tempo, perfeitamente compreensível. Impossível ter estudantes interessados em aulas cansativas, com muita cópia de matéria passada no quadro, com pouca interação entre professor(a) e alunos. Ao mesmo tempo, é impossível ter professores motivados se os salários são baixos, e a carga de trabalho deles, absurdamente alta. Soma-se a isso a falta de infraestrutura das escolas - salas de informática equipadas e em perfeito funcionamento, com professores treinados para utilizá-las; bibliotecas que sejam mais do que meros depósitos de livros; laboratórios para experimentos; excursões. Para resolver a falta de interesse dos alunos, é preciso que eles mesmos façam a sua parte prestando mais atenção às aulas e se dedicando mais aos estudos. Os professores também precisam fazer a parte deles ministrando aulas mais dinâmicas e criativas. Os diretores também precisam estar mais atentos às reclamações e às dificuldades dos alunos. No entanto, tudo isso depende, antes de mais nada, de o Estado fazer a sua parte, melhorando a infraestrutura das escolas, oferecendo treinamento aos seus funcionários e pagando salários justos. A violência também entra no rol dos problemas que merecem mais atenção, tanto dentro quanto fora das escolas, sobretudo em regiões de maior vulnerabilidade social, como é o caso de RN. Finalmente, entre as motivações para o fracasso escolar mencionadas pelos entrevistados e pouco usual nas abordagens sobre o tema está a dificuldade do custeio do transporte. Sem a garantia do direito de ir e vir dos alunos entre suas residências e a escola, aqueles de menor nível socioeconômico ficam ainda mais vulneráveis ao fracasso escolar. A 1ª série é a porta de entrada do EM. No entanto, em RN, município de baixa renda e alto fracasso escolar (um a cada oito estudantes abandona a escola e cerca de um a cada sete repete a 1ª série), assim como tantos outros municípios pobres deste País, os muitos problemas que foram apontados por estudantes e coordenadores(as) podem transformar a porta de entrada em porta de saída. REFERÊNCIAS
O que são portas de entrada e saída?Dispositivos de entrada e saída são os aparelhos que permitem a interação de um processador, geralmente um computador, com o homem. Também são conhecidos como periféricos e possibilitam a entrada e saída de dados.
Qual a diferença entre entrada e saída?Os periféricos de entrada e saída são componentes de hardware dos computadores. Os de entrada são utilizados para colocar informações em um sistema, enquanto que os de saída transmitem os dados processados na máquina para os usuários.
O que é porta de saída?Porta de saída são as vias pelas quais o agente é eliminado como por exemplo a secreções, tosse, urina, sangue.
Quais são as principais portas para a conexão de periféricos?Hoje em dia, todos os periféricos utilizam o USB como forma de se conectar ao computador: impressora, scanner, câmera digital, joystick, mouse, modem, HD, leitor de CD ou DVD, pen drives, entre tantos outros que você conhece.
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