A mesma mao te apetreja

Versos Intimos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a ingratidão – esta pantera –

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo, Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja esta mão vil que te afaga,

Escarra nesta boca que te beija!

Autor: (Augusto dos Anjos)

7 Answers

  • Boa noite Estrela, parabéns pela pergunta e obrigado por ter compartilhado um lindo e profundo poema de Augusto dos Anjos. Ainda bem que ainda há espaço para a sensibilidade e para a poesia no YR.

    Infelizmente neste ensandecido circo de feras, impera a lei da sobrevivência, ou a do mais forte, e a mesma mão que afaga…é capaz de ferir e matar.

    Já como diria Alceu Valença:

    Eu sempre andei sozinho

    A mão esquerda vazia

    A mão direita fechada

    Sem medo por garantia

    De encontrar quem me ama

    na hora que me odeia

    Com esse punhal de prata

    Brilhando na lua cheia

    Talvez já a tenhas ouvido, mas mesmo assim, te dedico uma canção estrelada de um compositor gaúcho, Vitor Ramil:

    Vitor Ramil – Estrela, Estrela

    Estrela, estrela

    Como ser assim

    Tão só, tão só

    E nunca sofrer

    Brilhar, brilhar

    Quase sem querer

    Deixar, deixar

    Ser o que se é

    No corpo nu

    Da constelação

    Estás, estás

    Sobre uma das mãos

    E vais e vens

    Como um lampião

    Ao vento frio

    De um lugar qualquer

    É bom saber

    Que és parte de mim

    Assim como és

    Parte das manhãs

    Melhor, melhor

    É poder gozar

    Da paz, da paz

    Que trazes aqui

    Eu canto, eu canto

    Por poder te ver

    No céu, no céu

    Como um balão

    Eu canto e sei

    Que também me vês

    Aqui, aqui

    Com essa canção

    Um beijão e um ótimo fim de semana!!!

  • Só permito que me afague mãos sinceras, e de jeito nenhum pedras não podem me atringir…sou veloz , lenta,

    e agarro muito bem podeeria estar no PAM mas Augusto dos Anjos tem seu momento PAM nesta poesia…!!! e se por acaso, me atingirem fisicamente, não vão modificar meu pensamento com relação a mim e as pessoas…cada um dá

    o que pode ! e cada outro recebe o q. merece, sempre!!!!

    Deus nos proteja !

  • Você esta em um estagio muito bom de fazer uma coisa por você vá a uma igreja e fale com Deus ele vai te atender em uma resposta das grandes

  • Geralmente é, por isso são tão doídas certas pedradas.

  • Não devia.

    Pois as mãos que tocam em flores deviam está sempre perfumadas.

  • é sim. se não fosse a mãe não mataria o filho e nem o filho mataria a mãe…

  • Não. Nós temos duas mãos. Podemos variar. Rsrsrrss

A mesma mao te apetreja

Frei Gustavo Medella

“A mão que afaga é a mesma que apedreja”. Este verso, do Poema Versos Íntimos, do poeta Augusto dos Anjos, ilustra bem a relação entre o Evangelho do último domingo (Mt 16,13-20) e o Evangelho que será proclamado neste 22º Domingo do Tempo Comum (Mt 16,21-27). Se, no domingo passado, Pedro surpreende e “afaga” o coração de Jesus com sua profissão de fé (“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”), neste fim de semana o apóstolo troca os pés pelas mãos e manda uma “pedrada” certeira no projeto do Reino pregado por Jesus, desejando desviar o mestre do caminho que Ele deveria trilhar (“Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!”). Pedro ainda não havia compreendido que a fidelidade de Jesus ao Projeto do Pai renderia ao Cristo resistências e inimizades, levando-o à morte. Faltava ao apóstolo compreender o mistério da cruz.

Sendo assim, depois de passar uma descompostura em Pedro, chamando-o inclusive de “Satanás” e “pedra de tropeço”, o Mestre, pacientemente, ensina aos discípulos que o caminho de seu seguimento é necessariamente o caminho da cruz: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga”. É… de vez em quando também nós, ao modo de Pedro, precisamos levar uma “chacoalhada” de Cristo, trazendo-nos novamente à realidade do discipulado que pressupõe trabalho constante, dedicação generosa e comprometimento integral. Se o Senhor de fato nos seduziu, como o fez com Jeremias, conforme narra a 1ª Leitura (Jr 20,7-9), busquemos nos colocar com paixão e entusiasmo na adesão ao Projeto do Reino.