A chance de homens e mulheres serm daltonico é mesma

RAQUEL MOZARDO

O daltonismo, doença ocular caracterizada por, na grande maioria, como uma deficiência genética que dificulta a percepção de cores primárias, pode impedir o exercício de algumas profissões, como pintor, geógrafo, piloto de avião ou qualquer outra atividade que exige o contato com tonalidades.

“Quando vou dar aula, tenho dificuldade quando a matéria é sobre cores. Por isso que eu inclusive evito dar aulas para turmas básicas. Alguns exercícios propõem que o aluno relacione as cores e esses são os mais difíceis de trabalhar em cima”, explica o daltônico e professor de inglês, Vagner Serafim.

O portador da doença encara dificuldades durante o dia, o simples fato de escolher uma roupa ou renovar a carta de habilitação são problemas que o daltônico enfrenta. “Hoje minha maior dificuldade é renovar a habilitação, tenho que fazer muitos exames para ter o documento. Outro problema para mim é o farol, eu vou pela ordem das luzes, mas os semáforos não são padronizados e isso é um transtorno”, conclui Vagner.

“Os cones da retina têm em seu núcleo, diversos pigmentos que possibilitam a distinção das cores. Os cones de um daltônico podem ter alguma alteração ou não estar em quantidade suficiente. Esses cones identificam as cores verde, vermelho e azul, que juntas formam os demais tons”, explica o oftalmologista José Salaroli, da COSB (Clínica de Olhos de São Bernardo).

No Brasil existem cerca de 15 milhões de daltônicos, sendo mais fácil encontrar a doença em homens, com 5% dos casos, do que em mulheres, com 0,25%. Isso ocorre porque o daltonismo afeta o cromossomo X. Já que o homem tem cromossomo XY, caso ele venha a receber dos pais um cromossomo X defeituoso, ele tem 100% de chance de ser portador da doença. Por outro lado a mulher, que tem cromossomo XX, tem 50% de chance de receber um gene ruim, diminuindo a probabilidade de portar o daltonismo.

A doença se manifesta na infância e pode ser percebida pela escola ou até mesmo pelos pais. “Eu percebi o daltonismo nas aulas de pintura, quando eu ia desenhar, eu pintava conforme o que eu via. Inclusive fiquei, muitas vezes, de castigo por terem pensado que eu estava brincando em sala de aula. Mas foi assim que se descobriu que eu era daltônico”, conta o professor de inglês.

Há vários tipos de daltônicos, 75% não identificam a cor verde (deutanopia), 24% têm dificuldade em enxergar a cor vermelha (protanopia) e 1% não veem a cor azul (tritanopia). E ainda existe um caso mais raro, que são aqueles que não reconhecem nenhuma cor primária e enxerga tudo em preto e branco, são os acromatas.

O daltonismo interfere na forma como se percecionam as cores, atingindo muito mais os homens do que as mulheres, como explica a oftalmologista Ana Amaro, do Hospital Lusíadas Lisboa.

O que é?

O daltonismo (ou discromatopsia) é a dificuldade de distinguir as cores. O nome deve-se a John Dalton, o primeiro cientista a descrever a anomalia da qual ele próprio era portador, ainda no século XVIII. A forma mais comum afeta a perceção do vermelho e do verde; seguindo-se a perceção do azul e do amarelo.

A ausência total de visão cromática é uma forma grave mas muito mais rara de daltonismo, condicionando uma visão a preto e branco e uma acuidade visual muito baixa. A capacidade da retina codificar a cor dos objetos deve-se à presença de células nervosas muito especializadas, capazes de captar a luz nos mais variados comprimentos de onda.

Estas células, chamadas cones, têm pigmentos que são impressionados pela luz e desta forma reconhecem e transmitem ao cérebro a cor dos objetos visualizados.

Como é causado?

Os defeitos de visão cromática (relativos às cores) podem ser hereditários ou adquiridos. As causas hereditárias são muito mais frequentes e afetam principalmente a distinção das cores do espetro vermelho-verde. Já os problemas adquiridos, mais raros, refletem-se predominantemente no espetro azul-amarelo.

Quem é afetado?

Estima-se que 8% a 10% dos homens e 0,5% das mulheres, com ascendência genética europeia, sofram de daltonismo. Noutras populações a incidência é mais baixa.

O que explica a diferença entre os sexos?

O gene do daltonismo é transportado pelo cromossoma X. As mulheres têm dois cromossomas X, por isso, mesmo que tenham a anomalia genética, é compensada pelo par correspondente, não manifestando a doença mas tendo, no entanto, capacidade de a transmitir. Como os homens só têm um cromossoma X, se herdarem o gene do daltonismo de um dos pais, a doença vai manifestar-se.

De que forma o daltonismo condiciona a visão?

Na maioria dos casos, os défices não são absolutos. Muitas vezes os daltónicos conseguem distinguir as cores em que a sua perceção está afetada, apesar de as verem menos saturadas. A maior dificuldade prende-se com a distinção das cores intermédias. Por exemplo, na gama do vermelho-verde, a dificuldade é relativa a cores como laranja, castanho, verde-seco ou rosa.

Como se deteta?

O teste mais usado é o de Ishihara que consiste numa série de cartões com múltiplas tonalidades cromáticas, nas quais estão números que os daltónicos têm dificuldade de distinguir.

Como se pode minimizar o impacto do daltonismo?

O daltonismo não tem cura, no entanto há ferramentas que ajudam a integração do daltónico, como é o caso do ColorAdd, um sistema de identificação de cores para daltónicos. Este sistema já está em muitos manuais escolares portugueses, assim como em material de desenho, e passou a fazer parte do programa de ensino. A sua utilização tem-se vindo a disseminar um pouco por todo o mundo, sendo visível, por exemplo, na identificação das linhas do Metro do Porto.

Restrições profissionais

A única restrição profissional é para candidatos a pilotos, tanto na aviação militar como na aviação civil.

Especialidades em foco neste artigo

Quem é mais daltônico homem ou mulher?

Daltonismo é um problema de visão que dificulta a percepção das cores, provocado por uma anomalia hereditária recessiva do cromossomo X. Por isso, geralmente é mais comum em homens, que têm apenas um cromossomo X.

Qual a chance de uma mulher ser daltônica?

Como o daltonismo é provocado por genes recessivos localizados no cromossomo X (sem alelos no Y), o problema ocorre muito mais frequentemente nos homens que nas mulheres. Estima-se que 8% da população masculina seja portadora do distúrbio, embora apenas 1 % das mulheres sejam atingidas.

Porque o daltonismo afeta mais homens do que mulheres?

O daltonismo acomete mais homens do que mulheres, pois o gene do daltonismo está ligado ao cromossomo X, e os homens possuem apenas um X (XY), enquanto as mulheres são XX. Por possuírem dois cromossomos X, a probabilidade das mulheres serem daltônicas é mínima, mas é possível, caso os cromossomos sejam recessivos.

Qual a porcentagem de homens daltônicos?

Olhar para o sinal de trânsito e enxergar a cor verde como um “branco meio sujo” pode ser desesperador para muitas pessoas acostumadas a distinguir bem as três cores do semáforo, no entanto para um daltônico o problema é facilmente contornado.