Que vantagens sobre os demais possuem os países que desenvolvem pesquisas na Antártida?

O Continente Antártico, também conhecido como Antártica ou Antártida, é um imenso "laboratório natural" extremamente propício para pesquisas científicas sobre a história e a atualidade das mudanças climáticas no planeta. Essa foi uma das informações repassadas aos parlamentares da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas em audiência pública na tarde desta quarta-feira (26). A reunião foi conduzida pelo presidente do colegiado, senador Sérgio Souza (PMDB-PR), e foi assessorada pelo relator, o deputado federal Márcio Macêdo (PT-SE).

Os quatro palestrantes também destacaram a importância de o Brasil, um dos poucos países que têm estações permanentes na Antártica, continuar investindo cada vez mais em pesquisas no "continente gelado". Eles agradeceram aos parlamentares da Frente Parlamentar de Apoio ao Programa Antártico Brasileiro por terem conseguido, nos últimos anos, a aprovação de emendas ao Orçamento com recursos extras para a missão do país na Antártica, que envolvem principalmente pesquisas científicas sobre mudanças climáticas, aquecimento global, poluição atmosférica, camada de ozônio, biologia marinha e outros.

O secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar da Marinha do Brasil, contra-almirante Marcos José de Carvalho Ferreira, apresentou um resumo da história do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), gerenciado por ele. O almirante informou que o Brasil está presente na Antártica desde 1982, quando foi iniciada a missão voltada para pesquisas científicas. Mas foi em 1975 que o Brasil passou a fazer parte do grupo de países signatários do Tratado da Antártica, firmado em 1959 por 12 nações e que hoje conta com 48 países. Desses, explicou o almirante, 28 são membros consultivos (incluindo o Brasil), ou seja, participam da tomada de decisões do grupo por realizarem "pesquisas científicas relevantes" no continente antártico.

Parceria entre instituições

Marcos José de Carvalho Ferreira informou que, ao longo dos anos, vários outros tratados, convenções e recomendações foram assinados para regular diversos aspectos da realidade antártica, como o Protocolo de Madri, relativo à proteção do meio ambiente antártico. Ele também citou como exemplo o tratado que impede que qualquer país explore as riquezas minerais da Antártica até o ano de 2048, quando a proibição só será revogada se a maioria dos membros consultivos assim o permitir.

O almirante disse que a missão brasileira na Antártica só é possível graças à parceria entre muitas instituições, como vários ministérios, a Marinha, a Aeronáutica, universidades e empresas estatais e privadas. Ele citou como exemplo recente parceria entre a Marinha, a Petrobras e a mineradora Vale que vai instalar um motogerador movido a etanol na base brasileira na Antártica, produzindo energia elétrica com menos poluição e menos ruído. Ele aproveitou para pedir ao Poder Executivo a liberação de recursos destinados ao Proantar por emendas parlamentares que estão contingenciados.

O glaciologista Jefferson Cardia Simões trabalha no Proantar há vários anos pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Ele é professor do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e já participou de inúmeras pesquisas em território antártico. Para ele, a Antártica é tão importante para o equilíbrio ambiental da Terra quando a Floresta Amazônica. O especialista explicou que o continente de 14 milhões de quilômetros quadrados influencia o clima de todo o mundo, incluindo a circulação atmosférica e as correntes marítimas.

Mais investimentos

Cardia explicou que as camadas de gelo acumuladas guardam os "testemunhos de gelo", registros das mudanças climáticas acontecidas no planeta nos últimos 800 mil anos. Um dos dados já provados com esse sistema, disse o pesquisador, é o aumento de 40% na concentração de CO2 na atmosfera entre o ano 1000 e o ano 2000. Isso prova que a humanidade alterou a composição atmosférica, interpretou Cardia. Ele também cobrou mais investimentos governamentais para pesquisas na Antártica e disse que o Brasil investe menos que a China, Índia e África do Sul no continente.

O professor disse que já foi comprovada a perda por derretimento de 25 mil quilômetros quadrados da superfície de gelo da Antártica nos últimos 20 anos, principalmente na chamada Península Antártica, região onde se localiza a base brasileira. Ele acrescentou que, até o ano de 2100, a temperatura média da superfície terrestre pode aumentar em até 3°C devido às mudanças climáticas. Cardia informou ainda que o subsolo do continente antártico abriga inúmeros rios e lagos, em grande parte interligados, que compõem uma bacia maior que a bacia amazônica, e servem para refrigerar as correntes marítimas de todo o mundo, o que influencia todo o ambiente da Terra.

O glaciologista comunicou ainda que em 10 de dezembro o Brasil dará início ao Projeto Criosfera 1, expedição científica que vai instalar, no interior inóspito do Continente Antártico, um módulo de pesquisa para monitoramento de dados referentes à glaciologia, clima, geofísica e química, entre outros.

Bioma sensível

A analista ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Jaqueline Leal Madruga, explicou que o ministério realiza monitoramento sobre mudanças climáticas naquele continente. Segundo ela e outros palestrantes, a região antártica é uma das mais propícias para pesquisas desse tipo, por ser um bioma muito sensível e que se interliga com o meio ambiente de todo o planeta. Jaqueline Madruga falou em nome da Gerência de Biodiversidade Aquática e Recursos Pesqueiros do Ministério do Meio Ambiente, que tem por missão avaliar, prevenir e minimizar os impactos provocados pelas atividades humanas diretas no continente gelado, como os mais variados tipos de pesquisas científicas, turismo, transporte de pessoas e maquinários e quaisquer outras atividades, governamentais ou não.

Para Jaqueline Leal, o governo brasileiro entende que a Antártica é uma "reserva natural dedicada à paz e à ciência" protegida por acordos internacionais, como o Protocolo de Madri (1998) que assegura a proteção global do meio ambiente antártico.

Representando o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais, o pesquisador Edson Rodrigues também ressaltou que o monitoramento ambiental da Antártica é de extrema importância para a humanidade e lembrou que esse é o continente mais preservado do planeta, mesmo sendo um bioma "sensível e frágil". Entre outros, ele citou como relevantes os monitoramentos relativos à evolução do buraco na camada de ozônio, vegetação, aves e ambiente e vida marinha, como zooplânctons, fitoplânctons e microorganismos em geral.

Para ver a íntegra do que foi discutido na comissão, clique aqui.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Por que tantos países mantêm bases científicas na Antártida?

“É em virtude do Tratado da Antártida que a região se tornou um lugar dedicado à paz e à ciência. Há fortes exigências para abertura de informações e cooperação na Antártida, incluindo na ciência”, diz ao Estado de Minas Cath Wallace, pesquisadora da Universidade de Wellington, na Nova Zelândia.

Qual a importância de explorar cientificamente a Antártida?

4) Importância científica Uma ampla variedade de pesquisas científicas está em andamento na Antártida. Sendo assim, manter uma base no continente gelado é importante para realizar pesquisas em condições extremas e entender melhor o funcionamento do planeta.

Qual o interesse dos países na Antártica?

Continente antártico, minérios e riquezas naturais É uma região cada vez mais cobiçada por diversos países. Água potável, minérios como carvão, cobre, urânio e talvez petróleo, fazem parte da riqueza desse gélido Continente. Diversos países consideram que a Antártida possa ser no futuro fonte de conflitos.

Por que é importante para o Brasil desenvolver pesquisas na Antártida?

O Brasil concentra suas atividades na Península Antártica, assim como grande parte dos países que desenvolvem pesquisas naquele continente. Isso se justifica em função de essa região apresentar condições climáticas mais amenas e por ser geograficamente mais acessível.