Quando e como começou a se modificar a participação da mulher no mercado de trabalho?

Olhar para a participação da mulher no mercado de trabalho, ainda hoje, mostra como a luta por igualdade de gênero está apenas no começo.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que elas ocupam um espaço 20% inferior ao dos homens.

Desde 2012, quando a FGV passou a registrar essa informação, o número de mulheres desempregadas é sempre maior em relação ao público masculino.

E vale dizer que, apesar de tudo, há avanços – o cenário de desigualdade já foi mais acentuado.

É sobre isso que vamos falar ao longo deste texto, explicando porque essa deve ser uma preocupação das empresas, de modo a aumentar a presença e valorizar a mulher no mercado de trabalho.

Mulher no mercado de trabalho: uma história de superação

Ao longo da história, as mulheres foram inferiorizadas e tiveram o acesso ao trabalho remunerado dificultado.

Sua inserção no mercado aconteceu apenas em meados de 1930, por causa dos efeitos da revolução industrial.

Com o desenvolvimento tecnológico e o surgimento das máquinas, veio a necessidade de contar com mais mão de obra, incluindo a feminina.

Entretanto, ainda que elas desempenhassem o mesmo trabalho de um homem, os salários eram menores e a jornada de trabalho durava podia durar até 16 horas por dia.

Para mulheres negras e indígenas, a situação era ainda pior.

Elas não eram bem vistas no mercado de trabalho e tinham menos chances de conseguir emprego devido ao preconceito.

Naquela época, era normal que os ambientes profissionais tivessem espaços divididos entre mulheres brancas e não-brancas.

Para termos uma ideia, na década de 1940, as mulheres recebiam um salário 70% menor que o dos homens, exercendo a mesma função.

Atualmente, essa discrepância fica entre 19% e 30%, dependendo do cargo.

Podemos dizer que houve um avanço importante, mas essa diferença salarial que ainda existe reflete a desigualdade de gênero da sociedade e o longo caminho que ainda precisamos trilhar rumo à diversidade.

A evolução da mulher no mercado de trabalho

A situação melhorou um pouco em 1943, depois que as leis trabalhistas reduziram a jornada de trabalho para 44 horas semanais.

Até meados da década de 1960, as mulheres casadas precisavam da autorização legal do marido para participar do mercado de trabalho.

A partir da década de 1970, os movimentos feministas começaram a se manifestar no Brasil, lutando por direitos e melhores condições de trabalho.

Na mesma direção, 1975 foi decretado pela ONU como “Ano Internacional da Mulher”, o que ajudou a abrir algumas portas.

Nesse caminho, o movimento feminista passou a tomar proporções mundiais e forçou a ressignificação do papel da mulher na sociedade e na forma como ela era vista.

Só em 1988, a Constituição consagrou a igualdade entre homens e mulheres.

Já nos anos 2000, com a globalização e o crescimento econômico, ficou claro que o mercado de trabalho não conseguiria mais se manter sem a participação de todos.

A importância da mulher no mercado de trabalho

A diversidade é uma ferramenta importante em qualquer negócio, pois é preciso lidar com todo tipo de pessoa.

Esse é o ponto de partida que faz o desenvolvimento profissional das mulheres ser essencial.

Entre outras vantagens, a presença feminina nas empresas contribui para a diminuição dos preconceitos relacionados ao gênero.

Instituições que investem na presença feminina se tornam mais colaborativas no objetivo de ter uma sociedade com menor incidência de abuso e agressão contra mulheres.

Além disso, as mulheres são mais da metade da população e são grandes consumidoras de produtos e serviços.

E não fica por aí.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o aumento da participação das mulheres que não ocupam nenhuma posição no mercado de trabalho poderia injetar mais de R$ 382 bilhões na economia brasileira até 2025.

Isso representaria um aumento no PIB de 3,3%.

Portanto, a inclusão de mulheres no mercado de trabalho e o investimento em sua qualificação significa a possibilidade de alcançar melhores níveis socioeconômicos.

Esse é um ótimo motivo para tratar a igualdade de gênero como prioridade.

Qual a participação da mulher no mercado de trabalho?

Segundo os dados mais recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de mulheres que estavam trabalhando no Brasil em 2020 ficou em 45,8%.

Esse é o nível mais baixo desde 1990, quando a taxa ficou em 44,2%.

Mesmo sendo um problema histórico, a situação das mulheres no mercado de trabalho piorou com a pandemia de covid-19.

Ao comparar o terceiro trimestre de 2020 com o mesmo período de 2019, a queda no percentual de mulheres que estavam no mercado de trabalho foi de 7,5 pontos percentuais, de 53,3% para 45,8%.

Entre os homens, o retrocesso foi menor, de 6,1 p.p. (de 71,8% para 65,7%).

Um dos cenários que ajuda nessa explicação é a jornada dupla.

Para muitas, dar conta das atividades domésticas, manter a produtividade no trabalho, ou mesmo manter o emprego em meio ao isolamento social foi impossível.

Junto a isso está o fato de que os empregos ocupados normalmente por mulheres estão entre os mais afetados pelas restrições econômicas, como atividades domésticas, comércio e serviços.

Quais os obstáculos para as mulheres no mercado de trabalho?

Já sabemos que é comum as mulheres terem um salário menor que o dos homens mesmo quando exercem as mesmas funções.

Em praticamente todas as áreas, mulheres brancas com ensino superior ganham, em média, 40% menos que homens brancos com ensino superior.

Para mulheres negras, o cenário é ainda pior.

Elas ganham, em média, 60% menos na comparação com homens brancos.

Há ainda outras questões que também são obstáculos para as mulheres no mercado de trabalho.

  • Desigualdade competitiva: devido ao preconceito de gênero, as mulheres não têm as mesmas chances que os homens de ocuparem uma vaga ou receberem uma promoção, mesmo que tenham o mesmo nível de qualificação
  • Dupla jornada: conciliar maternidade, cuidados domésticos e vida profissional é um grande desafio, que se torna ainda maior levando em conta que, historicamente, todas as obrigações com a casa e com os filhos são atribuídas às mulheres
  • Medo da licença-maternidade: grande parte das mulheres que retornam de licença-maternidade são demitidas até dois anos depois de terem filhos ou não conseguem retornar ao mercado de trabalho após a maternidade
  • Assédio: seja moral ou sexual, afeta diretamente o rendimento profissional e a saúde emocional.

Obstáculos extras enfrentados por mulheres negras e indígenas

Mulheres negras e indígenas enfrentam uma dose extra dos preconceitos citados.

Os salários costumam ser menores que os de homens e de mulheres brancas.

Elas sofrem ainda mais com a objetificação e o machismo em função da visão antiquada que associa os corpos dessas mulheres ao prazer sexual, o que gera graves problemas com assédio.

Além disso, são frequentemente descredibilizadas em suas falas e opiniões, além de terem sua capacidade colocada em dúvida.

Como melhorar a inserção da mulher no mercado de trabalho

O mundo corporativo é um recorte da sociedade em que vivemos.

Logo, se tivermos um ambiente de trabalho melhor, estaremos também melhorando o mundo ao nosso redor.

Entre os principais motivos que levam as mulheres a estarem menos presentes no mercado de trabalho, está a responsabilidade com a criação dos filhos e os afazeres domésticos.

Por isso, educar os homens para assumir tarefas domésticas e a responsabilidade com os filhos tanto quanto as mulheres é uma das principais maneiras de melhorar a inserção das mulheres no mercado de trabalho.

De acordo com o IBGE, as mulheres dedicam mais de 21 horas por semana às atividades de casa, enquanto os homens gastam cerca de 11 horas.

Outros pontos importantes são:

  • Homens e mulheres deveriam ter o mesmo período de licença-maternidade e de licença-paternidade: a regra atual só reforça que é a mulher quem deve ficar mais tempo cuidando dos filhos e que o homem é mais importante que ela no mundo corporativo
  • Buscar igualdade de salários é primordial: a legislação brasileira diz que o salário de homens e mulheres deve ser igual para tarefas iguais, mas isso ainda não é realidade.

Por isso, um dos passos para a evolução da mulher no mercado de trabalho é criar políticas de salários igualitários.

O que a sua empresa pode fazer em apoio à mulher?

Muitas empresas acreditam que têm diversidade por contarem com mulheres em igualdade de número ou até maioria no quadro de colaboradores.

Porém, é preciso que as instituições reflitam sobre o quanto elas são reconhecidas, quais salários elas recebem e quais posição elas ocupam.

Para melhorar a atuação da sua empresa nesse aspecto, temos algumas dicas importantes.

Avaliação

Jamais avalie um colaborador pelo tempo que ele passa a mais na empresa.

A mulher que tem filhos sempre vai sair perdendo, pois não dispõe de tempo extra para permanecer no trabalho.

Adote outras formas de avaliar a produtividade.

Apoie a maternidade

É comum que, nos primeiros anos de vida dos filhos, as mães tenham dificuldade de manter o mesmo rendimento de antes.

Isso pode ser diferente se elas tiverem certeza de que os filhos estão recebendo a atenção necessária.

As empresas podem ajudar flexibilizando horários, permitindo o trabalho em casa, disponibilizando creches na empresa ou com outras alternativas para quem precisa cuidar dos filhos e não tem com quem deixar.

Cuidado com processos seletivos

Tente atrair mais mulheres para os processos seletivos.

Divulgue as vagas em classificados e agências de emprego para que mais pessoas saibam delas.

Na seleção, não discrimine mulheres com filhos pequenos ou que pretendem engravidar.

Posicione-se contra o assédio e o preconceito

Mostrar que a empresa se posiciona contra esses problemas é importante para manter um ambiente saudável e seguro.

Jamais permita que assédio e preconceito se tornem normais no trabalho.

Inclua esse tema e o da igualdade de gênero nos valores da empresa e procure criar programas de liderança feminina, lembrando de incluir mulheres negras.

Ouça suas colaboradoras

Ninguém melhor do elas para dizerem o que é preciso para melhorar o ambiente de trabalho.

Pratique a escuta ativa, só assim você saberá exatamente quais políticas implementar.

Quanto mais mulheres no ambiente corporativo, menor será o preconceito de gênero, pois estudos mostram que quando as mulheres são minoria, elas tendem a ser ignoradas pelos homens.

É hora de sair do discurso e partir para a ação, ouvindo as mulheres da sua equipe com atenção.

Uma ótima dica neste sentido é investir em feedbacks.

A ferramenta Owlisten é excelente para isso, pois permite coletar feedbacks com muita eficiência e discrição, além de ser gratuita e colaborativa.

Experimente!

Quando a mulher começou a participar do mercado de trabalho?

A introdução da mulher no mercado de trabalho se deu com a I e II Guerra Mundial (1914 – 1918 e 1939 – 1945), quando os homens iam para as batalhas e as mulheres passavam a assumir os negócios da família e a posição dos homens no mercado de trabalho (LESKINEN, 2004). Com a consolidação do sistema capitalista, no séc.

Como se deu a evolução das mulheres no mercado de trabalho?

Na década de 1970, com o início da Terceira Revolução Industrial, e o começo das tecnologias digitais, as mulheres casadas iniciaram o êxodo do lar para os escritórios. As faculdades começaram a abrir sua portas para elas, permitindo que estudassem e ingressassem em profissões antes reservadas aos homens.

O que aconteceu no mercado de trabalho com a participação da mulher?

A taxa de atividade feminina no Brasil teve um aumento significativo nas últimas décadas. O gráfico 1 revela que a taxa de participação das mulheres, entre 15 e 59 anos de idade, aumentou de 52,5% (em 1992), para 61% (em 2012). 3 A taxa de participação masculina, 1.