Show Em 1931 foi o ano da morte do grande idealizador da nova construção: Monsenhor Celso Itiberê da Cunha (pároco da cidade e curador da Catedral por 21 anos). Sepultado na própria igreja, seus restos mortais se encontram na entrada lateral. Quinze anos mais tarde, em 1946, é inaugurada a Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito, como pode ser conhecida atualmente: em estilo “barroco tardio”, decorada com azulejaria em estilo protuguês, o último remanescente da fachada da igreja original construída pelos escravizados. Em seu interior, os azulejos representam os Passos da Paixão e foram encomendados para a reconstrução. A história da igreja se funde a história da escravidão e tudo o que ela representa para a sociedade curitibana. Desde 2009 é celebrado ali, na festa do Rosário, um ritual de lavação das escadarias, assim como o que é feito na igreja do Bonfim em Salvador. Foto: Lavação das escadarias da Igreja do Rosário dos pretos por Lucilia Guimarães/SMCS Aqui, a lavação é realizada por pessoas com religiões de matriz africana em referência ao “dia da Consciência Negra” e possui um grande significado de resistência e luta para legitimação da cultura negra, que foi a base da construção da sociedade ocidental. Desde 1951, a igreja é atendida pela Companhia de Jesus (jesuítas) e todos os dias é rezada a Santa Missa às 17h e aos domingos tem missa em mais dois horários: uma dedicada aos feirantes às 08h30min e a outra aos turistas bem no horário do comecinho da famosa e tombada Feira do Largo da Ordem. Como já ouvi de um bom curitibano... - “essa missa é bem na hora do fervo da feirinha, piá!” Entre v�rios aspectos importantes na hist�ria das irmandades do Ros�rio institu�das e atuantes na cidade da Bahia entre os s�culos XVII e XIX, chama aten��o a import�ncia destacada dos angolas e crioulos na organiza��o e dire��o destas institui��es. No in�cio do s�culo XVIII, a matriz da par�quia da Concei��o da Praia, al�m do altar principal, abrigava v�rios nichos de santos particulares. A capela dedicada � Virgem do Ros�rio ficava no corpo da igreja, bem pr�xima � colateral da ep�stola. Nas palavras de Frei Agostinho de Santa Maria, esta capela �foi feita � custa dos pretos angolas e crioulos da terra, os quais concorre[ram] com muita liberalidade e grandeza, para todos os gastos e despesas�. 4 Provavelmente, a institui��o da capela date do final do s�culo XVII, per�odo em que foi ereta uma irmandade de pretos devotos da Senhora do Ros�rio na matriz da Praia. No compromisso da confraria, angolas e crioulos, construtores e patrocinadores da capela do Ros�rio, s�o merecedores de aten��o especial. Cabia a estes dois grupos, e t�o somente a eles, ocupar os cargos de juiz e ju�za, as fun��es diretivas mais importantes da irmandade. 5 Quase um s�culo depois, a mesma restri��o permanecia em voga, este fato n�o distingue os irm�os da Praia, do contr�rio, aponta para a longevidade, for�a e significado da associa��o entre angolas e crioulos nas irmandades do Ros�rio baianas. 6 Al�m da irmandade do Ros�rio da Concei��o da Praia, outras confrarias dedicadas a esta invoca��o foram criadas e administradas por angolas e crioulos da terra. A hist�ria da Irmandade do Ros�rio dos Pretos das Portas do Carmo, apesar da presen�a maci�a de jejes a partir da segunda metade do s�culo XVIII, chama aten��o pela primazia dos angolas em sua forma��o e atua��o ao longo dos s�culos. 7 Ainda no estatuto aprovado em 1820, oficialmente a dire��o desta prestigiosa irmandade ficava a cargo dos angolas e crioulos. 8 Na cidade da Bahia, durante o s�culo XVIII, as irmandades do Ros�rio da Freguesia de S�o Pedro, assim como a da matriz da Vit�ria, tamb�m privilegiavam os angolas e os crioulos em sua dire��o. Com base nestas observa��es, denomino este fen�meno de privil�gio �tnico, pois n�o se tratava da exclus�o de outros grupos, mas da garantia de privil�gios, sobretudo no acesso aos cargos mais importantes. Este interessante fen�meno foi resultado de complicados mecanismos internos de controle das elei��es e do acesso aos cargos diretivos, bem como particulares arranjos e alian�as com outros grupos africanos e, notadamente com os crioulos. A primazia dos angolas na hist�ria das irmandades baianas, especialmente nas do Ros�rio, � justificado por alguns autores pela preced�ncia deste grupo em rela��o aos demais grupos africanos. Bacelar observa que, no s�culo XVII, quando foi criada a irmandade do Ros�rio dos Pretos das Portas do Carmo, assim como outras cong�neres na cidade, �era incontest�vel a superioridade num�rica dos negros de Angola e Congo�. E, por esta raz�o, estas primeiras irmandades compunham-se �exclusivamente de negros vindos de Angola e seus descendentes.� 9 �� A preced�ncia �, sem sombra de d�vida, um fator relevante, mas � insuficiente para explicar a identifica��o criada entre os angolas e as confrarias cat�licas ao longo dos s�culos, mesmo nos momentos em que o grupo passou a minoria no tr�fico baiano. A import�ncia do catolicismo na �frica Central � outro elemento a ser considerado na reflex�o. 10 Talvez, se a preced�ncia fosse de africanos que ignorassem o universo do catolicismo e, sobretudo, as experi�ncias e viv�ncias do cristianismo africanizado por longos s�culos de contatos, esta poderia n�o ter tido um peso t�o consider�vel. Creio ent�o que, o fato de os angolas terem sido os primeiros africanos a se congregarem em irmandades na Bahia n�o se explica, t�o somente, por terem constitu�do as primeiras grandes levas de africanos, mais tamb�m por trazerem consigo uma experi�ncia muito particular do catolicismo. 11 Entretanto, o contato anterior com o universo cat�lico � insuficiente, por sua vez, para dar conta de uma experi�ncia din�mica como foi a escravid�o e a forma��o de novas identidades na di�spora. Nos embates cotidianos das irmandades entre si e com as autoridades civis e eclesi�sticas se forjaram e, ao mesmo tempo, se fortaleceram identidades novas, fundadas ou n�o nas origens africanas. Como bem formula Russel-Wood, as irmandades negras foram um dos lugares mais importantes de concretiza��o do desejo dos homens de cor, escravos e libertos, �de formar entidades corporativas�. 12 Nesse sentido, a reconhecida alian�a entre angolas e crioulos ganha novos sentidos. �Vou ilustrar meu argumento com um pouco mais da hist�ria da mais conhecida irmandade negra da cidade de Salvador. A Irmandade do Ros�rio dos Pretos das Portas do Carmo conta entre as mais antigas da Am�rica Portuguesa. Segundo Edson Carneiro, no Brasil ela foi apenas antecedida pelas irmandades do Ros�rio do Rio de Janeiro e Bel�m organizadas, respectivamente, nos idos de 1639 e 1682. 13 Formalmente institu�da no ano de 1685, tendo, na ocasi�o, seu compromisso aprovado pela autoridade eclesi�stica, tem sua origem identificada na devo��o ao Ros�rio instalada, na antiga S� Catedral da Bahia, em data anterior a 1604. 14�Esta irmandade, assim como a maioria de suas cong�neres, surgiu no s�culo XVII, per�odo de incontest�vel predom�nio dos povos centro-africanos na popula��o escrava baiana. Entretanto, como j� mencionei linhas atr�s, � un�nime entre os pesquisadores, o reconhecimento da primazia dos angolas nesta associa��o, mesmo ap�s o per�odo de hegemonia do tr�fico centro-africano. At� a segunda metade do s�culo XIX, os angolas, juntamente com os crioulos permaneceram na dire��o da Irmandade do Ros�rio das Portas do Carmo. 15 Nesta tradicional irmandade dirigida por angolas e crioulos, os centro-africanos n�o constitu�am a maioria dos irm�os inscritos entre os anos de 1719-1826. �Neste per�odo os jejes estiveram presentes em maior n�mero, seguidos pelos crioulos e angolas. Num universo de 654 indiv�duos, identificados segundo o grupo �tnico, os jejes somam 214 (32,72 %), os crioulos, 202 (30,89 %) e os angolas, 123 (18,81%). 16 A presen�a dos libertos era fundamental para a autonomia das irmandades negras. 17 Quando alfabetizados podiam mesmo assumir postos antes reservados aos brancos, como os de escriv�o e tesoureiro. Na irmandade do Ros�rio das Portas do Carmo, a maior concentra��o de libertos ficava entre os crioulos. Eram 12 homens e 57 mulheres somando 69 indiv�duos, ou seja, 71,88% do total de 96 libertos identificados segundo a identidade �tnica ou cor. 18 Depois dos jejes, os crioulos formavam o grupo mais numeroso dentro da irmandade. Este fato talvez explique a proemin�ncia do grupo na dire��o da irmandade, juntamente com os angolas. Seriam estes crioulos dos Ros�rios em geral, e das Portas do Carmo em particular, filhos e netos de velhos angolas? Eis a� um bom tema de pesquisa para os jovens historiadores da Bahia. Por enquanto, s� posso dizer que os angolas e crioulos na Bahia, por longo tempo, e mais que quaisquer outros, conseguiram apropriar-se do espa�o das irmandades do Ros�rio e a� concretizaram seus desejos corporativos. A experi�ncia africana do catolicismo foi fundamental para a apropria��o e consolida��o deste espa�o. Por outro lado, as lutas cotidianas, os arranjos e as alian�as tamb�m foram cruciais na delimita��o e identifica��o desse espa�o particular.� * Lucilene Reginaldo � historiadora e professora da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) _____ 1 Frei Antonio Santa Maria Jaboat�o, Novo Orbe Ser�fico Bras�lico ou Cr�nica dos Frades Menores da Prov�ncia do Brasil [1761]. Rio de Janeiro: Tipografia Brasiliense de Maximiliano Gomes, 1859. 2�Apenas para citar outras importantes devo��es negras na cidade de Salvador � objeto de culto em irmandades pr�prias ou em altares e capelas secund�rios - lembremos: Santa Ifig�nia, Santo Elesb�o, Santo Rei Baltazar, Santo Ant�nio de Categer�, entre os santos pretos; assim como diferentes invoca��es de Cristo tais como, Senhor da Reden��o, dos Mart�rios, da Ressurrei��o; al�m de outras invoca��es de Nossa Senhora, especialmente Amparo, Guadalupe e Concei��o entre os pardos. 3 Compromisso da Irmandade do Senhor Bom Jesus da Ressurrei��o dos Pretos Naturais de Barra Fora e para toda qualidade de pessoas que quiserem ser irm�os, Ereta na Igreja de Santo Ign�cio na cidade da Bahia, 1783, IAN/TT, Chancelarias da Ordem de Cristo, D. Maria I, livro 17, fls. 70v.-82; Frei Agostinho de Santa Maria, Santu�rio Mariano e Hist�ria das imagens milagrosas de Nossa Senhora milagrosamente manifestadas e aparecidas em o Arcebispado da Bahia (1722); Lu�s Monteiro Costa. �A devo��o de N.S. do Ros�rio na cidade do Salvador�. Revista do Instituto Geneal�gico, 10, Salvador, 1959, pp. 95-117; Costa. Lu�s Monteiro, �A devo��o de N.S. do Ros�rio na cidade do Salvador�. Revista do Instituto Geneal�gico, 11, (1959), pp. 155-177; Frei Antonio Santa Maria Jaboat�o, Novo Orbe Ser�fico Bras�lico ou Cr�nica dos Frades Menores da Prov�ncia do Brasil; Silva Campos, Prociss�es Tradicionais da Bahia, Anais do Arquivo P�blico da Bahia, vol. 27, Salvador: Arquivo P�blico do Estado da Bahia, 1941; Manoel da Silveira Cardozo. �As irmandades da antiga Bahia�, pp. 235-261; Compromisso da Irmandade do Glorioso Santo Rei Baltazar colocada na Igreja da Freguesia de S�o Pedro da Cidade da Bahia, IAN/TT, Chancelarias Antigas � Ordem de Cristo, Livro 297, fls. 251-254. 4�Frei Agostinho de Santa Maria, Santu�rio Mariano e Hist�ria das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora milagrosamente manifestadas e aparecidas em o Arcebispado da Bahia [1722]. Separata da Revista do Instituto Hist�rico e Geogr�fico da Bahia. Salvador: Imprensa Oficial da Bahia, 1949, p. 75. 5�Compromisso da Irmandade da Virgem Sant�ssima M�e de Deus N.S. do Ros�rio dos Pretos da Praia, 1686. Arquivo da Igreja de N.S. da Concei��o da Praia. C�pia gentilmente cedida por Jo�o Jos� Reis.� 6 No compromisso aprovado em Lisboa no ano de 1768, o acesso aos cargos de juiz e ju�za continuou reservado aos angolas e crioulos. Compromisso da Irmandade de N.S. do Ros�rio dos Pretos da Freguesia da Concei��o da Praia da Cidade da Bahia, aprovado pela Mesa de Consci�ncia e Ordens em 1768. IAN/TT, Chancelarias Antigas/Ordem de Cristo, Livro 306, fls. 16-22. 7�Ver, entre outros: Maria do Carmo Pond�, �A capelinha dos Quinze Mist�rios e a Devo��o ao Ros�rio entre os pretos�. Anais do Arquivo P�blico da Bahia, XXIX,1946, pp. 313-324; Lu�s Monteiro da Costa, �A Devo��o de N. S. do Ros�rio na Cidade de Salvador�, Revista do Instituto Geneal�gico da Bahia, 10, 1958, pp. 95-117; Carlos Ott, �A Irmandade do Ros�rio dos Pretos do Pelourinho�, Afro-�sia, 6/7, 1968, p. 83-90; Jeferson Bacelar e Maria Concei��o Barbosa de Souza, O Ros�rio dos Pretos do Pelourinho. Salvador: Funda��o do Patrim�nio Art�stico e Cultural da Bahia. 1974. Texto mimeo. 8�Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Ros�rio dos Homens Pretos, 1820, apud: Sara Oliveira Farias, Irm�os de cor, de caridade e de cren�a: A irmandade do Ros�rio do Pelourinho na Bahia do S�culo XIX. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1997. Disserta��o de Mestrado.� 9�Bacelar e Souza, O Ros�rio dos Pretos do Pelourinho, p. 9. 10 Sobre o tema ver: J. K.Thornton, A �frica e os africanos na forma��o do mundo atl�ntico 1400-1800. Rio de Janeiro: Editora Campus/Elsevier, 2004, especialmente cap�tulo 9. 11�Viana, O negro na Bahia, p. 212. 12�A J. R. Russell-Wood, �Black and mulatto brotherhoods in Colonial Brazil: a study in collective behavior. Hispanic American Historical Review, v. 54, n. 4, (1974): 577. 13�Edison Carneiro, Ladinos e Crioulos. Estudos sobre o negro no Brasil. Rio de Janeiro: Civiliza��o Brasileira, 1964, p. 88. 14�Frei Agostinho de Santa Maria, Santu�rio Mariano. Instituto Geogr�fico e Hist�rico da Bahia: Imprensa Oficial, 1949, p.63 15�Sara de Oliveira Farias, Irm�os de cor, de caridade e de cren�a. A Irmandade do Ros�rio do Pelourinho na Bahia. S�culo XIX. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1997, p. 30. (Disserta��o de Mestrado em Hist�ria).� 16�Livro de Irm�os, 1722-1806, AIRPP, caixa 7. 17�A. J. R. Russell-Wood, Escravos e libertos no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Civiliza��o Brasileira, 2005, p. 226. 18�Al�m das identidades africanas e dos crioulos, identifiquei tamb�m os libertos classificados como pardos, pretos e cabras, totalizando assim 161 indiv�duos, entre homens e mulheres.� ABREVIATURAS IAN/TT � Instituo dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo AARPP � Arquivo da Irmandade do Ros�rio dos Homens Pretos do Pelourinho Quando foi criada a Irmandade Nossa Senhora do Rosário e qual a finalidade da mesma?A irmandade chegou ao Brasil em meados do XVI tendo sido a primeira a Irmandade dos Homens Pretos de Olinda e o culto foi difundido principalmente pelos jesuítas e franciscanos, representando uma forma poderosa de evangelização e controle da população, sobretudo a mais pobre, pela Igreja católica.
Como se chama Nossa Senhora do Rosário na Umbanda?A Nossa Senhora do Rosário, a santa branca de maior devoção dos negros, é a orixá Ifá. Diz à tradição que ela consulta o destino atirando, soltas ou unidas em rosário, as nozes de uma palmeira, a Okpê-lifa.
Quem foi Nossa Senhora do Rosário dos Pretos?No Brasil, ela foi adotada por senhores e escravos, sendo que no caso dos negros ela tinha o objetivo de aliviar-lhes os sofrimentos infligidos pelos brancos. Os escravos recolhiam as sementes de um capim, cujas contas são grossas, denominadas "lágrimas de Nossa Senhora", e montavam terços para rezar.
Quais as funções desempenhadas pelas igrejas da Irmandade do Rosário?A Irmandade do Rosário, na primeira metade do século XIX, procurou estabelecer ações de ajuda aos seus irmãos, em sua maioria, africanos e crioulos, escravos ou forros: enterrando e rezando pela alma do falecido, educando os filhos órfãos e comprando a alforria dos escravos.
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