Origens e surgimento da Sociologia Show
Por Cristiano das Neves Bodart
A sociologia origina-se num período de “dupla revolução” – a Francesa e a Industrial (HOBSBAWM, 1977, p.15). As condições criadas por essas revoluções, mais a centralização da razão, despertaram diversos estudiosos para a necessidade de explicar a realidade social de forma racional e científica. Havia, no século XIX, uma demanda por explicações científicas – as explicações teleológicas não mais eram suficientes para explicar a realidade social; situação desencadeada pelo iluminismo. Uma desmistificação do mundo estava em curso, a as questões sociais não ficariam de fora dessa onda.
Para Ianni (1989, p.1), nessa época os “personagens” mais típicos do mundo moderno estavam ganhando suas características, dentre eles destacamos as classes sociais (burguesa e proletária), os movimentos sociais, os partidos políticos, o mercado capitalista, a tecnologia, a vida urbana, o lucro, a revolução e contra-revolução, o estado e a nação. Esses “personagens” estiveram presentes nas primeiras análises sociológicas. Karl Marx, por exemplo, debruça-se, dentre outros objetos, sobre as novas relações sociais entre as duas classes e sobre o capitalismo. Max Weber, dedicou-se a muitos temas, dentre eles destacamos o estado e a burocracia. Simmel, preocupou-se, dentro outras coisas, em estudar a vida urbana. É importante compreender que, embora o século XIX seja identificado como período de origem da Sociologia, notaremos prenúncios ainda em períodos anteriores, tais como nos estudos de Rousseau, Hobbes, Hegel, Ricardo, Adam Smith, Condorcet e Montesquieu. Embora haja uma multiplicidade de correntes nos trabalhos dos referidos estudiosos, alguns até contraditórios uns aos outros, foi o conjunto de tais ideias que criaram condições epistemológicas para o desenvolvimento da Sociologia (IANNI, 1989, p. 1-2), a qual também apresenta, desde sua origem, uma multiplicidade de perspectiva da realidade estudada. A partir das contribuições de filósofos anteriores ao século XIX, o a razão passou a ser vista como capaz de explicar os fatos e os dilemas da sociedade que se desenvolvia. A matéria prima para o desenvolvimento da Sociologia foram as condições de vida propiciadas pela Revolução Industrial e Francesa. Essas duas situações foram de extrema importância para o desenvolvimento dessa ciência social.
É nesse vasto cenário que se desenvolve os primeiros estudos sociológicos. As primeiras tentativas de estudar a realidade social de forma científica. Dentre os estudiosos desse contexto destacamos Saint-Simon, Karl Marx, Tocqueville, Comte, Burke, Spencer, Feuerbach. Posterior a esses estudiosos, o empenho, na maioria dos estudos, continuou sendo em compreender e explicar as transformações causadas pela modernidade. Dentre esse esforço destacamos Durkheim, Mauss, Weber, Simmel, Tönnies, Mannheim, Myrdal, Merton, Parsons, Lazarsfeld, Bourdieu, Nisbet, Gouldner, Barrington Moore Jr., Schutz, Adorno, Giddens e outros. Auguste Comte foi o primeiro a utilizar-se do termo “Sociologia” (antes disso ele usava o termo “Física Social”), porém esta se consagrou definitivamente como ciência social após a publicação da obra “As regras do método sociológico”, de Emile Durhkeim, em 1895 e, a sua definição do objeto da Sociologia como “coisa”. Trata-se do trabalho mais importante de Durkheim, “pois estabeleceu as regras que devem ser seguidas na análise dos fenômeno” (LAKATOS; MARCONI, 2010; COSTA, 2005, p. 72). Uma vez reconhecida como ciência, a Sociologia não se cristalizou em sua abordagem, método, técnica ou objeto. Na verdade, “a sociologia guarda a peculiaridade de pensar-se continuamente, de par-em-par com a reflexão sobre a realidade social” (IANNI, 1989, p. 2). Max Weber, por exemplo, ao contrário de Durkheim apontou que o objeto de estudo das ciências Sociais deveria ser a “Ação Social” e não os “Fatos Sociais” de Durkheim. As definições do objeto da sociologia não pararam por ai. Podemos citar autores contemporâneos, tais como Giddens que aponta que o objeto da Sociologia é, principalmente, a sociedade moderna industrial (GIDDENS, 1984, p. 16). Florestan Fernandes, defendeu de forma mais ampla, que a Sociologia deveria estudar os “Fenômenos Sociais”, cujo conceito estava relacionado “a atividade (ou comportamento) cuja manifestação, generalidade e repetição dependem, indireta ou diretamente, de condições externas ou internas dos organismos” (FERNANDES, 1970, p.19). A Sociologia apresenta-se, desde sua origem, como uma ciência que ao mesmo tempo que pensa a sociedade, reflete-se sobre a si mesma, desconstruindo-se e reconstruindo-se ao mesmo tempo. Isso, contrariamente do que possa parecer, torna essa ciência cada vez mais rica e forte para pensar a realidade social. Referências Bibliográficas COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2005. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. FERNANDES, Florestan. O que é a sociologia? [1959]. In: _____. Elementos de sociologia teórica. São Paulo/Rio de Janeiro: Edusp/Companhia Editora Nacional, 1970. pp. 19-32. GIDDENS, Anthony. Sociologia: questões e problemas. In: _____. Sociologia: uma breve porém crítica introdução. Trad. A. Oliva e L. A. Cerqueira. Rio de Janeiro: Zahar, 1984 [orig. ingl. 1982]. pp. 9-27. IANNI, Octavio. A sociologia e o mundo moderno. Tempo Social, São Paulo, v. 1, n. 1, pp. 7- 27, 1989. Como citar esse texto:
RelacionadoQual a importância das Revoluções Industrial e Francesa para a sociologia?A sociologia surgiu, na primeira metade do século XIX, sob o impacto da Revolução Industrial e da Revolução Francesa. As transformações econômicas, políticas e culturais suscitadas por esses acontecimentos criaram a impressão generalizada de que a Europa vivia o alvorecer de uma nova sociedade.
Qual é a importância da Revolução Francesa para a sociologia?A Revolução Francesa marcou a ascensão da burguesia como classe social dominante, superando a aristocracia proprietária de terras, bem como a criação de novas instituições e novas formas de organizar a vida econômica, política e social que iriam se expandir para todo o planeta.
Qual é a importância da Revolução Industrial para o surgimento da sociologia?Concomitantemente com os fatores negativos, a Revolução Industrial promoveu uma série de benefícios ligados ao desenvolvimento tecnológico, que promoveram um maior conhecimento técnico especializado e a capacidade de produção em larga escala, o que propiciou o crescimento populacional.
Qual a importância das revoluções francesa e industrial?Foi um acontecimento extremamente importante para a humanidade, pois mudou o processo produtivo, ou seja, os produtos deixaram de ser manufaturados e passaram a ser maquino faturados, o permitiu uma produção em massa, permitindo assim colocar mais e mais produtos no mercado e a preços muito mais atrativos.
|