Qual a empresa dona das barragens que causaram os desastres na cidade de Mariana e Brumadinho ambas em Minas Gerais?

BRUMADINHO, Brasil — Luiz de Castro estava instalando lâmpadas numa mineradora no final do mês passado, quando se assustou com um estrondo. Pensou que um pneu de caminhão tivesse estourado, mas um amigo pensou mais rápido.

“Não, não é isso!” o amigo disse. “Corre!”

Ele disparou escada acima, coberto de lama, sob um bombardeio de pedras, até alcançar uma área segura.

De lá, viu a ação devastadora da parede de lama lançada pelo rompimento da barragem. Seus colegas de trabalho — Tiago, George, Ícaro — e, ao menos 154 outras pessoas, foram enterrados vivos.

A enxurrada de lama tóxica se alastrou por mais de oito quilômetros e esmagou casas, escritórios e pessoas. Uma tragédia -- mas, segundo peritos, uma tragédia anunciada.

Reportagem de Shasta Darlington, James Glanz, Manuela Andreoni, Matthew Bloch, Sergio Peçanha, Anjali Singhvi e Troy Griggs.

No Brasil, existem 87 barragens similares a essa que se rompeu -- são enormes reservatórios de rejeitos de mineração contidos por estruturas que são pouco mais que paredes de areia e aluvião. Desse total, 83 foram classificadas pelo governo como tão ou mais vulneráveis que a barragem de Brumadinho.

Dados ainda mais alarmantes apontam ao menos 27 barragens localizadas acima de cidades ou vilarejos. Há mais de 100 mil pessoas vivendo em áreas de alto risco em caso de rompimento de barragem, segundo uma análise conduzida pelo The New York Times.

O desastre do mês passado reuniu todos os elementos de uma catástrofe: uma estrutura mínima construída ao menor custo possível e posicionada acima de uma cidade; avisos ignorados sobre problemas estruturais que poderiam levar ao colapso da barragem; e equipamento de monitoramento que tinha parado de funcionar.

Mas talvez, o elemento mais importante nessa equação seja um país onde a poderosa indústria de mineração pôde atuar praticamente sem monitoramento.

Os riscos representados pelas barragens construídas de forma precária no Brasil vão muito além de uma única empresa. O desmoronamento fatal — o segundo no país nos últimos três anos — demonstra claramente que nem a indústria de mineração nem as autoridades têm a situação sob controle.

A Vale S.A., a maior produtora de minério de ferro do mundo, declarou que encerrará atividades em todas as suas 10 barragens no Brasil que são similares a de Brumadinho. No entanto, a empresa, que comprou o complexo de mineração em 2001, defendeu sua gestão da barragem, que estava inativa desde 2016.

De acordo com um pronunciamento da empresa, “A barragem possuía Fator de Segurança de acordo com as boas práticas mundiais.” Ainda segundo a Vale, a estrutura era inspecionada regularmente e os relatórios “atestam a segurança física e hidráulica da barragem.”

Mas perguntas sobre a segurança da barragem têm sido ignoradas há anos. A despeito desses questionamentos, a empresa conseguiu aprovar seu plano de expansão do complexo de mineração de Brumadinho de forma acelerada junto às autoridades locais.

“Quando temos esse tipo de estrutura em uma região acima de áreas populacionais, temos que estar muito atentos,” disse William F. Marcuson III, ex-presidente da Sociedade Americana de Engenheiros Civis e membro da Academia Nacional de Engenharia dos Estados Unidos.

Qual a empresa dona das barragens que causaram os desastres na cidade de Mariana e Brumadinho ambas em Minas Gerais?

The New York Times | Imagem de satélite obtida através da DigitalGlobe

A solidez da lama

Barragens como essa são uma das estruturas mais peculiares da engenharia — e, a menos que sejam projetadas, construídas e monitoradas com atenção aos mínimos detalhes, são também uma das estruturas mais temíveis.

Barragens como a que se desmoronou em Brumadinho são, basicamente, lagos de lama grossa, semi-endurecida, compostos de água, terra e subprodutos da mineração de ferro, conhecidos como rejeitos.

Qual a empresa dona das barragens que causaram os desastres na cidade de Mariana e Brumadinho ambas em Minas Gerais?

Antonio Lacerda/EPA, imagem cedida pela Shutterstock

Assim como qualquer outra barragem, elas podem falhar de formas previsíveis: podem transbordar se forem enchidas com muita rapidez; podem vazar, ou ser danificadas por terremotos; e podem ainda serem vítimas do desleixo em sua construção ou manutenção.

Mas essas não são barragens comuns.

Na verdade, a estrutura em Brumadinho até desafia a definição do termo “barragem.” Não havia uma parede de concreto ou de metal cuja função seria conter a lama. A estrutura, conhecida como barragem de rejeitos a montante, se apoiava no lago de rejeitos para se manter sólida o suficiente para se sustentar.

The New York Times | Observação: o diagrama é baseado na dissertação de mestrado de Washington Pirete, defendida em 2010, e no relatório da Tüv Süd apresentado em 2018.

Segundo Gregory B. Baecher, membro da Academia Nacional de Engenharia dos Estados Unidos e professor da Universidade de Maryland, “Essas barragens são basicamente aterros sanitários, mas são aterros sanitários molhados.”

Barragens deste tipo tem um processo de construção único que faz com que elas sejam extremamente vulneráveis a um processo insólito, e com potencial devastador, chamado liquefação. Quando isso acontece, um material que parece ser sólido, e estar depositado em um local seguro, pode repentinamente se transformar em um líquido grosso e turvo, escorrer em direção a áreas mais baixas e destruir quase tudo que estiver pela frente.

Até mesmo mudanças sutis, como o aumento na quantidade de água na lama devido a chuvas fortes ou a gestão precária da barragem, podem criar uma pressão interna grande o suficiente para separar os rejeitos sólidos e tornar a lama líquida.

Com a liquefação, em Brumadinho, veio a tragedia.

“As forças são simplesmente descomunais,” disse Dirk Van Zyl, professor do Instituto de Engenharia de Mineração da Universidade de British Columbia, que analisou o rompimento de uma barragem de rejeitos no Canadá em 2014. “É preciso ver para entender.”

Segundo especialistas, um vídeo do rompimento da barragem em Brumadinho comprova que a lama retida pela barragem realmente sofreu processo de liquefação. Não se sabe, porém, se a liquefação causou o rompimento ou se foi sua consequência.

O vídeo parece indicar onde o rompimento da barragem começou.

The New York Times | Observação: o diagrama é baseado na dissertação de mestrado de Washington Pirete, defendida em 2010; e no relatório da Tüv Süd apresentado em 2018.

De acordo com Dirk Van Zyl: “Por fim, todo o conteúdo da barragem sofre liquefação e vai morro abaixo. Terrível.”

Muitos engenheiros dizem que é cedo demais para chegar a conclusões definitivas sobre o que exatamente minou a estrutura da Barragem I da Mina do Córrego do Feijão em Brumadinho. Além disso, dizem que é possível construir barragens de rejeitos a montante seguras.

“Em termos gerais, não há nada de errado com esse método de construção,” disse Allen Marr, fundador e diretor executivo da Geocomp, com sede em Boston, nos Estados Unidos; e membro da Academia Nacional de Engenharia dos Estados Unidos. Segundo Allen Marr, quando uma estrutura falha, “geralmente é devido a uma combinação de várias coisas que deveriam ter sido feitas, mas não foram.”

Washington Pirete, que de acordo com o seu perfil do LinkedIn e com uma publicação profissional, trabalhou na Vale muito tempo, defendeu uma dissertação de mestrado em 2010 sobre a barragem de Brumadinho. Segundo suas conclusões, o risco de liquefação era baixo ou moderado. Mas vários engenheiros dizem hoje que a análise feita por ele levantou dúvidas sobre a segurança da barragem.

Qual a empresa dona das barragens que causaram os desastres na cidade de Mariana e Brumadinho ambas em Minas Gerais?

Douglas Magno/imagem cedida pela Agence France-Presse -- Getty Images

De acordo com Allen Marr, os cálculos de segurança de Washington Pirete “levantam questionamentos sobre a estabilidade da barragem.” Dirk Van Zyl disse que se ele tivesse encontrado as margens de segurança que Washington Pirete calculou para a barragem, “não conseguiria dormir em paz.”

Segundo ele, sua primeira reação ao ver as estreitas margens de segurança da barragem foi concluir que a estrutura “já deveria ter entrado em colapso, ou quase.” Washington Pirete foi procurado diversas vezes, mas não se pronunciou.

A dissertação descreve o método de construção da barragem, iniciada em 1976, que foi, em muitos sentidos, rotineira para a construção de barragens a montante.

Um dique inicial foi construído ao longo do vale, acima de Brumadinho. Em seguida, a empresa de mineração começou a canalizar rejeitos atrás desse dique. Cada vez que o nível de rejeitos se aproximava do topo do dique, a empresa construía outro dique em um ponto do morro um pouco acima – daí o nome “a montante.” Cada dique adicional era então construído diretamente sobre a lama endurecida.

Ao longo de décadas, uma estrutura imponente se ergue acima do complexo de mineração. A integridade dessa estrutura dependia completamente da solidez da lama.

Uma observação mais atenta dos dados da dissertação demonstra que em alguns casos, os números mostravam que a barragem estava muito perto do limite de desmoronamento. Isso levou alguns engenheiros a se perguntar como Washington Pirete poderia ter declarado que a barragem era segura.

“Estava próximo demais da margem de segurança,” afirmou Gregory B. Baecher.

No ano passado, uma empresa alemã contratada pela Vale inspecionou a barragem e calculou fatores de estabilidade mais altos que os calculados por Washington Pirete – mas a empresa também levantou preocupações com a segurança.

A empresa, chamada Tüv Süd, encontrou tubos de drenagem entupidos e rachaduras. Além disso, a empresa mencionou a pequena estrutura de madeira erguida para evitar que parte da barragem sofresse deslizamento. Os auditores da empresa também reportaram um gotejamento de água visível em pelo menos uma área e disseram que havia risco de liquefação.

Para reduzir o risco de um colapso causado por vibrações, os auditores aconselharam a Vale a evitar que equipamento pesado fosse colocado sobre barragem e que explosões fossem feitas em áreas próximas. Também recomendaram procedimentos para evitar que o nível da água subisse.

Uma ameaça à espreita

Duas semanas após a tragédia de Brumadinho, as sirenes soaram no meio da noite na cidade de Barão de Cocais, localizada a 122 quilômetros de distância. “Atenção! Esta é uma situação real de emergência de rompimento de barragem,” anunciaram os alto falantes. “Abandonem imediatamente suas residências.”

O alarme provocou uma situação caótica. Quase 500 pessoas tiveram que evacuar suas casas. A Vale, proprietária do complexo de mineração de Barão de Cocais, disse que o procedimento era uma “medida preventiva.” A empresa explicou que decidiu implementar esse plano de emergência depois que a Walm, uma empresa de consultoria, se recusou a fornecer um atestado de estabilidade para a barragem daquela região.

“A gente espera que não estoure, mas ao contrário de muitas cidades, nós tivemos tempo de agir,” disse o prefeito de Barão de Cocais, Décio dos Santos. “Nós não sabíamos que a barragem era perigosa.”

O risco real que barragens deste tipo representam no Brasil — e em outros países — é, em grande parte, desconhecido.

Assim como em Brumadinho, as barragens localizadas acima das cidades de Barão de Cocais e Itatiaiuçu, que foram evacuadas recentemente, são barragens de rejeitos a montante. No Brasil, existem 87 barragens como essas. Desse total, 83 são tão vulneráveis ou mais vulneráveis que a barragem que se rompeu, de acordo com sua classificação junto ao governo.

Mapa de autoria de Scott Reinhard | Fonte: Agência Nacional de Mineração

Segundo uma análise feita pelo The New York Times, algumas dessas barragens precárias estão perto de áreas habitadas. Pelo menos 27 delas estão instaladas em morros próximos a cidades ou vilarejos, representando um risco para essas áreas urbanas.

Barragens de rejeitos de mineração a montante de áreas populadas

The New York Times | Imagem de satélite obtida através do Google Earth

Em Itatiaiuçu, localizada a apenas 32 quilômetros de Brumadinho, os moradores também foram acordados durante a madrugada de sexta-feira. As autoridades e os representantes da empresa de mineração ArcelorMittal foram de porta em porta em um dos bairros ordenando mais de 200 moradores a abandonar suas casas.

Essa empresa também disse que acionou o plano de emergência depois que os auditores adotaram “uma metodologia mais conservadora” e se recusaram a fornecer o atestado de estabilidade da barragem localizada nos arredores — apesar, segundo a empresa, das condições da barragem serem as mesmas de antes.

Uma cidade que vive em função de uma empresa diz “basta”

Quando a barragem do Córrego do Feijão estourou, pouco depois do meio dia, 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração — o suficiente para encher 5.000 piscinas olímpicas — escorreram em direção à Brumadinho. Na descida, a lama se abateu sobre um refeitório em que cerca de duzentos funcionários da empresa estavam almoçando.

As equipes de resgate demoraram dias para alcançar o antigo refeitório e encontrá-los.

Qual a empresa dona das barragens que causaram os desastres na cidade de Mariana e Brumadinho ambas em Minas Gerais?

Antônio Lacerda/EPA, imagem cedida pela Shutterstock

A Vale é a maior fonte de renda dos 37.000 moradores de Brumadinho. Mas à medida que o número de mortos foi aumentando, os moradores ficaram cada vez mais revoltados com a empresa.

Até atividades corriqueiras, como ir a um bairro vizinho, se tornaram um pesadelo porque uma massa de lama grossa tinha invadido a cidade.

Dois dias após o rompimento da barragem, o prefeito de Brumadinho, Avimar Barcelos, disse que a Vale era “incompetente e inconsequente.” Funcionários da Vale, que antes tinham orgulho da empresa, agora se sentem acuados. Um funcionário disse que não se sentia mais à vontade ao usar o uniforme da empresa na rua.

“Eu seria linchado,” disse.

Na entrada da cidade, uma acusação foi rabiscada em um monumento: “Vale Assassina!!!”

A empresa declarou que ainda está investigando as causas da ruptura e insiste em afirmar que não havia indícios de que o colapso ocorreria.

Segundo a Vale, a barragem estava inativa há quase três anos e tinha sido certificada como estável em setembro de 2018, apesar de que um estudo ambiental em 2015 havia notado que alguns instrumentos de monitoramento estavam com defeito.

Há três anos, uma barragem similar se rompeu na cidade de Mariana, a 120 quilômetros de Brumadinho. A ruptura da barragem, que pertencia a Vale e a BHP, uma empresa de mineração anglo-australiana, matou 19 pessoas e causou o maior desastre ambiental da história do Brasil.

Após o colapso em Mariana, as autoridades prometeram adotar protocolos de segurança rigorosos. Isso nunca aconteceu.

No Brasil, devido a escassez de inspetores do governo, as empresas podem se auto-monitorar. Elas contratam auditores independentes que verificam a segurança das barragens através de inspeções regulares e da análise dos registros disponíveis— todos fornecido pela empresa.

Os especialistas afirmam que há um conflito de interesses.

“Não pode ser que a pessoa fazendo a fiscalização é paga pela mesma empresa. Não pode haver troca” disse Evandro Moraes da Gama, professor de engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, especializado em rejeitos de mineração.

Quatro dias depois do rompimento da barragem em Brumadinho, a polícia prendeu os inspetores externos que tinham verificado a estabilidade da barragem, assim como três funcionários da Vale responsáveis por segurança e licenciamento ambiental. Eventualmente um juiz ordenou que fossem libertados.

“Eles querem dar pancadas em engenheiros, mandar preso. Mas é o sistema que está falho,” disse Evandro Moraes da Gama.

Muitos moradores de Brumadinho acreditam que a falha no sistema de alarme custou muitas vidas. A Vale afirmou, em um pronunciamento, que “devido à velocidade com que ocorreu o evento, não foi possível acionar as sirenes.”

Luiz Castro, o empregado da Vale que escapou da enxurrada de lama, disse que “se os alarmes tivessem funcionado, a tragédia ambiental ainda aconteceria, mas ninguém teria morrido.”

A irmã de Jefferson Ferreira dos Passos trabalhava em uma pousada abaixo da barragem. Ele disse que ligou para ela assim que soube do rompimento da barragem. Sem resposta, ele correu uns seis quilômetros até a pousada. Ao chegar, encontrou apenas uma vastidão de lama.

Ele e outro homem começaram a retirar sobreviventes do lamaçal. Encontraram uma mulher agarrada a uma árvore, com ambas as pernas quebradas. Ficaram ao lado dela até que um helicóptero a levasse embora.

TV Record, imagens cedidas pela AP

Jeferson Ferreira dos Passos nunca encontrou a irmã.

Viciados em mineração

Os primeiros colonizadores portugueses chegaram à região de Minas Gerais em busca de ouro e diamantes. O estado de Minas Gerais continua sendo o centro da indústria de mineração no Brasil, com 53 por cento da produção do país e mais minas e barragens de rejeitos que qualquer outro estado brasileiro. Aqui, dizem os críticos, as leis não são escritas para as empresas de mineração, e sim pelas empresas de mineração.

Em dezembro uma reunião extraordinária do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) foi convocada para votar uma proposta da Vale de expandir as operações na lavra de Córrego do Feijão e em outra mina. A proposta foi declarada “prioritária” pelo estado de Minas Gerais.

Qual a empresa dona das barragens que causaram os desastres na cidade de Mariana e Brumadinho ambas em Minas Gerais?

A Vale comprou o complexo de mineração em 2001. Antonio Lacerda/EPA, imagem cedida pela Shutterstock

A ativista Maria Teresa Corujo, que representa a comunidade no Conselho, denunciou que tiveram apenas quatro dias úteis para ler os milhares de documentos pertinentes à proposta.

“A gestão ambiental no nosso estado continua voltada para atender índices de PIB, interesses minerários,” Maria Teresa disse na reunião de acordo com a minuta enviada ao The New York Times. “Isso está destruindo Minas Gerais.”

Júlio César Dutra Grillo, representante estadual do IBAMA, avisou aos membros do COPAM que as barragens não estavam livres de risco. Segundo ele, “uma negligência qualquer de quem está à frente de um sistema de gestão de risco, aquilo rompe.”

A proposta foi aprovada com apenas um voto contra, de Maria Teresa Corujo; e uma abstenção, de Júlio César Dutra Grillo.

A decisão do COPAM foi tomada apesar do receio que outros acidentes pudessem acontecer após o rompimento da barragem de Mariana. Em audiências públicas, os ativistas de Brumadinho tentaram convencer os moradores que o turismo, não a mineração, era o futuro da cidade.

Não é o turismo, porém, que ativa a economia da cidade. A mineração começou na década de 1950 e muitas das comunidades da cidade foram criadas por trabalhadores da mineração.

Fernando Coelho, de 35 anos, nasceu em uma pequena comunidade dentro do complexo de mineração do Córrego do Feijão. “Meu cordão umbilical está enterrado lá,” disse.

Fernando começou a trabalhar no local aos 19 anos, junto com o pai, Olavo Coelho, mas no dia em que a barragem se rompeu, estava em casa, depois de terminar o turno da noite. Ele sabia que o pai estaria almoçando no refeitório e correu para o carro. Ao chegar lá, só encontrou a lama.

Fernando Coelho disse que sente uma tristeza desesperadora — mas revolta também. Alguns meses atrás, seu pai tinha sido chamado após o expediente para consertar um vazamento e, desde então, de acordo com o filho, ele dizia que a barragem não era segura.

“Ele falou que a barragem podia estourar,” disse. “Mas, não é ele que toma a decisão.”

Fernando Coelho disse que relatou aos promotores públicos encarregados da investigação o que seu pai tinha dito. Outros três trabalhadores também disseram ao The New York Times que sabiam dos vazamentos.

No entanto, Fernando Coelho disse que, apesar dos avisos do pai, nunca tinha se preocupado com o fato que a barragem poderia se romper. Afinal de contas, sua vida inteira girava em torno do complexo de mineração. Agora isso mudou.

“Não vou voltar nunca,” ele disse. “Aquilo matou o meu pai.”

The New York Times | Imagem de satélite cedida pela DigitalGlobe

Nos primeiros dias após a ruptura da barragem, a Vale se comprometeu a dar à família de cada vítima 100 mil reais independentemente de qualquer acordo legal.

Os governos estaduais e federal imediatamente exigiram legislação mais rígida, mas, como lembram especialistas, a comoção após o rompimento da barragem de Mariana pouco fez para melhorar o monitoramento das atividades da mineração.

“Após o desastre de Mariana, o sistema se tornou ainda mais flexível, facilitando o tráfico de influência dentro do sistema de licenciamento,” afirma Klemens Laschefski, professor da Universidade Federal de Minas Gerais que participa das reuniões do COPAM.

Qual a empresa dona das barragens que causaram os desastres na cidade de Mariana e Brumadinho ambas em Minas Gerais?

Douglas Magno/imagens cedidas pela Agence France-Presse -- Getty Images

“Já estive em 40 audiências que discutiam projetos prioritários — nenhum foi rejeitado,” disse o professor.

Ademir Caricati, líder comunitário no bairro Parque da Cachoeira, onde quase 40 casas foram destruídas, disse que, no ano passado, funcionários da Vale disseram aos moradores do bairro que a barragem era de baixo risco.

Os funcionários procuraram tranquilizar os moradores com um argumento inusitado: os escritórios da administração da mina estavam logo abaixo da barragem.

“Nós seríamos os primeiros a morrer,” disse um funcionário.

Qual empresa foi responsável pela barragem de Brumadinho?

A PF indiciou a Vale, empresa privada brasileira que figura entre as maiores mineradoras do mundo e a Tüv Süd, responsável pela auditoria da estrutura da barragem, pela prática de uma série de crimes ambientais contra a fauna, a flora, os recursos hídricos, unidades de conservação e sítios arqueológicos.

Qual a empresa responsável pela barragem de Mariana?

Passados quase seis anos do rompimento da barragem da mineradora Samarco, mais de 80 mil demandas judiciais estão na fila aguardando apreciação.

Qual a empresa dona das barragens que causaram os desastres nas cidades de Mariana e Brumadinho ambas em Minas Gerais?

Em 5 de novembro de 2015 o Brasil passou pela sua maior tragédia ambiental com o rompimento da barragem de fundão em Mariana da Empresa Samarco.