Quais são os três principais impactos causados pela ocupação do Cerrado brasileiro?

X Coloquio Internacional de Geocrítica

DIEZ AÑOS DE CAMBIOS EN EL MUNDO, EN LA GEOGRAFÍA Y EN LAS CIENCIAS SOCIALES, 1999-2008

Barcelona, 26 - 30 de mayo de 2008
Universidad de Barcelona


IMPACTOS DA AGRICULTURA TECNIFICADA EM �REAS DE CERRADO DO BRASIL CENTRAL: ANÁLISE DO USO DA TERRA, DO GRAU DE VULNERABILIDADE DOS SOLOS E DO DESMATAMENTO

Dinalva Donizete RIBEIRO
Profa. Dra. Adjunto II na Universidade Federal de Goi�s, Campus Jata�, Departamento de Geografia � Goi�s/Brasil

Jacob BINSZTOK
Prof. Dr. Titular na Universidade Federal Fluminense, Departamento de Geografia � Rio de Janeiro/ Brasil


Impactos da agricultura tecnificada em �reas de cerrado do Brasil Central: an�lise do uso da terra, do grau de vulnerabilidade dos solos e do desmatamento (Resumo)

A fim de apresentar os desgastes s�cio-ambientais gerados pela intensifica��o da monocultura no Cerrado, foram feitas an�lises do uso da terra, do grau de vulnerabilidade dos solos e do desmatamento da Microrregi�o Sudoeste de Goi�s, que est� situada em �rea de Cerrado do Brasil Central e � considerada sin�nimo da agricultura tecnificada, com capacidade produtiva reconhecida nacional e internacionalmente. Por meio dos mapas pode-se verificar que a Microrregi�o apresenta pouca remanesc�ncia da vegeta��o nativa, que em alguns munic�pios foi extinta quase por completo. O mapa de uso da terra evidencia a predomin�ncia dos cultivos tempor�rios. O mapa de desmatamento demonstra que a �rea de vegeta��o nativa tem sido comprometida a fim da instala��o de novos cultivos tempor�rios. Resultante desse processo vem � tona a contamina��o das �guas, o assoreamento dos leitos e drenagens, a polui��o do ar, o comprometimento da biodiversidade, a lixivia��o dos solos e o surgimento de eros�es e vo�orocas, problemas estes que recaem sobre o conjunto da sociedade.�����������

Palavras-chave: agricultura tecnificada, agricultura e paisagem, insustentabilidade


Impacts of technically developed agriculture in the cerrado areas of middle Brazil: Land use analysis, degree of soil vulnerability and deforestation (Abstract)

With the goal to present the social and environmental abrasion generated by the intensification of monoculture in the Cerrado, there were made analysis of land use, of� soil vulnerability degree and of deforestation of the micro-region from Southwest of Goias State, which is situated in the Cerrado area of middle Brazil and is considered� a synonym of technically developed agriculture, with a productive ability nationally and internationally recognized. Across the maps it is possible to verify that the region presents a little permanency of native vegetation, that in some municipalities it was almost completely extinguished. The map of the land use evidences the predominance of temporary crops. The map of deforestation demonstrates that the native vegetation area has been pledged with the goal to establish new temporary crops. Resultant of that process appears the water contamination, the destruction of the rivers and drainage, the air pollution, the destruction of the biodiversity, the soil lixiviation and the arising of the erosion, problems which fall back over the whole society.

Key-words: technically developed agriculture; agriculture and landscape; unsustainability


A microrregi�o Sudoeste de Goi�s � a parcela do territ�rio goiano que mais recebeu fixos, fluxos e investimentos financeiros para a tecnifica��o da agricultura. A regi�o recebeu incentivos diretos do POLOCENTRO, por meio da constitui��o do p�lo Rio Verde � Jata�, sendo preparada, a partir disso, para os objetos tecnificados dispon�veis no pacote tecnol�gico da revolu��o verde. A partir de ent�o, a MRH � tida como sin�nimo da agricultura no seu est�gio melhor elaborado, tendo sua capacidade produtiva reconhecida nacional e internacionalmente.

Diante dessa realidade, a agricultura contempor�nea desenvolvida no Sudoeste de Goi�s pode ser identificada e analisada a partir de dois matizes: um que reconhece a import�ncia e justifica este modelo de explora��o, tendo em vista o b�nus econ�mico que� gera; outro que percebe os problemas e preju�zos, sociais e ambientais, decorrentes da mesma.

Aqui a investiga��o caminha no sentido de analisar e avaliar o uso que a agricultura da regi�o tem feito da natureza. An�lises do uso da terra, do grau de vulnerabilidade dos solos e do desmatamento foram levantadas no intuito de trazer � pauta de discuss�o os preju�zos ambientais gerados com a intensifica��o da monocultura na regi�o.

Estas vari�veis foram investigadas com o intento de fazer rever a no��o (que � quase um decreto) que prev� a intensifica��o da explora��o agr�cola por meio das lavouras, sobretudo de soja, no Sudoeste de Goi�s. A coleta de dados e a elabora��o gr�fica do material se deram por meio de imagens de sat�lite obtidas pelo Laborat�rio de Geoprocessamento da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos H�dricos (SEMARH-GO).


O Uso da Terra no Sudoeste de Goi�s e a Vulnerabilidade Ambiental

A an�lise do uso da terra, bem como da vulnerabilidade ambiental dos solos utilizados, nos parece ser um importante mecanismo de averigua��o do uso agr�cola que se tem impingido ao Sudoeste de Goi�s.

Ao investigar a figura 1 pode-se verificar que a maior parte das terras do Sudoeste de Goi�s � utilizada a fim de instalar lavouras tempor�rias (cultivos anuais). Nota-se que, ao lado dos cultivos anuais, a pastagem ainda hoje ocupa grandes extens�es de terra, por�m em �reas mais descont�nuas, o que indica que naquele espa�o a pecu�ria divide a �rea com a monocultura, gozando de import�ncia no cen�rio econ�mico regional, por�m numa escala menor do que a da soja, j� que esta funciona como commoditie no mercado internacional de alimentos.

No que tange � vegeta��o nativa, a �rea ocupada por florestas estacionais, cerrado denso, cerrad�o, campo limpo �mido, cerrado ralo e veredas comp�e parte muito pequena em rela��o ao total da �rea da microrregi�o, estando a vegeta��o mais, ou menos, presente em alguns munic�pios, dependendo do uso agr�cola espec�fico dos solos de cada um. Os munic�pios de Rio Verde, Montividiu e Chapad�o do C�u possuem quase a totalidade de suas �reas destinadas a lavouras tempor�rias. Neste �ltimo n�o h� registro de vegeta��o reservada, exceto umas poucas manchas margeando os cursos d��gua que funcionam como limite com os munic�pios de Serran�polis e Apor�.

Numa an�lise dos cursos d��gua que cruzam a microrregi�o em destaque, pode-se observar que em �reas circundantes de diversos leitos n�o h� vegeta��o, o que, de acordo com a legisla��o ambiental vigente, � expressamente proibido. As margens do rio Claro, na altura dos munic�pios de Jata� e Aparecida do Rio Doce, e as do rio Corrente, na altura dos munic�pios de Chapad�o do C�u e Apor�, s�o elucidativas deste evento. De acordo com a figura 2 (mapa de vulnerabilidade ambiental), tais �reas, cuja vegeta��o nativa foi retirada, est�o classificadas como sendo de grau vulner�vel, ou seja, s�o �reas que obrigatoriamente e legalmente, deveriam estar preservadas devido � sua vulnerabilidade, mas est�o antropizadas, expostas ao comprometimento, com possibilidades reais de r�pido desgaste e degrada��o.�

Observa-se que a exist�ncia de culturas que demandam irriga��o por meio de piv� central est� concentrada, sobretudo, no munic�pio de Rio Verde, onde podem ser encontrados aproximadamente 20 aparelhos.

Quanto ao uso dos solos para fins de lavoura tempor�ria, pode-se averiguar ainda, com aux�lio da figura 3 (mapa de desmatamento), a intensifica��o de tal uso e a amplia��o da �rea a ser cultivada nos munic�pios de Jata�, Mineiros e, sobretudo, no munic�pio de Caiap�nia, onde foram identificados 14 pontos de desmatamento no �ltimo ano.

Figura 1
Uso do Solo e Unidades Fision�micas no Sudoeste de Goi�s

Quais são os três principais impactos causados pela ocupação do Cerrado brasileiro?

Julgamos importante considerar que toda a �rea intensivamente antropizada e explorada para fins agropecu�rios no Sudoeste de Goi�s possui consider�vel grau de vulnerabilidade, sendo classificada como moderadamente vulner�vel, medianamente est�vel/vulner�vel e vulner�vel, conforme pode ser conferido na figura 2. Nas regi�es nas quais t�m sido promovidos desmatamentos em n�veis mais expressivos, tais como nos munic�pios de Caiap�nia, Jata� e Mineiros, o grau de vulnerabilidade � mais acentuado, s�o �reas consideradas vulner�veis.

Disso decorre a preocupa��o com a qualidade ambiental, gerada a partir da anexa��o de novas �reas � monocultura na regi�o, em prol do crescimento horizontal do processo produtivo em curso.

Figura 2
Vulnerabilidade Ambiental dos Solos do Sudoeste de Goi�s

Quais são os três principais impactos causados pela ocupação do Cerrado brasileiro?


Desmatamento e Perda de Biomassa

No Sudoeste de Goi�s o desmatamento tem se acentuado. A figura 3 indica o n�mero e a localiza��o dos desmatamentos na regi�o. De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos H�dricos de Goi�s (SEMARH, 2005), a detec��o e o mapeamento efetuados para a confec��o do mapa de desmatamento basearam-se fundamentalmente na compara��o consecutiva de imagens obtidas pelo sensor MOD13Q1 (imagens NDVI � �ndices de vegeta��o, com resolu��o espacial de 250 m). Esta compara��o entre as imagens, realizada pixel a pixel, se deu em fun��o de um determinado limiar de mudan�a (10%) na imagem NDVI, verificado pela redu��o de biomassa verde. O sistema utilizado para detec��o (Sistema Integrado de Alerta de Desmatamentos/SIAD�GO) foi ajustado para detectar desmatamentos acima de 25 ha.

Ainda segundo a SEMARH (2005), uma das principais bases de dados para o SIAD - Goi�s � composta por imagens de sat�lite obtidas, diariamente, pelo sensor MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer). Este sistema de �imageamento� � o carro-chefe de um programa institucional da NASA (Ag�ncia Espacial Americana) que, a bordo das plataformas orbitais TERRA e AQUA, est� voltado, desde 1999, para o monitoramento global da Terra, incluindo os ambientes terrestres, aqu�ticos e atmosf�ricos. O sensor MODIS opera com 36 bandas espectrais, as quais propiciam recobrimento global e cont�nuo a cada dois dias, com resolu��es espaciais de 250, 500 e 1000 metros (resolu��es identificadas pelos c�digos Q1, A1 e A2, respectivamente). Entre os v�rios produtos MODIS, destaca-se o MOD13Q1 (250 metros), contendo, entre outras informa��es, os �ndices de vegeta��o Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) (SEMARH, 2005).

Pode-se notar, por meio da figura (mapa), a ocorr�ncia de 48 pontos de desmatamento no Sudoeste de Goi�s no intervalo de 2004 a 2005; os munic�pios de Caiap�nia, Jata� e Mineiros s�o os que apresentam as maiores incid�ncias. De acordo com dados da SEMARH (2005), o menor desmatamento possui �rea de aproximadamente 27 ha e o maior, �rea de aproximadamente 306 ha. No total o desmatamento neste per�odo destruiu uma �rea de aproximadamente 2.700 ha na microrregi�o.��

Figura 03
Focos de Desmatamento na MRH Sudoeste de Goi�s (2004 � 2005)

Quais são os três principais impactos causados pela ocupação do Cerrado brasileiro?

O desmatamento acentuado e acelerado no Sudoeste de Goi�s pode ser corroborado pelas in�meras carvoarias na regi�o, cada uma delas com dezenas de fornos, onde se faz carv�o a partir das �rvores derrubadas. Os caminh�es carregados com sacas de carv�o vegetal podem ser vistos diariamente nas rodovias.� Estes caminh�es, na sua maioria, possuem placas de registro de Bom Despacho (MG) e de Pitangui (MG), como de outras localidades pr�ximas � regi�o metropolitana de Belo Horizonte. O carv�o produzido � levado �s sider�rgicas mineiras, para abastecimento das caldeiras.

Pode-se contabilizar, por meio da figura 4, aproximadamente, 50 fornos que, de acordo com os vest�giosda fuma�a, est�o em pleno funcionamento. N�o tivemos permiss�o para entrar na propriedade sede da carvoaria. Sendo a propriedade de dimens�o bastante elevada, a imagem foi captada a uma dist�ncia m�dia de 10Km, por isso a qualidade da mesma n�o nos permite identificar com precis�o os detalhes do processo de funcionamento da carvoaria.

A �rea que aparece em primeiro plano j� � tradicional de lavoura e a que aparece ao fundo est� sendo desmatada para ampliar, a partir da pr�xima safra, a �rea plantada.

O propriet�rio de terras empreita o cerrado para o carvoeiro limpar. Ele recolhe as �rvores, depois de derrubadas, usualmente por corrent�o, e produz o carv�o em fornos constru�dos para esta finalidade, conforme pode ser verificado na figura 04.

A pr�tica do �corrent�o� � a mais agressiva utilizada no desmatamento do Cerrado. Uma corrente grande e resistente tem suas extremidades presas a dois tratores, um em cada extremidade, que quando colocados em movimento arrastam a corrente derrubando todas as plantas encontradas no percurso. A resist�ncia da corrente faz com que nenhuma planta resista, n�o permanecendo nenhum exemplar de qualquer esp�cie onde tal m�todo � aplicado. Por sua agressividade, tal m�todo de desmatamento � proibido por lei, por�m continua sendo utilizado em larga escala no Cerrado.

Figura 04
Instala��es de Carvoaria com Fornos em Funcionamento (Jata�-GO)�

������������� ����

Quais são os três principais impactos causados pela ocupação do Cerrado brasileiro?

Fonte: Ribeiro, 2005

Segundo relat�rio do Estudo Integrado de Bacias Hidrogr�ficas do Sudoeste Goiano (EIBH, 2005), o extrativismo vegetal � uma importante atividade comercial nos munic�pios da regi�o. O Estudo Integrado foi realizado para as Bacias dos rios Apor�, Corrente, Verde, Alegre e Claro e contempla os munic�pios de Aparecida do Rio Doce, Apor�, Caiap�nia, Chapad�o do C�u, Jata�, Mineiros, Perol�ndia, Portel�ndia, Rio Verde e Serran�polis, na microrregi�o Sudoeste de Goi�s, al�m de outros munic�pios vizinhos a estes, pertencentes � microrregi�o de Quirin�polis. Segundo tal relat�rio,

em fun��o da expans�o das �reas de pastagens e agricultura � comum a presen�a de carvoarias por toda a regi�o, conforme constatado em sobrev�o realizado nas Bacias em janeiro de 2005. O produto do desmatamento � comercializado na forma de madeira em tora, lenha e carv�o vegetal (EIBH, 2005, p.67).

No quadro 1 pode-se observar o qu�o rent�vel tem sido o desmatamento para alguns munic�pios sudoestinos. Al�m de abrir a �rea para pastagem e/ou lavoura, as �rvores s�o utilizadas enquanto mat�rias-primas variadas.

Quadro 1
Valor da Produ��o Extrativa Vegetal (
em mil R$) por Tipo de Produto

Munic�pio

Carv�o vegetal

Lenha

Madeira/ Tora

Produtos/ Lenha

Aparecida do Rio Doce

60

01

00

00

Apor�

00

05

00

00

Caiap�nia

132

123

118

00

Chapad�o do C�u

00

00

00

00

Jata�

340

213

90

00

Mineiros

290

144

29

00

Perol�ndia

00

06

215

00

Portel�ndia

00

46

26

00

Rio Verde

08

32

01

609

Serran�polis

00

36

10

00

Fonte: EIBH, 2005. Adapta��o: Ribeiro, 2005.

O fato de Apor� e Serran�polis n�o apresentarem produ��o significativa registrada n�o significa que os mesmos possuam baixos n�veis de desmatamento. Nestes munic�pios torna-se dif�cil avaliar a quantidade de carv�o e de lenha produzidos e exportados, devido ao escoamento ilegal efetuado pelas estradas do Mato Grosso do Sul. �Esta informa��o de escoamento ilegal de carv�o, com documenta��o do estado vizinho, foi prestada e confirmada por v�rios carvoeiros da regi�o� (EIBH, 2005, p.69).

Nota-se que apenas Rio Verde possui algum processamento de madeira. De acordo com relat�rio do EIBH (2005), a maioria da mat�ria-prima, na forma de lenha ou carv�o vegetal, � vendida para usinas e destilarias, para alimenta��o de caldeiras.


Desmatamento: Comprometimento da Biodiversidade, das �guas e Problema de Sa�de P�blica

O relat�rio do EIBH (2005) mostra ainda o crescimento do desmatamento no entorno do Parque Nacional das Emas (que pode ser verificado, tamb�m, na figura 3):

As carvoarias presentes nos trechos a montante das Bacias dos Rios Apor�, Corrente e Verde s�o bastante numerosas. O desmatamento das �reas ainda preservadas de mata nativa no entorno do Parque Nacional das Emas vem sendo realizado agressivamente, fato que p�de ser constatado nos dois sobrev�os efetuados na regi�o: o primeiro, em meados de 2003, voltado para os trabalhos do Estudo da Bacia do Rio Verde, realizado para a complementa��o do EIA/Rima dos empreendimentos Salto e Salto do Rio Verdinho e o segundo, em janeiro de 2005, objetivando fornecer subs�dios para o diagn�stico do EIBH. Comparando-se as imagens destes dois sobrev�os, registradas em filmagens, pode-se constatar que as �reas desmatadas e a presen�a de carvoarias aumentaram significativamente (EIBH, 2005, p. 68).

A retirada da vegeta��o do entorno do Parque Nacional das Emas, embora esteja al�m dos limites deste, compromete a vida e o equil�brio ecossist�mico do mesmo, j� que impede a forma��o dos corredores de biodiversidade. Dessa forma, o Parque se torna uma �rea descont�nua e, por isso, n�o consegue cumprir seu objetivo de elemento preservador dos Cerrados.

Da �rea remanescente de Cerrado do Sudoeste de Goi�s a maior parte j� passou por altera��es, o que significa que esta n�o � mais a ideal para a conserva��o da biodiversidade. Isso compromete a mais rica savana do planeta, caso prossiga a sua explora��o para fins de monocultura na escala em que est� se dando atualmente.

O fato de a vegeta��o do Cerrado n�o ser caracterizada por densas florestas tropicais, como as Floresta Amaz�nica e Mata Atl�ntica, faz com que, de forma ignorante, os empres�rios, os propriet�rios de terra, os produtores e o poder p�blico defendam o desmatamento com o objetivo da instala��o de lavouras monocultoras.

Al�m de graves preju�zos para a biodiversidade e sobreviv�ncia de milhares de esp�cies, a destrui��o do Cerrado compromete as principais bacias hidrogr�ficas da Am�rica do Sul, j� que nele est�o as nascentes de importantes bacias como a Platina, a do S�o Francisco e a Amaz�nica. A explora��o indiscriminada desencadeia o assoreamento dos cursos d��gua, provoca eros�es e processos de contamina��o no que � considerado o ber�o das �guas.

Diante dessa situa��o, Machado (2004) alerta para a necessidade urgente de frear este processo de degrada��o. A sugest�o feita pela International Conservation (CI � Brasil), no ano de 2004, foi de que o Governo Federal destinasse parte dos recursos previstos para financiar a safra de 2005 para a constitui��o de um fundo, cujas verbas seriam utilizadas para a manuten��o de unidades de conserva��o, para a recupera��o de �reas degradadas e para a prote��o de mananciais h�dricos.

No entanto, tal sugest�o n�o foi aceita, evidenciando que as pol�ticas de produ��o n�o s�o conjugadas com as pol�ticas ambientais.

Quanto aos preju�zos acarretados pelo desmatamento intensivo, o EIBH (2005) afirma que o aumento de casos da enfermidade leishmaniose,em alguns munic�pios, possui rela��o direta com a redu��o da vegeta��o nativa, pois os intensos desmatamentos e a conseq�ente perda de habitat do seu transmissor gera um desequil�brio fazendo com que tal enfermidade se manifeste nas �reas urbanas.

Entre 2001 e 2004 os casos de leishmaniose aumentaram em v�rios munic�pios sudoestinos. No per�odo foram registrados os seguintes n�meros da doen�a: Mineiros, 64 casos; Jata�, 50 casos; Caiap�nia, 44 casos; Rio Verde, 35 casos; Serran�polis, 07 casos; Portel�ndia, 07 casos; Chapad�o do C�u, 04 casos; e Aparecida do Rio Doce, Apor� e Perol�ndia, 01 caso cada um.

Nota-se que h� uma correspond�ncia entre os munic�pios alvo do desmatamento e os que apresentam os maiores �ndices da doen�a. Os munic�pios de Caiap�nia, Jata�, Mineiros e Rio Verde, mais afetados pela doen�a, s�o os que apresentam mais focos de desmatamento (conforme figura 3).


Considera��es Finais

Desde o desenvolvimento das tecnologias contidas no pacote da revolu��o verde, a agricultura vem sendo aprimorada para se aumentar constantemente a produtividade dos solos e do trabalho e, portanto, aumentar lucros e rentabilidade. Por�m, tal tecnologia, se utilizada de forma inadequada, pode se transformar, conforme Cunha (1994), numa verdadeira �caixa de Pandora�, trazendo � tona problemas incalcul�veis, tanto quanto incontrol�veis.

No Sudoeste de Goi�s as tecnologias avan�adas s�o aplicadas em busca da sustentabilidade econ�mica, que para ocorrer exige que a atividade agr�cola se mantenha em condi��es de competitividade. Os problemas de degrada��o e de comprometimento dos estoques de recursos naturais ocorrem como conseq��ncia desta busca constante, que exige cada vez mais a explora��o intensiva.

Mediante a tecnologia dispon�vel, a produtividade elevada � manifesta rapidamente, contrariamente aos problemas, que s� v�m num prazo mais longo, e s� a� poder-se-� dizer se a produ��o �, realmente, sustent�vel econ�mica e ambientalmente.

� comum citarmos os problemas que atingem os solos, as �guas, a biodiversidade, enquanto exemplos de degrada��o. Estes s�o os chamados �problemas de primeira gera��o�, diretamente causados pela pr�tica agr�cola em si, como o uso intenso de agrot�xicos, a redu��o da diversidade biol�gica e os desequil�brios ecol�gicos. Existem, tamb�m, os �problemas de segunda gera��o�, que surgem como desdobramento dos primeiros ou em conseq��ncia da tentativa de solucion�-los. A ocorr�ncia da segunda gera��o de problemas traduz a gravidade dos impactos gerados, que se manifestam n�o apenas local e momentaneamente e d�o a real dimens�o do comprometimento ambiental gerado por pr�ticas de explora��o inadequadas. Os problemas se desdobram e alcan�am elementos, espa�os e indiv�duos que, aparentemente e espacialmente, n�o est�o envolvidos com a explora��o agr�cola.

Por fim conclui-se, por meio dos mapas apresentados, que o uso da terra na MRH apresenta pouca remanesc�ncia da vegeta��o nativa, que em alguns munic�pios foi extinta quase por completo, como � o caso de Chapad�o do C�u, que possui quase a totalidade de sua �rea destinada a lavouras tempor�rias. Neste munic�pio n�o h� registro de vegeta��o reservada, exceto umas poucas manchas margeando os cursos d��gua que funcionam como limite com os munic�pios de Serran�polis e Apor�. O mapa de uso da terra evidencia, tamb�m, a predomin�ncia dos cultivos tempor�rios e, numa escala um pouco menor, as pastagens plantadas. A gravidade do problema � reafirmada quando se analisa os dados sobre desmatamento, pois se v� que a �rea de vegeta��o nativa tem sido comprometida a fim da instala��o de novos cultivos tempor�rios, ao passo que as �rvores derrubadas viram carv�o, destinado, geralmente, �s sider�rgicas mineiras. O uso inadequado dos recursos naturais e a anexa��o ao cultivo de �reas de preserva��o promovem desequil�brios, tais quais a contamina��o das �guas, o assoreamento dos leitos e drenagens, a polui��o do ar, o comprometimento da biodiversidade, a lixivia��o dos solos e o surgimento de eros�es e vo�orocas, problemas estes que recaem sobre o conjunto da sociedade.


Bibliografia

CUNHA, A. S. (Coord.). Uma avalia��o da sustentabilidade da agricultura nos cerrados. Estudos de pol�tica agr�cola. Bras�lia (DF): IPEA, n. 11, 1994. (Relat�rios de pesquisas).

DUARTE, L. M. G; THEODORO, S. H. (Orgs) Dilemas do Cerrado. Entre o ecologicamente (in)correto e o socialmente (in)justo. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

EIBH, Estudo Integrado de Bacias Hidrogr�ficas para Avalia��o de Aproveitamentos Hidroel�tricos. Goi�nia, 2005.

HOGAN, D. J.; FREIRE, P. (Orgs.). Dilemas socioambientais e desenvolvimento sustent�vel. 2. ed. Campinas: EDUNICAMP, 1995.

MACEDO, J. Os Cerrados brasileiros: alternativa para a produ��o de alimentos no limiar do s�culo XXI. Revista de Pol�tica Agr�cola. Bras�lia (DF): Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento, Secretaria de Pol�tica Agr�cola, ano IV. n. 02., p. 11-18, abr./ maio/ jun., 1995.

MACHADO, R. Cerrado brasileiro pode desaparecer at� 2030. Jornal O Estado de S�o Paulo, 19 de julho de 2004. p. A8. Entrevista concedida a Eduardo Kattah.

RIBEIRO, D. D. Agricultura �caificada� no Sudoeste de Goi�s: do b�nus econ�mico ao �nus s�cio-ambiental. 264 f. Tese (Doutorado em Geografia) � Instituto de Geoci�ncias, Universidade Federal Fluminense, Niter�i (RJ), 2005.

ROMEIRO, A. R. et al. (Orgs.). Economia do meio ambiente: teoria, pol�ticas e a gest�o de espa�os regionais. 3. ed. Campinas: UNICAMP, 2001.

VEIGA, J. E. da. A face rural do desenvolvimento: natureza, territ�rio e agricultura. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2000.


Referencia bibliográfica

RIBEIRO, Dinalva Donizete y BINSZTOK, Jacob. Impactos da agricultura tecnificada em áreas de cerrado do Brasil Central: análise do uso da terra, do grau de vulnerabilidade dos solos e do desmatamento. Diez años de cambios en el Mundo, en la Geografía y en las Ciencias Sociales, 1999-2008. Actas del X Coloquio Internacional de Geocrítica, Universidad de Barcelona, 26-30 de mayo de 2008. <http://www.ub.es/geocrit/-xcol/446.htm>


Volver al programa provisional

Quais são os três principais impactos causados pela ocupação do Cerrado brasileiro?

Quais são os principais impactos do Cerrado?

As duas principais ameaças à biodiversidade do Cerrado estão relacionadas a duas atividades econômicas: a monocultura intensiva de grãos e a pecuária extensiva de baixa tecnologia. O uso de técnicas de aproveitamento intensivo dos solos tem provocado, há anos, o esgotamento dos recursos locais.

Quais são os principais impactos ambientais relacionados a vegetação do Cerrado?

As principais consequências do desmatamento do bioma Cerrado envolvem a extinção de algumas espécies animais e vegetais, com a perda da biodiversidade, além do impacto gerado sobre o leito de muitos rios importantes para o país, a exemplo do São Francisco, que passará a contar com cada vez menos nascentes.

Quais são as três principais transformações ocorridas no Cerrado?

De acordo com a ONG World Wide Fund for Nature (WWF-Brasil), cerca de 80% da região foi modificada pelo homem para expansão agropecuária, urbana e construção de estradas.

Quais os impactos da atividade agrícola para o Cerrado brasileiro?

Resultante desse processo vem à tona a contaminação das águas, o assoreamento dos leitos e drenagens, a poluição do ar, o comprometimento da biodiversidade, a lixiviação dos solos e o surgimento de erosões e voçorocas, problemas estes que recaem sobre o conjunto da sociedade.