Quais são os problemas gerados pela falta de motivação por parte dos alunos no estudo de ciências?

1 / 1

Introdu��o

    A Educa��o F�sica ao longo do seu processo de constru��o hist�rica vem sendo motivo de pesquisas dentro dos seus mais variados temas e formas de express�o. Contudo, uma das sub�reas que permanece sem demonstrar avan�os mais percept�veis, embora com uma quantidade consider�vel de investiga��es realizadas, � a Educa��o F�sica Escolar - EFE, em especial a das escolas p�blicas. Preposi��o esta, que pode ser frequentemente confirmada atrav�s da observa��o de institui��es com estruturas prec�rias, escassez de material, desinteresse de professores e falta de motiva��o dos pr�prios alunos para com sua pr�tica.

    Sobre este �ltimo item, a falta de motiva��o dos alunos, muito se tem feito na tentativa de superar esta dificuldade, com recursos sem custo financeiro, como o uso da criatividade dos professores, por�m, o que tamb�m se questiona, � at� quando a criatividade deve ocupar o espa�o de outros recursos e incentivos, que, por algum motivo, n�o se aproxima das escolas, em especial as p�blicas, at� porque, n�o se sabe por quanto tempo esta criatividade, sozinha, vai ag�entar.

    Winterstein (2004) afirma que a Educa��o F�sica possui por si pr�pria uma "atra��o natural", pelo menos nas s�ries iniciais do ensino fundamental. Segundo o mesmo autor, esta atra��o tende a diminuir a partir da 5� e 6� s�ries, nas quais os alunos n�o conseguem mais manter o interesse pela disciplina. De modo geral, esta falta de interesse � presente em ambos os sexos, ou seja, tanto entre os meninos quanto entre as meninas.

    Apesar de em um primeiro momento, este discurso parecer pessimista sobre o atual momento da Educa��o F�sica, � muito dif�cil, mesmo com todos estes fatores somando contra, que na escola, as aulas de Educa��o F�sica acabem por desagradar a todos os alunos ou mesmo desaparecer do curr�culo. Pode-se assim dizer, que a tend�ncia � existir aqueles que gostam de participar das aulas e aqueles que preferem n�o participar. Estes dois lados que o professor vivencia, o dos alunos que participam e o dos alunos que n�o participam, geram muitas reflex�es e preocupa��es por parte dos professores e pesquisadores interessados em conquistar uma participa��o un�nime dos alunos em suas aulas. No sentido de entender e descobrir o que leva os alunos a participarem mais das aulas, alguns esfor�os j� foram feitos (MARTINS J�NIOR, 2000; WINTERSTEIN, 2004), por�m, neste fen�meno complexo h� muito ainda por descobrir.

    No centro deste continuo de alunos que participam e gostam das aulas e de alunos que n�o participam e n�o gostam, existe uma infinidade de fatores que se inter-relacionam, como a idade, cultura, g�nero, estrutura da escola, classe social, did�tica do professor, educa��o familiar entre outros, que precisam ser pensados com maior aten��o quando se pretende que alunos n�o se privem dos benef�cios da Educa��o F�sica por quest�es que podem ser sanadas e sem muito �nus (KUNZ, 2006). Al�m disso, meninos e meninas apresentam diferentes interesses que na pr�tica da Educa��o F�sica se materializa em diferentes atitudes e percep��es (SARAIVA-KUNZ; FIAMONCINI, 2006; CARDOSO, 1994), mas que n�o podem ser usados como justificativas para omiss�es ou exclus�es, como acontece quando se enfatiza demasiadamente o rendimento esportivo nas aulas (SOARES et. al.1992; ROMERO, 1994).

    Ocupando uma posi��o de destaque por ser o intermediador neste processo, o professor � um dos principais respons�veis por mudan�as neste paradigma (MARTINS J�NIOR, 2000), que se inicia basicamente pela elimina��o da pr�tica pela pr�tica no dia a dia da Educa��o F�sica escolar (FREIRE E SCAGLIA, 2003) e pela busca permanente de procurar entender o aluno dentro do seu contexto bio-psico-social. Como afirma Kunz, (2004), que o mundo de movimento e o mundo vivido das crian�as sejam considerados pelos professores dentro da escola.

    No sentido de entender este complexo fen�meno da Educa��o F�sica Escolar � que se estrutura o objetivo deste estudo: investigar aspectos motivadores e desmotivadores para a pr�tica escolar na percep��o de alunos e alunas da oitava s�rie do ensino fundamental de uma escola p�blica do Munic�pio de Florian�polis - SC.


M�todo

    Este estudo caracteriza-se como descritivo com abordagem qualitativa uma vez que visa investigar a percep��o de alunos sobre aspectos motivadores e desmotivadores na pr�tica da Educa��o F�sica Escolar. Fizeram parte deste estudo 194 estudantes regularmente matriculados em 7 turmas de oitavas s�ries do ensino fundamental, com idade m�dia de 14 anos (m�nima 9 / m�xima 14), sendo 103 do sexo feminino e 91 do sexo masculino, todos estudantes do per�odo matutino de uma grande institui��o de ensino p�blico do Munic�pio de Florian�polis - SC.

    Os alunos foram avaliados por meio de um question�rio constru�do especificamente para esta pesquisa com base nos instrumentos de pesquisa de Silva (1991), Maciel (2004) e Ferreira (2004). Este question�rio � composto por 25 quest�es (abertas e fechadas) que abordam temas como: satisfa��o, insatisfa��o, sugest�es de mudan�as, rela��o did�tico-pedag�gica professor-aluno, experi�ncias negativas, dificuldades encontradas e motivos para a participa��o e n�o participa��o das aulas de Educa��o F�sica. Contudo, neste estudo, foram utilizados somente as informa��es referentes �s quest�es abertas que abordam assuntos relacionados aos seguintes t�picos: experi�ncias negativas vivenciadas, dificuldades encontradas, motivos para a participa��o e n�o participa��o das aulas de Educa��o F�sica e sugest�es de mudan�as nas aulas visando torn�-las mais atrativas, tanto para os alunos que gostam quanto para �queles que n�o gostam da Educa��o F�sica.

    Esta pesquisa foi aprovada pelo comit� de �tica em pesquisa da Universidade do Estado de Santa Catarina. Os alunos tiveram a permiss�o para participar da pesquisa autorizada pelos pais ou respons�veis por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    A coleta de dados aconteceu na pr�pria institui��o de ensino durante as aulas de Educa��o F�sica de cada turma. Os question�rios foram respondidos pelos alunos de forma individual, na presen�a do professor de classe e tamb�m do pesquisador respons�vel para sanar poss�veis d�vidas.

    Os dados foram tratados por meio da analise e interpreta��o dos resultados e categoriza��o das respostas dos estudantes em forma de tabelas.


Apresenta��o dos resultados

    Investigou-se a percep��o de 194 alunos da oitava s�rie do ensino fundamental quanto aos aspectos motivadores e desmotivadores relacionados �s aulas de Educa��o F�sica. As principais experi�ncias ruins relatadas pelos alunos ocorridas nas aulas de Educa��o F�sica est�o expostas no Quadro 1.

Quais são os problemas gerados pela falta de motivação por parte dos alunos no estudo de ciências?

    As experi�ncias ruins vivenciadas em aulas podem colaborar para que alunos tenham uma atitude pessimista ou mesmo de nega��o em rela��o � Educa��o F�sica. Com exce��o de incidentes t�picos que ocorrem (quebrar um dedo, levar boladas), as experi�ncias ruins vivenciadas pelos alunos est�o relacionas principalmente � quest�es como: falta de compreens�o, tanto por parte do professor(as) quanto dos alunos, seja por ocorr�ncias fisiol�gicas-hormonais (menstrua��o nas meninas) ou mesmo por um desempenho motor abaixo do esperado quando comparado aos demais colegas.

    Nas aulas de Educa��o F�sica, diferente dos treinos esportivos, os professores encontram uma variedade de alunos com motivos, interesses e necessidades diferentes, o que acaba repercutindo em diferentes expectativas e dificuldades. As principais dificuldades encontradas nas aulas de Educa��o F�sica pelos alunos participantes da pesquisa est�o descritas no Quadro 2.

Quais são os problemas gerados pela falta de motivação por parte dos alunos no estudo de ciências?

    O conte�do das aulas de Educa��o F�sica se figura como a principal origem das dificuldades reclamadas pelos alunos. S�o dos conte�dos orientados basicamente em esportes que surgem muitas das dificuldades, principalmente, para os alunos que n�o est�o interessados pelo rendimento esportivo ou n�o apresentam destacado desempenho motor. Para estes alunos, a aula tende a se tornar menos motivante, ou mesmo sem atratividade, o que justifica muitos estudantes questionarem a sua obrigatoriedade.

    � por meio da an�lise do comportamento dos alunos quando impossibilitados de participarem das aulas que os professores podem ter uma melhor compreens�o do quanto esta disciplina � atrativa. O sentimento dos alunos quando perguntado como reagiriam se um dia, por algum motivo, n�o pudessem realizar a aula de Educa��o F�sica � apresentado no Quadro 3.

Quais são os problemas gerados pela falta de motivação por parte dos alunos no estudo de ciências?

    Analisando as respostas dos alunos, � poss�vel afirmar que as aulas de Educa��o F�sica s�o motivo de alegria para alguns e tristeza para outros, assumindo uma conota��o polarizada. Para a parcela de alunos que fica triste ou se sente mal na possibilidade de n�o participar da aula, tais sentimentos s�o atribu�dos principalmente ao fato de n�o gostar de ficar sem fazer nada ou deixar de jogar as modalidades preferidas, destacando-se neste contexto o futsal. Em contrapartida, analisando a parcela de alunos que fica feliz, o fato de n�o precisar fazer aula � encarado como uma oportunidade para n�o fazer nada ou descansar, assim como, utilizar este tempo para estudar para outras disciplinas, porque definitivamente n�o gostam de Educa��o F�sica.

    � freq�ente observar alunos que s� participam das aulas se o conte�do for algo que lhe agrade, neste sentido, ningu�m melhor do que os pr�prios estudantes para responderem como gostariam que fossem as aulas de Educa��o F�sica. As respostas dos alunos quando questionados como seriam as aulas, se, a eles fossem dado autonomia para escolha dos conte�dos e outros procedimentos pedag�gicos, est�o apresentadas no Quadro 4.

Quais são os problemas gerados pela falta de motivação por parte dos alunos no estudo de ciências?

    As mudan�as nas aulas de Educa��o F�sica sugeridas pelos alunos revelam um complicado paradigma; um mesmo elemento que � sugerido ou destacado por alguns estudantes � criticado por outros. Al�m disso, os alunos reclamam uma maior participa��o e autonomia na escolha dos conte�dos, sendo que o reflexo disto poderia ser uma aula desorganizada e sem controle para o professor, na qual cada um faria o que bem desejasse. Ainda, dentro deste contexto, observa-se que tanto os professores quanto os alunos s�o solicitados para terem uma participa��o mais efetiva nas aulas, uma vez que muitos alunos preferem ficar sem fazer "nada" ou estudar para outras disciplinas ao inv�s de participar das aulas.

    Desta maneira, mesmo em algumas institui��es nas quais os alunos t�m maior participa��o na escolha dos conte�dos, � comum encontrar �queles que apresentam consider�vel resist�ncia e preferem n�o participar das aulas. As respostas dos alunos que n�o gostam de fazer as aulas de Educa��o F�sica quando questionados se existiria algum motivo que os levariam a faz�-las est�o descritas no Quadro 5.

Quais são os problemas gerados pela falta de motivação por parte dos alunos no estudo de ciências?

    "Conte�dos repetitivos" e "falta de compreens�o dos alunos para com os pr�prios colegas e professores" � um dos principais motivos que afastam os alunos das aulas, principalmente, os menos "habilidosos"; fato que pode ser mais bem compreendido, observando a necessidade de uma maior compreens�o quanto aos diferentes n�veis de performance e desempenho motor apresentada pela parcela de alunos que declara n�o gostar das aulas de Educa��o F�sica.

    Al�m disso, a sugest�o de outros conte�dos como (nata��o, gin�stica, dan�a) e maior compreens�o quanto a diferentes n�veis de desempenhos tamb�m podem ser origin�rios de aulas centradas em modelos esportivizados; o que sugere que aulas com tend�ncias mais democr�ticas e humanizadoras podem ser uma solu��o para os alunos que se sentem exclu�dos.


Discuss�o dos dados

    Para Leontiev (2005) a motiva��o para aprender � sempre determinada, em grande parte, pelos valores que ap�iam e justificam a aprendizagem. O mesmo autor, referindo-se aos estudos sobre a subjetividade humana, afirma que � cada vez mais claro que as potencialidades intelectuais de um estudante que aprende s�o, em geral, muito superiores �s que sup�e quem elabora os programas; em contrapartida, as motiva��es para aprender s�o normalmente mais escassas do que o previsto. E isto n�o por "m� vontade", mas sim, na maioria dos casos, por defici�ncias estruturais dos programas ou porque os pr�prios programas n�o resultam interessantes para aqueles que os deveriam aprender.

    Analisando as afirma��es de Leontiev sobre a motiva��o de crian�as para a aprendizagem escolar, muitos destes elementos podem ser transferidos, sem margem de preju�zo, para o �mbito da Educa��o F�sica Escolar (EFE), pois segundo Kunz (1991) a Educa��o F�sica (EF) tamb�m se constitui de uma pr�tica pedag�gica, com suas peculiaridades, mas que se assemelha, em muito, com as demais disciplinas escolares, pois seu objetivo final tamb�m � a forma��o. � o seu objeto de estudo - a cultura de movimento humano - que confere � EF algumas diferen�as estruturais e que acaba influenciando direta ou indiretamente na motiva��o e, sobre tudo, na forma como as aulas tornam-se atrativas ou n�o para os alunos.

    Uma perspectiva interessante para discutir a motiva��o nas aulas, inclusive com os resultados encontrados neste estudo, pode ser feita por meio da atratividade. Esta, nas aulas de EF, pode ser compreendida, considerando aqueles alunos que, em um primeiro momento, apresentam boas habilidades motoras (bom desempenho nas atividades desenvolvidas durante a aula) e aqueles que n�o apresentam boa habilidade motora, (n�o demonstram grande sucesso na realiza��o das atividades sugeridas). Segundo Kunz (1991) o interesse nas aulas observado pelos alunos habilidosos � muito grande, demonstrado principalmente pela vontade em se destacar nas atividades, j� os "fracos" - alunos n�o muito habilidosos - n�o encontram muita atratividade, o que � intensificado quando as aulas s�o focadas demasiadamente no desempenho e na competi��o.

    Neste modelo de perspectiva, para a parcela de alunos que prefere ou gosta de esportes, a aula tende a tornar-se mais atrativa, pois apresentam melhores desempenhos e aptid�es motoras espec�ficas em aula (MARTINS JUNIOR, 2000). Por�m, Soares et. al (1992), afirmam que estes dois elementos (desempenho e competi��o) transformam a EFE numa atividade desestimulante, segregadora e at� aterrorizante, principalmente para os alunos considerados menos capazes ou n�o aptos, ou que n�o estejam decididos pelo rendimento esportivo.

    O seu objeto de estudo e a cren�a depositada de "automotivadora" conferem � EFE, quando comparada �s demais disciplinas escolares, o lugar de destaque quando o assunto � a atratividade. Contudo, observando os dados desta pesquisa, � poss�vel indagar que quando se afirma a EF ser, para todos, a mais motivante das disciplinas, corre-se o risco de reducionismo e estar privilegiando apenas a parcela de alunos que apresenta melhor desempenho motor e possivelmente os alunos do g�nero masculino, principalmente, quando considerado que o gosto e a prefer�ncia pelo esporte competitivo, na sua grande maioria, ainda s�o pertencentes aos meninos (ROMERO, 1994; SARAIVA-KUNZ, 2006). Parte dos alunos sente-se exclu�dos e, de fato s�o exclu�dos das aulas, porque n�o est�o entre os melhores jogadores. Ser exclu�do ou sempre "a segunda op��o" pode causar algum tipo de transtorno para os estudantes, al�m de conseq��ncias negativas para o resto de suas vidas, como o sentimento de nega��o em rela��o � pr�tica de esportes na vida adulta.

    Desta maneira, considerando todo os alunos, ou seja, tanto daqueles que gostam quanto aqueles que n�o gostam das aulas de Educa��o F�sica, identificou-se que alguns alunos demonstraram felicidade quando impossibilitados de praticar a mesma (tabela 03), uma vez que poderiam utilizar este tempo para quaisquer outras coisas como: estudar, descansar ou simplesmente n�o fazer nada. Estes dados corroboram com Winterstein, (2004), quando afirma que se criou uma esp�cie de "cultura da n�o aula" j� incorporada pelos alunos, que preferem continuar no "rachinha" a participar de outras atividades. Entretanto, existem aqueles que gostam das aulas e sentem-se mal quando n�o podem fazer, principalmente quando o conte�do da aula � algo do seu agrado. H� tamb�m aqueles que ficam tristes pelo simples fato de n�o gostarem de ficar sem fazer nada, incluindo neste caso os alunos que se julgam "hiperativos". Para estes alunos, a aula de Educa��o F�sica significa um dos poucos momentos no qual tem maior liberdade para se expressar e sair da sala, quebrando o ritmo formal das outras disciplinas, como pode ser visto nos depoimentos a seguir: "Fico triste quando n�o posso fazer aula, principalmente quando � futsal"; "A Educa��o F�sica � boa porque d� pra descansar a mente". De modo geral, estas informa��es ilustram o modo como a aula tende a ser mais atrativa para o grupo de alunos que apresentam melhores desempenhos em aula, ou seja, jogam melhor, e menos atrativa ou sem atratividade para o grupo de alunos que n�o apresentam bons desempenhos, como tamb�m p�de ser verificado nos estudos de Kunz (1991).

    Ao analisar as experi�ncias ruins vivenciadas nas aulas, observa-se que muitas delas tamb�m apresentam uma rela��o com o desempenho, pois certas experi�ncias negativas declaradas pelos alunos enfatizam a vergonha ou falta de compreens�o dos demais colegas quando n�o conseguem realizar o que � proposto, podendo levar, em alguns casos, o aluno a adotar uma postura de isolamento ou mesmo que o pr�prio grupo o exclua das atividades (Tabela 1). Muito do desconforto ou vergonha em realizar, na frente de colegas, as atividades sugeridas podem ser conseq��ncias dos padr�es de refer�ncia utilizados pelos alunos para avaliarem o seu rendimento. Segundo Wintertein, (2004), os alunos avaliam o rendimento com base em normas individuais (comparam seu desempenho atual com um mesmo desempenho realizado anteriormente) ou ent�o em normas sociais (comparam seu desempenho com o desempenho de outro colega). Segundo Heckhausen (1980, 1989) citado por Winterstein (2004), pode haver uma melhoria na motiva��o ao se utilizar a norma individual de refer�ncia, pois desta forma, o indiv�duo vivencia adequadamente os �xitos e fracassos, determinando, de forma realista, seu n�vel de aspira��o, assim como, tamb�m pode evitar frustra��es e vergonhas, pois a norma de refer�ncia � ele pr�prio n�o um colega.

    De modo geral, as dificuldades percebidas em aulas e as experi�ncias ruins vivenciadas pelos alunos n�o apresentam muitas diferen�as entre si, em alguns casos at� se complementam "n�o consigo realizar bem as atividades" e "fazer o que n�o gosta". Com base nesta perspectiva, muitas dificuldades e experi�ncias negativas podem ganhar for�a tornando-se um empecilho para fazer EF, principalmente para os alunos que, em princ�pio, n�o demonstram muita vontade e prazer em realizar as atividades, assim como, demonstram maior limita��o para cumprir o que � sugerido pelos professor. Com poucas exce��es, as principais dificuldades relatadas pelos alunos t�m como pano de fundo o conte�do repetitivo e esportivizado das aulas, o que refor�a a velha discuss�o, mas ainda muito presente na �rea escolar sobre a problem�tica da hegemonia dos esportes, que favorecem poucos e � motivo de frustra��o para muitos, principalmente para �queles que n�o est�o interessados pelo desempenho ou competi��o (KUNZ, 1991, BRACHT, 1992, SOARES et al; PIRES, 2004).

    Martins J�nior (2000) tamb�m constatou que grande parte das dificuldades encontradas pelos alunos nas aulas de EF est� relaciona � rotina dos conte�dos e a falta de op��es disponibilizadas pelos professores, o que para o mesmo autor tamb�m � reflexo do modelo de esportiviza��o e competi��o. � pertinente destacar nesta discuss�o, que Martins J�nior (2000) considera antes de tudo, que a origem deste problema est� na forma��o dos professores, no passado hist�rico da EF e na influ�ncia que esta recebeu das correntes higienistas, militaristas e esportistas. Sem d�vida, o professor de EF assume o papel de destaque neste processo, seja pelos aspectos positivos ou negativos do atual quadro, contudo, � pertinente lembrar Winterstein, (2004), ao citar que quando cobramos uma maior atua��o do professor � de fundamental relev�ncia considerar a situa��o que este se encontra, e que muito da sua desmotiva��o e descompromisso pedag�gico pode ser decorrente do cansa�o, da rotina di�ria, da baixa remunera��o e da falta de sentido e reconhecimento pelo seu trabalho. Al�m disso, � importante esclarecer, que os esportes n�o s�o elementos negativos, eles fazem parte do conte�do da EF e possuem destacadas val�ncias que podem ser trabalhadas quando � realizada a sua devida transforma��o did�tico-pedag�gica, ou seja, utilizar os esportes como ferramentas de emancipa��o, liberta��o, esclarecimento e n�o apenas restringindo-se a uma de suas possibilidades: o desenvolvimento t�cnico-motor (KUNZ, 1994).

    Neste contexto, no qual a atratividade da EF pode ser interpretada como polarizada (as aulas de EF s�o mais atrativas para alguns e menos atrativa para outros), concorda-se com Oliveira (1992) quando afirma que a EF na escola, em sua grande maioria, contempla apenas atividades recreativas nas s�ries iniciais do ensino fundamental e o esporte normatizado da 5� s�rie em diante, e que devido a este quadro de oferta e inten��o de conte�dos (sem contextualiza��o e vis�o cr�tica), em muitas escolas, as aulas servem apenas como momento de descanso e de contrapeso �s outras disciplinas, explicando em parte, porque as aulas de EF adquirem esta conota��o polarizada quando se pensa em motiva��o, tornando-se mais atrativas apenas para uma parcela dos alunos.

    Contudo, embora possa existir a interpreta��o polarizada da atratividade das aulas de EF em fun��o da diferen�a de desempenho em aula, � importante destacar que existem alunos que n�o apresentam bons desempenhos em aula e que adoram pratic�-la. O que n�o invalida a interpreta��o da atratividade polarizada, pois esta n�o deve ser encarada como norma inflex�vel, mas sim, como uma constata��o geral, como afirma Devide e Rizzuti (2001), em que uma variedade de adjetiva��es nos faz pensar que h� uma tend�ncia dos alunos a assumirem uma postura nitidamente a favor ou contra a EF na escola, diretamente relacionada ao prazer que esta disciplina pode oferecer a eles.


Considera��es finais

    O estudo de aspectos motivadores e desmotivadores nas aulas de Educa��o F�sica levado pela atratividade dos alunos � um elemento que pode oferecer informa��es contundentes sobre a atual realidade de sua pr�tica. Neste estudo, a perspectiva de que as aulas de Educa��o F�sica s�o mais atrativas para uma parcela de alunos e menos atrativa para outra, revela uma situa��o dualista e de exclus�o em torno de sua pr�tica, ou seja, n�o s�o todos os alunos que vivenciam experi�ncias positivas por meio da Educa��o F�sica.

    � importante destacar que o principal elemento que distingue a diferen�a entre estes dois grupos � o desempenho em aula, neste sentido, enquanto os conte�dos valorizarem ou se resumirem � modalidades esportivas, �queles que, de alguma forma possuem melhores aptid�es motoras, s�o os que ir�o gostar e se beneficiar das aulas. Na mesma l�gica, �queles alunos que, tamb�m por alguma raz�o, n�o apresentam boas aptid�es motoras ser�o, de certa forma, exclu�dos e sentir�o desconforto para cumprir o que foi proposto acabando por desenvolver um sentimento negativo em rela��o �s aulas de Educa��o F�sica e conseq�entemente menos interesse por ela.

    Entretanto, � importante destacar que o contexto das aulas de Educa��o F�sica apresenta-se complexo e uma analise superficial pode ocultar elementos que possuem informa��es relevantes para uma compreens�o mais profunda do mesmo. Neste sentido, qualquer analise que n�o considere todos os aspectos que influam na motiva��o de um indiv�duo poder� ser considerada limitada. Desta maneira, quest�es de ordem funcional, como os fatores psicol�gicos e fisiol�gicos, n�o receberam muita aten��o neste estudo, assim como, as influencias s�cio-econ�micas (estas porque n�o foram abordadas) o que denotam certa limita��o a esta pesquisa.

    Para finalizar, � importante que a motiva��o possa ser analisada sobre outras perspectivas e n�o somente sobre o prisma dualista gerado pela esportiviza��o. Para isto, � necess�rio romper com este paradigma que apenas reproduz modelos calcados no desempenho e na exclus�o e que se possa disseminar uma pedagogia preocupada com o ser integral e sua inser��o transformadora na vida cultural e social.


Refer�ncias bibliogr�ficas

  • BRACHT, V. Educa��o F�sica e Aprendizagem Social. Porto Alegre: Magister, 1992.

  • CARDOSO, F. L. O G�nero e o Movimento Humano. Revista Brasileira de Ci�ncias do Esporte. Santa Maria / RS, v.15, n. 03, p. 265 - 268, 1994.

  • COLETIVA DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educa��o F�sica. S�o Paulo: Cortez, 1999.

  • DEVIDE, F. P.; RIZZUTI, E. V. Transforma��es Perif�ricas das Representa��es Sociais de Alunos do Ensino Fundamental sobre a Educa��o F�sica Escolar ap�s Interven��o Pedag�gica. Revista Brasileira de Ci�ncias do Esporte, v. 22, n. 3, p. 117-136, maio, 2001.

  • FERREIRA, E.R. Motivos que levam os Escolares do Ensino M�dio a Solicitarem Dispensa ou serem Infrequentes em Educa��o F�sica. 2004. 62 p. Monografia (Gradua��o em Educa��o F�sica) - Centro de Educa��o F�sica Fisioterapia e Desporto da Universidade do Estado de Santa Catarina, Florian�polis, 2004.

  • FREIRE, J. B. S.; SCAGLIA, A. J. Educa��o como Pr�tica Corporal. S�o Paulo. Scipione, 2003.

  • J�NIOR, J. M. O Professor de Educa��o F�sica e a Educa��o F�sica Escolar: como motivar o aluno? Revista da Educa��o F�sica / UEM, Maring�, v.11, n.1, p. 107-117, 2000.

  • KUNZ, E. Did�tica da Educa��o F�sica 2 / (Org) Elenor Kunz. 2 ed. Iju�: Ed. Uniju�, 2004.

  • KUNZ, E. Educa��o F�sica: ensino e mudan�as. Elenor KUnz. Iju�: Ed. Uniju�, 1991.

  • KUNZ, E. Transforma��o Did�tico-pedag�gica do Esporte / Elenor Kunz. 7� ed. Iju�: Ed. Uniju�, 2006.

  • LEONTIEV, A. Psicologia e Pedagogia: bases psicol�gicas da Aprendizagem e do Desenvolvimento. Al�xis Leontiev. Tradu��o de Rubens Eduardo Frias. S�o Paulo: Centauro, 2005.

  • MACIEL, P. B. A Educa��o no Ensino M�dio Noturno da Rede Estadual P�blica de Ensino de Florian�polis - SC. 2004. 93p. Monografia (Gradua��o em Educa��o F�sica) - Centro de Educa��o F�sica Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina, Florian�polis, 2004.

  • OLIVEIRA, A. A. B. Analisando a Pr�tica Pedag�gica da Educa��o F�sica. Revista da Associa��o dos Professores de Educa��o F�sica de Londrina, Londrina - PR, Brasil, v.7, n. 13, p. 11-14, 1992.

  • PIRES, G. L.; NEVES, A. O Trato com o Conhecimento Esporte na Forma��o em Educa��o F�sica: possibilidades para sua transforma��o did�tico-metodol�gica. In: Kunz, E. (Org.) Did�tica da Educa��o F�sica. 2�. edi��o. Iju�: Ed. Uniju�, 2004.

  • ROMERO, E. A Educa��o F�sica a servi�o da Ideologia Sexista. Revista Brasileira de Ci�ncias do Esporte, Florian�polis, v. 15, n. 3, p. 226-234, 1994

  • RUDIO, F. V. Introdu��o ao projeto de pesquisa cient�fica. Petr�polis: Vozes; 1986.

  • SARAIVA-KUNZ. M. C.; FIAMONCINI, L.; Dan�a na Escola a Cria��o e a Co-Educa��o em Pauta. Did�tica da Educa��o F�sica 1. (Org). Elenor Kunz. 4� ed. Iju�: Ed. Uniju�, 2006.

  • SILVA, A. A Motiva��o dos Alunos nas Aulas de Educa��o F�sica. 1991. 65 p. Monografia (Gradua��o em Educa��o F�sica) - Centro de Educa��o F�sica Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina, Florian�polis, 1991.

  • SILVA, R. B. ; OLIVEIRA, A. A. B.; LARA, L. M.; RINALDI, I. P. B. A Educa��o F�sica em Maring�: Experi�ncias de Ensino-Aprendizagem no Cotidiano das Aulas. Revista Brasileira de Ci�ncias do Esporte, Campinas, v. 28, n.2, p. 69-83, jan. 2007.

  • TRIVI�OS, A. N. S. Introdu��o � Pesquisa em Ci�ncias Sociais: a pesquisa qualitativa em educa��o. S�o Paulo: Atlas, 1987.

  • WINTERSTEIN, P. J. Fomento da motiva��o em aulas de educa��o f�sica e programas de interven��o para professores. In: Kunz, E.; HILDEBRANDT-STRAMANN, R. (Org.) Interc�mbios Cient�ficos Internacionais em Educa��o F�sica e Esportes. Iju�: Uniju�, 2004.


Leitura complementar

  • BRACHT, V. Educa��o F�sica e Ci�ncia: cenas de um casamento (in) feliz. Revista Brasileira de Ci�ncias do Esporte. v. 22, n. 1, p. 53-63, set, 2000.

  • MORIN, E. Os Sete Saberes Necess�rios � Educa��o do Futuro / Edgar Morin; tradu��o de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; revis�o t�cnica de Edgard de Assis Carvalho - 10� ed, S�o Paulo: Cortez; Bras�lia, DF: UNESCO, 2005.

Quais as dificuldades que a falta de motivação para os estudos provoca na nossa aprendizagem?

A falta de motivação traz muitos prejuízos à trajetória escolar dos estudantes, ela causa uma queda de investimento pessoal de qualidade nas tarefas de aprendizagem, além de que alunos desmotivados estudam muito pouco ou nada e, consequentemente, aprendem muito pouco (BZUNECK, 2009).

O que causa a falta de interesse nos alunos?

Pouco suporte emocional da escola e da família A socialização e o se sentir “aceito” como parte de um grupo fazem com que o período escolar seja difícil para muitos alunos. A falta de interesse da família pelo desempenho estudantil também é um fator que pode gerar desânimo no estudante.

O que causa a desmotivação nos estudos?

Dentre alguns desencadeadores dessa desmotivação destacam-se as diversas atividades extracurriculares, autos índices de reprovação e principalmente, as práticas pedagógicas utilizadas em sala de aula. O fracasso é a causa de um grande número de problemas mentais e psicológicos no mundo humano.

O que gera desinteresse por parte dos estudantes?

Estudos feitos sobre o tema revelam que muitos fatores contribuem para o desinteresse dos alunos: como número excessivo de alunos nas salas de aula, falta de recursos pedagógicos ou tecnológicos que despertem o interesse dos alunos ou quando estes existem não são utilizados de forma correta pelo professor, fatores ...