Quais são os principais problemas enfrentados pelo continente africano?

Quais são os principais problemas enfrentados pelo continente africano?
A África Subsaariana é uma área do continente africano mais próxima do Deserto do Saara. OU seja, na região Sul. Em termos de rateio político, o termo tem sido bastante usado para se referir aos países que concentram grande maioria negra neste continente. Antigamente, usava-se o termo “África Negra” o que gerava contraposição com “África Branca” e já criava mais preconceitos. Os termos obviamente precisam cair em desuso para que os países do norte e sul do Saara não sejam vistos com ainda mais dor.

E quais são as principais marcas de tais nações da África Subsaariana?

Maior parte da população é formada por negros. A economia de quase todos os países está em processo de subdesenvolvimento. Há vários conflitos políticos, especialmente por conta de disputas étnicas. O que se sobressai: pobreza, altos índices de analfabetismo, muitas doenças e um precário sistema de saúde ou mesmo de saneamento e abastecimento de água. Lideranças governamentais corruptas e autoritárias que não resolvem os problemas sociais e econômicos enfrentados pela população da África Subsaariana. O neocolonialismo europeu se mantém forte, com governos da Europa a imperar em tais espaços, mantendo as injustiças sociais. Não são todos os países que vivenciam a realidade dura revelada acima, mas a grande maioria. Os que estão fora de tal contexto buscam alcançar melhores patamares de desenvolvimento para que a condição social e econômica resista às turbulências constantes. Do ponto de vista étnico, cultural, linguístico e religioso também se observam muitos aspectos positivos na África Subsaariana.

Quais são os principais problemas enfrentados pelo continente africano?
Composta pelos seguintes países: República Democrática do Congo, República do Congo, Burundi, África Oriental, Quênia, Tanzânia, Uganda, Djibouti, Eritréia, Etiópia, Somália, Sudão, África Ocidental, Benin, Burkina Faso, Camarões, Chade, Costa do Marfim, Guiné Equatorial, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné Bissau, Libéria, Mauritânia, Mali, Níger, Nigéria, República Centro-Africana, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Togo e Zâmbia.

Problemas da África Subsaariana 
– Enorme aumento da demografia, apresentou o maior cresimento populacional do mundo anualmente.

– Queda mundial dos preços dos produtos como café, cacau e cobre, que eram exportados pela região, e uma das únicas fontes de investimento.
– Estragos nas rodovias e usinas hidrelétricas, dívidas externas, e perda de investimentos externos.

– Os ilimitados surtos de violência e o genocídio estão acontecendo dentro de alguns países do continenete.

– Desabamento da produção agrícola de auto-suficiência, corrupção e governo imperfeito.

Nota introdutória

1Reflectir sobre um continente tão heterogéneo como o africano e tentar analisar aspectos tão diversos como o socio-cultural, o político, o institucional e o económico, com as respectivas discriminações, assimetrias e ênfases, é uma tarefa definitivamente gigantesca e estressante, senão mesmo, muitas vezes difícil e até impossível.

2Sem necessidade de catalogar o excessivo número de autores que se dedicam ao estudo de África, porque cansativo e por não ser o espaço adequado para o fazer, parece-nos pertinente reconhecer a existência de estudos desenvolvidos por africanos e estrangeiros, que analisam a realidade do continente africano.

3Como sublinha a economista lusa Fátima Roque, no livro África, a NEPAD e o futuro, editado em 2007, alguns desses estudos enfatizam a deterioração em muitos dos países que constituem este continente, dos indicadores de desenvolvimento humano, económico, financeiro, institucional e sectorial, ao mesmo tempo que evidenciam o comportamento deficiente de determinadas variáveis qualitativas relacionadas com a paz, a reconciliação, a legitimidade democrática e a governabilidade política, a desigualdade e a discriminação (ROQUE 2012: 25-26).

4Ao referirem-se aos factores endógenos e exógenos que estão na base da problemática da pobreza, do atraso e marginalização de África, de exclusão social e da discriminação da maioria das suas populações, os antigos presidentes sul-africanos e tanzaniano Thabo Mbeki e Benjamim Mkapa consideraram durante o Fórum Económico Mundial, realizado em Davos, em 2001, que os conflitos armados, os movimentos migratórios, a falta de humanismo, a corrupção e a incompetência de muitas lideranças africanas têm contribuído, em parte, para despoletar as crises contínuas e manter o subdesenvolvimento em que a maioria dos países se encontra.

5Entretanto, numa outra obra intitulada O desenvolvimento do continente africano na era da mundialização, editado em 2005, Fátima Roque, considera que papel igual deve ser atribuído à escravatura, à cobiça internacional, aos jogos de poder, à exploração, à manipulação de governos e das multinacionais, ao comércio corrupto de armas e à atribuição de comissões avultadas para a manutenção de negócios duvidosos (ROQUE 2005: 21; 2012: 26).

6Em síntese, seguindo esta autora, encontramos pelo menos sete (7) características que são comuns aos países africanos envolvidos em conflitos ou em situação recente de reconstrução pós-conflito:

1. Deterioração dos indicadores sociais e crescente desigualdade na distribuição dos rendimentos, da riqueza e das oportunidades;

2. Défice fiscal elevado e grave desequilíbrio na balança de pagamentos;

3. Descoordenada e insustentável dívida externa e serviço da dívida;

4. Inflação elevada e controlo ineficiente das despesas públicas, com despesas importantes não incluídas no orçamento e com desfasamento nas contas fiscais;

5. Quase total destruição das infra-estruturas físicas e sociais;

6. Sérias rupturas no mercado e desagregação regional e provincial;

7. Total desconfiança nas reformas económicas e insatisfação generalizada com a corrupção ao nível do Estado, do Governo e das Forças Armadas (ROQUE 2005: 23).

7Por conseguinte, a insatisfação e frustração sentidas por muitos africanos em relação aos líderes políticos e económicos por estes terem sido incapazes de encontrar respostas adequadas aos problemas estruturais que os afectam, tornam urgente transformar África de forma a construir-se sociedades mais democráticas, participativas, justas, desenvolvidos e pacíficas.

8Parece-nos, por isso, evidente, que entre os mais importantes desafios colocados aos governos africanos no século XXI, estão:

1. Consolidar a legitimidade interna e cooperar activamente na construção do Estado-Nação (nation-building);

2. Reduzir a pobreza e a exclusão social;

3. Garantir a segurança e promover a confiança;

4. Equilibrar os custos e os benefícios da transformação para um desenvolvimento inclusivo e da integração nas áreas social, política, económica e institucional.

9Para enfrentar estes desafios, parece imprescindível:

1. Melhor prevenção e gestão de conflitos;

2. Governação democrática e gestão transparente;

3. Tolerância para a diversidade política e cultural;

4. Respeito pelos direitos humanos;

5. Promoção do papel da mulher em todas as actividades;

6. Economias de mercado socialmente orientadas e responsáveis;

7. Legislação e instituições adequadas a um desenvolvimento de rosto humano;

8. Governabilidade e transparência, incluindo, códigos de conduta e declarações de património para os dirigentes a nível central, regional e local; fortalecimento dos serviços de inspecção; desempenho efectivo, com independência dos poderes políticos, da Alta Autoridade contra a corrupção, dos vários Tribunais e dos Comissários para a fiscalização dos direitos humanos.

Nova parceria para o desenvolvimento sustentado de África

10Assim, apesar do grande potencial do continente africano — sendo considerado um pólo de crescimento global — os desafios continuam a ser imensos e as responsabilidades dos seus líderes legítimos — actuais e futuros — ainda maiores, se se quiser não só concretizar os objectivos-chave da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD), aprovada em 2001, mas também implementar a Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030, adoptada em 2015, pelas Nações Unidas, incluindo os seus Objectivos de desenvolvimento sustentável (ODS).

11Com efeito, a nova Agenda para o Desenvolvimento foi formalmente adoptada por 193 países, na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da ONU, realizada em New York, entre 25 e 27 Setembro de 2015. A partir da adopção desta nova agenda pós-2015 dever-se-á iniciar o processo da implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

12A mesma agenda vigorará durante os próximos 15 anos e ditará, em larga medida, a definição das políticas para o desenvolvimento, assente em 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sucessores dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e respectivas metas e indicadores. Estes abrangem a pobreza, a saúde, igualdade de género, o desenvolvimento sustentável, o crescimento económico, o ambiente, o clima, a justiça, entre outras condições necessárias para o bem-estar individual, colectivo e global. As energias renováveis irão desempenhar um papel relevante no alcance de muitos destes objectivos.

13O objectivo 7 (SDG7), em particular, pretende assegurar o acesso a fontes de energia, em quantidade e em qualidade, de forma sustentável, para todos. Pretende garantir o acesso universal a serviços de energia, fiáveis e modernos, aumentar substancialmente a quota das energias renováveis no mix energético global e duplicar a taxa da eficiência energética até 2030.

14A aplicação da visão estratégica preconizada pela NEPAD e a adesão dos países africanos ao Mecanismo Africano de Avaliação pelos Pares (APRM) podem ajudar ultrapassar as distorções estruturais de que África padece, nomeadamente nos países envolvidos em conflitos ou em situação complexa de reconstrução pós-conflito.

15Neste contexto, a NEPAD e o APRM podem ser considerados marcos históricos na caminhada do continente africano para um futuro baseado no primado da lei, da governabilidade democrática e o desenvolvimento socio-económico, os quais têm provado ser, na prática, a melhor salvaguarda contra os conflitos, a discriminação, a desigualdade e a pobreza.

16Um dos quatro objectivos fundamentais para o sucesso da NEPAD e do APRM é a consolidação da ordem política constitucional na qual são assegurados a democracia, o respeito pelos direitos humanos, a lei e a ordem, a separação de poderes, bem como um responsável e eficaz sector público, de forma a promover um desenvolvimento sustentado e uma sociedade estável e pacífica.

17Deste modo, para uma transformação sustentável, no século XXI África deve apostar politicamente em pelo menos quatro (4) vectores fundamentais:

1. Construir um continente em paz e unido à volta de objectivos e valores comuns, o que implica eleger governos eficientes, transparentes e responsáveis perante o eleitorado;

2. Garantir e proteger os direitos básicos e liberdades, incluindo a igualdade de oportunidades para todos e a capacitação/empoderamento (empowerment) dos mais desfavorecidos;

3. Promover o papel da mulher em todas as actividades;

4. Estabelecer a paz nacional, regional e continental, baseada na tolerância honesta da diversidade, bem como desenvolver uma visão humanista da sociedade e da política.

18Do ponto de vista económico e social, África deve apostar no século XXI, em pelo menos, seis (6) linhas estratégicas:

1. Conceber e aplicar estratégias de desenvolvimento sustentado a longo prazo;

2. Assegurar a estabilidade macro-económica e promover um ambiente propício ao investimento privado nacional, regional e estrangeiro;

3. Promover um padrão equitativo de distribuição do rendimento e da riqueza, bem como de desenvolvimento regional e provincial;

4. Promover o crescimento equitativo e sustentado, bem como o desenvolvimento social, através de disciplina fiscal, desenvolvimento dos recursos humanos, investimento directo estrangeiro e redução da dívida externa;

5. Reduzir progressivamente a incidência de pobreza e exclusão social;

6. Apostar na cooperação produtiva regional e internacional para facilitar uma participação mais efectiva na economia global.

Considerações finais

19Para concluir, parece-nos importante sublinhar que África deve encarar o futuro com determinação, sem deixar contudo de estar consciente dos desafios gigantescos que a esperam no contexto da NEPAD e dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e das transformações causadas pelo fenómeno da globalização.

20Face à sua história recente ligada à memória das lutas pela libertação, aos conflitos constantes e às reconciliações fracassadas e às distorções estruturais existentes na economia e na sociedade, o modelo a seguir na área social deve ser o do respeito pelos direitos humanos, pela diversidade, pelos valores, pelos princípios e pelas diferentes culturas e religiões.

21O modelo de desenvolvimento deve ter por base uma economia de mercado com forte componente social, sendo o poder público o garante da liberdade, da solidariedade e do interesse nacional e regional, tudo isso, ao serviço da construção de uma sociedade solidária para com os mais pobres, desprotegidos e excluídos.

22A inclusão social e, necessariamente, a económica, deve ter o apoio e o contributo dos agentes políticos, dos empresários, dos investidores e das organizações cívicas e deve favorecer deliberadamente quem mais precisa.

23Impõe-se, assim, a aplicação de uma agenda política, económica e sócio-cultural de participação cívica activa e afirmativa, para que todos os africanos, quer nos seus países, quer nas instituições regionais e/ou continentais, se sintam parte integrante dessa sociedade solidária e dassa economia criativa. Como complemento, as populações africanas devem ter direito a afirmar a sua cultura e a sua identidade sem receio de sofrer represálias, antes com optimismo e orgulho.

24O futuro do nosso Continente constrói-se todos os dias e é, por isso, fundamental que os povos africanos sintam que podem ter, por um lado, confiança no Estado e nas suas instituições e, por outro, esperança numa melhoria significativa das condições de vida (ROQUE 2012: 10-11; 26-27).