Quais são as finalidades da CIF Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e saúde?

A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), de acordo com a fisioterapeuta do Departamento de Pacientes Graves do Hospital Israelita Albert Einstein, Luana Talita Diniz Ferreira, é um modelo adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para contextualizar a saúde do individuo de forma biopsicossocial, o qual integra os aspectos que englobam as condições de saúde, o que ele pode ou não desenvolver no dia a dia, bem como as funções dos órgãos ou sistemas e estruturas do corpo.

Desde o inicio de suas atividades, Luana Ferreira atuando na assistência a pacientes com deficiências, interessou-se em buscar modelos de avaliação e tratamento que pudessem compreender a saúde do indivíduo e o seu cotidiano. “Observar a saúde seguindo uma concepção que incorporasse o ambiente, questões sociais e psicológicas, era possível destacar vários pontos”, informa.

Para a fisioterapeuta, a incorporação da CIF traz várias vantagens, tais como a padronização da terminologia, abordagens que podem ser utilizadas em muitos setores da área da saúde, educação, medicina do trabalho, políticas públicas e outros. “Essa ferramenta é importante nas práticas clínicas, a qual atende de forma multidisciplinar nos serviços médicos, psicológicos, terapias e até na assistência social”, discorre Luana.

Completa que uma vez que o modelo abrange diversas dimensões dos seres humanos, a forma de analisar a incapacidade considera-se todo um conjunto da condição de saúde do indivíduo: doença, trauma e lesão. Além da saúde, envolvem também fatores ambientais e pessoais.

A utilização da Classificação Internacional de Doenças (CID) e a contribuição da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) vem no sentido de melhorar a compreensão sobre definições de deficiência por meio da funcionalidade e a incapacidade associadas ao estado de saúde.

“É importante salientar que a CID concomitante com a CIF pode-se analisar de forma ampla e significativa, isto porque permite que se possa estabelecer planos de cuidado que visam estudar a singularidade de cada indivíduo”, frisa a fisioterapeuta.

A partir do momento que o ambiente em que vive o indivíduo também é analisado, para a especialista é possível compreender a incapacidade sob um olhar mais amplo. Ou seja, as deficiências não são consideradas como fator que define a incapacidade.

“Uma vez que a CID mostra a doença, e a CIF, a sua funcionalidade, a pergunta que fazemos é qual é o impacto que a doença tem na vida da pessoa, pois cada incapacidade dará um tipo de dificuldade. Por meio da ferramenta CIF, pode-se planejar e reavaliar um diagnóstico funcional, além de falar a mesma língua que o mundo todo -, possibilitando que o especialista consiga conversar com o seu colega de trabalho sobre um determinado diagnóstico e seu tratamento”, salienta Ferreira.

“A CIF já está inserida na graduação e pós-graduação, desta forma os novos especialistas já entram para clinicar com conhecimento desta ferramenta”, informa a fisioterapeuta. Salienta ainda que a adoção da CIF é fundamental porque possibilita a uniformização de conceitos e a universalização de uma linguagem padrão que possa ser entendida por pesquisadores, profissionais de saúde, organizações e usuários de forma geral.

Está disponível no portal da Faculdade de Saúde Pública, o Manual Prático para uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).

Em mais uma iniciativa da Coordenação de Educação (CEd), a Fundacentro realiza palestra sobre “A importância da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) para as pessoas com deficiência”, no auditório do Centro Técnico Nacional (CTN).

A palestrante Luana Talita Ferreira tem mestrado e doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo – USP e especialização em Doenças neuromusculares pela Universidade Federal de São Paulo – (Unifesp).

Participaram agentes públicos, profissionais de empresas do Centro de Referência do Trabalhador, da Superintendência Regional do Trabalho e profissionais da área. No final, o público debateu sobre o tema.

Esteve presente o diretor executivo, Allan David Soares, que parabenizou a equipe da Coordenação de Educação (CEd) da instituição, composta pelos servidores Eliane Vainer Loeff, Marcela Sarto e Gerikson Beserra Nunes, por desenvolver atividades em prol da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Também esteve presente no seminário, o diretor técnico Robson Spinelli Gomes.

Eliane Vainer comenta que trazer mais um evento que discute ações e iniciativas para inclusão de pessoas com deficiência, sobretudo em questões que envolvem a prevenção de acidentes, saúde e segurança no trabalho são fundamentais para possibilitar a participação da sociedade e esclarecer questionamentos sobre o tema.

Há cerca de cinco décadas a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem se esforçado na construção de uma Família das Classificações Internacionais de saúde. A percepção de que somente a Classificação Internacional de Doenças (CID) não tem a capacidade de cobrir a abordagem do binômio saúde-doença na população, subsidiou a iniciativa de criação de um sistema de classificação para as consequências do processo de adoecimento e seus desdobramentos (1). De acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Saúde realizada no ano de 2013 no Brasil, a prevalência de hipertensão arterial sistêmica (HAS) auto relatada foi de 21,4% (2). Tão importante quanto saber qual a prevalência dos agravos a saúde é saber quais as dimensões além da biológica são afetadas no dia a dia dos indivíduos com HAS e outras doenças crônicas. Nesse sentido, a elaboração de indicadores de saúde baseados nos construtos de Funcionalidade/Incapacidade assuma destaque no cenário do planejamento das políticas de saúde, especialmente nas políticas voltadas a reabilitação/saúde funcional. O enorme contingente populacional de indivíduos com doenças crônicas e o respectivo impacto social e econômico justifica a necessidade de criação de indicadores que complementem os já tradicionais indicadores de morbimortalidade.

No ano de 2001 foi aprovada e publicada pela OMS, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) (3).  A CIF juntamente com a Classificação Internacional de Doenças (CID) compõe as duas principais classificações da Família das Classificações da OMS. Embora seus objetivos sejam distintos, sua utilização de forma complementar é preconizada.

Tendo sido apresentada a Família de Classificações da OMS, passemos a seguinte pergunta norteadora: O que é a CIF? A CIF é um sistema de classificação que descreve a funcionalidade e incapacidade relacionada às condições de saúde, refletindo uma abordagem que muda o foco das consequências da doença para destacar também a funcionalidade como um componente da saúde.  A classificação propõe um olhar sobre o fenômeno da funcionalidade e incapacidade mais abrangente, não se limitando apenas ao olhar da doença, introduzindo um modelo de entendimento da funcionalidade, modelo esse mais dinâmico e compatível com a complexidade do conceito de saúde atual (4). É uma ferramenta capaz de fornecer uma linguagem comum para descrição dos fenômenos relacionados aos estados de saúde. Contando com uma perspectiva universal e unificada já que é um documento oficial da OMS, é o modelo taxonômico disponível mais abrangente para a abordagem e documentação dos fenômenos de funcionalidade e incapacidadena população (5).

Quadro 1. Visão Geral da CIF.

Parte 1: Funcionalidade e Incapacidade

Parte 2: Fatores Contextuais

Componentes

Funções do corpo e Estruturas do Corpo

Atividades e Participação

Fatores Ambientais

Fatores Pessoais

Domínios

Funções do Corpo Estruturas do Corpo

Áreas Vitais (tarefas, ações)

Influências externas sobre a funcionalidade e a incapacidade

Influências internas sobre a funcionalidade e a incapacidade

Constructos

Mudança nas funções do corpo (fisiológicas)

Mudança nas estruturas do corpo (anatómicas)

Capacidade Execução de tarefas num ambiente padrão

Desempenho/Execução de tarefas no ambiente habitual

Impacto facilitador ou limitador das características do mundo físico, social e atitudinal

Impacto dos atributos de uma pessoa

Aspectos positivos

Integridade funcional e estrutural

Atividades e Participação

Facilitadores

Não aplicável

Funcionalidade

Aspectos negativos

Deficiência

Limitação da atividade

Restrição da participação

Barreiras

Não aplicável

Incapacidade

Fonte: OPAS, 2015(6).

Observando o quadro 1, podemos notar que a CIF é organizada em duas partes e contém seis componentes. Esses componentes compõem o que de acordo com a OMS se trata do modelo BIOPSICOSSOCIAL.  De acordo com a classificação, conceitualmente a incapacidade significa a interação negativa entre as Deficiências (problemas nas Funções e Estruturas do Corpo), Limitações as Atividades, Restrições a Participação com os Fatores Contextuais (Fatores Pessoais e Fatores Ambientais do tipo Barreira) (6).

Quais são as finalidades da CIF Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e saúde?

Reforçamos a importância da utilização da linguagem da CIF, na forma como é originalmente escrita do seu documento oficial. A pluralidade de expressões relacionadas ao tema é uma discussão extremamente importante no sentido do avanço do entendimento da experiência da Funcionalidade Humana e da Incapacidade. Expressões como limitação funcional, incapacidade funcional e capacidade funcional são termos ambíguos de acordo com as definições da CIF.

A CIF foi publicada no ano de 2001, traduzida para o português no ano de 2004  e teve sua segunda versão publicada no ano de 2015. Essa segunda versão incorpora as categorias da versão para crianças e jovens e unifica a abordagem da funcionalidade de individuos de qualquer faixa etária em um único documento. Além do setor saúde, setores como Educação, Previdencia Social, Assistência Social,  dentre outros tem se envolvido no debate em torno da necessidade de uma linguagem universal para a descrição dos fenômenos de funcionalidade, incapacidade e deficiência. 

Referências:

  1. Buchalla CM, Laurenti R. A família de classificações internacionais da Organização Mundial de Saúde. Cienc Saude Col. 2010; 18(1): 55 – 61.
  2. Andrade S, Stopa S, Brito A, Chueri P, Szwarcwald C, Malta D. Prevalência de hipertensão arterial autorreferida na população brasileira: análise da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Epidemiol Serv Saúde. 2015; 24(2): 297-304.
  3. [WHO] World Health Organization. International Classification of functioning, disability and health: ICF. World Health Organization; 2001.
  4. Stucki G. International Classification of Functioning, Disability, and Health (ICF): a promising framework and classification for rehabilitation medicine. Am J Phys Med Rehabil. 2005;84(10):733.
  5. Organização Panamericana de Saúde. Organização Mundial da Saúde. CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo: EDUSP; 2003.
  6. CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde / [Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde para a Família de Classificações Internacionais em Português, org.: coordenação de tradução Cássia Maria Buchalla]. 1. Ed., 2 reimpr.atual. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015. 

Qual o objetivo principal da CIF?

A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, conhecida como CIF, tem como objetivo geral proporcionar uma linguagem unificada e padronizada como um sistema de descrição da saúde e de estados relacionados à saúde.

O que é a CIF e para que é utilizada?

1) A CIF Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - serve para registrar e organizar ampla gama de informações relacionadas a diferentes estados de saúde, uniformizando a linguagem internacional sobre a descrição de diferentes aspectos da funcionalidade, incapacidade e saúde.

Quais são os 3 domínios da CIF?

Os domínios contidos na CIF podem, portanto, ser considerados como domínios da saúde e domínios relacionados com a saúde. Estes domínios são descritos com base na perspectiva do corpo, do indivíduo e da sociedade em duas listas básicas: (1) Funções e Estruturas do Corpo, e (2) Actividades e Participação.

Quais as principais complexidades que a Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e saúde CIF pode captar na realidade das pessoas com deficiência?

A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) sistematiza essa relação, fornecendo um modelo de compreensão sustentado na complexidade que considera os aspectos orgânicos, ambientais e pessoais.