Quais dificuldades enfrentadas pela comunidade surda?

Ontem, 26 de setembro, foi celebrado o Dia Nacional dos Surdos. Para falar sobre as dificuldades que a comunidade surda ainda enfrenta, o AQUINOTICIAS.COM conversou com Elisangela Wandermurem Lopes Amorim, 44 anos, com ajuda da interprete, Ludmylla de Moraes, 26 anos.

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“Comunicação é fundamental, eu falo, mas não ouço. Mas muitas vezes não consigo conversar. Os jovens estão mais acostumados, ficam em grupos de ouvintes, se enturmam com mais facilidade, mas minha realidade é diferente. Eu trabalho, estudo, como qualquer ouvinte, mas ainda convivo com as dificuldades”, contou Elisangela.

Dificuldades

Para ela, a principal dificuldade é a falta de intérpretes em locais públicos. “Assim como os deficientes físicos precisam de acessibilidade, nós também precisamos. É muito difícil procurar atendimento médico sem ter quem nos interprete. Isso vale para as escolas, farmácias, supermercados, enfim, todos os locais públicos. Além da dificuldade para se comunicar, enfrentamos, ainda hoje, o preconceito”, relata.

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Elisangela acredita que falta incentivo e políticas públicas em relação a comunidade surda. “Faltam respeito e apoio. Faltam muitas coisas. Os governos deveriam se preocupar mais com os surdos. Não só em Cachoeiro, mas no Brasil todo deveria haver mais incentivo. Ainda é difícil procurar atendimento e saber que as pessoas não vão me compreender”.

Preconceito

A deficiente auditiva relata que ainda enfrenta o preconceito e que as pessoas, ouvintes, não estão preparadas para atender ou lidar com um surdo.

“Constantemente encaramos o preconceito. Uma vez eu fui numa loja, precisava comprar uma roupa para mim e, enquanto estava procurando, uma moça veio perguntando se poderia ajudar, mas, por eu não ouvir, continuei escolhendo a roupa. Ela voltou ao balcão da loja e vi que estava conversando com outra mulher me chamando de surda-muda. Na mesma hora respondi falando: “muito bem, sou surda”. Depois me pediram desculpa e me orientaram a comprar a blusa, mas eu fiquei chateada, devolvi o produto e fui embora. Muitas vezes as pessoas nos olham diferentes e fazem comentários. Isso nos deixa triste porque somos tratados de forma indiferente”, expõe.

A descoberta

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“Quando minha mãe ainda morava em São Paulo e estava grávida de mim, num exame de rotina o médico disse que durante a gestação, por ter tido rubéola, eu teria a possibilidade de nascer com deficiência auditiva e sugeriu o aborto. Minha mãe ficou pensativa e com muita determinação disse que não iria abortar e que iria cuidar de mim. Quando ainda era bebê, tive uma febre alta e meus pais correram para o hospital numa cidade pequena. Durante a consulta, o médico afirmou para minha mãe que eu era surda por consequência da rubéola que ela teve na gravidez. Meus pais ficaram tristes, mas entenderam e voltaram felizes para casa para cuidar de mim”, comenta.

Elisangela conta que quando pequena, acreditava ser ouvinte, pois nunca viu em seus pais um tratamento diferente. Ela tinha duas amigas, consideradas irmãs, que eram acostumadas a conviver com pessoas surdas e que conversavam em Libras. Certo dia, uma delas lhe revelou que era surda. “Eu logo respondi que não, que eu não era surda. Corri para casa para conversar com minha mãe e ela me explicou que eu era deficiente auditiva. Fiquei assustada e triste. Mas minha mãe me acalmou dizendo que não havia problemas nisso, que viveríamos juntos, surdos e ouvintes unidos, e eu seria feliz”.

Hoje, Elisangela trabalha como interprete da Língua de Sinais Brasileiras (Libras) para crianças do ensino básico. “Ensino a língua de sinais para crianças que estão iniciando a alfabetização e são surdas. Eu amo o que faço, aprendo e ensino junto com elas. Sou muito feliz!”, finaliza.

Língua dos sinais

Ludmylla fez seu primeiro curso básico de Libras aos 14 anos. A motivação veio da necessidade de conversar com um vizinho que era surdo.

“Quando era criança, tinha um vizinho surdo e por considerar aquilo diferente, isso me intrigava. Quando pegávamos o mesmo ônibus, tinha um desejo imenso de conversar e com ele aprendi como dar “oi”, “bom dia” e “boa noite” em Libras. Na minha igreja tem um ministério lindo de língua dos sinais e foi assim que comecei a me apaixonar por essas pessoas, essa cultura e a Libras”, revela.

Por saber se comunicar com a comunidade surda e muda, Ludmylla já ajudou pessoas em diversas ocasiões. Numa delas, auxiliou um surdo a avisar aos colegas de trabalho que estava passando mal. “Poder me comunicar com surdos é uma oportunidade de ajudar pessoas que, diariamente, enfrentam obstáculos na inclusão social”, finaliza.

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