ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE | ARTÍCULO ORIGINAL Show Perfil bacteriano de cultura de ponta de cateter venoso central Profile of bacterial culture of central venous catheter probe Perfil bacteriano de cultivo de punta de catéter venoso central Patrícia Bentes MarquesI; Flavia Matilla Colares CarneiroII; Alcione Pena FerreiraIII IEscola Superior da Amazônia, Belém, Pará, Brasil Endereço para correspondência RESUMO INTRODUÇÃO: Cateteres venosos centrais (CVC) são dispositivos de fundamental importância e os mais utilizados em todo o mundo no tratamento de pacientes graves internados em unidades de terapia intensiva. Esses dispositivos invasivos representam uma fonte potencial para complicações infecciosas locais ou sistêmicas. Palavras-chave: Cateteres; Infecções Relacionadas a Cateter; Estudos Retrospectivos; Infecções Bacterianas. ABSTRACT INTRODUCTION: Central venous catheters (CVC) devices are of fundamental importance
and are the most used worldwide in the treatment of critically ill patients in Intensive Care Units. These invasive devices represent a potential source of local or systemic infectious complications. Keyword: Catheters; Catheter-Related Infections; Retrospective Studies; Bacterial Infections. RESUMEN INTRODUCCIÓN: Catéteres venosos centrales (CVC) son dispositivos de fundamental importancia y los más utilizados en todo el mundo en el tratamiento de pacientes graves internados en unidades de terapia intensiva. Esos dispositivos invasivos representan una fuente potencial para complicaciones infecciosas locales o sistémicas. Palabras clave: Catéteres; Infecciones Relacionadas con Catéteres; Estudios Retrospectivos; Infecciones Bacterianas. INTRODUÇÃO As infecções hospitalares (IH) representam um sério problema de saúde no mundo. Constituem uma das principais causas de morbidade, mortalidade e custos1, uma vez que aumentam sensivelmente a frequência de complicações e sequelas; exigem tratamentos invasivos; prolongam a permanência hospitalar dos pacientes; reduzem a oferta de leitos para a população; aumentam os custos do atendimento; induzem a utilização de doses cada vez maiores de antimicrobianos2 quase sempre mais tóxicos e caros; podem levar à resistência bacteriana, cujo crescimento têm sido expressivo desde a última década; e, sobretudo sua evolução pode ser fatal. Contudo, ainda são poucos os relatos sobre o perfil e a amplitude dessa resistência no ambiente hospitalar nacional3. Os cateteres intravasculares, principalmente os venosos centrais (CVC), são os dispositivos invasivos mais utilizados no mundo e de fundamental importância para o tratamento de pacientes hospitalizados com internações prolongadas e/ou realização de procedimentos hospitalares adicionais, tais como administração de soluções, medicamentos, sangue e derivados, cateterismo cardíaco, exames radiológicos com utilização de contraste, monitorização de status hemodinâmico e realização de hemodiálise, entre outros. A presença prolongada desses cateteres representa uma fonte potencial de complicações infecciosas, tanto por episódios de infecção local evidenciados pela colonização do cateter, quanto por episódios de infecção sistêmica que ocorrem como resultado direto da presença dele4. Na etiologia dessas infecções, usualmente fungos e bactérias são revelados como os principais causadores. Embora os Staphylococcus spp. sejam os mais frequentemente encontrados, outros micro-organismos como os bacilos Gram-negativos, a Candida sp e o Enterococcus possuem uma importante participação nos episódios infecciosos5. Os Staphylococcus são as bactérias mais resistentes no meio ambiente com capacidade de sobreviver por meses em amostras clínicas secas e são relativamente resistentes ao calor e tolerantes a altas concentrações salinas. Entretanto, apesar dos antimicrobianos existentes, da melhoria nas condições sanitárias e das medidas de controle de infecção hospitalar, este micro-organismo continua a ser um dos mais importantes agentes patogênicos para o homem6. Evidências na literatura mostram que, no isolamento de bactérias provenientes de diferentes sítios de inserção do corpo humano, o Staphylococcus coagulase negativa (SCN) é a espécie mais comumente encontrada e o Staphylococcus aureus, a mais virulenta. E que estes micro-organismos são considerados importantes agentes de infecções nosocomiais no Brasil, ocasionando, deste modo, a necessidade de uma identificação rápida e eficiente nos casos em que se apresentam. Os bacilos Gram-negativos são o principal problema em unidades de terapia intensiva (UTIs) brasileiras, em função das altas taxas de resistência para antimicrobianos de última geração disponíveis. Podemos classificar os bacilos Gram-negativos multirresistentes em dois grandes grupos: bacilos Gram-negativos não-fermentadores de glicose, representados, principalmente, por cepas de Pseudomonas aeruginosa, Burkholderia cepacea e Acinetobacter spp.; e bacilos Gram-negativos fermentadores de glicose (Família Enterobacteriacea), representados pelos principais agentes: Enterobacter spp, Escherichia coli, Klebsiella spp., Serratia spp. Têm particular importância os agentes que produzem beta-lactamases de espectro ampliado (ESBL), principalmente Klebsiella spp. (40 a 50% produzem ESBL) e E.coli (10% produzem ESBL) em cepas isoladas de hospitais brasileiros. A E. coli é o micro-organismo infectante mais prevalente desta família. Diferentemente do que ocorre com os estafilococos - destaque na transmissão entre pacientes por profissionais de saúde - para P. aeruginosa e Acinetobacter spp. o uso excessivo de antimicrobianos é um fator muito importante7. Já os enterococos são capazes de crescer e sobreviver em condições adversas e apresentam importância crescente como causadores de infecção hospitalar. Os mais comumente isolados são: Enterococcus faecalis (90% dos casos) e Enterococcus faecium, com grande capacidade de colonização em pacientes e de contaminação de superfícies ou equipamentos utilizados em hospitais e home-care. Embora pouco se conheça sobre a patogênese específica e os fatores de virulência dos enterococos, ainda não foram registrados surtos infecciosos causados por eles. E, por estarem geralmente presentes em casos de pacientes gravemente debilitados e fazerem parte de infecções polimicrobianas torna-se difícil diferenciar qual sua contribuição independente na morbimortalidade. Atualmente, as enterobactérias, especialmente as produtoras de enzima Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), têm apresentado crescente importância como causadoras de processos infecciosos, pela resistência aos antimicrobianos, carbapenêmicos, além da inativação de penicilinas, cefalosporinas e monobactâmicos6. O objetivo do trabalho foi analisar o perfil da microbiota isolada de culturas de ponta de CVC examinadas no setor de microbiologia do Laboratório da Unimed em Belém, Estado do Pará. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal, analítico, baseado na observação de 50 resultados de cultura e antibiograma de ponta de CVC, realizado por meio da análise de dados constantes em arquivos do registro de cultura do Laboratório de Microbiologia da Unimed-Belém - uma instituição privada que presta assistência médica aos seus associados locais - no período de janeiro de 2007 a janeiro de 2008. Os resultados dos exames apresentavam dados de culturas obtidas de pacientes com hospitalização prolongada nas unidades do Hospital Geral da Unimed (HGU), Hospital Dr. Júlio Nobre Cruz, homecare, Unidade de Emergência Doca e pacientes externos, em leitos domiciliares. O isolamento dos micro-organismos foi realizado nos meios ágar sangue e CPS ID3, enquanto que o cultivo foi feito com base na técnica semiquantitativa de Maki et al8, com posterior avaliação para o crescimento de microorganismo em placa ocorrido entre 24 e 48 h à temperatura de 35o C. A identificação e os antibiogramas foram realizados por automação no sistema MiniApi (BioMerieux). Consideraram-se como culturas positivas aquelas que indicavam contagem igual ou superior a 15 unidades formadoras de colônias. Realizaram-se testes com os antimicrobianos padrões principais e mais atuais, com a interpretação de resultados sendo feita segundo as normas indicadas pela Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI). RESULTADOS Dentre as 50 amostras de ponta de CVC analisadas, 36 (72%) foram positivas, 13 (26 %) foram negativas e 1 (2%) foi considerada inadequada para análise. Os Staphylococcus aureus (27,8%), seguidos de Pseudomonas aeruginosa (22,2%) e Staphylococcus coagulase negativo (22,2%) foram os micro-organismos mais observados. Os micro-organismos isolados de ponta de CVC no setor de microbiologia do Laboratório da Unimed-Belém - estão dispostos na figura 1. Os testes realizados com antimicrobianos para os Staphylococcus spp. estão dispostos na tabela 1 e apresentaram um perfil de sensibilidade semelhante ao perfil dos bacilos Gram-negativos, mostrados na tabela 3, porém diferenciados em relação aos resultados demonstrados na tabela 2, que diz respeito aos bacilos não fermentadores, e na tabela 4, relativa aos bacilos fermentadores, ambos os tipos bacilares apresentaram perfil altamente resistente. DISCUSSÃO Os micro-organismos Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus coagulase negativo foram encontrados com maior frequência nas culturas positivas de ponta de CVC em relação aos demais, sendo que esta frequência nos dados quantitativos nem sempre foi observada nos relatos documentados na literatura pesquisada, podendo ser justificada pelas diferenças quanto ao tamanho amostral e à população de pacientes analisados. Considerando o perfil de suscetibilidade a antimicrobianos para os Staphylococcus spp. (Tabela1), as cepas oxacilina-resistentes representaram 80% para S. aureus e 12,5% para SCN, sendo todas sensíveis a vancomicina e ácido fusídico, e resistentes à penicilina G. Isolados de S. aureuse SCN apresentaram sensibilidade acima de 75% a vancomicina, teicoplanina, minociclina, quinopristina-dalfopristina e ácido fusídico, apresentando elevada resistência para clindamicina, cotrimoxazol, eritromicina, norfloxacina e tetraciclina. Estes resultados são semelhantes aos relatados na literatura. Em relação aos isolados de P. aeruginosa (Tabela 2), estes demonstraram maior sensibilidade a Cefepima (87,5%), Ceftazidima (75%), Ticarcilina/Ácido Clavulânico (87,5 e 1 00%, respectivamente), Piperacilina/Tazobactam (100%) e Meropenem (75%), tendo as cepas resistência in vitro acima de 60% aos demais antimicrobianos testados. Tais resultados foram semelhantes aos observados na literatura, porém, em relação a alguns antimicrobianos, como o imipenem diferiram do mais frequentemente relatado3 o que pode estar relacionado ao uso inadequado dentro do hospital e aos fatores de risco existentes no uso do CVC. Com relação aos demais micro-organismos, o Enterococcus faecalis mostrou pouca resistência aos antibióticos utilizados (Tabela 3) entre os Gram-negativos; a Klebsiella pneumoniae (Tabela 4) apresentou um perfil altamente resistente, o que é preocupante por ser ela produtora das enzimas beta-lactamases, que conferem resistência a quinolonas, beta-lactâmicos e aminoglicosídeos, em geral cefalosporinas e penicilinas de amplo espectro; o Enterobacter cloaceae (Tabela 4) mostrou-se resistente a apenas dois dos antimicrobianos utilizados; a Acinetobacter baumanii e a Burkholderia cepacia (Tabela 2) foram os mais resistentes dentre os micro-organismos, chamando a atenção para a prevalência da primeira no âmbito hospitalar. Estes resultados mostraram-se semelhantes aos encontrados na literatura3. CONCLUSÃO Apesar de Staphylococcus ser o gênero mais isolado neste trabalho, destaca-se a presença de Pseudomonas aeruginosa e Klebiella pneumoniae, por estarem cada vez mais prevalentes e resistentes nas infecções nosocomiais do país. Quanto aos antimicrobianos, os resultados mostram que os micro-organismos estão multirresistentes, fato preocupante aos dirigentes hospitalares locais, ratificando a necessidade de monitoramento do perfil de suscetibilidade desses micro-organismos, a fim de diminuir o impacto negativo que este aumento da resistência antimicrobiana possa causar na saúde da população. REFERÊNCIAS 1 Gastmeier P, Kampf G, Wischnewski N, Hauer T, Schulgen G, Schumacher M, et al. Prevalence of nosocomial infection in representative German hospitals. J Hosp Infect. 1998;38(1):37-49. [Link] 2 Minohara SF. Contaminação Microbiana de Ponta de Cateter Central Associada a Ocorrência de Infecção Hospitalar no Hospital Universitário João de Barros Barreto - Belém-PA [Monografia]. Belém (PA): Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas; 2003. 3 Weber IC, Noal CB, Winckler Neto CHDP, Santos RCV. Prevalência e perfil de resistência de microorganismos isolados de uma unidade de tratamento intensivo de um hospital da região central do Rio Grande do Sul. Prat Hosp. 2009 nov-dez;66:57-62. [Link] 4 Diener JRC, Coutinho MSSA, Zoccoli CM. Infecções relacionadas ao cateter venoso central em terapia intensiva. Rev Assoc Med Bras. 2006;42(4):205-14. [Link] 5 Quesada RMB, Carrara FE, Ross C, Calixto LA, Rogeri LMS, Pelayo JS. Culturas de ponta de cateteres venosos centrais e perfil de resistência aos antimicrobianos de uso clínico. Rev Bras Anal Clin. 2005;37(1):45-8. [Link] 6 Wilson WR, Sande MA. Staphylococcus aureus. In: Bloch K, editor. Doenças infecciosas: diagnóstico e tratamento. Bolner AR, translator. Porto Alegre: Artmed; 2004. p. 492-505. 7 Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Investigação e controle de bactérias multirresistentes. Brasília: Ministério da Saúde; 2007. 8 Maki DG, Weose CE, Srafin HW. A semiquantitative culture method for identifying intravenous catheter related infection. N Engl J Med. 1977;296(23):1305-9. [Link] 9 Sader HS, Gales AC, Pfaller MA, Mendes RE, Zoccoli C, Barth A, et al. Pathogens frequency and resistance patterns in Brazilian Hospitals: summary of results from three years of the Sentry Antimicrobial Sourveillance Program. Braz J Infect Dis. 2001;5:200-14. [Link] 10 Quesada RMB, Ross C, Calixto LA, Giardello R, Rogeri LMS, Pelayo JS. Análise microbiológica de pontas de cateteres venosos centrais provenientes de pacientes internados no Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina. Semina Cienc Biol Saude. 2006 jul-dez:27(2):117-23. [Link] 11 Melo MAC, Monteiro RCS, Vieira ABR, Brazão MAB, Vieira JMS. Bactérias isoladas de ponta de cateter venoso central e suscetibilidade antimicrobiana em um hospital público de Belém do Pará. Rev Bras Anal Clin. 2007 abr-jun;39(2):115-8. [Link] Correspondência / Correspondence / Correspondencia: Recebido em / Received / Recibido en: 10/2/2011 Quais as principais fontes de contaminacao do cateter venoso central?As potenciais fontes de contaminação dos dispositivos intravasculares são: mãos dos profissionais, microflora da pele do doente, ponta do cateter contaminada durante a inserção, a colonização das conexões do cateter, fluidos contaminados e a via hematogénea.
O que causa infecção no cateter?JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A infecção da corrente sangüínea relacionada à cateter ocorre quando o germe presente no local de inserção atinge a corrente sangüínea, resultando em bacteremia, que quando não contida, provoca infecção com grave comprometimento clínico, podendo resultar em septicemia.
Quais são os fatores predisponentes a infecção de corrente sanguínea associada ao cateter venoso profundo?Foram fatores de risco significativos para a infecção sistêmica associada ao cateter vascular de acordo com a análise univariada: duração da cateterização acima de oito dias; colonização do sítio de inserção do cateter; colonização do cateter; inserção na UTI; neonatos com peso ao nascer inferior a 1000g; neonatos ...
Qual a principal complicação do uso de cateter central?As complicações relacionadas à cateterização venosa central incluem punção de artéria carótida, pneumotórax, hemotórax, tamponamento cardíaco, infecções, embolia e hidrotórax.
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