Porque a China tem uma economia forte?

As principais economias do mundo, em especial os Estados Unidos, o Reino Unido e os países da União Europeia, atravessaram boa parte de 2021 registrando uma escalada da inflação, e, com isso, viram a intensificação do debate em torno de altas juros, que devem ocorrer agora em 2022. Mas a realidade é diferente na segunda maior economia mundial.

Com um crescimento de 8,1% em seu Produto Interno Bruto (PIB) e uma inflação ao consumidor de 0,9% em 2021, a China começa 2022 com discussões bem diferentes das outras grandes economias.

Se a onda inflacionária deve levar a alta nos juros em várias nações, como ocorre no Brasil, na China o governo quer estimular a atividade, o que inclui reduzir os juros. De dezembro para cá, várias taxas já foram cortadas.

Economistas consultados pelo CNN Brasil Business afirmam que o movimento ainda pode continuar, mas que 2022 deve mostrar outros métodos empregados para aquecer a economia, em um esforço importante para a economia global.

O ano de 2021 na China

Mesmo com números que parecem indicar um 2021 mais tranquilo para a China, o ano foi cheio de desafios. O governo, liderado pelo presidente Xi Jinping, lidou com crises fortes para a economia, em especial no setor imobiliário – com o endividamento excessivo da maior incorporadora do país, a Evergrande – e energético, com ocorrência de apagões e racionamento de energia.

Para Elias Khalil Jabbour, professor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), a China tem passado por uma série de transições internas, que estão ligadas a esse processo.

Há, primeiro, a energética, com o governo tentando reduzir drasticamente o consumo de carvão e substitui-lo por energias renováveis.

Neste ano, com a recuperação da economia global, a demanda por energia subiu nos setores da economia chinesa, e o governo se viu obrigado a retomar o uso do carvão quando as contas de luz subiram para a população e empresários, junto com apagões e racionamento até o problema ser resolvido.

O professor aponta, também, uma transição na “dinâmica de acumulação”, baseada em um aumento da intensidade tecnológica no país, e outra nos “esquemas de propriedade no país”.

“Essa transição ocorre com a estatização de amplas parcelas da economia para enfrentar a desigualdade. É o caso do setor imobiliário com a crise agora, mas em um processo lento, seguro, com interesses estaduais e nacionais”, diz.

Combinando esses três processos, ele afirma que é natural ver uma desaceleração da economia, como registrada no quarto trimestre, quando a China cresceu 4%, menor taxa em um ano e meio.

Livio Ribeiro, pesquisador do Ibre-FGV e diretor da consultoria BRCG, ressalta, porém, que o crescimento no quarto trimestre ficou “bem acima do esperado pelo mercado”.

“Aparentemente, na ponta do ano, o setor terciário teve um desempenho melhor, com sinais de fraqueza na indústria. Dentro dela tem construção civil e manufatura, e dados sugerem que a construção foi bastante fraca no segundo semestre”, afirma.

No caso do crescimento anual de 8,1%, ele avalia que a base de comparação, de 2020, foi baixa devido à pandemia, quando a economia cresceu 2,3%. O valor é baixo para o desempenho chinês nas últimas décadas, mas foi melhor que o de várias economias grandes, cujos PIBs recuaram no primeiro ano da pandemia.

Apesar disso, o PIB “ainda está 5 pontos percentuais abaixo da tendência de crescimento anterior à pandemia”, afirma Ribeiro.

O economista considera que o crescimento aparenta ter sido forte, mas ainda existem alguns cuidados a se tomar. A virada do ano, em especial, trouxe choques que parecem sugerir um desempenho mais fraco da economia, com o governo já falando em evitar uma desaceleração.

Ao mesmo tempo, a inflação ao produtor na China segue bem elevada, consequência da crise energética, e fechou 2021 com alta de mais de 10%, criando um cenário que pode mudar o papel chinês na economia mundial.

“A China por muitos anos foi exportadora de deflação pelos custos baixos de produção, não dá para cravar que exportou inflação em 2021, mas não exportou deflação, e isso muda o debate global de política monetária, de preços baixos de eletrônicos e outros grandes produtos de exportação chinesa”, diz Ribeiro.

Resposta do governo

Em um cenário de desaceleração econômica, a redução de taxas de juros é uma política bastante usual para aquecer a economia. A medida aumenta o acesso ao crédito e estimula o consumo. Seguindo essa cartilha, a China já realizou várias baixas de juros entre dezembro e janeiro.

Para Ribeiro, a tendência é que o corte de juros não seja o principal canal de estímulo em 2022, com as principais quedas já tendo ocorrido e não sendo muito significativas. Em seu lugar, deve se intensificar um “impulso fiscal, com emissão de títulos para obras de infraestrutura”.

Jabbour, da UERJ, afirma que outra tendência deve ser a continuidade dos processos de estatização da economia. Ele não descarta a possibilidade de novos cortes nos juros, e acredita que o governo “vai usar tudo que estiver à disposição, reduzir compulsórios, juros, investir em infraestrutura, nada está descartado”.

“A China tem toda uma história por trás da capacidade de cortar taxa de juros, porque tem uma dinâmica de acumulação baseada em uma alta taxa de investimentos em relação ao PIB, o que cria uma base de produção grande que dá condições de reduzir juros sem causar problemas inflacionários”, afirma.

O professor diz que, no Ocidente, a queda das taxas não anda resultando em alta de demanda, porque muitas vezes o dinheiro de incentivos monetários é canalizado para finanças, não produção. Um reflexo dessa falta de investimentos em produção é a crise de cadeias de abastecimento com a pandemia.

Ele aposta, ainda, em uma intensificação do processo de integração territorial chinesa, aproveitando mercados potenciais ainda pouco desenvolvidos que podem ajudar a economia, mas em um processo que demanda infraestrutura.

“No país, 40% da população vive no campo, então um processo de urbanização ainda pode catapultar o crescimento econômico. O governo quer gerar 12 milhões de empregos por ano em até cinco anos, é um número expressivo”, diz. Em 2021, a taxa de desemprego urbana da China foi de 5,1%, um valor levemente menor que a de 2020, de 5,2%.

Ele afirma que é importante analisar a economia chinesa pensando no setor público, já que, diferente de grandes economias ocidentais, é ele que consegue mobilizar e aquece a economia.

Nesse sentido, ele recomenda atenção aos desdobramentos do Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) em 2022, que deve reeleger Xi Jinping para um inédito terceiro mandato desde Deng Xiaoping e “consolidar mudanças já iniciadas anteriormente”, como o combate à desigualdade.

Porque a China tem uma economia forte?
Reeleição de Xi Jinping é um dos destaques na China em 2022 / Carlos García Rawlins/Reuters

A China na economia global

Mas por que o cenário chinês é tão diferente do de grandes economias ocidentais? Por um lado, é válido considerar que o próprio modelo econômico chinês é diferente do dos Estados Unidos ou de países europeus, com funcionamentos e problemas diferentes.

Ao mesmo tempo, a pandemia, e a resposta dos países a ela, acabou gerando novas divergências. A China adotou uma estratégia de “Covid zero”, que leva a lockdowns regionais abrangentes após a identificação de poucos casos de Covid-19. No Ocidente, o mais comum é que o lockdown ocorra apenas em cenários de número significativo de casos.

“Cada sociedade se adapta como pode, respondendo a sua natureza institucional e suas restrições, e cada um faz seu melhor. São estratégias diferentes, não necessariamente melhores”, diz Ribeiro.

Mas elas trouxeram consequências diferentes. Na China, ela permitiu uma retomada mais acelerada da economia quando os surtos foram controlados, mas a sequência de lockdowns afetou a demanda da população. É um cenário contrário ao dos países ocidentais, onde a demanda retornou com tanta força que, combinada à oferta prejudicada pelos problemas nas cadeias, a inflação disparou.

“Se compara com outras economias, a China foi a que fez menos impulso fiscal em percentual do PIB, e fez a travessia [os isolamentos] usando a poupança acumulada por famílias e empresas, por isso, não teve repique de demanda”, afirma o economista.

Dados do Banco Mundial apontam que, em 2020, a poupança total da China representou 45% do PIB do país. A média mundial, ainda segundo a instituição, foi de 26% no mesmo ano.

Ou seja, ao não apoiar a estratégia de isolamentos com auxílios econômicos e estímulos – comuns no Ocidente -, a recuperação da demanda da população ficou mais lenta, o que ajudou a evitar pressões inflacionárias e explica a divergência de quase nove pontos percentuais entre a inflação ao produtor e ao consumidor em 2021.

O problema é que a demanda desacelerou demais, com um caráter mais persistente, o que também não é bom para a economia, e daí a necessidade de estimulá-la.

O professor da UERJ afirma, ainda, que tem sido mais importante avaliar a economia da China pela ótica da produtividade do que pelo crescimento do PIB.

“Atraso e dinamismo são dois lados da mesma moeda, quanto mais atrasado o país, maior as taxas de crescimento. Mas, conforme ganha complexidade econômica, avança, a tendência do crescimento econômico é cair, não aumentar, vira um crescimento qualitativo, não quantitativo, daí a importância de medir pela produtividade”, diz.

Ribeiro, que projeta um crescimento de 5% na China em 2022, afirma também que não é porque o PIB chinês crescerá menos que nos anos 2000 que a contribuição para a economia será menor.

“Não é crescimento, é quantidade. A China crescia 12%, 14%, porque uma base fraca de comparação para a economia atual. Uma China muito maior que cresce menos pode absorver [recursos] mais que uma China pequena que cresce mais”, afirma.

Essa visão já tem refletido no mercado um certo otimismo com os estímulos prometidos pelo governo. Um aumento de investimentos em infraestrutura significa, por exemplo, um consumo maior de aço, e o minério de ferro tem subido com essa expectativa, revertendo tendência de baixa. Em geral, o Brasil, forte exportador de commodities para a China, se beneficia desse quadro.

Entretanto, Livio Ribeiro alerta que “uma China que se segura em um ambiente de desaceleração global é positivo para países que mais exportam para ela, mas o ambiente global pode se sobrepor a isso, com EUA e Europa subindo juros para combater a inflação”.

Porque a China tem uma economia tão forte?

O grande motor da economia chinesa encontra-se diretamente ligado aos fatos políticos que marcaram o país na década de 1970, quando Deng Xiao Ping assumiu o poder e promoveu uma ampla abertura de mercado no país, com a instalação de empresas estrangeiras, que viram no mercado chinês uma grande oportunidade de negócios.

Qual é a base da economia da China?

Altamente diversificada, a economia chinesa é dominada pelos setores manufatureiro e agrícola. A China é o pais mais populoso do mundo e um dos maiores produtores e consumidores de produtos agrícolas.

Por que a China é o país que mais cresce economicamente no mundo?

Em recursos minerais, a China ocupa um lugar de destaque no cenário mundial, esse fator é importante para o abastecimento das indústrias e contribui para o crescimento econômico do país.

Quais os fatores que contribuíram para o crescimento da economia chinesa?

Dentre as causas apontadas em diversos estudos, destacam-se os investimentos diretos externos (IDEs) e as medidas de política industrial, como, por exemplo, os incentivos fiscais concedidos a setores determinados localizados em zonas econômicas especiais.