Por que reduzir o consumo de carne bovina ajuda a combater o aquecimento global?

A atualização do SEEG, que contabiliza as emissões brasileiras de gases do efeito estufa por setores, mostra que a conta do bife está ainda maior, uma vez que as emissões da agropecuária aumentaram 2,5% em 2020 em relação ao ano anterior: passou de 562,9 milhões de toneladas de CO2 equivalente para 577 milhões de toneladas de CO2 equivalente.

Já uma conta do Greenpeace Brasil baseada em um artigo alemão publicado no periódico "The International Journal of Life Cycle Assessment" mostra que, em níveis comparativos, consumir 1 kg de bife equivale a dirigir um carro médio por 1.6 mil km, a distância entre Curitiba e Goiânia. Existe, ainda, a estimativa da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos: por lá, 1kg de carne equivale a 27 kg de CO2.

A relação entre aquecimento da Terra e agropecuária não é recente, contudo. Desde pelo menos 1990 (ano em que o SEEG começou a calcular as emissões por setor) a agropecuária é o segundo maior emissor de gases de efeito estufa no Brasil, respondendo por 27% do total das emissões brutas atuais.

Além disso, o maior emissor no Brasil é uma atividade diretamente ligada ao agronegócio: o desmatamento, responsável por 46% das emissões brutas atualmente.

"Quando somamos as emissões do desmatamento e do agronegócio, temos 73% das nossas emissões brutas totais", explica Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.

Por isso, para fazer o cálculo de quanto uma porção de bife emite em CO2 na atmosfera, os especialistas consideram:

  • O desmatamento associado ao pasto onde o gado foi criado;
  • A queima do capim, prática utilizada para limpar de maneira rudimentar o pasto;
  • A queima dos resíduos agrícolas na criação do gado (a soja, por exemplo);
  • O manejo dos dejetos animais, ricos em bactérias que emitem mais gases à atmosfera;
  • A distância entre o consumidor e o centro produtor da carne e o meio de transporte utilizado.

Um estudo publicado em julho por uma pesquisadora brasileira mostra que a Amazônia, antes considerada o "pulmão do mundo" pela sua capacidade de capturar e estocar parte do CO2 da atmosfera, se tornou uma fonte de carbono nas regiões mais afetadas pelas queimadas e pelo desmatamento. Não coincidentemente, são regiões da floresta onde se concentra gado e as pastagens, como o Arco do Desmatamento.

Apesar disso, o agronegócio e o consumo de carne bovina podem ser menos agressivos ao meio ambiente. O primeiro passo é eliminar o desmatamento da cadeia de produção da carne bovina.

“O agronegócio hoje é uma economia baseada na destruição da floresta. Não precisamos de mais desmatamento para produzir carne. E não é apenas desmatamento ilegal, é qualquer tipo de desmatamento. O agro não pode continuar desmatando”, diz Batista.

Outro passo é mudar a relação de expansão da economia nacional por meio da carne bovina.

“Não precisamos manter o nível de produção que temos hoje no agronegócio, nem seguir essa ideia de desenvolvimento por meio do agronegócio. A carne se tornou uma commodity de exportação no Brasil”, afirma o porta-voz do Greenpeace.

O metano e o boi

Além do CO2, a agropecuária também é grande emissora de metano, outro vilão do efeito estufa, emitido na fermentação entérica do gado - o processo digestivo do boi.

“Apesar do CO2 ser considerado o grande vilão do aquecimento global, o metano aquece 20% a 28% mais”, compara Batista.

Por isso, quando se questiona se o bife poderia fazer parte de uma dieta sustentável ao clima se conseguíssemos eliminar o desmatamento da conta do agronegócio, o porta-voz do Greenpeace explica que ainda não conseguiríamos eliminar as emissões provenientes do processo digestivo do boi.

“61% das emissões de gases do agronegócio vem da fermentação entérica do gado. Diferente do desmatamento e do manejo dos dejetos animais, não tem como mudarmos as emissões do pum e do arroto do boi”, diz Batista.

Segundo a Embrapa, as atividades pecuaristas podem buscar maior sustentabilidade nos sistemas de produção com tecnologia e adoção de medidas relativamente simples, como o controle da altura das pastagens e a recuperação dos solos degradados pelo gado.

“Pastagens bem manejadas podem ser um grande sumidouro de carbono”, afirmou a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul, Cristina Genro, em um evento realizado em outubro sobre o tema.

Outra técnica estimulada pela Embrapa é a chamada Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), um sistema que proporciona maior sustentabilidade utilizando em um mesmo espaço culturas agrícolas, animais e componentes arbóreos.

O cofundador do projeto Pecuária Neutra e Regenerativa, Leonardo Resende, afirmou no podcast O Assunto em outubro que pastagens degradadas ainda são realidade em 70% das fazendas do país, mas que é possível reverter o problema. “A pastagem é um ser vivo. Precisa ser bem manuseada para produzir bem”, disse o pecuarista no episódio. (ouça a entrevista completa abaixo)

Pegada de carbono

A conta do bife nos ajuda a entender um conceito usado para calcular como nosso consumo e estilo de vida estão alterando o clima do planeta, a chamada "pegada de carbono".

O coordenador do Programa de Energia e Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Clauber Leite, explica que toda atividade humana gera um impacto na natureza, mas o problema é a dimensão desse impacto.

"Qualquer ação nossa deixa uma pegada na natureza, mas nós fazemos parte da natureza e do ciclo do carbono na Terra. O problema é quando nossas ações desequilibram esse ciclo natural e o planeta não consegue se adaptar às nossas emissões de carbono", afirma Leite.

O marco de virada no impacto da nossa pegada de carbono é a metade do século 18, quando teve início a Revolução Industrial e a queima de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo.

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Apesar da pandemia, concentração no mundo de gases do efeito estufa bate recorde em 2020

Porém, diferente de países desenvolvidos, onde o principal emissor de gases do efeito estufa continua sendo a queima de combustíveis fósseis para a geração de energia e transportes, o maior vilão do clima no Brasil está relacionada à nossa alimentação. Daí a importância da pegada de carbono ser aplicada na dieta.

"O vilão do clima no caso brasileiro é mais complexo porque está relacionado com a liberação na atmosfera, por meio do desmatamento, do estoque de carbono que estava armazenado nas florestas", diz Leite.

Um recente levantamento feito pela organização internacional Carbon Brief afirma que o Brasil é o 4º no mundo em ranking de emissão de gases poluentes desde 1850. Dos 20 maiores poluidores listados, o Brasil lidera na categoria desmatamento e emissões associadas ao uso da terra: mais de 85% dos 112,9 bilhões de toneladas de CO2 emitidos até hoje pelo país estaria associado à derrubada de florestas.

"As florestas tropicais de Brasil e Indonésia já passavam por desmatamentos no final do século 19 e início do século 20, para produção de borracha, tabaco e outros. Mas o desmatamento começou 'para valer' por volta de 1950, incluindo pecuária, extração de madeira e plantações de óleo de palma", diz o estudo publicado pelo Carbon Brief.

COP26 e as emissões brasileiras

O Brasil anunciou durante a conferência do clima das Nações Unidas, a COP26, meta importante para frear as suas emissões: cortar em 50% as emissões de CO2 até 2030 e eliminar o desmatamento ilegal até 2018. O país também assinou o Compromisso Global de Metano, em que se compromete a reduzir 30% das emissões de metano até o final da década. Apesar disso, o governo não explicou como o agronegócio irá se adequar às novas medidas e passar de vilão à parte da solução do clima.

COP26 - CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Porque devemos diminuir o consumo de carne vermelha para diminuir o aquecimento global?

A produção de carne é responsável pela emissão de gases poluentes e acelera os efeitos do aquecimento global. Por isso, precisamos refletir sobre os limites dessa produção para a preservação de nossas florestas, o incentivo à agricultura familiar e a manutenção do clima global.

Porque devemos diminuir o consumo de carne bovina?

Além de afetar o meio ambiente de diversas formas, a pecuária está diretamente relacionada com as emissões de gases. Esses animais liberam grandes quantidades de gás metano na atmosfera, que pode poluir até 21 vezes mais do que o gás carbônico.

Porque a redução do consumo de carne bovina contribui para a redução dos impactos das mudanças climáticas e para o aumento da sustentabilidade do planeta?

A carne bovina tem uma grande pegada de carbono, que se refere à quantidade de gases de efeito estufa emitida durante as etapas de produção. Por isso, reduzir a quantidade de carne bovina no cardápio é uma contribuição importante para diminuir as emissões que causam o aquecimento global.

Como a criação de gado pode contribuir para o aquecimento global?

Estudos mostram que a pecuária bovina é responsável pela emissão de pelo menos 50% dos gases-estufa, principalmente do gás carbônico (CO2) e do metano (CH4).