Show Legenda: Mudanças climáticas induzidas pelo comportamento humano já estão influenciando em eventos climáticos extremos em todas as regiões do planeta Foto: © William Bossen/Unsplash O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) liberado hoje (9) fala sobre tendências irreversíveis no que diz respeito à mudança climática global. Pela primeira vez, o IPCC quantificou o grau de influência das mudanças climáticas à frequência e à intensidade de eventos extremos, como secas prolongadas, ondas de calor, tempestades e furacões. Segundo a entidade, que reúne os maiores especialistas no tema, a temperatura média do planeta tende a elevar em 1,5 ºC nas próximas duas décadas, trazendo devastação generalizada. Com quase mil páginas de extensão e anos de desenvolvimento, o documento sistematiza trabalhos científicos disponíveis sobre a crise climática e projeta o que deve acontecer com o planeta nas próximas décadas. Uma das maiores revelações do relatório é que mudanças climáticas induzidas pelo comportamento humano já estão influenciando em eventos climáticos extremos em todas as regiões do planeta. Os cientistas também estão observando a confirmação de previsões no impacto na atmosfera, nos oceanos, calotas de gelo e na terra. Um dos pontos de maior destaque na série de estudos publicados pelo IPCC é que muitas das mudanças descritas são sem precedentes. Algumas estão em andamento agora, enquanto outras — como o aumento contínuo do nível do mar — permanecerão "irreversíveis" por séculos a milênios. Abrindo brecha para a esperança, especialistas do IPCC deixam claro que ainda há tempo para limitar as mudanças climáticas no que de mais devastador elas acarretam. Reduções radicais e constantes nas emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa, por exemplo, poderiam melhorar rapidamente a qualidade do ar. Caso isso seja feito, de 20 a 30 anos as temperaturas globais poderiam se estabilizar. Para ler o relatório completo em inglês, acesse aqui. Alerta vermelho - Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o relatório do IPCC é um alerta vermelho para a humanidade. “O documento deve ser uma sentença de morte para o carvão e os combustíveis fósseis antes que eles destruam o planeta”, disse. Em resposta aos novos dados, Guterres acionou a comunidade internacional a tempo da COP 26, a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU, que acontecerá de 31 de outubro a 12 de novembro na cidade escocesa de Glasgow. "Os alarmes de emergência estão soando, e a evidência é irrefutável", disse Guterres, assim que o relatório foi liberado. O chefe da ONU também observou que o teto estabelecido no Acordo de Paris, que limita o aumento médio das temperaturas globais até 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais, está "perigosamente próximo".
Ainda reagindo ao relatório, o chefe da ONU disse que as soluções eram claras. “Economias inclusivas e verdes, prosperidade, ar mais limpo e melhor saúde são possíveis para todos, se respondermos a esta crise com solidariedade e coragem”, resumiu ele. Guterres também reiterou o papel central da Conferência global em Glasgow, em novembro, a COP26. Na ocasião, todas as nações — especialmente as economias mais prósperas — serão instadas a se juntar à coalizão de emissão zero, e reforçar a promessa de desacelerar e reverter o aquecimento global por meio das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, da sigla em inglês), uma série de diretrizes que detalham os passos de acordo com a realidade de cada país. O que diz o estudo - Preparado por 234 cientistas de 66 países, o relatório destaca que a ação humana foi responsável por aquecer os sistemas climáticos até níveis sem precedentes em pelo menos 2 mil anos. Em 2019, as concentrações de CO2 na atmosfera estavam mais altas do que em qualquer outro momento durante os últimos dois milênios, e as concentrações de metano e óxido nitroso eram mais altas do que em qualquer momento nos últimos 800 mil anos. A temperatura da superfície global aumentou em um ritmo mais acelerado desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos em pelo menos dois mil anos. Para exemplificar, o relatório mostra que as temperaturas durante a década mais recente (2011-2020) excederam aquelas do período mais quente de vários séculos, há cerca de 6.500 anos. Enquanto isso, o nível global médio dos mares aumentou mais rápido desde 1900 do que em qualquer outro século precedente em pelo menos 3 mil anos. O relatório do IPCC também mostra que as emissões de gases do efeito estufa derivadas de atividades humanas foram responsáveis por um aumento de temperatura de aproximadamente 1.1° entre os anos de 1850 e 1900 e constata que, em média nos próximos 20 anos, a temperatura global deve atingir ou ultrapassar 1,5°C de aquecimento. O tempo está acabando - Um dos pontos de preocupação imediata levantado pelos cientistas do IPCC é que o aquecimento global, originalmente previsto para 2°C, vai ser extrapolado antes mesmo do fim deste século. A menos que sejam promovidas nas próximas décadas reduções dramáticas e rápidas na emissão de CO2 e de outros gases do efeito estufa, cumprir a meta estabelecida no Acordo de Paris, em 2015, está "fora de alcance". "Há décadas está claro que a temperatura da terra está mudando, e o papel da influência humana no sistema climático é indiscutível", defendeu a vice-presidente do Grupo de Trabalho I do relatório, Valérie Masson-Delmotte. "Ainda assim, o novo relatório reflete avanços enormes na ciência da atribuição, que se debruça sobre o entendimento do papel da mudança climática na intensificação de eventos climáticos específicos", concluiu. A avaliação é baseada em dados aprimorados sobre o aquecimento histórico, bem como no progresso na compreensão científica da resposta do sistema climático às emissões causadas pelo homem. Mudanças extremas - Os especialistas do IPCC revelam que a ação humana afeta todos os principais componentes do sistema, sendo que alguns respondem a essas atividades há décadas e, outros, há séculos. Mudanças extremas documentadas recentemente, como ondas de calor, precipitações pesadas, secas e ciclones tropicais, estão mais recorrentes, e não há dúvidas quanto à atribuição humana desses fenômenos. Os cientistas também alertam que à medida que avança o aquecimento global as mudanças no sistema climático se acentuam. Isso inclui aumentos na frequência e intensidade de extremos de calor, ondas de calor marinhas e precipitação intensa; secas agrícolas e ecológicas em algumas regiões; a proporção de ciclones tropicais intensos; bem como reduções no gelo do mar Ártico. O relatório deixa claro que, embora os fatores naturais modulem as mudanças causadas pelo homem, especialmente em níveis regionais e no curto prazo, eles terão pouco efeito no aquecimento global de longo prazo. Um século de mudanças - As projeções dos cientistas do IPCC indicam que, nas próximas décadas, a mudança climática vai se intensificar em todas as regiões. Ondas de calor crescentes, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas acompanharão os 1,5°C de aumento de temperatura. Ao atingir 2°C de aumento de temperatura é provável que a humanidade ultrapasse os limites críticos de tolerância para agricultura e saúde. Mas as mudanças climáticas não se limitam ao aumento de temperatura. Elas estão intensificando, por exemplo, a produção natural de água. Isso traz chuvas mais intensas e inundações associadas, bem como secas mais drásticas em muitas regiões. O relatório também alerta que o aumento de temperatura também afeta os padrões de precipitação. Em altas latitudes, é provável que a precipitação aumente, enquanto se prevê que diminua em grandes partes das regiões subtropicais. Além disso, as áreas costeiras verão o aumento contínuo do nível do mar ao longo do século 21, contribuindo para inundações costeiras mais frequentes e severas em áreas baixas e erosão costeira. Eventos extremos relacionados ao nível dos mares que antes aconteciam uma vez a cada cem anos podem acontecer uma vez ao ano até o fim deste século. O relatório também indica que o aquecimento adicional ampliará o degelo dos solos congelados, ou permafrost, e a perda da cobertura de neve sazonal, o derretimento das geleiras e mantos de gelo e a perda do gelo marinho do Ártico no verão. As mudanças nos oceanos, incluindo o seu aquecimento, ondas de calor marítimo mais frequentes, a acidificação das águas e a redução dos níveis de oxigênio afetam tanto esses ecossistemas quanto as pessoas que dependem dele, e vão progredir até pelo menos o fim deste século. Além disso, o relatório alerta que a ocorrência de eventos de baixa probabilidade, como o colapso do manto de gelo ou mudanças abruptas na circulação do oceano, não podem ser descartados. Cidades em risco - Os especialistas do IPCC alertam que para as cidades alguns aspectos das mudanças climáticas serão intensificados, incluindo o calor, alagamentos devido à chuva e aumento dos níveis do mar em comunidades costeiras. A respeito do que pode ser feito para limitar as mudanças climáticas em seus efeitos devastadores, o vice-presidente do Grupo de Trabalho I do IPCC, Panmao Zhai, é taxativo:
O relatório explica que, da perspectiva das ciências físicas, limitar o aquecimento global induzido pelo homem a um nível específico requer a limitação das emissões cumulativas de dióxido de carbono, atingindo pelo menos zero emissões líquidas de CO2, junto com fortes reduções em outras emissões de gases de efeito estufa.
Sobre o IPCC - O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima é o organismo da ONU promotor da ciência relacionada às mudanças climáticas. Ele foi criado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) para equipar líderes políticos com avaliações científicas periódicas sobre as mudanças climáticas, suas implicações e riscos, bem como a proposição de estratégias de adaptação e mitigação. No mesmo ano, a Assembléia Geral da ONU endossou a ação da OMM e do PNUMA quando os 195 estados-membros estabeleceram conjuntamente o IPCC. Milhares de pessoas de todo o mundo contribuem para o trabalho do IPCC. Para os relatórios de avaliação, cientistas do painel disponibilizam o seu tempo para estudar o milhares de artigos científicos publicados todos os anos capazes de contribuir com uma compilação sobre o que sabemos a respeito da mudança climática e quais são suas causas, impactos e riscos, além de sinalizar como a adaptação e mitigação podem reduzi-los. Qual é a opinião dos cientistas sobre o aquecimento global?Alguns cientistas fazem críticas ao aquecimento global, afirmando que o aumento da temperatura do planeta está ligado a fatores naturais, e não ao aumento de CO2 na atmosfera.
Por que o CO2 têm maior atenção do mundo científico?O CO2 é sempre apontado como sendo o grande vilão do efeito estufa, por estar em maior quantidade na atmosfera (perdendo apenas para a água em algumas regiões) e por ser também emitido pela ação humana.
Por que há uma preocupação em reduzir a emissão de CO2 gás carbônico?Sabe-se que a alta concentração de dióxido de carbono é responsável pelo efeito estufa e o aumento da temperatura global — uma preocupação mundial devido às consequências que poderá acarretar ao meio ambiente, como o derretimento das calotas polares e a elevação dos níveis do oceano.
Porque a mudança na concentração de CO2 na atmosfera da Terra nos preocupa?A alta concentração de dióxido de carbono leva à poluição do ar, formação de chuva ácida e desequilíbrio do efeito estufa, com consequente elevação da temperatura da Terra, que traz consigo os efeitos das mudanças climáticas.
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