Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

Número de conflitos por recursos hídricos no país e de famílias envolvidas atingiu um novo recorde em 2014

Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

Conflitos por água: no ano passado, houve um aumento de 25,7% nas disputas em relação a 2013 (Thinkstock)

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Vanessa BarbosaPublicado em 16/03/2015 às 15:12.

São Paulo - Os conflitos por recursos hídricos nas áreas rurais do Brasil atingiram um novo record em 2014. Ao todo, foram registrados 127 casos, segundo dados preliminares de um levantamento anual feito pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Isso representa uma disputa por água a cada três dias. No ano passado, houve um aumento de 25,7% em relação a 2013, quando 101 conflitos foram identificados. Ao longo de dez anos, os conflitos hídricos no campo aumentaram quase 80%, uma alta expressiva.

Segundo a análise, a maior parte dos conflitos no período são os provocados pelo uso e preservação da água (346), como ações de resistência para garantir a preservação do recurso. Outra fonte de conflitos é a criação de barragens e açudes (325), e, com menor incidência, a de apropriação particular (86).

Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

Em 2014 foi registrado o maior número de conflitos pela água e de famílias envolvidas nos últimos dez anos. (Divulgação/CPT)


Em 2014, também  foi registrado o maior número famílias envolvidas nestes conflitos nos últimos dez anos: 42.815 ao todo (um crescimento de 40% em relação em 2013).

Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

Entre 2005 e 2014, 322.508 famílias estiveram envolvidas em conflitos pela água no campo (Divulgação/CPT)

Segundo o CPT, o número de famílias atingidas tem sido maior nos estados onde há grandes projetos de hidrelétricas. "O Pará é o estado com o maior número de famílias envolvidas nesse período (69.302), a maior parte por conta da Construção da Hidrelétrica de Belo Monte", avalia Roberto Malvezzi, assessor da Comissão.

"Além disso, o chamado Complexo Hidrelétrico Tapajós, que prevê a construção de sete usinas ao longo dos dois rios, no oeste do Pará, vai impactar diretamente 32 comunidades tradicionais, entre quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, extrativistas e cerca de dois mil quilômetros de território indígena, principalmente da etnia munduruku", acrescenta.

Conflitos urbanos

A cotagem geral dos conflitos hídrcos feita pelo CPT não levada em conta as disputas urbanas. Mas Malvezzi adianta que já é possível identificar dois tipos de conflitos nas cidades. O primeira deles ocorre entre entes federativos, como a disputa entre Rio de Janeio e São Paulo pelo Rio Paraíba do Sul, em meio à crise hídrica no Sudeste. 

O segundo tipo, em parte também relacionado à escassez, é observado entre as  empresas prestadoras de serviços de água e esgoto e os clientes atendidos por elas. "Isso ficou claro nos embates sociais em Itu e em outras cidades do interior de SP, por conta do racionamento e também pela pouca eficiência das empresas", diz o assessor da CPT. 

Conforme Malvazzi, a questão da escassez não é só quantitativa, mas também qualitativa, e envolve decisões políticas equivocadas. "Esta não é uma seca isolada, estamos modificando o ciclo das águas de forma insustentável. Os programas brasileiros são sempre baseados na expansão da oferta e no consumo predatório, sem pensar na sustentabilidade. É uma equação que não fecha", conclui.

  • 1. Uma história de ataques e danos zoom_out_map

    Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

    1/12 (Thinkstock)

    São Paulo - A relação das cidades com as águas é um negócio curioso. Os homens sempre procuraram se fixar ao longo dos grandes rios para ter água e vias de transporte próximas. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento urbano acarretou a deterioração desses recursos hídricos, comprometendo sua quantidade e qualidade. No maior estado do Brasil, não foi diferente. A história de São Paulo com seus rios é marcada por ataques e danos, que se repetem até hoje e nos ajudam a entender a crise hídrica que assombra a região de um jeito diferente mais integrado. Veja nas fotos 10 números que mostram o descaso do Estado paulista com este bem tão precioso.

  • 2. Passe livre para poluir zoom_out_map

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    2/12 (EXAME.com)

    Tão importante quanto ter água em quantidade é ter água de boa qualidade. São Paulo deixa de tratar quase 57% dos esgotos gerados, segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento Básico do Ministério das Cidades. Toda essa água suja ameaça as reservas limpas e encarece os custos de tratamento no futuro.

  • 3. Zero tratamento zoom_out_map

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    Entre os 645 municípios do Estado, pelo menos 60 não possuem tratamento algum de esgoto. Sem rede adequada, todo o esgoto gerado vai parar nos rios próximos. Em todos eles, a coleta de esgoto não passa de 40% dos domicílios.

  • 4. Ainda tem gente sem acesso à coleta de esgoto zoom_out_map

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    4/12 (EXAME.com)

    Quase 25% da população do Estado de São Paulo ainda não conta com serviços de coleta de esgoto. Quem mora nessas situações, precisa recorrer a métodos de risco para a saúde, como o uso de fossa negra.

  • 5. Desperdício zoom_out_map

    Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

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    De cada 100 litros de água coletada e tratada, apenas 66 litros chegam são e salvos na casa dos paulistas. Os outros 34 litros ficam pelo caminho. Ligações clandestinas, vazamentos, obras mal executadas ou medições incorretas no consumo de água são as principais causas das perdas. Um quadro imperdoável para um recurso tão precioso e cada vez mais escasso.

  • 6. Despejo ilegal zoom_out_map

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    No entanto, nem toda a água que sai das indústrias em forma de esgoto retorna limpa para o meio ambiente, como deveria acontecer. A cada hora, as indústrias paulistas descartam cerca de dez milhões de efluentes cheios de resíduos tóxicos e sem tratamento algum nos rios e lagos dos municípios de São Paulo. Por dia, o descarte ilegal de esgoto industrial daria para encher dois lagos do Parque Ibirapuera, segundo estudo feito pela Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

  • 7. Descaso com as áreas verdes piora a crise zoom_out_map

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    Nos últimos 50 anos, a região da Cantareira teve quase 80% de sua vegetação nativa desmatada, segundo um levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica. Atualmente, restam apenas 21,5% da cobertura original nas bacias hidrográficas e nos 2.270 quilômetros quadrados do conjunto de seis represas que compõem o Sistema Cantareira. Os impactos do desmatamento em áreas de manancial são significativos. A floresta tem papel essencial na prevenção de secas, pois reabastece os lençóis freáticos e impede a erosão do solo e o assoreamento de rios.

  • 8. "Joga no rio que o rio resolve" zoom_out_map

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    A política do laissez-faire com relação ao manejo do lixo resulta em situações como a que deixou atônita a população da região de Salto, em Sorocaba, em julho do ano passado. Por conta da estiagem severa, o Rio Tietê, que corta o centro da cidade, transformou-se num fio de água e expôs toneladas de lixo acumulado ao longo de décadas.

  • 9. Clandestinidade impera zoom_out_map

    Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

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    Na grande maioria dos casos é dos poços artesianos que os caminhões pipa retiram água. A cidade de São Paulo tem cerca de 2000 poços outorgados pelo DAEE, mas especialistas do setor estimam em mais de 8 mil o número de clandestinos, que incluem tantos poços operantes, como paralisados. 

  • 10. Rodízio "vetado" zoom_out_map

    Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

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    O rodízio de água era a primeira opção apresentada pela Sabesp para contornar os níveis decadentes do sistema Cantareira. O plano foi formalmente entregue em janeiro de 2014 ao Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), mas foi descartado pelo governo Alckmin. Na ocasião, o rodízio proposto era de 48 horas com água e 24 horas sem para as localidades atendidas pelo Cantareira. Se tivesse sido implementada há um ano, a medida poderia ter resultado em uma economia de 120 bilhões de litros em 2014.

  • 11. Tietê na UTI zoom_out_map

    Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

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    O mais importante rio do estado de São Paulo também é o mais poluído do Brasil, segundo o levantamento “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável”, do IBGE.

  • 12. Água no ralo zoom_out_map

    Onde ocorre os maiores conflitos por água no Brasil?

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Veja Também

Onde se concentra os maiores conflitos pela água?

Os conflitos pela água tendem a ampliar-se no mundo. Os principais pontos de disputa estão no Oriente Médio e na África.

Qual a região brasileira com os maiores conflitos de água no Brasil?

A crise da água no Brasil ocorre em maior grau na região Sudeste e é motivada por fatores naturais e também relacionados com a gestão pública.

Quais os principais conflitos que ocorreram por causa da água?

No entanto, existem muitos exemplos em todo o mundo onde as tensões são altas: o conflito do Mar de Aral, envolvendo Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e Quirguistão; o conflito do rio Jordão entre os estados levantinos; e a disputa do rio Mekong entre a China e seus vizinhos do sudeste asiático.

Quais são as regiões que mais sofrem com a falta de água no Brasil?

O ranking do Aqueduct identifica essas áreas principais. Ele mostra que, no Brasil, regiões da Bahia, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte sofrem com níveis “extremamente altos” de risco de crise hídrica, um nível semelhante ao dos países do Oriente Médio.

Em que país a disputa pela água tem gerado conflitos?

Na África, tensões e até conflitos também acontecem em torno da posse e controle de recursos hídricos. Na bacia do Rio Nilo, há uma disputa por sua maior utilização por parte de Egito, Etiópia, Uganda e Sudão, o que pode transformar-se em um conflito generalizado de graves impactos caso acordos não sejam realizados.

Onde e quando ocorreu um dos mais importantes conflitos relacionados à disputa da água e a comercialização da água?

Um dos conflitos mais importantes relacionados à disputa e à comercialização da água ocorreu na América Latina, nos anos 2000. Foi deflagrado na cidade de Cochabamba, na Bolívia, e envolveu grandes empresas multinacionais, o governo local e movimentos populares de camponeses e trabalhadores urbanos.