O que é uma ação filosofia

Mestre em Filosofia (UFRJ, 2012)
Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação (UFF, 2015)
Graduado em Filosofia (UFRJ, 2010)

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As razões são elementos que racionalizam nossas ações, e envolvem sempre uma explicação do porquê adotamos um curso de ação e não outro, ou uma justificação para essa decisão. Em sentido mais amplo, essas razões esclarecem nosso comportamento perante o que é normativo, a saber, aquilo que deve ser feito, uma norma ou padrão a ser seguido. Em Ética, as razões para agir relacionam-se ao conceito de obrigação moral, e consistem em avaliações sobre os agentes morais e os contextos de suas ações. O objetivo é especificar se e quando uma ação é moralmente adequada ou requerida.

Essas distinções estão muito próximas do nosso cotidiano, por exemplo, quando avaliamos as razões de alguém ao tomar uma atitude qualquer. Dizemos, em alguns casos, que uma pessoa “não tinha razões” para fazer o que fez, mas como chegamos a essa conclusão? Em geral, essas avaliações tomam por base valores morais aceitos em uma sociedade ou cultura. As considerações que uma pessoa menciona podem ou não justificar suas ações. Distinguimos, assim, entre as considerações a partir das quais uma ação foi realizada e o questionamento se essas eram boas razões – que é propriamente a questão normativa.

A avaliação das boas razões, aquelas que deveríamos tomar, nos levará a distinguir duas perspectivas. A internalista estabelece uma relação necessária entre essas razões e os estados motivacionais dos agentes, como crenças, desejos e preferências. Se percebermos uma pessoa em necessidade e a auxiliarmos, o que explicaria esse ato seria uma motivação qualquer – como o desejo de evitar a culpa por não ter ajudado. Essas razões são internas pois se referem de modo particular a uma pessoa. Ao pensarmos em uma perspectiva externa, perceberíamos que, independente das motivações de um agente, são os fatos sobre as situações nas quais nós ou outros nos encontramos que demandam de nós alguma resposta. Nesse sentido, o que se poderia constituir como uma razão para agir tem como referência o bem-estar das pessoas ou o que seria digno de ser alcançado. Nesse sentido, seria o fato de que uma pessoa pode vir a se machucar ou ferir-se gravemente o que concede uma razão para agir.

A partir do momento em que alguém se torna consciente de uma razão para agir, poderíamos avaliá-lo ou avaliá-la como mais ou menos racional, especialmente se nenhuma consideração se opõe à realização da ação. Em todo caso, nem todos os filósofos concordam sobre determinar os critérios da racionalidade ou quais seriam os fatores mais relevantes na avaliação dos contextos de ação, e é por isso que a interseção entre a Filosofia da ação e a Ética é um campo de estudos que ainda produz muitas interpretações sobre os fenômenos morais.

Mesmo que algumas das nossas ações em contextos morais sejam automáticas ou reflitam apenas um conjunto de hábitos, sempre que nossas ações são precedidas por um processo deliberativo, é possível indicar as considerações que nos levaram a adotar ou não um curso de ação. Essas considerações são razões na medida em que o nosso conhecimento delas orienta, altera, ou influencia nossas decisões. Por esse motivo, a questão das razões para agir também está relacionada à explicação de ações intencionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

DANCY, Jonathan. Practical Reality. New York: Oxford University Press, 2004.

SHAFER-LANDAU, Russ. Moral Realism: A Defence. New York: Oxford University Press, 2003.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/razoes-para-agir/

Carlos J. Moya

Tradução de Vítor João Oliveira

O ponto de partida desta investigação será a própria acção. Na nossa vida diária temos tendência para contrastar o que fazemos com aquilo que apenas acontece. Esta é uma polaridade conceptual importante. Desempenha um papel central não só no modo como nos concebemos a nós próprios e aos outros, mas também no valor que atribuímos às nossas vidas. Tente pensar no modo como seriam as coisas para nós se não distinguíssemos entre agentes e meros objectos, nem entre acções e acontecimentos. Pode haver sentido e valor se não houver agentes? Se sentimos que não, então isso explicará parcialmente a razão pela qual vermo-nos como agentes é mais importante do que vermo-nos, por exemplo, como contribuintes. A ideia de que somos agentes e de que, por isso, há agentes, não é uma mera opinião que podemos aceitar ou rejeitar. É uma crença básica que atravessa toda a nossa vida, suportando e sendo suportada por outras crenças igualmente básicas.

Encontramos uma conexão ainda mais directa entre o conceito de acção e conceitos como responsabilidade, culpa, bem e mal. Se há algo pelo qual somos responsáveis, então deve haver alguma coisa que depende de nós, algo que podemos fazer ou que podíamos ter feito. Se estas palavras têm sentido, então nem tudo pode depender das circunstâncias ou dos meros acontecimentos. Queremos que tenham sentido, por isso queremos que existam acções.

Mas haverá alguma acção? Esta questão pode parecer bizarra, até porque haverá algo mais evidente do que isto? A filosofia, no entanto, não se permite ficar satisfeita com esse nível da evidência. Seria seguramente falso negar que desenhamos uma linha ténue entre acontecimentos e aquilo que pensamos serem acções. Mas isto não é uma prova nem da validade desta distinção nem da existência de acções. Podemos estar enganados. A filosofia da acção começa quando paramos de atribuir valor a essas pressuposições diárias.

Se existem ou não acções não é algo que possamos responder através da observação directa. Aqueles que duvidam da existência de acções não estão a questionar aquilo que todos percebem. Estão a questionar o facto de saber se os conceitos que habitualmente usamos para descrever e interpretar essas observações são apropriados ou até consistentes. Se não são, leva-nos a uma resposta negativa à nossa questão: se acção é um conceito inconsistente, não pode haver acções, do mesmo modo que não pode haver círculos quadrados. Logo, a própria análise do conceito de acção é um tópico central da filosofia da acção.

Suspeitas acerca da própria consistência do conceito de acção, bem como acerca da distinção entre acções e acontecimentos, podem aparecer mesmo ao nível das perspectivas científicas. Se levamos a ciência a sério, então somos obrigados a reflectir sobre a possibilidade de reconciliar a visão científica com a concepção comum da realidade, já que elas parecem ser, se não contraditórias, pelo menos altamente díspares. As perspectivas científicas congratulam-se com acontecimentos explicados por outros acontecimentos anteriores ou por outros acontecimentos simultâneos com a ajuda de leis. Mas se pensarmos em nós como agentes, concebemo-nos como seres capazes de iniciar alterações no mundo independentemente da sua história prévia. Agentes e acções, então, enfrentarão dificuldades se procurarem um lugar no plano científico.

A atitude de suspeição ou de cepticismo relativamente à acção apresenta-se de formas diversas, desde propostas eliminativistas até propostas mais ou menos reducionistas. Para que o leitor fique com uma ideia do que possa ser uma atitude reducionista, comecemos com um episódio que ninguém hesitaria classificar como acção: beber um copo de água. Que direito temos de chamar isto de acção e não apenas de acontecimento? Onde reside o carácter adicional deste episódio? O que fiz eu? A água entra na minha boca como efeito da gravidade. Este movimento, por sua vez, foi provocado pelo movimento do copo. Onde está a acção aqui? Bem, alguém pode sempre dizer que se causei o acontecimento, então agi. Mas pense que este movimento pode ser exactamente causado pelo movimento da minha mão e do meu braço, que por sua vez foram causados por alguns movimentos de contracção dos músculos, que por sua vez foram provocados por alguns disparos neuronais, e assim sucessivamente. Uma acção assim parece dissolver-se e reduzir-se a uma sequência de acontecimentos. A nossa distinção vulgar entre acções e acontecimentos começa a desvanecer-se; parece que chamamos “acção” ao que na realidade não é mais do que uma série de eventos causalmente relacionados. Apelar para desejos não resolve a questão, já que o nosso desejo por água é provavelmente um estado causado por privação orgânica. A cadeia de eventos estende-se cada vez mais no passado e parece nada haver que nós, como agentes, tenhamos iniciado, nenhuma acção, só sempre mais e mais acontecimentos. Então as acções parecem não ser outra coisa senão sequências específicas de acontecimentos.

Carlos J. Moya

The Philosophy of Action (Polity Press, Oxford, 1990), pp. 1–2.

O que é ação para a filosofia?

Uma ação é um evento realizado por um agente com um propósito e guiado pela intenção da pessoa. A primeira questão na filosofia da ação é determinar como as ações diferem de outras formas de comportamento, como os reflexos involuntários.

O que determina uma ação livre?

Liberdade significa o direito de agir segundo seu livre arbítrio, segundo a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa. É não depender de ninguém.

Quem desenvolveu a teoria da ação?

Os maiores expoentes dessa teoria foram, entre outros, Wach, Bulow, Hellwig e Chiovenda (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 65). E foi Wach, ainda na Alemanha que elaborou a teoria do direito concreto à tutela jurídica.

O que é o conhecimento filosófico?

O que é conhecimento filosófico? É um conhecimento racional, que tem como base questionamentos sobre questões da existência humana. Ou seja: esse tipo de conhecimento se caracteriza pelo esforço em questionar os problemas da vida humana, a partir da razão e da lógica.