O que as empresas transnacionais buscavam nos países subdesenvolvidos?

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. XVIII, núm. 469, 1 de marzo de 2014
[Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]

MULTILATINAS NA ECONOMIA GLOBAL. CARACTERIZA��O HIST�RICA, SETORIAL E ESPACIAL

Leandro Bruno Santos
Campus de Ourinhos � Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Recibido: 24 de marzo de 2013. Devuelto para correcciones: 30 de septiembre de 2013. Aceptado: 3 de octubre de 2013.


Multilatinas na economia global. Caracteriza��o hist�rica, setorial e espacial (Resumo)

As sucessivas crises por que tem passado a economia mundial desde os anos 1970, aliada � crise hegem�nica dos Estados Unidos, criaram as condi��es para o reordenamento mundial e a constru��o de um mundo multipolar, com o crescente aumento de import�ncia de alguns pa�ses perif�ricos na economia mundial, particularmente no que se refere aos fluxos de capitais. Este artigo representa um esfor�o de trazer � luz a an�lise sobre a diminui��o de import�ncia dos pa�ses desenvolvidos nos fluxos mundiais de investimentos e correspondente aumento da relev�ncia de alguns pa�ses perif�ricos. O objetivo subjacente ao texto � compreender o alargamento dos circuitos espaciais de produ��o das empresas multinacionais latino-americanas (Multilatinas) nas distintas escalas espaciais, por meio de uma an�lise das dimens�es temporais, setoriais e espaciais dos investimentos realizados. Os procedimentos metodol�gicos adotados abrangeram levantamento, sele��o e leitura bibliogr�ficos, compila��o de dados em institui��es internacionais (UNCTAD e CEPAL), sistematiza��o dos dados, an�lise dos dados � luz das reflex�es te�ricas.

Palavras-chave: internacionaliza��o do capital, fluxos de investimentos estrangeiros diretos, Multilatinas.

Multilatinas in the world economy. Historical, sectoral and space characterization (Abstract)

Thesuccessivecrisisthathaspassedthe globaleconomysincethe1970s,combinedwiththe hegemoniccrisisoftheUnitedStates,createdthe conditionsfortheglobalreorderingandbuildinga multipolarworld,withtheincreasingimportanceofsome peripheralcountriesintotheworldeconomy,particularlyas regards to capitalflows.Thearticleintendtobring tolighttheanalysisofthedeclinein developedcountries significanceinglobalflowsofinvestmentand correspondingincreasein some peripheral countries importance.Thisarticleaimsto understandtheextensionof production spatialcircuitsofLatin AmericanMultinationals(Multilatinas)indifferentspatialscales,especiallythetemporal,spatialandsectoraldimensionsofthe productiveinvestmentsmadebycompanies. The methodological procedures include bibliographic survey, selection and reading, data compilation provided by international institutions (UNCTAD and ECLAC), data and information systematization, data analysis.

Key words: internationalization of capital, foreign direct investment flows, Multilatinas.

Multilatinas en la econom�a global. Caracterizaci�n hist�rica, sectorial y espacial (Resumen)

Las sucesivas crisis por las que ha pasado la econom�a mundial desde los a�os setenta, aunadas a las crisis de la hegemon�a de los Estados Unidos, crearon las condiciones para el reordenamiento mundial y la construcci�n de un mundo multipolar, incluyendo el creciente aumento de la importancia de algunos pa�ses perif�ricos en la econom�a mundial, particularmente por lo que se refiere a los flujos de los capitales. Este art�culo representa un esfuerzo para contribuir a dar luz a la comprensi�n de la disminuci�n en la importancia de los pa�ses desarrollados dentro de los flujos mundiales de inversiones extranjeras directas, as� como del correspondiente aumento de la relevancia mostrada por algunos pa�ses perif�ricos. Se busca entender el alargamiento de los circuitos espaciales de producci�n de las empresas multinacionales latinoamericanas (Multilatinas) en las varias escalas espaciales, focalizando las dimensiones temporales, sectoriales y espaciales de las inversiones realizadas por las empresas. Los procedimientos metodol�gicos se constituyeron en el levantamiento y lectura bibliogr�fica, compilaci�n de datos de instituciones internacionales (UNCTAD y CEPAL), sistematizaci�n de los datos, an�lisis de los datos a la luz de las reflexiones te�ricas.

Palabras clave: internacionalizaci�n del capital, flujos de inversiones extranjeras directas, Multilatinas.


Os dados secund�rios de algumas institui��es internacionais, entre elas Confer�ncia das Na��es Unidas para o Com�rcio e Desenvolvimento (UNCTAD) e Comiss�o Econ�mica para o Desenvolvimento da Am�rica Latina e Caribe (CEPAL), t�m demonstrado que h� uma expans�o dos Investimentos Externos Diretos (IED) realizados por empresas e grupos econ�micos originados e situados em pa�ses da periferia do sistema capitalista. A taxa percentual dos pa�ses perif�ricos nos fluxos mundiais de IED elevou-se de 1% no come�o dos anos 1970 para em torno de 32% em 2010.

Inegavelmente, o aumento dos IED de empresas perif�ricas tem despertado o interesse de organiza��es internacionais, grupos de pesquisa, revistas especializadas, meios de comunica��o etc. Entretanto, os diferentes enfoques sobre o aumento dos IED perif�ricos t�m negligenciado a dimens�o hist�rica do fen�meno e as estrat�gias espaciais de acumula��o. Por isso, neste texto, s�o destacadas as principais ondas de investimentos da periferia, os ramos internacionalizados e espa�os escolhidos e as estrat�gias de investimentos.

O principal objetivo subjacente ao texto � compreender, historicamente, o processo de alargamento dos circuitos espaciais de produ��o das empresas multinacionais latino-americanas (doravante, Multilatinas) nas distintas escalas espaciais � sobretudo a regional e a mundial. Para atingir tal objetivo, lan�aram-se m�os de procedimentos metodol�gicos como levantamento, sele��o e leitura bibliogr�ficos atinentes ao tema proposto; compila��o de dados secund�rios dispon�veis nos relat�rios anuais e nos bancos de dados da UNCTAD e da CEPAL; sistematiza��o dos dados na forma, sobretudo, de quadros e mapas; e, an�lise dos dados � luz do encaminhamento te�rico proposto, que relaciona o avan�o das Multilatinas ao acirramento da concorr�ncia oligop�lica mundial e �s capacidades distintivas constru�das pelas empresas.

Na sequ�ncia, abordam-se as principais teorias que tratam do processo de internacionaliza��o de empresas e s�o enfocadas as perspectivas sobre as Multilatinas, o panorama hist�rico dos estoques (mundiais e latino-americanos) de IED entre 1980 e 2010, os padr�es setoriais e espaciais dos IED latino-americanos, as estrat�gias corporativas e espaciais das principais Multilatinas e, ao final, s�o apresentadas algumas conclus�es e as refer�ncias citadas ao longo deste texto.


Teorias sobre a internacionaliza��o de empresas

Existem, atualmente, v�rios paradigmas (custos de transa��o, ciclos de vida do produto, abordagem comportamental, �perspectiva trampolim�[1], paradigma LLL[2] etc.) que tratam de explicar as estrat�gias corporativas das empresas multinacionais (EM). Andreff[3] afirma que, apesar da contribui��o de cada uma das abordagens, nenhuma delas oferece uma resposta anal�tica unificada e coerente para aonde v�o os IED e as atividades das EM, por que as empresas se tornam multinacionais e quais os seus impactos nas diferentes escalas geogr�ficas.

Santos[4] analisou alguns dos arcabou�os te�ricos sobre a internacionaliza��o das EM segundo suas escalas de explica��o/abstra��o. As principais estruturas paradigm�ticas ora partem das leis universais do processo, cujo pano de fundo � o sistema capitalista (nova divis�o internacional do trabalho, ciclos do capital), ora das decis�es de indiv�duos ou grupo de indiv�duos � frente das grandes empresas (paradigma ecl�tico, abordagem comportamental). Uma terceira �escala de an�lise� abrange propostas de media��o (teoria da din�mica capitalista e proposta integradora), que buscam a articula��o das leis gerais do processo com as decis�es individuais, e propostas de integra��o de modelos e teoria[5].

Embora existam diferentes perspectivas te�ricas, pode-se afirmar que, atualmente, grande parte dos estudos sobre a internacionaliza��o de empresas est� polarizada em duas abordagens te�ricas elaboradas para explicar a realidade de pa�ses desenvolvidos tout court. Na Su�cia, no �mbito da University of Uppsala, os trabalhos est�o assentados no comportamento das empresas, no papel dos empres�rios e nas diferen�as culturais e socioecon�micas apresentadas pelas economias. Na Inglaterra, dentro da University of Reading, s�o produzidos trabalhos cujo enfoque � econ�mico e baseado nas vantagens das empresas[6].

Johanson e Vahlme[7], ao analisarem a internacionaliza��o de empresas suecas, constru�ram uma interpreta��o te�rica que leva em conta a dimens�o comportamental dos empres�rios. Para eles, �a internacionaliza��o da firma � um processo no qual as firmas aumentam gradualmente seu envolvimento internacional�[8]. � gradual porque os IED ocorrem em v�rias etapas at� atingir a instala��o de uma unidade produtiva. � incremental porque, � propor��o que se expande gradualmente, a empresa logra adquirir conhecimentos e habilidades que permitem a entrada em outros mercados.

Os autores desenvolveram um modelo do processo de internacionaliza��o �que focaliza no desenvolvimento da firma individual e particularmente em sua gradual aquisi��o, integra��o e uso do conhecimento sobre as opera��es e mercados estrangeiros e em seu comprometimento sucessivamente crescente com rela��o aos mercados externos�[9]. Dessa forma, a internacionaliza��o � um processo sequencial e dependente do conhecimento adquirido com a experi�ncia internacional.

Dunning[10] defende uma proposi��o inversa � abordagem comportamental ao privilegiar a dimens�o econ�mica. Para ele, a extens�o, forma e padr�o da produ��o internacional s�o determinados por tr�s conjuntos de vantagens controladas pelas empresas: 1) vantagens espec�ficas em rela��o � natureza ou nacionalidade de sua propriedade (ownership specific advantage); 2) transfer�ncia das vantagens espec�ficas de propriedade dentro da pr�pria estrutura organizacional da firma em vez de vend�-las ou licenci�-las no mercado (internalization advantage); 3) vantagens de combinar espacialmente produtos intermedi�rios transfer�veis produzidos no pa�s sede com, pelo menos, alguns fatores de produ��o im�veis ou outros produtos intermedi�rios em qualquer outro pa�s (location advantages)[11].

A primeira vantagem abrange a propriedade, envolvendo aspectos estruturais da propriedade dos ativos (patentes, inova��es e compet�ncias) e aspectos transnacionais (vantagens na administra��o de ativos dispersos). A segunda vantagem, de internaliza��o, resulta da integra��o das sucursais dentro da pr�pria hierarquia da empresa. A �ltima vantagem, de localiza��o, diz respeito �s mat�rias-primas, � m�o-de-obra barata e qualificada, ao tamanho do mercado, aos custos de infraestrutura etc. Se a empresa possuir apenas as vantagens de propriedade e de internaliza��o, escolher� pela exporta��o. Caso detenha apenas a vantagem de propriedade, optar� pela licen�a de sua tecnologia a uma firma em outro mercado ou por uma nova forma de investimento, como assist�ncia t�cnica, franchising, terceiriza��o internacional etc. Os tr�s tipos de vantagens sofrem influ�ncia das caracter�sticas dos pa�ses, dos setores de atua��o e das firmas.

Quanto �s Multilatinas, as diferentes abordagens articulam grau de industrializa��o ou de desenvolvimento com os fluxos de IED, destacam a constru��o de capacidades vinculadas �s �condi��es ambientais�, a abertura econ�mica e os seus reflexos na maior competi��o, reestrutura��o e internacionaliza��o, entre outras. Grande parte dos trabalhos tem como pano de fundo as contribui��es da escola inglesa de economia, com a ressalva da constru��o de capacidades distintas das empresas latino-americanas.

Diversos trabalhos t�m destacado o desenvolvimento de vantagens/capacidades distintivas das empresas, para atuar no mercado onde est�o sediadas. Para D�as Alejandro, era poss�vel encontrar nas empresas latino-americanas que �se dedican a la IED horizontal, una forma de adaptaci�n espec�fica de tecnolog�a extranjera [...] a una operaci�n en escala relativamente peque�a y/o adaptaci�n de un dise�o de producto a las condiciones latinoamericanas�[12]. White, Campos e Ondarts afirmaram que os IED vinculados �con cierto tipo de genuinas ventajas tecnol�gicas� caracterizan a numerosos casos de expansi�n internacional de firmas de pa�ses en desarrollo que han alcanzado un cierto nivel de industrializaci�n, con base en la consolidaci�n de sectores empresariales nacionales�[13]. Para Haberer e Kohan, �consumidores demandantes mais sens�veis a pre�o, uma infraestrutura de distribui��o desafiadora e ambientes econ�micos e pol�ticos complexos for�am as companhias a desenvolver capacidades distintas que podem lhes servir bem no exterior�[14].

Outras pesquisas destacam os gargalos estruturais das principais economias latino-americanas e seus impactos na gera��o de IED. Sull e Escobari afirmam que �algumas empresas da regi�o se globalizam para administrar melhor o risco que significa fazer neg�cios nos turbulentos mercados da Am�rica Latina. A falta de liquidez e os altos custos de capital praticamente obrigam muitas a voltar os olhos ao exterior�[15]. Entre os obst�culos que os empres�rios enfrentam, destacam a alta carga tribut�ria, a escassez e o elevado custo do capital, c�mbio vol�til, pol�ticas governamentais incoerentes, taxas de juros e de infla��o imprevis�veis, corrup��o etc. Aqui a realiza��o de IED n�o decorre de uma vantagem constru�da, sen�o da busca pela elimina��o de uma desvantagem de estar situado em economias com diversos problemas estruturais.

Uma terceira perspectiva desenvolvida tem enfocado a vincula��o entre abertura econ�mica, concorr�ncia e internacionaliza��o. Para Chudnovsky e L�pes, os IED latino-americanos, desde meados dos anos 1990, �n�o podem ser separados do processo de liberaliza��o comercial e reestrutura��o das respectivas economias locais�, pois, como parte do movimento de reestrutura��o econ�mica, as empresas da Am�rica Latina concentraram seus neg�cios �nas atividades core nas quais tinham compet�ncias e onde podiam melhor competir com as transnacionais�[16]. Martinez, Souza e Liu advogam que �a competi��o estrangeira ascendente pressionou as companhias latinas locais, que historicamente serviam seus mercados dom�sticos, a se consolidar e se expandir em dire��o a outros pa�ses latino-americanos, transformando-se elas mesmas �em multilatinas��[17]. Para Cuervo-Cazurra, �la aparici�n de las Multilatinas es una consecuencia del proceso de liberalizaci�n econ�mica de los a�os ochenta y noventa� e que �la liberalizaci�n econ�mica ha forzado a las empresas latinoamericanas a mejorar sus niveles de competitividad�[18].

Neste texto, segue-se a tese defendida por Santos[19], qual seja: a emerg�ncia das Multilatinas est� relacionada, de um lado, ao acirramento da concorr�ncia oligop�lica mundial � agudizada pelas pol�ticas de abertura - em ind�strias intensivas em capital e, de outro lado, �s capacidades distintivas constru�das � atua��o diversificada, opera��o em espa�os desiguais, crises e estrangulamentos externos etc. - em cada um dos capitalismos latino-americanos. Essas fra��es de capitais, enquanto particularidade do movimento geral do capital, respondem ao acirramento da concorr�ncia e � coa��o pela acumula��o progressiva alargando seus contextos espaciais de acumula��o, mas s�o as suas condutas e estrat�gias, baseadas em vantagens competitivas constru�das em �ambientes� singulares, que lhes permitem alterar os padr�es de concorr�ncia em suas ind�strias e assumir a condi��o de importantes players mundiais.


Fluxos mundiais de IED

Entre os anos 1980 e 1990, os pa�ses desenvolvidos ampliaram sua import�ncia nos estoques mundiais de IED, enquanto os pa�ses perif�ricos (em desenvolvimento e em transi��o) diminu�ram sua relev�ncia (Quadro 1). Contudo, a partir dos anos 1990, houve uma invers�o dos processos, porque os pa�ses perif�ricos passaram a apresentar um avan�o percentual superior aos exibidos pelos pa�ses desenvolvidos.

Quadro 1.
Estoques de investimentos diretos no exterior por regi�es do mundo, entre 1980 e 2010, em US$ milh�es

Regi�o*

1980

%

1990

%

2000

%

2010

%

Europa

213.566

39

886.959

42

3.759.713

47

10.023.881

49

B�lgica

6036

0

40635

1.9

179773

2.3

917222

4.5

Fran�a

24909

4.5

112441

5.4

925924

11.6

1579839

7.7

Alemanha

43126

7.9

151581

7.2

541866

6.8

1436480

7.0

It�lia

7318

1.3

60184

2.9

169957

2.1

487615

2.4

Holanda

41867

7.6

105088

5.0

305461

3.8

961537

4.7

Espanha

1931

0

15651

0.7

129194

1.6

651322

3.2

Su��a

0

0

66087

3.2

232161

2.9

934126

4.6

Reino Unido

80433

14.7

229307

11

897845

11.3

1673956

8.2

Estados Unidos

215.375

39

731.762

35

2.694.014

34

4.843.325

24

Canad�

23.782

4

84.807

4

237.639

3

616.134

3

Austr�lia e Nova Zel�ndia

4.982

1

41.927

2

104.469

1

419.891

2

Jap�o

19.612

4

201.441

10

278.442

3

831.074

4

Israel

17

0

1.188

0

9.091

0

66.299

0

Pa�ses desenvolvidos

477.203

87

1.948.084

93

7.083.477

89

16.803.536

82

�frica

7.584

1

20.229

1

44.224

1

122.429

1

Am�rica Latina e Caribe***

47.518

9

57.645

3

204.515

3

732.781

4

Oriente M�dio e �sia

16.603

3

67.600

3

608.366

8

2.276.194

11

Oceania

28

0

51

0

249

0

441

0

Pa�ses em desenvolvimento

71.733

13

145.525

7

857.354

11

3.131.845

15

Sul e Leste europeu e CEI****

0

0

0

0

21.339

0

472.876

2

Pa�ses em transi��o

0

0

0

0

21.339

0

472.876

2

Mundo

548.936

100

2.094.169

100

7.962.170

100

20.408.256

100

* S�o utilizadas as terminologias da UNCTAD de pa�ses desenvolvidos, em desenvolvimento e em transi��o somente para fins de tabula��o dos dados.
*** Aqui est� incluso Bermudas, Ilhas Virgens Brit�nicas, Ilhas Cayman, Panam� e Antilhas Holandesas.
**** Comunidade dos Estados Independentes

Fonte: Unctad Database.
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

Se, por um lado, Alemanha, Reino Unido e Holanda exibiram uma redu��o e posterior estabiliza��o de sua import�ncia nos fluxos materiais de capitais produtivos, por outro lado, dentro da pr�pria Europa, pa�ses como B�lgica, Fran�a, Espanha e Su��a elevaram sua participa��o nos fluxos mundiais de IED, em fun��o do crescimento percentual dos fluxos acima da m�dia mundial.A It�lia apresentou dados percentuais alternados, tornando dif�cil inferir a curva.

Cabe ressaltar tamb�m que, apesar do aumento dos investimentos produtivos no exterior, tanto os Estados Unidos quanto o Jap�o diminu�ram sua import�ncia relativa como principais investidores mundiais, com uma queda maior para o primeiro que sequer logrou manter os mesmos patamares percentuais dos anos 1980. A queda da import�ncia relativa dos Estados Unidos iniciou-se nos anos 1980, enquanto a do Jap�o ocorreu apenas a partir dos anos 1990.

Para Harvey, �os Estados Unidos foram c�mplices do solapamento de seu dom�nio na manufatura ao desencadear por todo o globo os poderes das finan�as�[20]. Os custos crescentes com a guerra do Vietn� e a crise fiscal interna, por conta da pol�tica de consumismo dom�stico intermin�vel, levaram ao abandono do sistema Bretton Woods - ordem econ�mica internacional institu�da ap�s a Segunda Guerra Mundial que permitiu a constitui��o de um espa�o monet�rio mundial sob a hegemonia dos Estados Unidos[21] - e � implanta��o de um sistema monet�rio desmaterializado. Assim, amea�ados no campo da produ��o, os Estados Unidos reagiram afirmando sua hegemonia por meio das finan�as[22].

Brenner[23] defende que o fim do sistema Bretton Woods, a contrarrevolu��o monetarista e os acordos de Plaza (1985 e 1995) foram o resultado da persist�ncia da superprodu��o nas principais economias centrais (Estados Unidos, Alemanha e Jap�o). Para ele, com o desenvolvimento desigual, Alemanha e Jap�o atingiram um n�vel igual ou superior de competitividade vis-�-vis os Estados Unidos, de modo que se acirrou a concorr�ncia, a queda da lucratividade e o aumento da capacidade excedente. As valoriza��es e desvaloriza��es das moedas (d�lar, yen e marco) n�o foram capazes de contornar a persist�ncia da estagna��o, dada a maior entrada e menor sa�da das empresas e a participa��o ativa dos governos na luta competitiva em todo o sistema.

Arrighi[24] interpreta a �crise sinalizadora� do ciclo sist�mico de acumula��o liderado pelos Estados Unidos da seguinte maneira:

A crise iminente do regime norte-americano foi assinalada entre 1968 e 1973, em tr�s esferas distintas e estreitamente relacionadas. Militarmente, o ex�rcito norte-americano entrou em dificuldades cada vez mais s�rias no Vietn�; financeiramente, o Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos verificou ser dif�cil e, depois, imposs�vel preservar o modo de emitir e regular o dinheiro mundial estabelecido em Bretton Woods; e, ideologicamente, a cruzada anticomunista do governo norte-americano come�ou a perder legitimidade no pa�s e no exterior.

Com base num keynesianismo militar e social, os Estados Unidos criaram as condi��es para o boom econ�mico do p�s-guerra, que resultou, posteriormente, no desenvolvimento desigual, no acirramento da concorr�ncia, no excedente de produ��o e na queda na taxa de lucro[25]. Se at� o in�cio dos anos 1960 predominou o ciclo de expans�o material (com�rcio e produ��o) da economia mundial, no final dessa d�cada, eclodiu a crise sinalizadora do regime de acumula��o norte-americano, por conta do aumento das press�es competitivas e do excesso de capitais � procura de investimentos em mercadorias, dando origem a uma fase descendente do ciclo e a uma financeiriza��o da acumula��o de capital.

A contrarrevolu��o monet�ria � ancorada nos juros altos, nos incentivos fiscais e na liberdade ao capital � adotada pelo governo Reagan abriu o caminho � financeiriza��o, proporcionando uma rea��o �s crises de lucratividade e de hegemonia. Arrighi entende que esse triunfo parece ser o permeio entre crises sinalizadoras e as crises terminais dos regimes de acumula��o dominantes, quando destaca que �mais depressa do que em qualquer regime anterior, a belle �poque do regime norte-americano, a era Reagan, veio e se foi, mais havendo aprofundado do que solucionado as contradi��es subjacentes � crise sinalizadora anterior�[26].

Harvey[27] afirma que, por meio do fortalecimento das regras b�sicas neoliberais dos mercados financeiros abertos e do acesso livre, parecia haver pouco perigo de as configura��es regionais (Jap�o, Estados Unidos, Alemanha) reca�rem na autarquia competitiva que se mostrara t�o destrutiva antes da Segunda Guerra Mundial. Contudo, as tens�es e contradi��es entre as configura��es geogr�ficas regionais n�o foram (e n�o ser�o) completamente solucionadas porque, por conta da pr�pria din�mica do capitalismo, h� o desenvolvimento geogr�fico desigual. Este � o resultado da din�mica de diferencia��o e igualiza��o espaciais no processo de internacionaliza��o, pois, no movimento de expans�o uniforme do capital, ocorre sincronicamente um processo de diferencia��o[28].

Para Harvey, �a atividade capitalista produz o desenvolvimento geogr�fico desigual, mesmo na aus�ncia de diferencia��o geogr�fica em termos de dota��o de recursos e disponibilidade�[29]. No bojo desse desenvolvimento desigual, surgiram novos espa�os din�micos de acumula��o de capital, onde os excedentes gerados t�m demandado expans�es geogr�ficas de capitais particulares e, no limite, uma reorienta��o dos pap�is dos Estados - por conta da constru��o e reconstru��o permanente de assimetrias espaciais no sistema mundo.

No quadro 1, nota-se que os pa�ses perif�ricos ampliaram seus estoques de IED duas vezes entre 1980 e 1990, enquanto a m�dia mundial de expans�o foi de 3,8 vezes. Por isso, houve uma diminui��o da import�ncia do conjunto de pa�ses de 13% para 7%. Quando se analisa detalhadamente os dados, nota-se que a queda foi por conta, principalmente, do p�fio crescimento dos IED realizados pela Am�rica Latina, cujas taxas de expans�o foram menores que a �frica e a Oceania, respectivamente. Na d�cada anterior, a Am�rica Latina (excluindo o Caribe) havia liderado os IED promovidos pela periferia capitalista, respondendo por mais de 41% dos IED perif�ricos, bem � frente da �sia, com taxa pr�xima a 20%.

Durante os anos 1980, a crise econ�mica, resultante do excessivo endividamento externo e da baixa liquidez mundial, impactou sobre o crescimento econ�mico dos pa�ses latino-americanos e diminuiu a import�ncia da regi�o como principal fonte de IED dos pa�ses perif�ricos, conforme demonstra o quadro 1. A �sia, por outro lado, com forte crescimento econ�mico, alcan�ou e superou a Am�rica Latina como principal fonte de investimento[30]. Quanto aos estoques de IED, a Am�rica Latina ainda manteve a lideran�a, por causa do ac�mulo de investimentos e da import�ncia dos anos 1970. Em termos percentuais, a regi�o foi respons�vel, em m�dia, por 58% do estoque de IED dos pa�ses perif�ricos e 6.8% do estoque mundial, enquanto a �sia apresentou taxas m�dias de 28% e 3%, respectivamente.

A partir do quadro 1, pode-se observar, ainda, que os anos 1990 apresentaram porcentagens de crescimento dos fluxos sem precedentes hist�ricos, com os pa�ses perif�ricos atingindo taxa m�dia de 12%. Em n�meros absolutos, foram realizados investimentos al�m das fronteiras da ordem de US$ 460 bilh�es, ou seja, uma m�dia de US$ 46 bilh�es por ano e cerca de quase 8 vezes os valores apresentados nos anos 1980. Nos 3 primeiros anos da d�cada, �sia e Am�rica Latina apresentaram estoques muito pr�ximos em valores. Desde meados de 1990, por�m, passou a ocorrer um distanciamento significativo. A �frica apresentou um crescimento t�mido e o Sul e Leste da Europa, cujos dados disponibilizados pela UNCTAD datam a partir de 1995, sequer aparece no quadro com taxa inferior a 1%.

Nos anos 2000, continuou a queda dos pa�ses desenvolvidos nos estoques mundiais de IED, principalmente a partir de 2004. Durante os anos 2003 e 2007, ocorreu uma forte recupera��o dos fluxos mundiais de IED, que foram multiplicados por quase quatro vezes, dado o aumento de US$ 570,6 bilh�es para US$ 2,2 trilh�es. � durante este per�odo que se p�de notar uma diminui��o da import�ncia relativa dos pa�ses desenvolvidos nos fluxos de IED e aumento dos pa�ses perif�ricos. De fato, embora ambos os conjuntos de economias tenham avan�ado, as perif�ricas apresentaram um incremento maior dos IED, pois se expandiram num ritmo (4,1 vezes) maior que a m�dia mundial (2,6 vezes).

Entre 2008 e 2009, os desdobramentos da crise financeira deflagrada engendraram uma queda significativa dos IED, que retornaram ao n�vel do in�cio da d�cada, atingindo em torno de US$ 1,2 trilh�o. Embora todo o conjunto de economias desenvolvidas e perif�ricas tenha demonstrado uma queda dos fluxos de investimentos produtivos, nas primeiras a queda foi mais acentuada. A partir de 2010, os fluxos de investimentos diretos t�m demonstrado uma recupera��o; por�m, os pa�ses desenvolvidos t�m apresentado uma redu��o percentual, ao passo que os pa�ses perif�ricos apresentam um avan�o.

Sem d�vida, um dos aspectos mais surpreendentes � o r�pido avan�o do Sul e Leste da Europa desde que a UNCTAD come�ou a divulgar dados dessas regi�es. Os estoques de investimentos do Sul e Leste da Europa foram multiplicados por mais de 20 vezes. Por tr�s desse crescimento est�o as empresas russas de recursos naturais, principalmente de g�s, petr�leo e carv�o, e a alta dessas commodities antes da crise financeira. Tanto a �sia como a Am�rica Latina n�o apresentaram altera��es substanciais, com taxas de expans�o pr�ximas e manuten��o da preval�ncia da primeira no conjunto das economias perif�ricas. N�o � demais lembrar que, diferentemente da Am�rica Latina, cuja atua��o estatal � incipiente, tanto na �sia quanto no Sul e Leste da Europa (entenda-se R�ssia) existe uma fus�o contradit�ria entre a pol�tica de Estado e os interesses moleculares de acumula��o dos capitais particulares a� originados e situados[31].

De acordo com Sposito e Santos[32] �, pois, evidente o papel exercido por algumas empresas situadas na periferia no processo de centraliza��o de capital nas diversas escalas espaciais, da regional � mundial. Vale ressaltar, en passant, que o movimento de centraliza��o tem sido n�o somente Sul-Sul, sen�o tamb�m, e principalmente, no sentido Sul-Norte, na medida em que a maior parte das aquisi��es e fus�es tem sido direcionada aos pa�ses da Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico (OCDE). No caso dos Estados Unidos, por exemplo, os investimentos de empresas latino-americanas saltaram da marca de US$ 8 bilh�es, em 1995, para valores pr�ximos a US$ 30 bilh�es, em 2005.

As empresas oriundas dos pa�ses perif�ricos est�o participando ativamente do movimento de centraliza��o do capital em escala mundial, com demasiados gastos com aquisi��es de companhias, seja de pa�ses com o mesmo ou patamar mais baixo de desenvolvimento, seja de empresas sediadas em pa�ses desenvolvidos. As empresas de pa�ses perif�ricos representam, em m�dia, algo em torno de 18% de todos os gastos com aquisi��es e fus�es que v�m sendo realizadas em �mbito mundial. Em 2008, as empresas situadas na periferia desembolsaram em torno de US$ 120 bilh�es em mais de 1.000 transa��es al�m das fronteiras[33].

As consequ�ncias imediatas desse processo de centraliza��o do capital promovido por v�rios territ�rios est�o sendo refletidas na lista das 500 maiores empresas do mundo � Global fortune 500, com mais de 95 empresas �dos pa�ses emergentes�, com exce��o da Cor�ia do Sul (Figura 1).

O que as empresas transnacionais buscavam nos países subdesenvolvidos?

Figura 1. Localiza��o geogr�fica das 500 maiores empresas do mundo, por faturamento, entre 2005 e 2011.
Fonte: Adaptado e atualizado de Sposito e Santos (2012, p. 55).
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

Entre 2005 e 2011, o n�mero de empresas estadunidenses listadas reduziu sensivelmente, de 176 para 133, como decorr�ncia da desvaloriza��o do d�lar em rela��o a outras moedas, da expans�o econ�mica significativa de algumas economias - entre elas China, �ndia e Brasil � e da aquisi��o de empresas dos Estados Unidos por contrapartes de pa�ses perif�ricos, principalmente. Outro pa�s desenvolvido a perder import�ncia � o Jap�o, com redu��o de 81 para 68 empresas. No mesmo per�odo, as empresas chinesas avan�aram de 16 para 61, as indianas de 5 para 8, as brasileiras de 3 para 7 etc.

Pode-se afirmar que, no processo de concentra��o e centraliza��o de capital em escala mundial, pa�ses desenvolvidos como Estados Unidos, Jap�o, Reino Unido, Holanda e Alemanha, sobretudo, est�o perdendo import�ncia relativa entre os principais investidores mundiais. No bojo desse processo, n�o s� pa�ses desenvolvidos (B�lgica, Fran�a, Espanha e Su��a), sen�o tamb�m pa�ses perif�ricos (entre os quais China, �ndia, R�ssia, Brasil, Chile, M�xico etc.) t�m aumentado sua import�ncia nos fluxos mundiais de IED. Conforme afirmam Sposito e Santos[34], tem ocorrido o delineamento de um processo de centraliza��o descentrada de capital, quer dizer, um movimento de concentra��o e centraliza��o que extrapola a tr�ade e passa a ocorrer em e a partir de outros centros.


Contextualiza��o hist�rica dos IED da Am�rica Latina

A Argentina foi um dos primeiros pa�ses da periferia capitalista a realizar investimentos no exterior, em finais do s�culo XIX, com as companhias Alpargatas, SIAM di Tella e Bung y Born e, em menor import�ncia, Grimoldi, Carlos Casado, Quilmes e Saint Hnos. A maior parte dos investimentos externos teve como origem o setor agroalimentar e, em menor express�o, o industrial[35].

As estrat�gias de integra��o vertical e diversifica��o dos neg�cios foram as sa�das encontradas � satura��o do mercado dom�stico argentino[36]. Katz e Kosacoff[37] articulam a lideran�a nas vendas, o tamanho da firma e o grau de concentra��o do mercado com a realiza��o de investimentos em outros pa�ses em cada est�gio no processo de crescimento da Argentina. Logo que atingiram um controle relevante de seus respectivos mercados internos, as empresas iniciaram um processo de internacionaliza��o tanto na produ��o como na comercializa��o em pa�ses vizinhos.

Contudo, o progressivo esgotamento do modelo agroexportador, decorrente da pr�pria depress�o econ�mica nos anos 1930, afetou o processo de internacionaliza��o deste n�mero reduzido de empresas, introduzindo uma nova din�mica na expans�o dos grupos econ�micos, principalmente a autonomia das sucursais[38]. Um n�mero consider�vel das filiais tornou-se maior que as pr�prias matrizes ou foi adquirido por outras empresas.

Quanto ao Brasil, � apenas nos anos 1930 que um dos principais conglomerados, Matarazzo, promove investimento externo � aquisi��o de empresa de moagem de trigo na Argentina, para garantir o abastecimento do mercado brasileiro. N�o se pode falar, no entanto, de uma onda de investimentos brasileiros no exterior nas primeiras d�cadas do s�culo XX. Na Am�rica Latina, a partir dos anos 1960, pa�ses como Brasil, Col�mbia e Argentina, respectivamente, encabe�aram a lista dos principais investidores da regi�o, apesar da exist�ncia de IED de outros pa�ses, entre eles Venezuela e Chile. Em finais da d�cada de 1970, a Argentina apresentou uma involu��o nos investimentos externos, com n�meros negativos.

Chudnovsky e L�pes[39] defendem a ocorr�ncia de ondas de IED latino-americanos. Para eles, os investimentos realizados entre os anos 1960 e 1970 corresponderam � primeira onda, enquanto a segunda coincidiu com os anos 1980. Se for considerado o substantivo onda, literalmente, como grande volume, pode-se aventar que os n�meros apresentados pela regi�o, nos anos 1960 e 1970, correspondem t�o somente a uma ondula��o[40], haja vista que representaram, em m�dia, 1.2% de todos os fluxos mundiais de IED.

Nos anos 1990, a maior representatividade dos IED latino-americanos, embora ainda em menor propor��o que os asi�ticos, foi considerada como uma terceira onda de investimentos de empresas �transnacionais latinas�[41]. A terceira onda de investimentos de firmas latino-americanas �n�o � significativa apenas em volume, mas � tamb�m diferente em sua natureza, tanto da primeira com da segunda onda de IED dos pa�ses em desenvolvimento�[42]. Com rela��o � terceira onda,

[...] suas caracter�sticas espec�ficas surgem, de um lado, da hist�ria, da estrutura, do tamanho, do regime de pol�tica econ�mica e do n�vel de desenvolvimento distintos de cada uma das respectivas economias e, de outro lado, dos diferentes cen�rios regional e internacional nos quais cada uma das tr�s ondas de IED ocorreram.[43]

Para Casanova[44], a internacionaliza��o de empresas latino-americanas ocorreu em quatro fases. A primeira (1970-1990) foi um testemunho de t�midas tentativas de expans�o dentro da pr�pria regi�o. A segunda deu-se nos anos 1990 e coincidiu com as pol�ticas de abertura econ�mica, em que houve uma ambi��o de maior alcance internacional. A terceira iniciou-se em 2002, com a subida dos pre�os de mat�rias-primas. A �ltima teve in�cio em 2008, com a queda do Lehman Brothers, e vem sendo caracterizada pelo retorno aos mercados naturais � quer dizer, pr�ximos geogr�fica e culturalmente.

Quando se analisa os dados sobre estoques de IED dos pa�ses latino-americanos, nota-se que, por conta da perda de import�ncia da Argentina em finais dos anos 1970, o Brasil tornou-se o principal investidor da regi�o, com mais de 80% dos estoques de IED, contra apenas 12,6% da Argentina (Quadro 2).

Quadro 2.
Estoques de IED dos pa�ses latino-americanos e caribenhos, entre 1980 e 2010, em US$ milh�es

Pa�ses

1980

% total

1990

% total

2000

% total

2010

% total

Argentina

5970

12.6

6057

10.4

21140

10.3

29840

3.3

Brasil

38544

81.1

41044

70.6

51946

25.4

188637

21.1

Chile

63

0.1

154

0.3

11154

5.5

60146

6.7

Col�mbia

136

0.3

402

0.7

2989

1.5

22829

2.6

Equador

1

0.0

18

0.0

247

0.1

324

0.0

Ilhas Cayman

72

0.2

648

1.1

20788

10.2

88656

10.0

Jamaica

005

0.0

42

0.1

709

0.3

176

0.0

M�xico

1632

3.4

2672

4.6

8273

4.0

104301

11.7

Panam�

0

0.0

3876

6.7

10507

5.1

31559

3.6

Paraguai

142

0.3

134

0.2

214

0.1

238

0.0

Peru

3

0.0

122

0.2

505

0.2

3318

0.4

Uruguai

171

0.4

186

0.3

138

0.1

304

0.0

Venezuela

23

0.0

1221

2.1

7676

3.8

19808

2.2

Outros

756

1.6

1556

2.7

68382

33.4

343258

38.4

Total

47.518

100

58.132

100

204.668

100

893.394

100

Fonte: UNCTAD Database.
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

Desde os anos 1980, por�m, tanto o Brasil quanto a Argentina t�m apresentado uma redu��o de sua import�ncia no estoque de IED da Am�rica Latina, por causa do avan�o de outras economias, sobretudo Chile, M�xico e Col�mbia. Alguns autores t�m aventado, a respeito da diminui��o da import�ncia do Brasil, que Chile, M�xico e Argentina, cada um a seu modo, ao promoverem medidas pioneiras de liberaliza��o das importa��es e aumento da concorr�ncia internacional, criaram as condi��es para que suas empresas se reestruturassem e adquirissem experi�ncia (know how) necess�ria para ingressar no cen�rio internacional e competir, regional e globalmente, com as multinacionais dos pa�ses desenvolvidos[45]. Sob essa perspectiva, o Brasil, cuja implementa��o de pol�ticas neoliberais ocorreu apenas no come�o de 1990, demonstrou a diminui��o do �mpeto de suas empresas quanto � internacionaliza��o, porque era premente promover a reestrutura��o interna para fazer frente � concorr�ncia internacional.

Outras explica��es importantes para a maior import�ncia de Chile, M�xico e Argentina e diminui��o da relev�ncia do Brasil podem ser levantadas. Primeiro, os IED brasileiros mais significativos se concentraram o final dos anos 1980 e in�cio dos anos 1990. Segundo, o mercado brasileiro, por ser significativamente maior que o chileno e o colombiano, foi eleito como mais relevante pelas empresas do que o mercado internacional. �s empresas chilenas, mexicanas e colombianas a expans�o constituiu-se numa estrat�gia de sobreviv�ncia, por causa das possibilidades de expans�o limitadas do mercado interno e da maior competi��o internacional.

Nos anos 2000, Brasil, M�xico e Chile apresentaram o maior crescimento quanto aos fluxos de IED, ao passo que Argentina, principal investidora nos anos 1990, perdeu import�ncia entre os pa�ses da regi�o, dada a incorpora��o de suas multinacionais por empresas de pa�ses desenvolvidos e perif�ricos e a crise econ�mica no in�cio deste s�culo. Na contram�o da diminui��o da relev�ncia argentina, Col�mbia emergiu como um importante investidor, respondendo 38% dos fluxos da regi�o entre 2009 e 2011[46].


Padr�es setoriais e espaciais dos IED latino-americanos

Durante a primeira onda de IED perif�ricos, que abrange os anos 1960 e 1970, os capitais produtivos foram destinados, basicamente, a pa�ses vizinhos, cujo n�vel de desenvolvimento era similar ou inferior ao apresentado pelo pa�s de origem das empresas multinacionais emergentes e o mercado consumidor bem menor que o dos pa�ses desenvolvidos. Foi o momento de estabelecimento das Multilatinas em seus �mercados naturais� - mercados �que comparten una lengua, est�n pr�ximos geogr�ficamente o tienen lazos hist�ricos comunes�, nos quais �los ejecutivos y ciudadanos en general conocen mejor los pa�ses dentro de los mercados naturales, las necesidades y los gustos de los consumidores, el marco legal o el contexto econ�mico�[47].

Cabe destacar, en passant, que as tecnologias eram licenciadas dos pa�ses desenvolvidos e adaptadas �s condi��es locais, onde as economias de escala eram menores e os governos fomentavam a industrializa��o via Substitui��o de Importa��es (SI). A adapta��o tecnol�gica era �til �s empresas, pois elas n�o apenas conseguiam produzir com maior efici�ncia que as suas contrapartes dos pa�ses desenvolvidos (com know how baseado em enormes economias de escala), como tamb�m buscavam obter economias de escopo (uso de uma mesma plataforma tecnol�gica para a produ��o de v�rios produtos).

As empresas brasileiras se internacionalizaram, basicamente, em petr�leo, supermercados, alimentos, engenharia civil, eletr�nica, autope�as, elevadores, m�veis, carrocerias de �nibus. Desnecess�rio dizer que as iniciativas industriais foram muito pequenas, pois a maior parte dos IED concentrou-se em finan�as (banc�rio), em offshore (para�sos fiscais) e em petr�leo. Neste momento, a Argentina logrou tornar-se, tamb�m, um investidor relevante. V�rias empresas argentinas, em distintos setores, se expandiram para outros espa�os e somaram quase US$ 90 milh�es em IED. Os ramos internacionalizados abrangeram bebidas (vinho, suco), explora��o de petr�leo, produtos finais, insumos e componentes ativos (farmac�uticos), siderurgia, metalmec�nica, editora��o, alimentos, utens�lios dom�sticos etc.

O Chile apresentou um movimento de multinacionaliza��o de empresas, de curta dura��o e pouca significa��o, com algumas fam�lias buscando oportunidades de neg�cios na Argentina, principalmente. Luksic realizou IED na Argentina, Brasil e Col�mbia, ao passo que Boher ingressou apenas na Argentina. Os dois grupos levaram a cabo neg�cios na atividade agropecu�ria - com�rcio de gr�os[48]. Os IED mexicanos datam dos anos 1960 e 1970, com a entrada de algumas companhias na Am�rica Central - Guatelama e em Costa Rica[49].

Nos anos 1980, as multinacionais latino-americanas dirigiram-se, sobretudo, ao mercado regional, onde se utilizaram dos conhecimentos adquiridos (learning by doing) no mercado interno. Apesar do avan�o not�vel, ao final da d�cada, muitas companhias Multilatinas - sobretudo de autope�as, a�o, metal mec�nica, t�xtil etc. - foram absorvidas por contrapartes dos pa�ses desenvolvidos ou n�o conseguiram aportar novos capitais �s suas unidades externas por dificuldades econ�micas encontradas no mercado interno (principalmente as mexicanas e chilenas).

Os IED promovidos durante os anos 1980 foram variados, pois abrangeram diversas empresas e distintos ramos econ�micos. As empresas brasileiras com experi�ncia na exporta��o procuraram estabelecer subsidi�rias em seus mercados externos (Labra, Nansen, Embraer, Bardella), companhias sem nenhuma experi�ncia na exporta��o estabeleceram suas subsidi�rias (Globo, Eluma), empresas promoveram uma integra��o vertical (Vale do Rio Doce, Copersucar, Cacique, Securit) com a finalidade de garantir a exporta��o de seus principais produtos, companhias buscaram contornar a desacelera��o do mercado dom�stico (setores de bens de capital e de constru��o civil) e, finalmente, algumas empresas seguiram as prioridades governamentais (Petrobras)[50].

Um n�mero significativo de companhias argentinas realizou IED nos anos 1980, desde a produ��o de guloseimas (Arcor) at� a manufatura de produtos farmac�uticos (Bag�, Sintyal e Chemotecnia). Os investimentos produtivos estiveram concentrados nos pa�ses latino-americanos, enquanto os direcionados aos pa�ses desenvolvidos assumiram a forma de escrit�rios de importa��o para comercializa��o de produtos exportados de suas bases dom�sticas.

Com um n�mero maior de casos - mas volume de IED limitados - est�o os grupos chilenos, marcados pelo ingresso de novos atores e pela continuidade de outros (Luksic e Bhoer). Se, nos anos 1970, Brasil e Col�mbia faziam parte desse avan�o, nos anos 1980, a Argentina tornou-se o locus de expans�o em ramos como bebidas, varejo, frutas etc. Contudo, a crise econ�mica no in�cio dos anos 1980, a complexa situa��o macroecon�mica da Argentina e as dificuldades de acesso a financiamento limitaram o comprometimento de recursos e agiram negativamente[51].

No caso do M�xico, os circuitos espaciais de produ��o dos grupos transcenderam a Am�rica Central, coma entrada de novos atores econ�micos � Imsa (grupo Alfa), Bimbo e Cemex. Os Estados Unidos tornaram-se o locus de expans�o internacional para os grupos mexicanos, que buscaram atender a demanda (principalmente de alimentos) de uma �comunidade� de hispanos e o enorme mercado para bens intermedi�rios (cimento, a�o etc.)[52].

Durante os anos 1990, houve a concentra��o dos IED latino-americanos em ind�strias e ramos econ�micos cujas tecnologias eram maduras (cimento, siderurgia, vidro, papel e celulose etc.). As principais vantagens das empresas n�o procederam de ativos tecnol�gicos, sen�o de capacidades organizacionais, financeiras, tecnologias de processo, produto ou comercializa��o. Al�m disso, os fluxos de IED se concentraram em ramos intensivos em recursos naturais (petr�leo, silvicultura, alimentos) e servi�os (energia, telecomunica��es, bancos).

Parte consider�vel das Multilatinas com IED nos anos 1990 apresentou n�veis de internacionaliza��o limitados e m�dios, com poucos casos de internacionaliza��o avan�ada[53]. As empresas com grau avan�ado de internacionaliza��o estavam sediadas no M�xico, mas algumas delas foram adquiridas por multinacionais dos pa�ses desenvolvidos ou se tornaram s�cias menores. Por exemplo, La moderna se associou � empresa Monsanto numa rede de alian�as em escala global, a Impsat vendeu parte de suas a��es � British Telecom.

Apesar do carreamento de capitais produtivos a pa�ses desenvolvidos, entre eles Estados Unidos, Canad�, pa�ses europeus etc., a maior parte dos IED teve como destino a pr�pria regi�o. No Brasil, ocorreu o avan�o de companhias argentinas e chilenas; na Argentina, de firmas brasileiras; no Peru, de companhias chilenas; e, na Am�rica Central, de empresas mexicanas. Os poucos investimentos destinados aos pa�ses desenvolvidos foram realizados por Cemex, Carso, Techint, La moderna Seminis, Sab�, Odebrecht, entre outros. A maior parte dos grupos e empresas com investimentos IED estava sob o controle familiar, sendo os argentinos sem vincula��o financeira, os brasileiros e mexicanos com algumas vincula��es financeiras e os chilenos marcados por forte vincula��o �s finan�as e aos mercados de capitais internacionais - porque o pa�s �se converteu en una suerte de �centro de reciclaje� de fondos internacionales�[54].

Nos anos 2000, os fluxos de IED latino-americanos apresentaram algumas especificidades quanto ao destino e aos setores. Primeiro, os investimentos sob a forma de fus�es e aquisi��es t�m, predominantemente, sido carreados aos pa�ses desenvolvidos. Segundo, os fluxos destinados aos pa�ses perif�ricos est�o concentrados na Am�rica Latina (Quadro 3).

Quadro 3.
Fus�es e aquisi��es promovidas por Multilatinas entre 2007 e 2011, segundo o
destino e os setores econ�micos, em US$ milh�es

Pa�ses e setores

2007

2008

2009

2010

2011

Pa�ses desenvolvidos

32130

1998

3475

12036

9173

Estados Unidos

9873

-1872

5603

4719

5402

Uni�o Europeia

3699

1595

-1233

2905

1752

Jap�o

615

1513

561

125

-

Regi�es perif�ricas

6384

586

265

3795

9486

�frica

-155

-

-70

-84

-5

�sia

787

283

374

-656

180

Am�rica Latina

5752

170

116

4692

7983

Sul e Leste da Europa

-

-

-159

-156

1329

Total

38514

2584

3740

15831

18659

           

Setores

Prim�rio

3984

1880

4689

2076

-650

Agricultura, floresta e pescado

-

1610

-

-

-

Minera��o e petr�leo

3984

270

4690

1981

-745

Secund�rio

24111

2830

859

4700

6035

Alimentos bebidas e tabaco

1654

583

3224

2285

2213

Madeira e produtos de madeira

-

-

-

69

122

Coque, produtos de petr�leo e combust�vel nuclear

-

-

-947

-

-

Produtos qu�micos

759

172

63

373

-

Produtos minerais n�o met�licos

14437

913

-1337

990

-

Produtos de metal e met�licos

7313

740

-

-

-

T�xteis, vestu�rio e couro

-

-

-

-598

425

Equipamentos eletr�nicos e el�tricos

-

-

-

-

16

Ve�culos motores e equipamentos de transporte

-

-

-

150

-

Servi�os

10419

-2126

-1808

9055

13274

Eletricidade e �gua

-

-

103

1227

-

Constru��o

-

-

-12

49

826

Com�rcio

935

134

-14

762

-

Transporte, armazenamento e comunica��es

1749

1849

120

263

6123

Finan�as

7674

1172

-2113

4105

-

Servi�os prestados �s empresas

-196

-1731

379

1070

-272

Atividades de servi�os pessoal, social e comunit�ria

-

-

-

1220

4

Fonte: Unctad (2009, 2001 e 2012).
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

Quanto aos setores, n�o h� um padr�o que possa ser facilmente identificado. Pode-se notar que, entre 2007 e 2008, predominou o IED no setor industrial, sobretudo produtos minerais n�o met�licos e produtos de metal e met�licos. Em 2009, o setor prim�rio tornou-se prevalente. Entre 2010 e 2011, a maior parte dos IED ocorreu no setor de servi�os. Contudo, a predomin�ncia dos servi�os precisa ser relativizada, pois os investimentos promovidos pelas holdings � participa��o e/ou controle acion�rio � podem ser classificados como servi�os financeiros, t�cnicos, administrativos etc. entre companhias[55].

Os investimentos novos das Multilatinas tamb�m t�m uma certa import�ncia sob a forma de servi�os, mas o setor industrial (alimentos, bebidas e tabaco, produtos de pl�stico e borracha e produtos de metal e met�licos) possui igual relev�ncia. Com menor express�o, por�m n�o menos importante, tem-se o setor prim�rio, com o predom�nio da minera��o e do petr�leo (Quadro 4).

Quadro 4.
Investimentos novos das Multilatinas por regi�es e pa�ses de
destino, em milh�es US$, entre 2010 e 2011

Pa�ses e setores

2010

2011

Pa�ses desenvolvidos

5200

3499

Uni�o Europeia

1132

1319

Estados Unidos

566

2038

Jap�o

46

93

Outros pa�ses desenvolvidos

3456

49

Pa�ses perif�ricos

16554

17156

�frica

809

1774

�sia

3870

917

Am�rica Latina

11864

14466

Sul e Leste da Europa

10

-

Total

21754

20655

Setores

Prim�rio

7429

2300

Minera��o e petr�leo

7418

2300

Manufatureiro

8373

7674

Alimentos, bebidas e tabaco

2038

1197

Produtos de pl�stico e borracha

3050

170

Produtos de metal e met�licos

678

1769

Ve�culos motores e equipamentos de transporte

360

250

Servi�os

5952

10681

Eletricidade, g�s e �gua

1688

156

Transporte, armazenamento e comunica��es

1424

3678

Finan�as

1392

1290

Servi�os prestados �s empresas

410

5117

Fonte: Unctad (2012).
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

Diferentemente dos fluxos de capitais visando � aquisi��o e fus�o de companhias, cujo destino predominante � os pa�ses desenvolvidos, os investimentos novos (moderniza��o, novas unidades produtivas) s�o carreados, na sua maior parte (m�dia superior a 75% entre 2010 e 2011), aos pa�ses perif�ricos. Por�m, esses fluxos t�m como destino a pr�pria regi�o, com os pa�ses latino-americanos recebendo, em m�dia, 62% de todos os investimentos.

Setorialmente, � poss�vel destacar alguma relev�ncia dos pa�ses nos fluxos de IED. O Brasil tem uma participa��o importante em siderurgia, cimento, minera��o e alimentos. O M�xico apresenta uma relev�ncia em alimentos, cimento e telecomunica��es. Com uma import�ncia crescente aparece o Chile, sobretudo no com�rcio varejista, papel e celulose etc. A Argentina conta, principalmente, com empresas produtoras de alimentos e produtos sider�rgicos (a�o, laminados). Mas o aspecto mais fundamente �, talvez, a import�ncia dos investimentos Sul-Sul, apesar da realiza��o de IED no sentido Sul-Norte.

� medida que as Multilatinas avan�am, h� um fortalecimento da rela��o material Sul-Sul e uma relativiza��o dos investimentos Norte-Sul. A proximidade geogr�fica, as similaridades econ�micas e pol�ticas e o Mercado Comum do Cone Sul (MERCOSUL) etc. s�o fatores que estimulam o investimento cruzado entre os pa�ses (Quadro 5).

Quadro 5.
Localiza��o das sucursais das empresas Multilatinas por regi�es

Pa�ses

Regi�es

Am�rica do Norte

Am�rica Central

Am�rica do Sul

�frica

Oceania

�sia

Europa

Argentina

2

2

7

0

0

1

1

Brasil

19

5

29

8

4

14

21

Chile

2

2

20

2

0

3

2

M�xico

25

11

21

1

2

3

8

Outros

3

4

9

1

0

1

1

Fonte: Aguiar et. al. (2009).
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

Para o M�xico, com investimentos destinados principalmente aos Estados Unidos e � Am�rica Central, s�o relevantes a proximidade geogr�fica, o enorme mercado estadunidense e o aspecto �tnico, j� que muitos mexicanos moram nos Estados Unidos[56]. Na Europa, �sia, Am�rica do Sul e Oceania, as Multilatinas brasileiras lideram com sucursais, enquanto na Am�rica do Norte e Central, predominam as mexicanas. As empresas chilenas t�m maior presen�a na Am�rica do Sul, principalmente Peru e Argentina.

Atualmente, Brasil e Chile s�o importantes investidores na Am�rica do Sul e est�o � frente dos tradicionais investidores, os pa�ses desenvolvidos. Entre os anos 2005 e 2010, o Brasil e o Chile tornaram-se, respectivamente, o terceiro e o quarto maiores investidores na Argentina, sendo superados somente pela Espanha e pelos Estados Unidos. Quanto ao Uruguai, a Argentina � a maior investidora no pa�s, com 23.2% (US$ 2.513 milh�es) de todos os fluxos de IDE entre 2001 e 2010.

No Uruguai, os frigor�ficos brasileiros (Minerva, JBS, Marfrig)respondem por 36% do abate bovino, a Camil beneficia metade da safra de arroz e � uma das principais exportadoras do pa�s, a Petrobras det�m 21% do mercado de distribui��o de combust�vel e controla a distribui��o de g�s. No setor banc�rio, o Itau j� � o terceiro maior banco e o Banco do Brasil ingressou com a sua sucursal argentina Patagonia. Em seguros para autom�veis, a Porto Seguro domina 20% do mercado. As empresas argentinas e chilenas, respectivamente, P�rez Companc e Arauco tamb�m possuem investimentos expressivos no pa�s.

Apesar da precariedade dos dados e das diferentes conceitua��es adotadas, os dados ajudam a compreender a import�ncia que alguns pa�ses latino-americanos t�m adquirido como investidores em economias pequenas e grandes da regi�o. A relativiza��o das rela��es materiais Norte-Sul - e consequente fortalecimento Sul-Sul - � maior para pa�ses como Argentina, Uruguai, Paraguai e Bol�via. Por tr�s desse avan�o, contudo, assiste-se ao estabelecimento de novas rela��es de depend�ncia e da constru��o de novas assimetrias espaciais.


Conclus�o

Os dados sobre os fluxos mundiais de IED trazem elementos para a compreens�o da emerg�ncia de novas configura��es geogr�ficas regionais cujos excedentes exercem o imperativo para expans�es territoriais. No limite, aportam inclusive elementos para se pensar na fase de transi��o do poder para a China e para a �sia, regi�o que tem n�o s� atra�do parcelas consider�veis de investimentos, sen�o que ainda tem se tornado um importante centro promotor de IED nas v�rias escalas.

Esses fluxos de IED provenientes de pa�ses perif�ricos n�o s�o um fen�meno recente e, ao longo do tempo, houve altern�ncia de import�ncia entre as diferentes regi�es, dada a perda de import�ncia da Am�rica Latina e a emerg�ncia da �sia como principal investidora entre as regi�es perif�ricas. Apesar dos refluxos, a tend�ncia hist�rica � de aumento da import�ncia dos pa�ses perif�ricos nos fluxos mundiais de IED. � necess�rio ressaltar, por�m, que somente algumas economias do Sul t�m apresentado um incremento de sua relev�ncia, ou seja, estar-se-� diante de um processo de reconfigura��o econ�mica e espacial - cuja apar�ncia � a emerg�ncia de novos p�los de concentra��o e centraliza��o de capital em escala mundial � em que novas assimetrias est�o sendo constru�das.

Dentro da Am�rica Latina, Brasil, M�xico, Chile e Argentina, respectivamente, destacam-se como principais detentores de estoques de IED da regi�o. A Argentina, antes pioneira e principal investidora, apresentou uma diminui��o significativa de seu papel, enquanto o Chile foi o que mais avan�ou. Em pa�ses como Brasil, M�xico e Col�mbia (outro pa�s com avan�o extraordin�rio nos fluxos, principalmente neste s�culo) emergiram algumas iniciativas estatais de apoio ao IED das diversas fra��es de capitais.

Parte consider�vel dos IED tem sido levada a cabo por grandes grupos econ�micos, cuja estrutura setorial � diversificada. Por isso, muitos deles t�m avan�ado, no exterior, em v�rios ramos econ�micos. Seja por conta do contexto local (institucional, infraestrutura econ�mica etc.) complexo, seja por conta das pol�ticas econ�micas (apoio ou abertura), os grupos constru�ram capacidades distintivas para atuar em outras escalas e fazer frente ao avan�o da concorr�ncia oligop�lica em seus ramos de atua��o.

Last but not least, vale ressaltar dois aspectos a respeito das Multilatinas. Primeiro, os investimentos est�o concentrados, ainda, na Am�rica Latina, embora haja a realiza��o de IED, principalmente sob a forma de fus�es e aquisi��es, na Europa, nos Estados Unidos e na �sia. Segundo, apesar dos investimentos em bens intensivos em conhecimento e dos avan�os na gest�o, comercializa��o e tecnologias da informa��o, prevalece a atua��o internacional de empresas cujas atividades est�o baseadas em tecnologias maduras e em recursos naturais.

Notas

[1] Luo e Tung, 2007.

[2] Mathews, 2006.

[3] Andreff, 2000.

[4] Santos, 2012.

[5] N�o � do escopo deste artigo aprofundar as v�rias subdivis�es; para tanto, sugere-se a consulta �s seguintes obras: Taylor e Thrift, 1986; Gon�alves, 1992; Dicken, 1998; Andreff, 2000; Sposito e Santos, 2011; Santos, 2012.

[6] Santos, 2010.

[7] Johanson e Vahlne, 1977.

[8] Johanson e Vahlne, 1977, p. 23.

[9] Johanson e Vahlne, 1977, p. 23.

[10] Dunning, 1973, 1988.

[11] Dunning, 1988: p. 2-5.

[12] D�as Alejandro, 1976, p. 5.

[13] White, Campos e Ondarts, 1977, p. 1.

[14] Haberer e Kohan, 2007, p. 2.

[15] Sull e Escobari, 2004, p. 30.

[16] Chudnovsky e L�pes, 2000, p. 66.

[17] Martinez, Souza e Liu, 2003, p. 3.

[18] Cuervo-Cazurra, 2007, p. 1.

[19] Santos, 2012.

[20] Harvey, 2005, p. 60.

[21] O d�lar tornou-se o padr�o internacional de trocas e de reserva de valor - um equivalente geral. A instaura��o de um espa�o monet�rio mundial permitiu que os capitais particulares, sobretudo os situados nos Estados Unidos, pudessem inserir diversos territ�rios, nas v�rias escalas, no movimento de valoriza��o do capital. �

[22] Harvey, 2005, p. 58.

[23] Brenner, 2003.

[24] Arrighi , 1996, p. 310.

[25] Arrighi, 2008.

[26] Arrighi , 1996, p. 310.

[27] Harvey, 2005, p. 62.

[28] Soja, 1993; Smith, 1988.

[29] Harvey, 2005, p. 82.

[30] Santos, 2012, p. 275.

[31] Santos, 2008, 2010a.

[32] Sposito e Santos, 2012, p. 54.

[33] Sposito e Santos, 2012, p. 54.

[34] Sposito e Santos, 2012.

[35] Kosacoff, 1999.

[36] Katz e Kosacoff, 1982.

[37] Katz e Kosacoff, 1982.

[38] Bisang, Fuchs e Kosacoff, 1992.

[39] Chudnovsky e L�pes, 1999.

[40] Tavares, 2007.

[41] Chudnovsky e L�pez, 2000.

[42] Chudnovsky e L�pez, 2000, p. 34.

[43] Chudnovsky e L�pez, 2000, p. 34.

[44] Casanova, 2010, p. 36.

[45] A respeito do papel desempenhado pelo time de abertura e pelas pol�ticas de privatiza��o, ver: Chudnovsky e L�pes, 2000; Hoffmann, 2006; Cuervo-Cazurra, 2007.

[46] Cepal, 2011, p. 60.

[47] Casanova, 2010, p. 37.

[48] L�pes, 1999, p. 284-285.

[49] Garrido, 2000.

[50]� Wells, 1988.

[51] L�pes, 1999, p. 285.

[52] Garrido, 2000.

[53] Cepal, 2006.

[54] Hoffmann, 2006, p. 152.

[55] Sposito e Santos, 2012, p. 246.

[56] Daniels, Krug e Trevino, 2007.

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� Copyright Leandro Bruno Santos, 2014.
� Copyright Scripta Nova, 2014.

Edici�n electr�nica a cargo de Gerard Jori.

Ficha bibliogr�fica:

SANTOS, Leandro Bruno. Multilatinas na economia global. Caracteriza��o hist�rica, setorial e espacial. Scripta Nova. Revista Electr�nica de Geograf�a y Ciencias Sociales. [En l�nea]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de marzo de 2014, vol. XVIII, n� 469. <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-469.htm>. ISSN: 1138-9788.


Qual o interesse das transnacionais nos países subdesenvolvidos?

Ao instalar filiais nesses países, as transnacionais se beneficiam com mão de obra barata, incentivos fiscais, abundância de matérias primas, doação de terrenos, etc. Por outro lado, os países subdesenvolvidos aumentam a geração de emprego e se industrializam.

Qual o objetivo das empresas transnacionais se instalarem em países subdesenvolvidos?

Nesse contexto, as multinacionais instalam-se em diferentes países em busca de vantagens locacionais importantes que contribuam para a diminuição dos custos de produção, como o melhor acesso às matérias-primas, a existência de legislações trabalhistas e ambientais mais fracas, a presença de mão de obra barata, entre ...

Qual é o principal objetivo das empresas transnacionais?

São aquelas que possuem a sede instalada em um país e filiais espalhadas por diversos outros países. São chamadas também de empresas transnacionais. Entre seus objetivos, estão a redução dos custos com o processo de produção e a ampliação da sua margem de lucro.

Por que muitas empresas transnacionais passaram a instalar suas empresas nos países subdesenvolvidos principalmente depois da Segunda Guerra Mundial?

c) Entre os fatores que atraíram as transnacionais para os países subdesenvolvidos destacam-se, entre outros, o baixo preço da matéria-prima e da mão de obra, o baixo custo da energia e o mercado consumidor potencial.