O que a radiação faz no corpo

Bombardeios russos na região da usina nuclear de Zaporizhzhia, na cidade ucraniana de Enerhodar, colocaram o mundo em alerta na noite desta quinta-feira (3). A preocupação se concentrou na ameaça de um novo desastre nuclear diante de um incêndio que durou quatro horas em um prédio de treinamento do lado de fora do complexo do reator principal.

Nesta sexta-feira (4), a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), informou que os reatores da usina não sofreram danos e que não houve vazamento de material radioativo após o ataque.

A informação acalmou os ânimos de um mundo que ainda recorda dos danos permanentes causados pelo acidente de Chernobyl, a mais grave catástrofe nuclear da história, ocorrido em abril de 1986.

Na edição desta sexta-feira do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes explicou como a radiação pode ser utilizada na medicina e como a exposição a altos níveis de radioatividade pode prejudicar o organismo humano.

“A radiação consegue interferir no material genético da célula. Se eu tenho uma exposição muito grande à radiação, muito mais do que o organismo consegue tolerar, vou ter um impacto na saúde nitidamente”, afirma Gomes.

As alterações do material genético humano pelos efeitos da radiação podem levar ao desenvolvimento de doenças graves como o câncer, além de impactos para as células reprodutivas que refletem nas gerações futuras. Para as gestantes, os riscos são ainda maiores como o aborto e prejuízos no desenvolvimento do bebê, com alterações que podem levar a malformações.

Entre os impactos imediatos estão queda de cabelos, dificuldades no funcionamento do aparelho digestivo e na capacidade de respiração. “A médio e longo prazos a gente pode ter alterações mais sensíveis, como o advento de tipos de câncer, como o de pulmão e em células sanguíneas e assim sucessivamente”, explica.

Caso no Brasil

Em setembro de 1987, o manuseio indevido de um aparelho de radioterapia abandonado em Goiânia, onde funcionava o Instituto Goiano de Radioterapia, provocou um acidente que envolveu centenas de pessoas.

O caso, que ficou conhecido como acidente com Césio-137, espalhou no meio ambiente vários fragmentos da substância, na forma de um pó azul brilhante. Por conter chumbo, a fonte foi vendida para um depósito de ferro-velho e repassada a outros dois depósitos. Fragmentos do material também foram distribuídos a parentes e amigos, provocando a contaminação de diversos locais.

As pessoas que tiveram contato com o material radioativo direto na pele, por inalação, ingestão, ou absorção por penetração através de lesões da pele e irradiação apresentaram náuseas, vômitos, diarreia, tonturas e lesões do tipo queimadura na pele. Algumas buscaram assistência médica em hospitais locais. O material foi então identificado como radioativo pela Divisão de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual de Saúde.

Segundo o governo de Goiás, foram monitoradas 112.800 pessoas, das quais 249 apresentaram significativa contaminação interna ou externa. Quatro pessoas morreram pelo contato com o material radioativo, devido a complicações da Síndrome Aguda da Radiação (SAR), sendo dois óbitos por hemorragia e outros dois por infecção generalizada.

Como a radiação é utilizada na medicina

Além de ser utilizada na produção de energia elétrica, como nas usinas nucleares, a radiação também é um instrumento importante para a medicina.

Uma das formas mais tradicionais do uso da ferramenta em benefício da saúde é na realização de exames de raio-x. Os exames de imagem, também chamados de radiografia, utilizam doses baixas de radiação para revelar possíveis alterações na estrutura óssea e de órgãos, assim como quadros de inflamação e infecção.

O neurocirurgião Fernando Gomes explica que os níveis da radiação utilizada na medicina são bastante inferiores aos de uma usina nuclear e contam com protocolos rígidos de segurança para os pacientes e profissionais envolvidos.

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O que a radiação faz no corpo

Doenças crônicas causadas por alterações no DNA das células se manifestam ao longo de gerações de descendentes de indivíduos expostos à radiação. (Crédito: João Ramid)

Em física, radiação é a emissão de energia por meio de ondas. Determinados elementos químicos, por possuírem núcleos instáveis (quando não há equilíbrio entre as partículas que o formam), liberam raios do tipo gama, capazes de penetrar profundamente na matéria. É o caso dos combustíveis utilizados nas usinas nucleares, como o urânio e o plutônio.

Quando exposto a esse tipo de radiação, o corpo humano é afetado, sofrendo alterações até mesmo no DNA das células. "A radiação tem a capacidade de alterar a característica físico-química das células. As mais afetadas são as células com alta taxa de proliferação, como as reprodutivas e as da medula, que são mais radiossensíveis", explica Giuseppe d´Ippólito, professor do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal Paulista (Unifesp).

Os efeitos da radiação são classificados como agudos ou crônicos. Os crônicos se manifestam ao longo de anos após uma exposição não direta mas significativa de radiação. Já os agudos são imediatos. Ocorrem naqueles indivíduos que tiveram contato com material radioativo ou que se expuseram a grande quantidade de radioatividade.
Segundo Gilson Delgado, oncologista e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), os efeitos agudos variam de queimaduras nas mucosas até alterações na produção do sangue, com rompimento das plaquetas (células que atuam na coagulação do sangue) e queda na resistência imunológica. "Esses efeitos são pouco comuns em acidentes em usinas, pois só ocorrem quando há uma exposição intensa e próxima", explica.

No entanto, em eventos como o ocorrido no Japão, a radiação pode contaminar o ambiente por meio do vazamento de componentes radioativos. O risco passa a ser a entrada de material contaminado na cadeia alimentar humana, por meio do consumo da água, de vegetais ou de carne de animais mantidos com alimentação contaminada. "Com essa exposição frequente aparecem problemas crônicos como câncer de pulmão, de pele ou de sangue (leucemia), problemas na tireóide e esterilidade", conta Delgado.
Pesquisadores apontam que as alterações no DNA das células podem se estender por gerações. Pesquisas recentes com netos de sobreviventes do ataque nuclear a Hiroshima (Japão), durante a Segunda Guerra Mundial, apontaram alta taxa de infertilidade. A explicação estaria no fato de que as células reprodutoras são muito sensíveis e especialmente afetadas pela radiação.

Incidentes nucleares são recentes na história. Por isso, ainda não é possível conhecer todos os efeitos que a radiação pode causar a longo prazo, nas próximas gerações. "Hoje, sabemos que, para quem é afetado, não existe tratamento possível. A radiação pode até sair do corpo, mas o efeito biológico não", afirma Delgado.

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Quais são os efeitos da radiação no organismo?

A radiação pode provocar basicamente dois tipos de danos ao corpo, um deles é a destruição das células com o calor, e o outro consiste numa ionização e fragmentação(divisão) das células. O calor emitido pela radiação é tão forte que pode queimar bem mais do que a exposição prolongada ao sol.

Como saber se tenho radiação no corpo?

Exposição a níveis moderados de radiação - acima de um gray (a medida padrão da dose absorvida pelo corpo) - podem resultar em náusea e vômitos, seguidos de diarreia, dores de cabeça e febre.

Que tipo de radiação faz mal ao ser humano?

A Radiação gama não é muito energética, mas é extremamente penetrante, podendo atravessar o corpo humano, é detida somente por uma parede grossa de concreto ou por algum tipo de metal. Por tais características, essa radiação é nociva à saúde humana, ela pode causar má formação nas células.

Quanto tempo dura a radiação no corpo?

As pessoas que estarão em contato com o paciente em tratamento não estarão expostas a nenhum tipo de radiação. A radiação permanece no corpo apenas durante o tempo em que o paciente fica no aparelho (de 7 a 15 minutos).