Enredo Memórias de um Sargento de Milícias

Queda da idealização romântica dos perso­nagens, mostrando-nos, inclusive, a figura de um anti-herói como protagonista do enredo.

Enfoque de época (tempo) diferenciado do ha­­bi­­tualmente apresentado pelos romances ro­mânticos. Fala-se do período da vinda da família real para o Brasil, do tempo em que D. João VI refu­giou-se no Rio de Janeiro, ou seja, do início do sé­culo 19.

Apresenta-se a vida suburbana do Rio de Janeiro, os subúrbios cariocas constituem o espaço esti­lizado, em contraste com a vida da corte, que normalmente surge em obras do Romantismo.

A linguagem é popularesca, coloquial, mais de acordo com pessoas de nível cultural inferior, pertencente a camadas sociais simples.

Contraste entre posturas moralizantes e atitudes que vão contra os preceitos morais.

Retrata o grupo dos portugueses que povoam o Rio de Janeiro da época, com seus costumes e peculiaridades.

Traz, em sua essência, traços carnavalizados, como o contraste entre as propostas de seriedade e ordem e os momentos de completa desorganização. Enquadram-se, ainda, como componentes dos referidos traços, a forte presença do humor na obra. O caricatural, o que faz rir, a ironia, misturam-se em um conjunto que retrata o ridículo de diversas situações retratadas.

Temos uma obra ainda romântica, porém com certo caráter picaresco, herança espanhola que traz à tona uma visão divertida de determinada época.

Não há o predomínio da linearidade na obra, pois acon­tecem digressões e a quebra do enredo interrompe comentários, explicações.

Várias tramas desenvolvem-se ao mesmo tempo, sendo Leonardo, o personagem central, responsável por atá-las tornando-se o elo entre elas, o que permite que a obra seja denominada também de novela.

Uso da linguagem conotativa ou figurada.

No final, a vida de Leonardo organiza-se, tudo se encaixa satisfatoriamente, mostrando-nos mais clara­­mente a presença do Romantismo no texto.

Aparecem diversas explicações sobre a obra na própria obra, o que demonstra o uso da metalin­guagem pelo autor.

O foco narrativo é em terceira pessoa, com um narrador onisciente, que interfere no texto, faz obser­vações e busca contato com o leitor (tentativa de diálogo).

Existe dinamismo e ação em todo o decorrer da história.

Ao final da obra, o que impera é a ordem sobre a desordem, fechando-se o processo de carna­valização.

Forma-se, no todo, um grande painel do Rio de Ja­nei­ro na época enfocada. A crítica social pode ser sentida no desen­volvimento da trama.

Leonardo foi o precursor de Macunaíma, o qual só surgiria no Modernismo.

Análise:

  • Leonardo ou Leonardinho - o anti-herói ou herói picaresco do romance, vadio, malandro, que adora fazer estripulias e criar problemas. Mulherengo, quase perde seu amor, por ser inconsciente. É criado pelo padrinho, já que os pais se separam e não têm paciência para lhe suportar as traquina­gens. Chega a ser preso, torna-se granadeiro e Sargento de Milícias. Casa-se e torna-se assentado.
     
  • Luisinha - moça com a qual Leonardo se casa. Em princípio é desengonçada e estranha, depois melhora. Casa-se com José Manuel, por influência da tia, arran­jando um marido que só deseja seus bens. É órfã. Fica viúva e une-se a Leonardo.
     
  • Vidinha - mulata jovem, bonita e animada, toca viola e canta modinhas. Cativa Leonardo, que vive em sua casa por algum tempo.
     
  • O Compadre - barbeiro de profissão, cria Leonardo, protege-o e acaba deixando-lhe uma herança que surrupiou do comandante de um navio.
     
  • A Comadre - defende e acompanha Leonardo em qualquer circunstância. Adora o afilhado.
     
  • D. Maria - doida por uma demanda judicial, ganha a guarda de Luisinha, quando ela perde os pais.
     
  • José Manuel - salafrário e calculista, casa-se com Luisinha por dinheiro e morre.
     
  • Major Vidigal - militar que persegue Leonardo, até conseguir integrá-lo às forças milicianas. Calcado em uma figura real.
     
  • Leonardo Pataca - pai de Leonardo, acaba casado com Chiquinha, depois que abandona o filho com o compadre.
     
  • Maria da Hortaliça - mãe do personagem, portuguesa, trai o Pataca e foge com outro para Portugal.
     
  • Chiquinha - casa-se com Leonardo Pataca. É filha da Comadre.

    Há ainda, o toma-largura, sua esposa, Maria Regalada, as viúvas...

    Análise:

  • Introdução
  • Primeira parte
  • Segunda parte
  • Análise da obra

    Leia mais:

  • Divertido, romance mostra vida da "baixa sociedade" no Rio antigo.
  • Biografia do autor
  • Teste seus conhecimentos
  • "Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida, foi lançado originalmente sob a forma de folhetim, em "A Pacotilha" - o suplemento literário do jornal "Correio Mercantil", do Rio de Janeiro, entre 27 de junho de 1852 e 31 de julho de 1853. Só nos dois anos seguintes se transformaria num livro, publicado em dois volumes.

    Esse romance merece destaque e ocupa um lugar ímpar na história da literatura brasileira, na medida em que se distancia muito dos modelos românticos que prevaleciam na época de sua publicação: a visão de mundo que ele expressa não é marcada por traços idealizados e sentimentalistas. Ao contrário, o autor se vale de um estilo objetivo e realista, semelhantes ao das crônicas históricas e de costumes.

    Isso pode ser visto desde as primeiras linhas do texto, em que o jovem Manuel Antônio, que tinha 21 anos ao escrevê-lo, faz questão de deixar claros a data ("Era no tempo do rei." - no caso, dom João 6o) e o local ("Uma das quatro esquinas que formam as Ruas do Ouvidor e da Quitanda [...]" - no centro do Rio de Janeiro) onde sua história vai se desenrolar.

    Personagens: tipos populares

    Além desse caráter realista, o romance põe em foco, com traços caricaturais, os tipos populares, a "arraia miúda", do Rio de então. A sociedade brasileira (que mal começava a se esboçar naquele momento) é vista pela perspectiva dos pobres, ao contrário do que acontece nas obras de Joaquim Manuel de Macedo ou dos romances urbanos de José de Alencar.

    Tendo como personagem principal um anti-herói, que se chama Leonardo, "Memórias de um Sargento de Milícias" relata seus esforços para driblar as adversidades de sua condição social e, ao mesmo tempo, se aproveitar ao máximo dos intervalos de sorte que tem na vida. São esses os mesmos motivos que impelem a grande maioria das personagens do romance.

    Enredo: Romance picaresco

    Nesse sentido, "Memórias de um Sargento de Milícias" se filia à tradição do romance picaresco, que se origina na Espanha, com a publicação de "Lazarillo de Tormes", de 1554. A expressão "pícaro" refere-se "àqueles que vivem de astúcias, ardis, trapaças" e, nesse sentido, deu origem a um dos sentidos da palavra "picareta", muito usada ainda hoje. O pícaro ou picareta se vale desses expedientes para garantir sua sobrevivência e tem, com toda certeza, uma visão cínica da realidade que o cerca.

    É precisamente o caso de Leonardo, enjeitado pelos pais pouco depois do nascimento, criado pelo padrinho e, depois, pela madrinha, e que logo dá mostras de seu verdadeiro caráter. O romance narra suas aventuras e desventuras na "baixa sociedade" fluminense, até que ele é preso pelo Major Vidigal - um personagem que existiu mesmo: Miguel Nunes Vidigal, chefe da Guarda Real, criada pelo rei em 1809, para policiar o Rio de Janeiro.

    Jeitinho brasileiro

    O Vidigal é o símbolo da repressão arbitrária e socialmente injusta, temida por todos aqueles que - tenham ou não problemas com a lei - são pobres e não dispõem de recursos, nem contam com a amizade de algum poderoso que eventualmente possa ampará-los num momento de necessidade.

    Enfim, o que não falta são reviravoltas à narrativa de "Memórias de um Sargento de Milícias" e, graças a intervenção da madrinha de Leonardo e de uma amiga sua - ex-amante do major Vidigal - o anti-herói acaba por ingressar na milícia e ser promovido ao cargo de sargento a que se refere o título.

    Vale insistir no valor documental e sociológico do romance e lembrar que se trata de uma narrativa divertida e bem humorada, que ainda hoje pode fazer o leitor passar alguns momentos muito agradáveis, enquanto se prepara para uma prova na escola ou mesmo para o vestibular.

    Veja também

    O cortiço

    A cidade e as serras

    Vidas secas

    Capitães da Areia

    Til

    Viagens na minha terra

    Sentimento do mundo

    Memórias póstumas de Brás Cubas

    Qual o enredo do livro Memórias de um sargento de milícias?

    O romance gira em torno da vida de Leonardo, um menino travesso e malandro que entre tantas ações se torna um sargento: O Sargento de Milícias. A história tem como espaço a cidade do Rio de Janeiro. Ainda pequeno, ele foi entregue aos cuidados dos padrinhos, um barbeiro e uma parteira.

    Que retrata o livro Memórias de um sargento de milícias?

    A obra Memórias de um Sargento de Milícias retrata a vida de Leonardo, um típico malandro carioca representado pela primeira vez na literatura. Acompanhamos sua vida com todas as suas aventuras e desventuras e como por meio da malandragem ele vai conseguindo se safar de cada problema.

    Quais são os principais assuntos abordados em Memórias de um sargento de milícias?

    O romance de Manuel Antônio de Almeida, escrito no período do romantismo, retrata a vida do Rio de Janeiro no início do século XIX e desenvolve pela primeira vez na literatura nacional a figura do malandro. A história se passa no começo do século XIX, ocasião em que a família real portuguesa se refugiou no Brasil.

    Qual contexto do livro Memórias de um sargento de milícias?

    Contexto histórico da obra A história passa-se no período em que D. João VI e sua corte estiveram no Brasil, entre 1808 e 1821. É uma obra que traz um romance de humor popular, explorando personagens característicos da sociedade do Rio de Janeiro do século XIX.