Saude mental em tempos de pandemia

Saúde Mental em tempos de Pandemia

Em tantos meses de pandemia é fato que as preocupações tomaram a maior parte do nosso tempo e pensamentos. Além do afastamento físico de familiares e amigos, foi preciso lidar com a insegurança em relação à própria saúde, medo de perder entes queridos e as inúmeras incertezas que estavam por vir. Não à toa, o nosso corpo ficou em constante estado de alerta - terreno fértil para o desenvolvimento de transtornos mentais.

Sendo assim, a premissa de que "não há saúde sem saúde mental", que há mais de 10 anos simbolizou o alerta global¹ para a necessidade de ações em relação às consequências causadas pelos transtornos mentais, ganhou ainda mais destaque nesse cenário pandêmico.

As experiências traumáticas associadas à infeção do Covid-19, morte de pessoas próximas, estresse induzido pelas mudanças na rotina, distanciamento social, home office, incertezas econômicas e mudanças nas relações afetivas são algumas das explicações que justificam o aumento dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais durante esse período, enumera a psiquiatra Alexandrina Meleiro, membro do Conselho Científico da ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos).

"Durante a pandemia, as mulheres se mostraram mais deprimidas e ansiosas do que os homens. Em relação à depressão, a incidência no sexo feminino é duas vezes maior. No entanto, quando falamos em suicídio, as mulheres tentam mais do que os homens, mas eles conseguem de fato se matar duas vezes mais do que elas", explica Alexandrina.

Uma pesquisa realizada entre maio e junho de 2020 - conduzida no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP - confirma essa tese. Durante a pandemia, as mulheres foram as mais afetadas, respondendo por 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse1.

A prevalência da depressão no mundo é estimada em 300 milhões de pessoas, o que significa que, aproximadamente, uma em cada cinco apresenta o problema em algum momento da vida2

No Brasil, estima-se que a depressão acomete quase 6% da população, o que corresponde a 11,5 milhões de pessoas, quase o total de habitantes de uma cidade do tamanho de São Paulo³.

Esses dados fazem com que o país ocupe o sexto lugar no ranking de indivíduos diagnosticados com depressão no mundo e a segunda posição entre os países das Américas, perdendo apenas para os Estados Unidos, segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde)4. Outro dado bastante relevante é em relação aos transtornos de ansiedade. Os brasileiros são as pessoas mais ansiosas do mundo, enquanto os Estados Unidos ocupam a oitava posição desse ranking, sinaliza a psiquiatra.

Portanto, gerenciar o estresse, praticar atividade física, manter uma boa alimentação e dormir bem são algumas atitudes que ajudam a manter a sanidade mental e a diminuir a incidência de problemas psicológicos.

 Referências:

1- Faculdade de Medicina da USP. Disponível em https://www.fm.usp.br/fmusp/noticias/mulheres-foram-mais-afetadas-emocionalmente-pela-pandemia. Acesso em 27/07/2021

2- Organização Pan-Americana de Saúde - tópicos Depressão. Disponível em https://www.paho.org/pt/topicos/depressao. Acesso em 27/07/2021.

3- Revista Fiocruz. Disponível em http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/no-dia-mundial-da-saude-oms-alerta-sobre-depressao/. Acesso em 29/07/2021.

4- Brazilian Journal of Psychiatry. Disponível emhttps://www.scielo.br/j/rbp/a/jjM7cWBqDBZQpwwcyyGG8tJ/?lang=en. Acesso em 05/08/2021

PP-PCU-BRA-0738 - agosto/2021 

A pandemia está lhe deixando inseguro ou deprimido? Você tem sentido ansiedade ou frustração? Geralmente esses sintomas aparecem porque nos atemos a situações que não podemos controlar. Seja a própria incerteza do momento, uma atitude de um vizinho, um plano que não pôde se concretizar, uma notícia ou uma fatalidade.

Momentos desafiadores como a pandemia sempre trazem ansiedade e, apesar de parecer estranho a princípio, a primeira coisa a fazer para controlar a ansiedade é não ficar tentando “se livrar” dela a qualquer custo. Quando você a aceita, é mais fácil de controlá-la. E essa dificuldade pode ser uma oportunidade de crescimento e reflexão.

Para lidar com um problema, o primeiro passo é tomar consciência dele. Não deixe de fazer algo, não abandone suas atividades por causa da ansiedade. Continue fazendo como se não estivesse ansioso.

Existem coisas que podemos e que não podemos controlar. Separá-las é importante, porque nos permite concentrar apenas no primeiro grupo e evitar perda de tempo.

E como o distanciamento social é uma necessidade neste momento, uma sugestão é encontrar atividades que você gosta de fazer: praticar exercícios físicos em casa, meditar, fazer arte (escultura, desenho, pintura…), cuidar das plantas, ligar para os amigos e familiares, escrever, agradecer  às pessoas que estão na sua vida, ler. É um tempo também de pensar em desacelerar e ficar menos tempo nas redes sociais e utilizar o tempo conectado para algo útil, como realizar um curso que você sempre quis, mas nunca teve muito tempo. Outra atitude importante é a empatia, ajudar os outros pode tornar a vida de todos um pouco mais leve.

Tudo isso vai passar. Cuide-se!

Vamos superar juntos essa fase com mais saúde mental.

Fontes:

Dr. Paulo Mattos, médico psiquiatra, pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino

Ronald Fischer, psicólogo e pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino