Qual o indicador mais adequado para saber a qualidade de vida de uma população PIB per capita?

O I Informe Regional sobre Desenvolvimento Humano na América Latina e Caribe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) afirma que a desigualdade social é um fator que impede o desenvolvimento da região. O documento foi divulgado no último mês de julho sugerindo um novo método para o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países, de forma a considerar também as desigualdades existentes: trata-se do IDH-D (Índice de Desenvolvimento Humano ajustado à Desigualdade). Atualmente, no cálculo do IDH, são considerados os dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita, à expectativa de vida ao nascer e à educação. Para o cálculo final do IDH, consideram-se as médias em cada um dos itens, o que, de acordo com o documento, oculta as desigualdades existentes nos países.

O Pnud explica que, para fazer o novo cálculo, os mesmos indicadores são considerados - saúde, educação e renda - mas, de acordo com a desigualdade existente, o país é penalizado na ‘nota final'. No caso do Brasil, com esse cálculo, o IDH diminuiria 19%, passando de 0,777 para 0,629. A posição do país no ranking latino-americano, entretanto, continuaria a mesma, já que todos os países da América Latina também seriam ‘afetados' pela desigualdade. Tanto no Brasil quanto no restante da América Latina, o IDH-D seria diminuído, sobretudo, pelo quesito renda (queda de 22,3% no Brasil e 18,8% na região). "Quando se calcula o IDH normalmente se utilizam médias, então, por exemplo, para calcular a renda, utiliza-se a renda média que, no Brasil, é de US$ 9.567, mas o que acontece? Acontece que este número não existe muito. Por exemplo, os homens ganham US$12 mil e as mulheres 7 mil, mas a média não representa esta desigualdade de gênero", explica Flávio Comim,  economista do Pnud no Brasil.

Ele diz que foi justamente a desigualdade de renda dos países que motivou o desenvolvimento dessa técnica do IDH-D. A metodologia utiliza microdados, no caso do Brasil, a partir da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad). "Quando fazemos isso, temos a possibilidade de corrigir os dados pela desigualdade, não somente pela renda, mas para as outras dimensões do desenvolvimento humano", afirma Flávio.

IDH e IDH - D

Para a professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) Arlinda Moreno, há problemas na utilização de índices como o IDH, sobretudo ao se comparar os resultados entre os países. Para ela, a primeira dificuldade está no próprio nome do índice, que utiliza a palavra desenvolvimento como se houvesse um consenso do que isso significa. "Este consenso não existe, não pode existir. Você vai dizer para mim que o campesino é menos desenvolvido do que eu? Se pensar em alguns indicadores - por exemplo, saneamento básico, PIB ou renda per capita, acesso à escolaridade, - você pode dizer que meu índice é maior do que o dele, mas e daí? Quem se desenvolveu mais em termos humanos, sabedoria, contemplação, trato com a terra, integração com a natureza? Todas essas coisas podem não estar em mim e podem estar muito presentes no campesino. Este desenho de desenvolvimento, na minha opinião, é algo muito comprometido", questiona Arlinda.

A pesquisadora explica que outro problema se refere também aos indicadores usados para definição do IDH - o PIB per capita, a expectativa de vida e a educação. No caso do primeiro indicador, Arlinda exemplifica que, como se trata de uma média, a realidade aparece distorcida. "Se você somar a minha fortuna, que não é nenhuma, com a do Eike Batista [empresário brasileiro], eu e ele somos duas pessoas ricas. Eu acabei de ficar rica e ele não vai nem sentir que ficou um pouco mais pobre, porque tem muito dinheiro. A questão da desigualdade está completamente sumida", avalia.

No caso do indicador expectativa de vida, a professora comenta que não é um maior número de anos de vida que define que a pessoa viverá com mais qualidade, e que, por isso, o indicador também é problemático. "Nossa expectativa de vida cresceu porque o nosso sistema de saúde melhorou imensamente ou será porque nós começamos a usar tomógrafos sucateados dos países desenvolvidos e os exames de imagem são mais apurados e nós conseguimos um diagnóstico mais antecipado? Será que este é um movimento da melhoria da saúde, ou é uma herança de tecnologia sucateada de outros países e que fazem com que, mal ou bem, acabemos vivendo mais? Então, aumento da expectativa de vida ao nascer não tem nada a ver com aumento da qualidade de vida das pessoas ao longo dos anos que elas ganham", define.

Para Arlinda, a taxa de matrículas que serve de base para o indicador de educação na composição do IDH também é bastante discutível, já que, desta maneira, não se mede a qualidade da educação oferecida, o que, novamente, pode não representar melhora efetiva na qualidade de vida. "Misturar esses parâmetros no IDH e fazer com que isso ainda se transforme em uma outra média, que é a media entre o componente da saúde, da educação e da renda, faz com que essa medida seja um pouco podre na base", afirma.

A professora acredita que a nova metodologia proposta, a do IDH-D, não resolve os problemas apontados, sobretudo, porque dessa maneira se utilizam os mesmos indicativos, ainda que ajustados. Para ela, existe também um outro agravante, que é a demarcação ainda maior da distância entre dois blocos de países. "Estruturalmente, continua da mesma maneira, com os compostos voltados para saúde, educação e renda. Estes componentes em si estão ‘tronchos' e o ajuste cria esse distanciamento maior entre um bloco dos chamados países desenvolvidos e os em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. De certa maneira, é colocar os miseráveis no lugar dos miseráveis e aumentar a desigualdade entre os chamados desenvolvidos e os menos desenvolvidos", critica.

Flávio Comim, do Pnud, discorda. Para ele, ainda que o IDH utilize médias, o índice é importante. "O IDH dá uma noção dos parâmetros da sociedade e várias das dimensões desse índice só melhoram quando se traz os mais pobres. Por exemplo, expectativa de vida no Brasil é de 72,2 anos, mas sabe-se que os mais pobres vivem menos e os mais ricos vivem mais. No entanto, só se aumenta essa taxa significativamente se se fizer com que se reduza a mortalidade materna, infantil. Mas por esta técnica do IDH - D, tem-se o IDH baseado em microdados e depois esses microdados são reajustados de acordo com o grau de desigualdade do país", argumenta.

O economista explica que a metodologia não é nova, foi utilizada pela primeira vez no México, em 2003. De acordo com ele, o Pnud ainda não sabe se o cálculo passará a ser utilizado em todas as divulgações do IDH porque depende da disponibilidade de microdados nos países. "O Brasil tem estes microdados, mas só faz sentido trabalhar o IDH se existem dados comparados em outros países. Se houver estes dados, acredito que não deveríamos ficar nas médias e corrigir sempre os parâmetros com o grau de desigualdade", diz.

Comparação entre realidades distintas

E como utilizar todos estes dados em favor de uma melhoria da qualidade de vida da população? Para Arlinda, o termo ‘melhoria da qualidade de vida' acabou sendo banalizado, e é utilizado sem reflexão. Ela considera que é importante que se tenha indicadores, mas que eles devem ser usados para pensar sobre aquela realidade de onde foram coletados e não para se comparar com dados referentes a outras situações. Ela conclui com um exemplo sobre as campanhas que o Brasil tem feito com relação à prevenção ao câncer de próstata para argumentar sobre a importância de se estar sensível a cada realidade: "É uma questão de saúde que tem que sair nas mídias mesmo, mas eu não posso pensar que o câncer da próstata é uma ação de saúde boa para qualquer lugar. É praticamente nulo o nível de câncer de próstata na África, mas eu não vou fazer campanha de prevenção de câncer de próstata na África? Não sei, talvez não se deva priorizá-la porque o câncer da próstata aparece na velhice e infelizmente o africano não envelhece. Então, não é que não tenha câncer de próstata na África, é que não tem população que consiga envelhecer para que isso apareça. O que tenho que fazer para estes homens envelhecerem o suficiente para poderem apresentar este quadro de doenças crônicas não transmissíveis?", reflete.

Educação e saúde

O informe regional do Pnud também apresenta dados sobre a situação dos países da América Latina e Caribe em relação à educação e saúde. Por exemplo, afirma que apenas 36% dos jovens de 18 a 23 anos estão estudando; já entre os que têm de 13 a 17 anos, o percentual é maior - 82% - e, entre as crianças de 6 a 12 anos, 96% estão na escola.

A professora da EPSJV/Fiocruz e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj)  Marise Ramos lembra que estes percentuais mais elevados nos anos iniciais de escolarização estão relacionados com a legislação dos países que consideram o Ensino Fundamental obrigatório. "No caso do Brasil, a legislação diz que é um dever tanto do poder público de ofertar o ensino, quanto da família de matricular os filhos. E de modo geral, é uma ideia relativamente universal que está entre os princípios pactuados internacionalmente no campo da educação", explica.

Com relação a outras faixas etárias, a professora considera que os dados mostram o conflito entre a escola e a realidade que impulsiona para o trabalho. Ela acredita ser importante considerar que existe também um distanciamento da escola em relação às culturas juvenis e as necessidades dos jovens de trabalharem. "Mas ao mesmo tempo é importante identificar a contradição porque os jovens não estão na escola, mas também não estão nas estatísticas de emprego, porque o desemprego juvenil é alto. Então, onde estão esses jovens?", questiona Marise.

Para a professora, o fato de a maior parte da juventude latino-americana não chegar à universidade está relacionado tanto com uma questão socioeconômica, já que o jovem muitas vezes precisa sustentar a família, quanto com a forma de se organizar o sistema educacional. Ela destaca que no Brasil a obrigatoriedade de o poder público prover a oferta é apenas em relação ao ensino fundamental.

O informe mostra ainda que os anos de escolaridade dos pais têm relação direta com os dos filhos. Os dados revelam que um jovem pobre tem apenas 1% de possibilidade de terminar a universidade, enquanto que para um jovem rico, este percentual sobe para 65%.  Marise acredita que a escolaridade dos filhos pode aumentar à medida que os pais conseguem assegurar a sobrevivência dessas gerações posteriores, o que desobrigaria os descendentes de ter que abandonar os estudos para se dedicar à geração de renda. "Isso tem relação direta também com o sistema previdenciário, para assegurar que os filhos não precisem sustentar os pais, e com políticas de geração e proteção ao emprego", diz.

Com relação à saúde, o documento afirma, por exemplo, que a existência de um sistema universal de assistência, como há o SUS no Brasil, não é suficiente para garantir uma qualidade de vida em termos de saúde da população, já que outras questões também são determinantes, como ter condições adequadas de moradia. Há também dados que mostram que crianças com pouca saúde se manterão adultos também poucos saudáveis e com baixa renda, o que evidencia as dificuldades de mobilidade social na região.

"A desnutrição infantil entre crianças que integram os 20% da população com menor renda é de cinco a dez vezes mais alta do que entre as crianças que integram os 20% da população com maior renda", diz o documento.

Qual indicador é mais adequado para saber a qualidade de vida da população PIB ou PIB per capita?

Quanto maior o PIB, maior é a renda de um determinado lugar, portanto, por vezes, o PIB está relacionado com a qualidade de vida.

Qual é o indicador é mais adequado para saber a qualidade de vida de uma população?

O IDH é a medida do desenvolvimento humano com base na qualidade de vida da população de um país.

Qual a relação do PIB com a qualidade de vida?

O PIB é um indicador do padrão de vida de uma sociedade, mas é somente um indicador grosseiro porque ele não considera de forma direta o lazer, a qualidade do meio ambiente, os níveis de saúde e educação, as atividades exercidas fora do mercado, as mudanças na desigualdade de renda, os aumentos em variedade, a evolução ...

Quais são os 3 indicadores da qualidade de vida?

Conclui-se que o IDH reflete a expectativa de vida de uma população, através da "longevidade" ; a educação ,pelo "conhecimento"; e o poder de compra, através do "padrão de vida".