Qual foi a importância dos indígenas dos negros e dos bandeirantes para a ocupação do interior do Brasil?

Entre os fins do século XVI e ao longo do século XVII, as instabilidades do regime colonial instalado no Brasil trouxeram interessantes transformações. A partir da chamada União Ibérica, ocorrida entre 1580 e 1640, o território colonial passou a ser controlado por autoridades espanholas e, nesse mesmo contexto, os holandeses entraram e controlaram a produção de açúcar na região nordeste.

Todas essas mudanças causaram situações muito peculiares. Entre tantas, destacamos a crise econômica que afetou os colonizadores e a população situada na região sudeste. Sem o apoio holandês, focado na região nordeste, e sem auxílio espanhol, os colonos paulistas sofreram com a retração da economia açucareira e falta de outras alternativas de sustento mais seguras.

Foi nesse exato contexto que começaram a se formar comitivas, oriundas principalmente de São Paulo, que partiam do litoral em direção ao interior do Brasil. Conhecidas como “bandeiras”, essas expedições reuniram vários colonos que buscavam riquezas que pudessem livrá-los dos já ressaltados problemas econômicos daqueles tempos.

Com o passar do tempo, essa atividade dos “bandeirantes”, nome dado aos integrantes das bandeiras, se transformou em uma atividade econômica de grande movimentação. Adentrando nossas terras, os bandeirantes buscaram diferentes tipos de riquezas que pudessem amenizar a complicada luta pela sobrevivência naqueles tempos.

Umas das riquezas buscadas pelas bandeiras foram as chamadas “drogas do sertão”. Essas tais drogas, que nada têm a ver com qualquer tipo de entorpecente ilegal, dava nome a um grande número de ervas, raízes, frutos e plantas com propriedades de caráter medicinal e culinário. Buscando tais produtos, os bandeirantes fabricavam remédios, melhoravam sua dieta alimentar e realizavam o comércio de tais mercadorias.

Adentrando as matas, os bandeirantes também se envolveram na captura e venda de índios como escravos. Sendo mais baratos que os escravos importados da África, os bandeirantes se arriscavam e lucravam com essa atividade marcada pelo conflito e pela violência. Em certas situações, eram também contratados para recapturar os escravos negros fugidos das fazendas ou participar de taques contra os quilombos situados no interior.

Além dessas duas atividades, os bandeirantes aproveitavam das investidas pela mata para procurar metais preciosos em nosso território. A probabilidade de encontrar prata, ouro ou outras pedras preciosas também era outra possibilidade ligada ao bandeirantismo. Contudo, a resposta para essa busca só aconteceu no final do século XVII.

Nessa época, temos a notícia das primeiras regiões mineradoras a serem sistematicamente exploradas durante todo o século XVIII. Por meio da ação dos bandeirantes, grandes regiões auríferas e diamantíferas foram encontradas em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Em pouco tempo, a Coroa Portuguesa interveio no controle dessas mesmas regiões ricas em metais e pedras preciosas.

A partir dali, a sociedade e a economia colonial sofreriam mudanças significativas. Várias cidades se formaram pelo interior do território, a fiscalização colonial se intensificou e a economia interna ganhou maior ritmo. Com o passar do tempo, a ação dos bandeirantes acabou se enfraquecendo e ficando fortemente associada ao desenvolvimento da mineração colonial.

Por Me. Rainer Gonçalves Sousa

Aproveite para conferir nossa videoaula sobre o assunto:

A escravidão foi uma instituição implantada no Brasil em meados da década de 1530 e que se estendeu até o final do século XIX, quando a Lei Áurea, de 1888, proibiu o trabalho escravo. Ao longo da história colonial e imperial do Brasil, os grupos escravizados foram, primeiramente, os indígenas e, depois, os africanos.

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Implantação da escravidão no Brasil

A escravidão foi implantada aqui na década de 1530, quando os portugueses iniciaram a ocupação sistemática da América Portuguesa, por meio da ocupação das Capitanias Hereditárias. A princípio, no dito Período Pré-Colonial, a relação de trabalho existente foi a do escambo, em que os indígenas trabalhavam com a exploração do pau-brasil.

Com a ocupação sistemática do território e a implantação de um sistema econômico que necessitava de grande número de trabalhadores braçais, os portugueses viram a necessidade de adquirir trabalhadores escravos. O primeiro grupo disponível para isso foram os indígenas, e a escravização indígena foi utilizada, em alta escala, em todo o continente americano, não somente na América Portuguesa.

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Escravização indígena

Os indígenas, como mencionado, foram o primeiro grupo a ser escravizado em nosso país, quando ainda colônia. Aos poucos, essa mão de obra foi sendo gradativamente substituída pela dos escravos africanos, mas essa foi uma transição lenta eque não aconteceu de maneira uniforme.

Sendo assim, em alguns locais da América Portuguesa, os trabalhadores indígenas foram substituídos pelos africanos em meados do século XVII, enquanto em outros isso aconteceu somente no século XVIII.

Os indígenas foram primeiramente escravizados justamente por ser o único grupo disponívelem grande quantidade para que os portugueses pudessem explorar. A escravização dos indígenas era mais barata, mas uma série de fatores tornavam-na mais complicada de sustentar-se.

Primeiro, havia uma questão cultural, pois os indígenas não estavam acostumados com uma rotina de trabalho que visasse a produção de excedentes, já que sua cultura de trabalho era a de subsistência. Além disso, há o fato de que o trabalho na lavoura, na visão dos grupos indígenas, era um trabalho realizados pelas mulheres.|1|

Outro complicador relacionava-se com a questão demográfica. A população de indígenas, sobretudo no litoral, reduziu-se sensivelmente na medida em que avançava a colonização portuguesa. Isso se explica pelo fator biológico, pois doenças trazidas pelos portugueses eram fulminantes para os nativos, mas também pelos conflitos com os portugueses e pela escravização, os quais resultavam na morte de indígenas aos milhares.

As fugas também eram uma questão relevante, pois os indígenas, que possuíam amplo conhecimento do território, conseguiam fugir e dificilmente eram recapturados. Por último, há a questão dos jesuítas, que criavam dificuldades para a escravização dos indígenas pelos colonizadores.

Os jesuítas criavam suas missões no interior da América Portuguesa, iniciavam o processo de catequização dos indígenas e exploravam a mão de obra desses na produção de itens agrícolas. As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling comentam que a concentração de indígenas nas missões jesuíticas mostrou-se nefasta porque favoreceu a proliferação de epidemias.|2|

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A atuação dos jesuítas contra a escravização dos indígenas criou diversos conflitos com colonos interessados nessa atividade. A pressão dos jesuítas para que a Coroa portuguesa proibisse a escravização indígena resultou em leis que determinaram a proibição da escravização indígena em 1570, 1587, 1595 e 1609. Essas leis defendiam que somente em caso de “guerra justa” é que os indígenas poderiam ser escravizados.

Apesar dessas leis, os indígenas foram escravizados em grande quantidade e locais, como Paraná, São Paulo, Maranhão, entre outros. Isso porque muitos desses lugares não tinham economias tão prósperas para adquirirem escravos africanos em grande número, e, assim, o sequestro de índiospara escravizá-los foi comum, pois era uma alternativa que supria a demanda por mão de obra desses locais.

Os bandeirantes paulistas abasteceram partes importantes do país com índios escravizados. Esses eram utilizados para trabalharem na lavoura e em atividades relacionadas à produção do açúcar, assim como existem evidências de que, até a década de 1710, existiam índios trabalhando em zonas de mineração em Minas Gerais. Em 1757, durante o período Pombalino, foi proibida definitivamente a escravização de indígenas.

Qual foi a importância dos indígenas dos negros e dos bandeirantes para a ocupação do interior do Brasil?

Os indígenas foram o primeiro grupo escravizado na América Portuguesa, e sua escravização foi definitivamente proibida em 1757.*

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Escravização africana

A substituição da mão de obra dos indígenas pela dos africanos foi uma tendência que aconteceu em toda a América. No caso da América Portuguesa, essa migração não foi uniforme e cada local teve fatores específicos que contribuíram para uma migração mais rápida ou mais lenta. A migração para a mão de obra escrava de africanos deu-se com o crescimento de um comércio que atravessou séculos: o tráfico negreiro.

O tráfico negreiro era a atividade que obtinha africanos escravizados em regiões litorâneas da África e transportava-os para a América, a fim revendê-los. A substituição do indígena pelo africano está diretamente relacionada com a necessidade contínua por trabalhadores escravizados e com a diminuição da disponibilidade dos indígenas.

Além dessa necessidade, a alta lucratividade desse comércio fez com que o tráfico negreiro tomasse proporções gigantescas na América Portuguesa e fosse responsável pelo desembarque de quase 5 milhões de africanos aqui. O preço de um escravo africano, por sua vez, era um impeditivo, pois era cerca de duas ou três vezes mais caro que um indígena.

Durante todo o século XVI, os africanos eram escravizados em menor número que os indígenas na América Portuguesa e somente se tornaram a maioria nas primeiras décadas do século XVII. Em alguns locais, isso só aconteceu no século XVIII. Lugares como a Bahia, devido a sua prosperidade, conseguiram fazer essa transição já na passagem do século XVI para o XVII.

A alimentação dos escravos era muito ruim, e por isso esses faziam o complemento dela com base em uma plantação de subsistência, embora nem todos os escravos tivessem esse direito. O trabalho era exaustivo, podendo chegar a 20 horas por dia, e as violências eram rotineiras. Esses escravos eram transportados para a América em condições degradantes e, no dia a dia, eram violentados de todas as formas. Essa rotina desumana fazia com que alguns deles optassem por cometer o suicídio.

Entre as formas de punição, os escravos poderiam ser açoitados até a morte, enforcados, queimados vivos, marcados com ferro etc. Os horrores da escravidão motivavam a resistência dos escravos, que se revoltavam contra seus senhores e feitores, fugiam, formavam quilombos, continuavam praticando sua religião e cultura às escondidas etc.

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Fim da escravidão

A escravidão de indígenas foi totalmente substituída pela de africanos no século XVIII. Essa instituição seguiu em nosso país, mesmo depois de conquistada a Independência, e só teve fim em 1888, quando foi aprovada a Lei Áurea. A abolição da escravidão foi resultado do engajamento popular, que pressionou e forçou o império a extinguir a atividade.

Saiba mais: Leis abolicionistas

|1| SCHWARTZ, Stuart B. Escravidão indígena e o início da escravidão africana. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz e GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 216.
|2| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 41-42.

*Créditos da imagem: Everett Historical e Shutterstock

Qual foi a importância dos indígenas dos negros e dos bandeirantes para ocupação do interior do Brasil Essa importância é reconhecida e valorizada porque?

As expedições bandeirantes tiveram importância crucial para o povoamento, diversificação das atividades econômicas e expansão territorial do Brasil colonial. Ao longo das trilhas percorridas e dos caminhos abertos pelos bandeirantes foram surgindo diversos povoados.

Qual foi a importância dos indígenas para a ocupação do interior do Brasil?

Uma das maiores contribuições dos índios americanos a outras populações do mundo foi a grande quantidade de plantas por eles domesticadas antes da colonização, como por exemplo os diferentes tipos de batata, cará, mandioca, o amendoim, a abóbora, o maracujá, o cacau, o tomate, o mate, a baunilha, o abacaxi, o caju, o ...

Qual foi a importância dos negros para a ocupação do interior do Brasil?

Durante a exploração colonial, a mão de obra negra foi amplamente utilizada em outras atividades como na mineração e nas demais atividades agrícolas que ganharam espaço na economia entre os séculos XVI e XIX.

Quais foram as contribuições dos bandeirantes para a história do Brasil?

A eles é creditada a descoberta de metais e pedras preciosas das regiões mineradoras, bem como o fomento da economia na colônia, uma vez que praticavam o comércio, sobretudo de gado e escravos indígenas para a agricultura e a dizimação de tribos inteiras, quer pela violência ou pelas doenças.