Qual a relação entre a quantidade de água no solo e a presença de vegetação?

SÃO PAULO – Se você bebeu água hoje, lavou roupa ou comeu uma fruta, é preciso agradecer à floresta. Pois é, chega a ser um pouco intuitivo, mas a verdade é que existe uma forte relação entre árvore e  água. São as bacias florestais e as zonas úmidas florestais que fornecem 75% da água doce acessível do mundo. Não por acaso, uma das maiores preocupações para que a água não se torne escassa nas cidades é a manutenção da vegetação nativa nas nascentes e margens dos rios.

Mas não é isso que se vê na prática com mais frequência. Em 2015, um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica mostrou que 76,5% dos mais de 5 km de rios que formam o Sistema Cantareira estavam sem cobertura vegetal.

Outro estudo publicado este ano, pela mesma ONG, comprovou que, ao longo do Rio Tietê, a qualidade da água melhora justamente nos locais com maior cobertura vegetal. Foi verificado que nos únicos 30 pontos avaliados com boa qualidade da água na bacia hidrográfica do Tietê, a cobertura vegetal chega, em média, a mais de 40% do território do município ou do entorno.

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Como se vê, a mata ciliar tem um papel fundamental na preservação da qualidade das águas pois, pode conter erosões, ajudar a manter a temperatura e a concentração de oxigênio dissolvido.

Qual a relação entre a quantidade de água no solo e a presença de vegetação?

Ciclo da água

Para entender melhor como a relação entre água e a vegetação nas margens de rios, igarapés, lagos, olhos d´água e represas funciona, é preciso voltar um pouco para as aulas da escola.

Basicamente, quando a água da chuva cai sobre uma mata, ela segue dois caminhos: volta para a atmosfera por evapotranspiração ou atinge o solo, através da folhagem ou do tronco das árvores.

De toda a água que chega ao solo, uma parte pode seguir para cursos d’água ou reservatórios de superfície, alimentando assim as nascentes. Seguindo esta lógica, quando ocorre o desmatamento de árvores perto das nascentes de rios, não há a recarga de água.

Por isso, preservar os mananciais é também parte muito importante para a segurança hídrica no setor de saneamento. “Sempre que há um longo período de estiagem, com implicações para o abastecimento das cidades, as atenções ficam concentradas nos níveis dos mananciais e reservatórios. Chove, os níveis aumentam, e a preocupação com a recuperação das matas ciliares fica esquecida”, destaca Fernando Santos Reis, que presidiu a Odebrecht Ambiental nos últimos 9 anos. “Ocorre que o problema hídrico no Brasil passa, necessariamente, por essa questão”.

Visionário até hoje

O caso mais conhecido de preservação de mananciais aconteceu ainda nos tempos do império. Em 1861, o Rio de Janeiro enfrentava uma terrível seca e os sistemas que captavam água na Serra da Carioca e no Alto da Boa Vista praticamente foram à míngua.

Foi então que Dom Pedro II resolveu reflorestar a área que hoje é o parque nacional da Tijuca, reconhecida por ter várias minas e que, na época, estava desmatada por causa de lavouras de café. Deu-se o início ao processo de desapropriação de chácaras e fazendas, com o objetivo de promover o reflorestamento e permitir a regeneração natural da vegetação.

“Desde aquela época já era sabido que simplesmente não existe sistema hídrico sem preservação das matas ciliares. O legado desta percepção está materializado no Parque Nacional da Tijuca, que é a quarta maior área verde urbana do país”.

De acordo com historiadores, além de minimizar o problema da seca e de abastecimento no Rio de Janeiro, D. Pedro II também tinha como interesse purificar o ar e eliminar decomposições associadas à proliferação de insetos causadores de doenças. Conta-se, inclusive, que ele demostrava interesse em replicar o projeto em outras áreas da cidade.

Estima-se que, em apenas 13 anos, tenham sido plantadas cem mil árvores, primeiramente por seis escravos (Eleutério, Constantino, Manuel, Mateus, Leopoldo e Maria) e mais tarde com a mão de obra de 22 trabalhadores assalariados. Para o replantio foram usadas mudas de plantas trazidas do Jardim Botânico e de Guaratiba.

Mais de um século e meio depois, a Floresta da Tijuca segue sendo referência nacional e internacional quando o assunto é floresta urbana e preservação de nascentes.

As florestas têm um papel valioso na regulação do ciclo hidrológico, influenciando na disponibilidade e purificação da água, no regime de precipitação, na contenção de enchentes, na luta contra a desertificação, na proteção do solo, lagos e cursos hídricos. A cobertura vegetal regula  fluxo de água em uma bacia hidrográfica, uma vez que aumenta o armazenamento, reduz a erosão e sedimentação dos cursos d’água, diminui o risco de inundações e melhora a qualidade da água.

A principal forma de abastecimento das bacias hidrográficas é por meio da precipitação. Parte da chuva que incide em uma área florestada na bacia fica retida nas folhas das árvores, retornando para a atmosfera por meio da evapotranspiração; e outra parte alcança o solo e vai infiltrando lentamente até atingir o lençol freático e depois os rios e mares. Esse ciclo fechado depende de várias variáveis como o clima e a integridade e vitalidade das florestas, uma vez que há uma relação direta entre a presença de cobertura vegetal e a quantidade e qualidade da água. Isso porque a falta de vegetação para interceptar, armazenar e absorver a água proveniente da chuva provoca um aumento no escoamento superficial e no assoreamento de cursos d’água, diminuindo o tempo de permanência da água na bacia hidrográfica, ocasionando eventos de enchente e seca. Além disso, a influência das florestas sobre a qualidade da água é inquestionável, uma vez que as folhas secas, o húmus e o solo constituem excelente peneira para filtrar a água procedente da precipitação, somado ao fato de que as florestas abrigam notável vida microbiana e fabricam fértil húmus, fundamento de rica biodiversidade que armazena e recicla imensas quantidades de água. O solo coberto, ainda, retém nutrientes, dando tempo para que as plantas os absorvam, e captam contaminantes químicos que no solo são degradados e inativados.

Os solos profundos associados com um sistema radicular extenso das árvores aumentam a capacidade de armazenar água, principalmente, em caso de tempestades prolongadas ou muito intensas capazes de saturar o solo. Ainda, solos sombreados conservam mais umidade, porque o dossel arbóreo diminui a exposição aos raios solares e ao vento, reduzindo a evaporação da água do solo. Dessa forma, a água armazenada é liberada para a atmosfera, controlada e gradualmente, por meio da evapotranspiração das plantas, reduzindo a perda de água do sistema. Na atmosfera o vapor d’água irá formar nuvens que darão lugar a novas chuvas.

Os aquíferos são recarregados, naturalmente, por água pluvial que se infiltra no perfil do solo e nas gretas entre as rochas. No ciclo hidrológico normal, a água penetra em zonas de recarga atravessando muito lentamente o lençol freático para aflorar em zonas de descargas, formando nascentes ou fontes que devolvem água para a superfície. O ritmo de renovação da água subterrânea é muito lento, variando entre 1 e 100mm ao ano. Se extrair mais água do que o sistema pode recarregar, o nível freático baixará. Se essa situação persistir, com o passar do tempo o aquífero será esvaziado e seu uso não poderá se manter. A gestão racional desse recurso implica que não seja extraído uma taxa superior do que pode ser recarregado.

Desse modo, é correto afirmar que a cobertura florestal desempenha eficazmente a função de interceptação, armazenamento e redução do escoamento superficial. Tal efeito varia de acordo com as espécies florestais, estações do ano, tipos de solo, inclinação do terreno, extensão, quantidade de precipitação, entre outros fatores.

Qual a relação entre a quantidade de água no solo e a presença da vegetação?

A presença da vegetação contribui com dois processos, diminuindo: O impacto das gotas da chuva diretamente no solo, dificultando a formação de corredeiras que roubam os nutrientes do solo. A velocidade com a qual a água chega ao solo pelo fenômeno de chuva interna (leia o artigo sobre o ciclo da água local e global).

Qual a importância da vegetação para o ciclo da água e para os solos?

A vegetação tem um papel importante neste ciclo, pois uma parte da água que cai é absorvida pelas raízes e acaba voltando à atmosfera pela transpiração ou pela simples e direta evaporação (evapotranspiração).

Como é o solo com vegetação?

Além de contribuir na composição climática, a vegetação contribui diretamente no solo, fertilizando-o com matéria orgânica derivada de folhas, galhos, frutos que caem e passam pelo processo de decomposição transformando-se em nutrientes, sem contar que as raízes das plantas impedem o desenvolvimento de erosões.

O que acontece com o solo com a retirada da vegetação?

Deixar o solo descoberto, principalmente quando não se manuseia com os devidos cuidados, favorece o processo de erosão, que é intensificado por chuva ou vento. Com o desgaste, os resíduos são levados para as fontes de água e vão sedimentando, o que faz diminuir a capacidade e a vasão dos rios.