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A aquisição da linguagem é uma etapa de
extrema importância no desenvolvimento infantil. Isso por que as crianças, por volta dos 21 meses, já pronunciam uma média de 100 palavras. O trabalho da linguagem é, sem dúvidas, um importante componente
do processo educativo e não pode ser deixado de lado em nenhuma das etapas do aprendizado infantil. Quando ficar atento?É essencial uma atenção especial quando crianças por volta dos 24 meses ainda possuem um vocabulários expressivo bem limitado, com 40 a 50 palavras, além de não executar combinações entre elas. Você também pode se interessar...O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM PREF�CIO O trabalho do professor Jos� Pereira da Silva, intitulado "O desenvolvimento da linguagem", constitui uma excelente obra de introdu��o aos estudos desse importante t�pico da Psicoling��stica, coligindo uma s�rie de informa��es essenciais sobre o assunto expostas pelos autores mais conceituados, tais como Noam Chomsky, Jean Piaget, Charles Osggod, A. R. Luria, Judith Greene e Andr� Ombredane. O professor Jos� Pereira da Silva faz um apanhado dos principais trabalhos sobre as rela��es entre o pensamento e a linguagem, sobre os usos e as fun��es da linguagem e sobre as no��es de compet�ncia e desempenho, para depois desenvolver, ampla e profundamente, os t�picos de aquisi��o da linguagem e aprendizagem de l�nguas estrangeiras. O que s�o nativismo e empirismo? Quando ocorre a diferencia��o dos conceitos nas crian�as? O que � a fala egoc�ntrica e quais as suas fun��es? Como se d� a fase do balbucio? A linguagem � aprendida atrav�s da rela��o est�mulo-resposta? O que � a ecolalia? Quando ocorre a fun��o denominativa? Existe linguagem sem pensamento ou pensamento sem linguagem? O que s�o mandos e tatos? Qual a idade certa para come�armos a ensinar uma l�ngua estrangeira a uma crian�a? Todas essas quest�es s�o respondidas de forma did�tica e clara pelo presente trabalho, imprescind�vel numa �rea, a Psicoling��stica, t�o abandonada pelos editores brasileiros, for�ando os estudantes e professores de Letras e Psicologia a valer-se, quase sempre, de fotoc�pias e de livros esgotados para seus estudos. Afr�nio da Silva Garcia �NDICE 1 – INTRODU��O 2 - PSICOLING��STICA 3 - O PENSAMENTO E A LINGUAGEM
4 - USOS E FUN��ES DA LINGUAGEM 5 - A COMPET�NCIA E O DESEMPENHO 6 - A AQUISI��O E O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
7 - CONCLUS�O 8 - BIBLIOGRAFIA INTRODU��O Preocupado sempre com o aperfei�oamento pedag�gico, mais especificamente, com o ensino da l�ngua vern�cula, e tendo tido a oportunidade de fazer o Curso de Metodologia do Ensino Superior nas Faculdades Integradas Est�cio de S�, onde os trabalhos individuais de final de cada m�dulo devem ser pr�ticos, de acordo com a �rea espec�fica de cada aluno, resolvi dedicar-me, sempre que poss�vel, � pesquisa de metodologia do ensino da linguagem. Percebendo a dedica��o da Profa. L�a Lattari da Costa em rela��o a este aspecto pr�tico que devemos dar ao curso e � sua boa vontade e zelo em ler, corrigir e comentar pessoalmente cada trabalho que lhe � apresentado, resolvi dedicar alguns dias especialmente � pesquisa do desenvolvimento da linguagem, visto que este � um dos aspectos mais interessantes da Psicologia do Desenvolvimento, a que a citada mestra se dedicou no �ltimo trimestre de 1981, no referido curso. Minha inten��o, inicialmente, foi a de preparar-me um pouco melhor para o desempenho do magist�rio na �rea a que me dedico. Ap�s algumas leituras b�sicas para o trabalho, no entanto, percebi o quanto interessante e empolgante � o assunto, o que me levou � delibera��o de aprofund�-lo um pouco, seja documentando as conclus�es parciais com uma bibliografia especializada insistentemente citada, seja procurando abord�-lo sob aspectos e pontos de vista v�rios. Os objetivos deste trabalho s�o, como se v�, eminentemente pr�ticos, visto que se reduzem a uma tomada de posi��o frente �s dificuldades pedag�gicas do ensino-aprendizagem das l�nguas, tanto no que diz respeito � l�ngua materna, quanto a uma segunda l�ngua. PSICOLING��STICA Com o nome de Psicologia da Linguagem, a Psicologia trata do fen�meno da produ��o da linguagem humana, do seu comportamento e do seu desenvolvimento. Quando o termo psicoling��stica come�ou a ser usado pela primeira vez, no in�cio da d�cada de 1950, indicava um interesse pelos m�todos ling��sticos para descrever a produ��o dos usu�rios da linguagem; em especial, a an�lise estrutural em unidades ling��sticas tais como fonemas, morfemas e frases, as quais pareciam oferecer uma formula��o mais precisa das unidades t�o obviamente psicol�gicas quanto as letras, frases e senten�as. "Psicoling��stica" �, portanto, um neologismo que surgiu da necessidade de se denominar essa fase de revolu��o na Ling��stica e na Psicologia, principalmente depois que Chomsky publicou nos Estados Unidos um trabalho sobre gram�tica gerativa denominado Syntactic Structures. Jean-Yvon Lanchec, em seu livro Psicoling��stica e Pedagogia das L�nguas, diz que "a Psicoling��stica tem por objetivo estudar as rela��es entre a mensagem pronunciada por um sujeito A e o modo pelo qual � percebida por um sujeito B, que s� ret�m uma parte dos elementos dessa mensagem". Na realidade, afirma Langacker,
Demonstrando que a compet�ncia ling��stica de um locutor possibilita-lhe a cria��o de todas as frases da l�ngua que fala, a teoria chomskyana da gram�tica gerativa mostrou que a linguagem � um tipo de comportamento humano muito mais complexo do que at� ent�o era considerado, levando os estudiosos a um "saud�vel respeito pelas complexidades do comportamento ling��stico", visto terem todos eles fracassado ao tentar uma supersimplifica��o das regras gerativas da linguagem. Uma an�lise gerativa da linguagem humana, com certeza, levaria qualquer psic�logo a repensar as suas teorias sobre o comportamento humano em geral, a menos que j� o tivesse feito antes. Relativo a isto escreve Judith Greene: "A implica��o para a Psicologia � que qualquer modelo psicol�gico de comportamento do usu�rio da l�ngua teria de se harmonizar com essa descri��o do uso ling��stico. Em outras palavras, ao descrever o que o comportamento ling��stico envolve, a an�lise ling��stica atuaria como um teste emp�rico para avaliar a produ��o de modelos psicol�gicos." Num outro lugar, a mesma psic�loga ainda diz mais: "� importante entender que a Psicoling��stica continua sendo uma subdisciplina da Psicologia, cuja caracter�stica marcante reside no fato de os seus praticantes acreditarem no valor do exame ling��stico para se efetuar uma an�lise da linguagem." Noutras palavras, o que se pode entender disso � que a Psicoling��stica n�o � t�o somente a mesma Psicologia da Linguagem, como era considerada outrora. Comparativamente, poder�amos dizer que a Psicologia da Linguagem est� para a Psicoling��stica assim como a L�ngua Latina est� para a L�ngua Portuguesa. A Psicoling��stica, sem abandonar a sua origem, que � a Psicologia (e da qual � um segmento), utiliza-se dos m�todos revolucion�rios e seguros da Ling��stica moderna. Deste modo, "... a excitante id�ia de que as pr�prias regras ling��sticas seriam um prot�tipo do comportamento do usu�rio da linguagem estimulou um novo modo de encarar a linguagem – continua Greene – e o desenvolvimento de novas t�cnicas para test�-lo." Toda esta revolu��o dentro da Psicologia se deu a partir das id�ias gerativistas e transformacionalistas de Chomsky e seus sequazes. Segundo Judith Greene, "A pesquisa psicoling��stica baseia-se no pressuposto de que as gram�ticas (gerativas) descrevem a compet�ncia ling��stica de quem usa uma determinada l�ngua", assunto de que trataremos separadamente. Embora ainda haja discord�ncias a respeito, uma maioria respeit�vel de especialistas no assunto considera o comportamento ling��stico muito mais complexo do que os demais tipos de comportamento humano. Por isso, "... um ponto final que � de grande interesse para os psic�logos � a quest�o sobre se as leis que governam o comportamento ling��stico s�o especiais para a linguagem humana ou s�o caracter�sticas de todo comportamento, como seria mantido pelos te�ricos do est�mulo-resposta." Como se v�, o assunto n�o est� totalmente pesquisado e conhecido, mas, pelo contr�rio, muitas das id�ias que discutiremos a seguir ficar�o aguardando uma resposta definitiva dos atuais pesquisadores e estudiosos. De qualquer maneira, o assunto, ou a disciplina, � de grande import�ncia para quem est� preocupado com o problema da linguagem, sua evolu��o (aprendizagem ou aquisi��o), seu comportamento e os seus problemas patol�gicos. O PENSAMENTO E A LINGUAGEM A PERCEP��O, OS CONCEITOS E OS S�MBOLOS Como o pensamento e a linguagem est�o estreitamente unidos em seus usu�rios, � preciso que se analisem as poss�veis interfer�ncias que um deles pode ter sobre o outro, assim como o modo pelo qual eles se relacionam. Em seu livro, Metodologia da Linguagem, J. Budin ensina: "H� in�meras experi�ncias cujo objetivo � conhecer a extens�o das representa��es mentais infantis. Podem ser apresentados � crian�a objetos e figuras a fim de verificar se ela sabe dar-lhes nomes." Essas experi�ncias s�o feitas assim porque se sup�e que os conceitos, o pensamento, a percep��o e a linguagem s�o elementos que se acham estreitamente ligados entre si. O que, ali�s, n�o deixa de ser verdade. No entanto, � fato j� sabido que "os conhecimentos de um escolar s�o, em regra, maiores do que sua capacidade de exprimi-los verbalmente." Ainda na mesma p�gina, continua Budin o relato de suas experi�ncias: "A crian�a de seis ou sete anos tem escassez de representa��es mentais bem definidas, dependendo o n�mero das mesmas do lugar, do meio, etc. Predominam sempre as representa��es objetivas, sendo que as de quantidade s�o mais desenvolvidas nos meninos. As meninas, geralmente, s�o mais bem dotadas no concernente � express�o verbal." Ant�nio Gomes Penna nos d� um pequeno, mas importante roteiro do desenvolvimento perceptivo da crian�a, que nos interessou bastante. Diz ele: "No que diz respeito ao desenvolvimento perceptivo correlacionado com o desenvolvimento motor, tem sido destacado o fato de que, j� por volta dos dois meses de idade, uma crian�a revela interesse pela voz humana, demonstrando-o atrav�s de interrup��o ou mudan�a de ocupa��o. Pela altura do sexto m�s, parece claro que ela pode distinguir entre uma voz amistosa e uma reprovadora. Aos nove meses de idade tem sido observada uma certa capacidade discriminat�ria quanto �s palavras faladas pelo adulto, no sentido de que algumas chamam-lhe mais aten��o." A partir da percep��o � que a crian�a formula os seus primeiros e mais elementares conceitos, representando os objetos pelo pensamento (que, provavelmente � anterior � linguagem), por meio de suas caracter�sticas gerais. Novamente � Budin que nos apoiar� com as suas palavras: "Os conceitos infantis limitam-se aos que a crian�a faz aos objetos e ao que os objetos produzem nela. S� depois de aprender a falar inclui nos seus conceitos experi�ncias alheias, fato que s� se processa lentamente." O que � compreens�vel, dada a complexidade da linguagem. E mais:
Disso se conclui, ao menos provisoriamente, que os conceitos se "baseiam em imagens verbais e representam generaliza��es que s� cont�m elementos essenciais e constantes." Ali�s, "todo indiv�duo tem tend�ncia a reorganizar suas percep��es em um conjunto bem estruturado", escreve Lanchec. E, ao que parece, essa estrutura��o das percep��es n�o seria poss�vel em muitos casos, pelo menos nos casos mais complexos, sem a utiliza��o de algum tipo de linguagem. Por meio da linguagem, os pensamentos e os conceitos tomam uma forma mais simples, de tal modo que as percep��es de um indiv�duo possam ser transmitidas �s outras pessoas numa "boa forma", conforme pregam os gestaltistas. E "a ‘boa forma’ �, antes de tudo, uma forma simples e regular." J� que lembramos os gestaltistas, os seus defensores afirmam que
Tanto os gestaltistas, quanto os funcionalistas, os estruturalistas, gerativistas, transformacionalistas e todos os que se preocupam com a organiza��o do pensamento e sua comunica��o d�o grande import�ncia ao problema da linguagem humana e o modo por que ela � formulada na mente de quem fala e de quem ouve. Quanto � gestalt, um dos seus princ�pios fundamentais � que "uma forma � algo mais do que a soma de suas partes e, a cadeia falada /la bi al/, por exemplo, � percebida como um conjunto diferente de /l+a+b+i+a+l/. O encadeamento dos fonemas modifica foneticamente cada um dos elementos. A percep��o se faz ao n�vel da s�laba. N�o se esque�a, de resto, — adverte Penna — que a linguagem apenas prolonga e pereniza o processo perceptual, sendo justo, pois, que nela se observem fen�menos paralelos aos que podem ser registrados no dom�nio da percep��o." Dir�amos mesmo, embora n�o tenhamos autoridade para dizer nada desta natureza, que n�o s� a percep��o, mas todos ou quase todos os fen�menos da mente humana est�o diretamente relacionados com a linguagem. E � novamente o Prof. Budin que nos traz mais esse acr�scimo: "A mem�ria est� igualmente ligada � linguagem, pois o adulto s� se lembra dos fatos que ocorreram depois que aprendeu a falar." Ora, se a linguagem � uma forma simb�lica de exprimirmos os nossos pensamentos, ajudando-nos a organizar nossas percep��es e a formular conceitos a partir dessas percep��es, al�m de servir de recurso mnem�nico indispens�vel, que fen�menos mentais poder�o ocorrer que n�o estejam relacionados com a linguagem e at� mesmo dependentes dela? O PENSAMENTO E A LINGUAGEM Entre a linguagem aut�ntica (aquela que, quando se diz, diz-se pela primeira vez e com originalidade) e o pensamento n�o cabem distin��es, pois ela � o pr�prio pensamento. Embora n�o tenhamos condi��es de discutir tal afirmativa, o que apresentaremos aqui n�o ser� uma confirma��o exata, mas uma an�lise das opini�es correntes entre os especialistas no assunto. A id�ia que uma palavra exprime n�o est� fora desta palavra. Quando emitimos as palavras, encadeamo-lhes, no mesmo instante, as id�ias que elas exprimem (id�ias essas que se organizam gra�as �s palavras com que as exprimimos); e essas palavras tornam o pensamento uma coisa viva e animada, uma coisa percept�vel como todas as outras. As palavras, como sinais, encarnam em si uma significa��o e um sentido que as transformam na imagem do pensamento ou do conceito que elas exprimem. Ronald W. Langacker, em seu livro A linguagem e sua estrutura, escreve que
A menos que a linguagem seja considerada em sentido amplo, como qualquer forma de se exprimir um pensamento, ou no sentido que Merleau-Ponty deu � chamada "linguagem aut�ntica", o que Langacker escreveu n�o pode, at� o momento, ser contestado cientificamente. Eis o que diz Sapir, por interm�dio de J. Budin, a respeito das palavras: "S�o adequados envolt�rios do pensamento que abrangem milhares de experi�ncias diversas e s�o capazes, ainda, de englobar milhares de outras." E acrescenta o mestre: "Pensamos, pois, por meio de s�mbolos, s�mbolos que constituem conceitos, utilizando aqueles que s�o familiares e adequados a cada situa��o. Os mais empregados s�o as palavras, instrumentos preciosos na intercomunica��o. Pensamos, em geral, por meio de palavras, o que n�o impede o uso de s�mbolos matem�ticos, nota��es musicais, cores, linhas, etc." Como a percep��o da crian�a � inferior nos seus primeiros anos, dificilmente ela conseguiria distinguir o que pensa do que percebe e do que faz, visto que os seus conceitos est�o ligados ao que ela "faz aos objetos e ao que os objetos produzem nela". Assim, a crian�a, durante muito tempo, fala sempre em voz alta, acompanhando as palavras de a��es apropriadas. "Na evolu��o normal do pensamento h� uma gradual transi��o da linguagem clara para a murmurada e, finalmente, desta para a impl�cita. A san��o social age no sentido de internar o pensamento e os que n�o o fazem ou de fato s�o loucos ou s�o considerados como tais. Os movimentos musculares que a pessoa executa, quando pensa, demonstram de forma clara as rela��es entre o pensamento e a fala." E n�o � s�. Os r�tulos verbais — segundo Langacker — "s�o especialmente importantes no campo das id�ias abstratas. Justi�a, democracia, liberdade, comunismo e educa��o s�o termos familiares e, no entanto, seria bastante dif�cil fixar seus significados com precis�o. Justi�a n�o evoca uma imagem concreta como no caso de mesa. Podemos, geralmente, concordar sobre se uma coisa � ou n�o uma mesa, mas que certeza podemos ter no que toca � justi�a?" E conclui, a seguir:
O fundamento b�sico do pensamento � a analogia. Por isso "colheremos, para sabore�-lo, um fruto da mesma forma e da mesma cor que aquele de que conhecemos o agrad�vel sabor." As leis que regem o pensamento individual e que produzem a atitude anal�gica s�o respons�veis pelo desenvolvimento do simbolismo pelo qual se exterioriza a linguagem. Assim como "o ru�do da colher na tigela fica sendo para a crian�a o s�mbolo de sua refei��o, o latido do c�o � o s�mbolo do animal que late e, por extens�o anal�gica, o s�mbolo de v�rios animais, de sorte que, pronunciando o au-au significativo, a crian�a exprimir�, sob a forma de rea��o simb�lica, todo um conjunto de experi�ncias poss�veis." Na maior parte das civiliza��es, inclusive a nossa, tem-se dado um valor extraordin�rio � verbaliza��o como forma de simboliza��o dos fen�menos que se processam na mente. Isso vem acontecendo a tal ponto que "acarretou, praticamente, uma verdadeira identifica��o do pensamento com a linguagem." E, como � um fato desta nossa civiliza��o, "a educa��o coletiva tende a for�ar o pensamento a se sujeitar constantemente aos quadros das constru��es gramaticais." Considerando a estrutura do pensamento e a estrutura da linguagem, especialmente ap�s o surgimento do conceito de estrutura profunda da linguagem, o reflexo de uma sobre a outra parece tornar-se mais evidente. Woodworth, em Psychologie exp�rimentale, analisando os diagramas de Euler, afirma que "a ambig�idade da linguagem corrente, comparada com a clareza que os diagramas projetam, fornece um argumento s�rio contra a teoria segundo a qual o pensamento �, essencialmente, um discurso silencioso. Na realidade, devemos evitar o discurso para podermos alcan�ar o pensamento claro." Na verdade,
� p�gina 85 de seu livro citado, Judith Greene escreve que
Embora as rela��es entre linguagem e pensamento sejam profundas, h� muito j� se sabe que elas n�o s�o de causa e efeito, como j� se sup�s. Na verdade, diz Wallon, tratando da evolu��o psicol�gica da crian�a, "... na verdade ela (a linguagem) n�o � a causa do pensamento, mas o instrumento e o suporte indispens�veis ao seu progresso. Se h�, por vezes, atraso de um sobre o outro, a sua a��o rec�proca restabelece r�pido o equil�brio." Um exemplo dessa a��o da linguagem sobre o pensamento est� no fato de que as categorias gramaticais e demais diferen�as entre as diversas l�nguas humanas facilitam o desenvolvimento de certas formas de pensamento para as quais a l�ngua do usu�rio tenha uma forma lexical ou gramatical para exprimir. Leiamos, a respeito, a li��o de Langacker:
Numa outra parte ele nos apresenta argumentos que realmente esclarecem que a exist�ncia do pensamento sem a linguagem � �bvia. Um deles
Como j� mostramos anteriormente, ao apresentar o problema, por exemplo, de conceitos como "democracia", "justi�a", etc., "os estudiosos est�o geralmente de acordo que as palavras facilitam em muito certos tipos de pensamento, servindo como refer�ncias ou s�mbolos, que se manipulam sem dificuldade." Ali�s, j� por volta dos quatro anos de idade a crian�a tem elementos a partir dos quais j� se pode afirmar, segundo Piaget, que "o pensamento antecede a linguagem, embora esta possa desempenhar um papel importante no sentido de concorrer para a aquisi��o de formas de equil�brio mais avan�adas e para a produ��o de esquemas representativos mais flex�veis ou m�veis." Portanto, "nosso pensamento � condicionado pela categoriza��o ling��stica da experi�ncia, de modo que � mais f�cil operar com conceitos codificados por uma s� palavra do que com conceitos para os quais n�o h� uma palavra especial dispon�vel. A maneira, portanto, pela qual nossa l�ngua divide a realidade conceptual tem pelo menos um efeito m�nimo sobre o pensamento. Mas n�o h� absolutamente evid�ncia que sugira ser essa influ�ncia de algum modo tir�nica ou poderosa." Por exemplo,
Diga-se a prop�sito que Piaget j� pensava de modo semelhante, bastante tempo antes de Chomsky se lan�ar como luminar da teoria gerativista-transformacional, quando escreveu que "a linguagem estende indefinidamente o poder do pensamento e lhe confere uma mobilidade que ele n�o poderia atingir por si mesmo, mas ela n�o � a sua fonte." E acrescenta: "Entre a linguagem e o pensamento existe, assim, um c�rculo gen�tico tal que um dos dois termos se ap�ia, necessariamente, sobre o outro numa forma��o solid�ria e uma perp�tua a��o rec�proca. Mas ambos dependem, no final de contas, da pr�pria intelig�ncia, que � anterior � linguagem e independente dela." Enfim, "o pensamento deve ser verbal para poder comunicar-se." A linguagem, portanto, poder� ser estudada sob v�rios aspectos, devendo-se "distinguir nitidamente o �mbito da Ling��stica, que estuda a atividade pela qual se comunica um conte�do de consci�ncia de um indiv�duo a outro, e a Psicologia, que, como a L�gica, se ocupa em examinar o pr�prio conte�do da consci�ncia humana." Deste modo, pensamento e linguagem, embora n�o sendo uma mesma coisa, t�m muito em comum. A Psicoling��stica tenta definir tais rela��es nos ouvintes e falantes, analisando-as meticulosamente. USOS E FUN��ES DA LINGUAGEM A linguagem tem uma grande import�ncia na organiza��o da conduta da crian�a e no seu desenvolvimento. Primeiro a sua influ�ncia � feita de fora para dentro; depois, passa a se projetar de dentro para fora. No in�cio, o controle da conduta � feito pelos pais, atrav�s da linguagem; mais tarde, pela pr�pria crian�a. "A conduta da crian�a, inicialmente controlada pelos adultos sob a forma de incita��es e recomenda��es verbais, progressivamente passa a ser controlada por ela pr�pria, atrav�s da linguagem interiorizada".
Citando Luria, Penna acrescenta que "A fun��o reguladora da palavra n�o se mant�m sen�o na medida em que ela n�o entre em conflito com as particularidades da situa��o exterior." Isto significa que a resposta n�o exija uma escolha entre um n�mero muito grande de possibilidades e/ou obst�culos. Andr� Ombredane, atrav�s da Sra. Of�lia Boisson Cardoso, d�-nos o seguinte depoimento:
No caso de uma insanidade mental, as formas que primeiramente s�o atingidas s�o exatamente as menos organizadas, mais complexas e menos autom�ticas. S� em casos extremos seriam afetadas as fun��es e usos mais simples. Assim, "na medida em que se instalam condi��es psicopatol�gicas decorrentes de les�es cerebrais no falante, registram-se dissolu��es que logo atingem as duas formas superiores de utiliza��o dos signos verbais, isto �, as formas representativa e dial�tica, persistindo as formas beneficiadas por maior organiza��o e maior automatismo, isto �, as formas afetivas, l�dicas e pr�ticas." Como veremos no lugar pr�prio, "nas condi��es normais de linguagem, cada um de seus usos corresponde a uma estrutura particular da frase, e que nos usos inferiores essa estrutura comporta, normalmente, modifica��es profundas que se comparam estreitamente aos agramatismos dos af�sicos." a) "Uso afetivo — conforme Ombredane — � o mais primitivo e o mais consolidado dos usos da linguagem. Tem origem na express�o espont�nea das emo��es e tamb�m nos gestos pelos quais se preparam e esbo�am as a��es." Sobre a origem deste uso, escreve Ant�nio Gomes Penna que,
Ombredane conclui que
Tamb�m Osgood � da mesma opini�o que Ombredane, embora se reserve um pouco, sendo menos categ�rico no que afirma. No seu M�todo e teoria da Psicologia Experimental, escreve que "parece prov�vel que os mesmos padr�es neurais eferentes que produzem o relaxamento da musculatura do corpo, tamb�m sirvam para provocar o relaxamento dos m�sculos que participam da vocaliza��o; de outro lado, a maior tens�o na musculatura do corpo � acompanhada por uma crescente tens�o nos m�sculos vocais." Ali�s, "no adulto, a emo��o acarreta uma degrada��o da linguagem, que a aproxima da linguagem infantil." Detalhando um pouco, no seu livro, A Afasia e a Elabora��o do Pensamento Explicito, acrescenta Ombredane que "a linguagem infantil apresenta em seu uso afetivo, entre outras, duas caracter�sticas not�veis: em primeiro lugar, a indetermina��o do signo verbal, que deixa aos efeitos vocais a fun��o expressiva; em segundo, a aplica��o do mesmo signo verbal a situa��es diferentes em virtude da analogia do tom afetivo fundamental. Tamb�m observa-se, na linguagem afetiva do adulto, o enfraquecimento das estruturas verbais, com o aparecimento de lapsos, condensa��es de palavras e jarg�o." b) Uso l�dico — Come�ando com Penna, veremos que ele �, "fundamentalmente, o uso que decorre de emiss�es sonoras vinculadas aos estados de satisfa��o ou de calma, caracterizando-se por repeti��es ritmadas. � a esse uso que se vinculam as lala��es. Em suas manifesta��es superiores, revelam-se as fun��es l�dicas atrav�s dos trocadilhos, dos chistes, etc." De certo modo, o uso l�dico da linguagem corresponde � fun��o po�tica de Jakobson, que � a fun��o dominante da linguagem liter�ria e que est� centrada sobre a pr�pria mensagem. Do mesmo modo, poder�amos dizer que a fun��o emotiva ou expressiva da linguagem corresponde ao uso afetivo, visto anteriormente, pois ela exprime a atitude do sujeito em rela��o �quilo de que fala e est� centrada sobre o sujeito emissor. O uso l�dico
c) Uso pr�tico — Segundo Ombredane, "o uso pr�tico define a linguagem que tem por fim facilitar a a��o em processo de desenvolvimento, sobretudo a que se cumpre em condi��es coletivas de colabora��o ou de rivalidade, quer se trate de crian�as brincando, de soldados numa a��o militar ou de homens impulsionando em grupo algo demasiado pesado." Noutro lugar, Andr� Ombredane afirma que o uso pr�tico, tem por efeito de facilitar a a��o.
Enfim, conclui Ombredane, que
Em rela��o �s fun��es da linguagem jakobsonianas, podemos dizer que o uso pr�tico corresponde, aproximadamente e em parte, �s fun��es referencial e conativa, visto que a fun��o referencial est� orientada para o referente, para o contexto (a coisa, a realidade extraling��stica para que aponta o significante) e a fun��o conativa, orientada para o destinat�rio ou sujeito receptor, e que tem como finalidade atuar sobre este mesmo sujeito, influenciando o seu modo de pensar, o seu comportamento, etc. d) Uso representativo — Continuamos na linha de Ombredane em seu livro, A Afasia e a Elabora��o do Pensamento Expl�cito, cujas cita��es foram todas por n�s traduzidas sem transcri��o do texto franc�s a que sempre nos referimos:
Corresponde, de um certo modo, � fun��o referencial, denotativa ou cognitiva, e, em parte, � fun��o metaling��stica, se � que se pode fazer um relacionamento entre o uso representativo e as fun��es da linguagem. e) Uso dial�tico — "O uso dial�tico da linguagem pode ser entendido como um uso formal que n�o se destina tanto � descri��o ou ao relato, quanto a fazer e a desfazer combina��es simb�licas. A �lgebra � a forma mais elaborada deste uso. Os conte�dos aos quais o sistema de signos pode ser aplicado s�o indiferentes." Como se v�, o uso dial�tico e mesmo o uso representativo, s�o adquiridos pela crian�a s� bem mais tarde ou, pelo menos, somente depois de uma certa viv�ncia a crian�a pode desenvolver tais usos da linguagem. COMPET�NCIA E DESEMPENHO Uma crian�a, ao atingir a idade de cinco a seis anos, normalmente j� adquiriu os elementos b�sicos de sua l�ngua materna, podendo criar e compreender naturalmente um n�mero quase infinito de frases que ainda n�o se tinham apresentado formalmente diante de si. Para compreendermos bem a natureza, aquisi��o e desenvolvimento da linguagem ser� necess�rio que, antes, tenhamos uma no��o da natureza da compet�ncia ling��stica de quem aprende a falar uma l�ngua. "Um dos pontos principais que os te�ricos da gram�tica gerativa estabeleceram como princ�pios � justamente a prioridade da elabora��o de um modelo de compet�ncia do sujeito que fala, sendo que o modelo de 'performance' s� pode ser estudado depois." Como a compet�ncia ling��stica se reflete no desempenho, conforme declara Judith Greene,
A tal respeito escreve Langacker que
Na p�gina seguinte ele continua:
Fazendo tamb�m uma compara��o, a Profa. Judith Greene tentou esclarecer o que seria o desempenho e a compet�ncia e o faz comparando as regras de condu��o de um autom�vel com a compet�ncia e o seu uso com o desempenho ling��stico. Segundo ela, "a aptid�o para usar as regras de condu��o de um autom�vel a fim de desenvolver uma nova combina��o de movimentos de p� e m�o quando deparamos com um outro tipo de autom�vel que nos � estranho, � compar�vel ao uso das regras gerativas para produzir senten�as novas." Essas regras gerativas a que se refere Greene s�o as regras da gram�tica gerativa da l�ngua do falante, a partir das quais ele se torna um falante competente. Ter uma compet�ncia ling��stica, portanto, � dominar as regras gramaticais dessa l�ngua, subjacentes em todos os falantes nativos de qualquer l�ngua humana. Ali�s, "� fundamental distinguir entre a estrutura de uma l�ngua e a maneira como essa estrutura � usada. No que diz respeito ao falante, podemos nos referir a uma distin��o entre sua compet�ncia ling��stica e seu desempenho ling��stico." E Judith Greene escreve que
"Uma gram�tica deve fornecer a melhor descri��o poss�vel de uso ling��stico", ou seja, "da compet�ncia de quem usa uma determinada l�ngua." Mas essa descri��o
Por isso, "n�o � poss�vel avaliar a compet�ncia de uma crian�a pequena, pois ela n�o pode formular julgamentos gramaticais. Somente a 'performance', ou seja, a produ��o oral, pode servir de base de estudo. As frases pronunciadas por crian�as s�o, �s vezes, comparadas �s que os adultos empregam no 'estilo telegr�fico'. Essa observa��o n�o leva em conta supress�es feitas pelas crian�as, quando o adulto conservaria marcas de g�nero ou concord�ncias em frases do tipo: Mam�e e papai comprou dois carro." O trabalho dos psic�logos da linguagem, psicoling�istas e ling�istas, ao dirigirem "a aten��o para o comportamento dos indiv�duos quando usam senten�as, � busca de uma rela��o um-a-um entre regras gramaticais e desempenho dos sujeitos, trouxe a lume, pelo seu pr�prio fracasso, a influ�ncia de muitos fatores inesperados." Dentro da �rea da Ling��stica, os que se preocupam com o desempenho da linguagem desenvolvem um estudo que se denomina Estil�stica. Tal estudo, no entanto, tem-se desenvolvido mais especificamente em rela��o � l�ngua liter�ria e, um pouco menos, em pesquisas dialetol�gicas. A AQUISI��O E O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Trataremos, neste cap�tulo, da aquisi��o espont�nea e natural da linguagem nativa sob o t�tulo geral acima e da aquisi��o artificial, feita, geralmente, na escola, sob o t�tulo de APRENDIZAGEM DA LINGUAGEM. Como � natural, s� nessa segunda parte � que trataremos de uma pedagogia da linguagem. Seria muito bom se todos os que militam no magist�rio prim�rio, e mais ainda, os especialistas em ensino maternal, jardim de inf�ncia e pr�-escolares em geral, tivessem uma no��o bastante l�cida deste aspecto do desenvolvimento da crian�a. Ali�s, se os poucos privilegiados que participam dessas pr�-escolas n�o tiverem a possibilidade de aproveitar das vantagens que lhes cabem, de nada adiantaria a exist�ncia de tais estabelecimentos. J. Budin, em sua Metodologia da Linguagem, escreve que "o melhor meio de acompanhar a forma��o espiritual e humana da crian�a consiste em seguir-lhe o desenvolvimento da linguagem", come�ando pela observa��o de todas as suas rea��es verbais mais elementares, j� que, "em ess�ncia, o grito da crian�a cont�m, apenas, sons pr�ximos das vogais, acrescidos de outros, semelhantes a sopros que se produzem na respira��o." At� hoje, infelizmente, ainda n�o se tem uma explica��o suficientemente clara e incontest�vel sobre a aquisi��o da linguagem, mas
Em seu livro, Psicopatologia da Linguagem (Alguns Temas), Of�lia Boisson Cardoso trata do mesmo tema, escrevendo que
N�o temos a inten��o de discutir aqui todas as teorias e respectivas refuta��es, mas apenas abordar o assunto de uma maneira que nos pare�a satisfat�ria, dada a extens�o do trabalho. Veremos que "as crian�as mostram uma habilidade surpreendente para falar com flu�ncia qualquer l�ngua constantemente usada ao seu redor. Toda crian�a normal que n�o seja isolada do uso da linguagem come�a logo a falar naturalmente uma ou mais l�nguas." Ali�s, o que � mais importante � que
Isto n�o significa que a figura dos pais n�o tenha a m�nima import�ncia para a aquisi��o da linguagem pela crian�a. Pelo contr�rio, ela ser� important�ssima. Principalmente a figura da m�e, que atuar� emocionalmente com uma grande intensidade na psique da crian�a que inicia a aquisi��o da linguagem.
Antes de A. G. Penna, Merleau-Ponty j� afirmara que "toda linguagem �, sob certo sentido, maternal. Tal como as rela��es da crian�a com sua m�e, tamb�m a aquisi��o da linguagem � um fen�meno de identifica��o. Aprender a falar � aprender o desempenho de um certo n�mero de pap�is, � dominar um certo n�mero de condutas das quais fomos inicialmente apenas espectadores." � claro que o que aqui se fala em rela��o � m�e ou aos pais � v�lido para qualquer pessoa que tenha grande influ�ncia, seja como substituta ou como auxiliar dos pais, nesta primeira fase da vida da crian�a. Assim, a bab� poder� ter uma influ�ncia "maternal" sobre a crian�a muito maior do que a m�e, quando esta passa maior parte do dia separada do filho, como � o caso da m�e oper�ria, por exemplo. Tamb�m � cabida aqui uma observa��o sobre a import�ncia das modifica��es da "constela��o familiar". Para a crian�a, s�o de import�ncia fundamental, constituindo as estrelas principais do lar, as pessoas de quem ela mais depende afetivamente. Normalmente, � claro, tais pessoas s�o os pais. No entanto, elas podem ser os av�s, a bab�, os irm�os, etc. Por exemplo, quando surge um nen�m, depois que o "ca�ula" j� est� de uma certa idade, isto acarretar� uma modifica��o muito grande em rela��o a ele. Por isso, sem d�vida, haver� um grande impacto psicol�gico-emotivo sobre tal crian�a, inclusive com perigo de algum tipo de retrocesso no seu processo de desenvolvimento. Esta capacidade de aquisi��o da linguagem � not�vel por v�rias raz�es, acrescenta Langacker. Em primeiro lugar, por sua universalidade em toda a ra�a humana. Simplesmente n�o h� casos de crian�as normais que, tendo tido a oportunidade, n�o tenham adquirido uma l�ngua nativa.
Demonstrando o car�ter essencialmente socializado da conduta verbal, in�meras e importantes discord�ncias existem contra a afirma��o de Piaget de que a resposta verbal da crian�a � egoc�ntrica. David Krech e Richard S. Crutchfield escreveram, em seu livro, Elementos de Psicologia, que,
A abund�ncia das pesquisas realizadas sobre o processo do desenvolvimento da linguagem permite que se considere
Vejamos, a seguir, a abordagem da evolu��o ou desenvolvimento da linguagem nos primeiros anos da vida da crian�a:
Segundo Jean-Yvon Lanchec,
Tratando das pesquisas que sobre o assunto se fizeram a partir de 1960, Lanchec escreve:
Ali�s, quando aparece o uso das desin�ncias, os per�odos mais longos tamb�m j� est�o aparecendo, j� que, ap�s o aparecimento de frases com duas palavras,
Cabe ainda creditar a O. Hobart Mowrer "a observa��o de que � pela capacidade de sentencia��o e n�o pela simples emiss�o de palavras isoladas que a verdadeira dimens�o verbal se instala na crian�a". De tudo o que at� aqui se viu j� se pode concluir que as formas sint�ticas n�o s�o absorvidas em pouco tempo, nem todas ao mesmo tempo, mas paulatina e gradativamente. Tamb�m se p�de observar que a crian�a n�o repete simplesmente o que ouve falar ao seu redor. Ela s� come�a a utilizar-se de uma estrutura a partir do momento que come�a a entender tal estrutura. Nenhuma crian�a reproduz indiferentemente uma palavra ou frase ouvida. O que pode acontecer, e � muito freq�ente, � que a palavra ou a frase seja entendida de uma maneira pr�pria da crian�a. Segundo Neumann, "a linguagem progride, pouco a pouco, do afetivo-volitivo para o objetivo-compreensivo", de tal maneira que o concreto precede o abstrato, o individual precede o geral e o subjetivo precede o objetivo. Voltando ao que se disse no in�cio deste cap�tulo, pode-se dar uma ampla interpreta��o � normalidade, no que diz respeito � aquisi��o da linguagem.
Neste caso, � claro, a dificuldade ser� proporcional ao tempo que a crian�a ficou isolada da linguagem. No entanto, n�o h� uma documenta��o suficiente sobre tais experi�ncias porque tais casos s�o raros, como � natural. A l�ngua que uma crian�a aprende, aprende-a a partir dos modelos que tiver em seu conv�vio, qualquer que seja a situa��o. A estrutura da linguagem humana � algo extremamente complexo. Por isso, de modo algum poder� ser explicada suficientemente com base no mecanismo de condicionamento e refor�o ou no est�mulo e rea��o, conforme ensina Langacker. O modo como se refor�am nos beb�s certos sons e se extinguem outros, geralmente � explicado pela teoria do condicionamento e refor�o. No entanto, embora n�o esteja de todo provada esta hip�tese, se isto for comprovadamente ver�dico, ainda n�o explicar� a m�nima parte da aquisi��o e do desenvolvimento da linguagem. A tal respeito, "a hip�tese que prop�e Mowrer � a de que o processo de refor�amento beneficia todos os sons emitidos pela pr�pria m�e da crian�a e que s�o por esta, eventualmente, reproduzidos. Ocorria o que ele chama de recompensa secund�ria. Em outras palavras, a emiss�o dos sons semelhantes aos produzidos pela m�e � recompensada na medida em que esses sons se associam aos pr�mios e � redu��o das tens�es produzidas por eles." Seria muito interessante saber-se como se organiza e como se fixa a linguagem no c�rebro de uma crian�a. No entanto, a sua descri��o n�o � muito simples, dependendo, concretamente, de um conhecimento b�sico de cibern�tica, de comunica��o e neurofisiologia. No entanto, "nos �ltimos dez anos, p�de ser formulada uma interpreta��o neurofisiol�gica satisfat�ria dos fen�menos do desenvolvimento da linguagem oral, gra�as aos trabalhos de Hyden, em 1962, e de Barbizet, em 1964. O c�rebro foi algumas vezes comparado a um computador que conservaria em sua mem�ria as informa��es recebidas por todas as vias nervosas." Isto acontece de tal modo que "quando uma m�e mostra a uma crian�a um objeto, pronunciando o nome desse objeto (l�pis, por exemplo), a crian�a escuta o nome enquanto toma conhecimento do objeto, olhando-o, apalpando-o, etc. Ela adquire, assim, a significa��o ligada ao nome do objeto pelo uso de seus �rg�os sensoriais e sensitivos: receptores, vias, centros de recep��o e vias de associa��o." Grande estudioso do assunto e ling�ista de renome internacional, Langacker afirma que "a tarefa da Ling��stica � chegar a uma compreens�o da linguagem;" e que "� fundamental para esse fim um conhecimento da capacidade de aquisi��o da linguagem, a qual vimos ser admir�vel por v�rias raz�es. Uma explica��o satisfat�ria da aquisi��o da linguagem (afirma ele), ainda est� longe de nosso alcance, mas com esse objetivo em vista estamos grandemente motivados para investigar a estrutura das l�nguas. Uma das raz�es que justificam os estudos ling��sticos, em outras palavras, � o fato de que eles poder�o trazer algum esclarecimento sobre a natureza de t�o not�vel aspecto do desenvolvimento psicol�gico da crian�a." Enfim, parece claro que o conhecimento do processo de aquisi��o e desenvolvimento da linguagem ser� de grande proveito para os psic�logos e pedagogos em geral e, mais especificamente, para os que se preocupam com o ensino da linguagem. Vejamos, portanto, alguma coisa a respeito do ensino e da aprendizagem de l�nguas. APRENDIZAGEM DA LINGUAGEM Como foi visto no in�cio deste cap�tulo, a diferen�a entre aquisi��o e aprendizagem da linguagem � muito sutil e, no que nos interessa, n�o vale a pena teorizar sobre o assunto. Para sermos pr�ticos, consideremos sob o t�tulo de aprendizagem o resultado de trabalho pedag�gico, enquanto que a aquisi��o � aquela que se realiza espontaneamente, sem uma preocupa��o met�dica. N�o nos caber� tamb�m a defesa de um ou outro m�todo ou de uma ou outra teoria da aprendizagem espec�fica. Nossa abordagem pretende ser a mais descomprometida poss�vel, dando apenas uma vis�o panor�mica do que sobre o assunto se discute entre os especialistas e doutos. Em seu livro, Psicologia do Comportamento, tratando da linguagem, Henri Pi�ron ensina:
� l�gico que, numa sociedade do tipo da nossa, a linguagem precisa de ser ensinada e aprendida, se a quisermos em n�veis mais abstratos e t�cnicos, principalmente porque a ascens�o social est� quase sempre ligada ao dom�nio de determinados registros da l�ngua padr�o, considerados mais importantes ou mais cultos. Por isso a escola tem uma grande import�ncia na aprendizagem da l�ngua, visto que ela � a institui��o social destinada a conter a desenfreada e desorganizada evolu��o de uma l�ngua, como acontece com todas as l�nguas faladas por muitas pessoas, como o portugu�s, o ingl�s, o espanhol, etc. � a partir da escola que se estabelece a unifica��o de uma l�ngua e o seu desenvolvimento t�cnico e art�stico. Por tudo isso e muito mais � que "uma introdu��o � natureza da linguagem � importante para qualquer pessoa que interesse por poss�veis aplica��es pr�ticas dos resultados da investiga��o ling��stica. Uma compreens�o fundamental da linguagem seria certamente valiosa para quem estuda ou ensina uma l�ngua (mesmo a l�ngua nativa do aluno ou professor)." Como j� vimos, "� durante a primeira inf�ncia que a l�ngua materna se instala, segundo processos de aprendizagem particulares, que a Psicologia ajuda a entender." Seja dito a prop�sito que
Al�m de tudo isso, "as crian�as podem ser muito inventivas no que diz respeito � linguagem. L�nguas secretas como a "l�ngua do p" s�o uma boa ilustra��o da flexibilidade e da criatividade ling��sticas. Tais l�nguas, geralmente baseadas de modo coerente na l�ngua padr�o, n�o s�o absolutamente raras. As crian�as podem tornar-se facilmente fluentes numa l�ngua desse tipo, e podem us�-la como c�digo secreto para evitar que os adultos, geralmente mais lentos para essas coisas, controlem suas conversas." Tais observa��es s�o aqui colocadas com a inten��o, n�o sei at� que ponto v�lida, j� que os que tomaram conhecimento deste trabalho certamente j� estar�o conscientes disso, mas com a inten��o de alertar os pais para a vantagem de proporcionar condi��es de aprendizagem de l�nguas a seus filhos quando eles ainda estiverem em seus primeiros anos de vida. Aproveitando a oportunidade, seria bom lembrar aos pais que h� muitas pr�-escolas por a� que nem se preocupam com t�o importante aspecto do desenvolvimento da crian�a, quando a oportunidade ent�o perdida n�o voltar� jamais, nem haver� outra id�ntica. Tratando da teoria da aprendizagem, � claro que teremos de passar em revista algumas das teorias que t�m bastante aplica��o no ensino-aprendizagem de l�nguas. Entre outras, trataremos, sem profundidade, da gestalt, do condicionamento (de Pavlov e de Skinner), do estruturalismo e do gerativismo. Segundo a gestalt, "um significado pode sugerir o seu contr�rio e ao mesmo tempo seu semelhante. � assim que quente faz pensar em frio, pesado em leve, etc. Em conformidade com igual doutrina, seria natural que todo o processo de organiza��o da gram�tica de uma l�ngua fosse realizado sobre as oposi��es, conforme nos ensinam os estruturalistas. Ainda defendem os gestaltistas que "dois estados de consci�ncia que surgiram simultaneamente permanecer�o associados, de modo que, se um deles se realizar, o outro tender� a reproduzir-se. Podemos ainda notar que a imagem mental de um objeto lembra o seu uso, que na linguagem o significante lembra o significado, etc." Considerando-se esta lei da "Gestalt", podemos compreender, por exemplo, por que um fonema sibilante tende a sonorizar-se entre vogais, por que existem os alofones posicionais e por que, naturalmente, as pessoas fazem a concord�ncia entre as palavras de uma frase e muit�ssimos outros fatos da linguagem. Por que � que os livros did�ticos apresentam os assuntos n�o apenas em ordem crescente de complexidade, mas tamb�m tentando agrup�-los de acordo com as semelhan�as que eles apresentam entre si? Muitas escolas tentam fazer, inclusive, uma inter-rela��o entre as diversas disciplinas do curso, de maneira que a semelhan�a interdisciplinar dos assuntos facilitem a aprendizagem. Tais livros e escolas assim se organizam baseados na lei gestaltista segundo a qual "pares de itens similares s�o aprendidos mais facilmente do que uma seq��ncia de pares de itens sem liga��o entre si." Em se tratando da l�ngua escrita, por exemplo, � muito importante que se leve em conta o problema da arte gr�fica e dos esquemas, ilustra��es e modos mil que existem de se colocar em destaque alguma coisa que se considera importante. "Certos tipos de arranjos, certos agrupamentos (dizem os gestaltistas), s�o mais favor�veis que outros � compreens�o global ou parcial da coisa significada." Portanto, dependendo do objetivo espec�fico do texto escrito, deve-se fazer um arranjo adequado dos itens. Ao tratar da teoria do condicionamento pavloviano, J. -Y. Lanchec diz que
Um caso muito comum nas grandes metr�poles, como � o caso do Rio de Janeiro e S�o Paulo, � o dos migrantes do interior, possuidores de sotaques muito marcantes, que, para conseguirem uma integra��o satisfat�ria em seu ambiente de trabalho, social, etc. resolvem adotar a linguagem de seus colegas e acabam aprendendo-a. Greene diz que,
Bem mais adiante continua Judith Greene:
A tese b�sica de Skinner, segundo A. G. Penna, � a que se refere � import�ncia do condicionamento operante como t�cnica de aprendizagem da linguagem, admitindo-se modos diferentes de refor�amento para as formas de mando e tato. Ali�s, de acordo com o mesmo mestre, "a fun��o do mando caracteriza-se por se apoiar em necessidades experimentadas pelo falante, que busca um tipo espec�fico de refor�o no ouvinte por meio do imperativo, que inclui ordem, solicita��o, exig�ncia e assim por diante." De outro modo, "a fun��o do tato � como uma fun��o de nomear. N�o � motivada por uma necessidade especial da pessoa que fala, pois os tatos s�o coment�rios sobre o mundo de forma enunciativa." Considerando assim, a teoria skinneriana do refor�o s� teria validade para as fun��es da linguagem centradas no ouvinte ou receptor, ou seja, a fun��o de mando, a fun��o pr�tica, a fun��o conativa, etc., com a finalidade de atuar sobre o destinat�rio, influenciando o seu modo de pensar, o seu comportamento, etc. Ou seja, apenas as fun��es que indicam uma necessidade do sujeito falante. Argumentando contra tais teorias da aprendizagem e contra todas as teorias da aprendizagem que tentam explicar a habilidade do locutor para usar a linguagem, Chomsky e seus adeptos declaram que, em princ�pio, a teoria da aprendizagem � incapaz de fornecer tal explica��o. E mais ainda: que uma explica��o da aquisi��o embasada na teoria de est�mulo-resposta (se poss�vel) seria uma explica��o francamente antiecon�mica da aprendizagem ling��stica. "Entre os progressos da Ling��stica Contempor�nea, duas correntes influenciaram profundamente o ensino das l�nguas: o estruturalismo e a gram�tica gerativa transformacional." Lan�adas as bases da renova��o metodol�gica dos estudos ling��sticos, pioneiramente, na Europa, por Ferdinand de Saussure, e desenvolvidas nos Estados Unidos ap�s a Segunda Guerra Mundial, os m�todos modernos de ensino de l�nguas passaram a utilizar os princ�pios dos estruturalistas. Atualmente, tais princ�pios s�o encontrados, por exemplo, nos m�todos audiovisuais e �udio-orais e aplicados pelos ling�istas pr�ticos na organiza��o de manuais escolares para ensino de l�ngua. Como cada l�ngua corresponde a um sistema particular, que evolui tamb�m de uma maneira sistem�tica e particular, a Ling��stica Estrutural procura analisar e definir, dentro de cada l�ngua, o sistema fonol�gico, o sistema m�rfico e o sint�tico, procurando descrever a sua estrutura e organiza��o interna e estabelecendo regras que regem a sua estrutura e organiza��o atual e a respectiva evolu��o. A partir do estruturalismo, v�rias outras teorias vieram surgindo, seja como uma forma de desenvolvimento, seja como contesta��o de seus princ�pios. Entre elas, o formalismo, o funcionalismo, o gerativismo e o transformacionalismo s�o os que mais de perto interessam ao estudo, ensino e aprendizagem de l�nguas. O gerativismo e o transformacionalismo desenvolveram-se nos Estados Unidos a partir do estruturalismo, dando import�ncia especial a aspectos que foram quase abandonados pelos ling�istas estruturalistas, tais como os problemas relativos � compet�ncia, � organiza��o da linguagem e sua aquisi��o pela crian�a, etc. "Uma import�ncia da teoria gerativa de Chomsky reside em sua �nfase central sobre o aspecto "criativo" da habilidade do usu�rio da l�ngua para produzir senten�as novas que ele nunca proferiu nem ouviu antes," escreve Judith Greene. Para analisar essa "gera��o" ou organiza��o da gram�tica de uma l�ngua, Chomsky estabeleceu o que chamou de estrutura superficial e estrutura profunda da frase: "Podemos distinguir a estrutura superficial da frase, organiza��o em categorias e em sintagmas, que � diretamente associada ao sinal f�sico, da estrutura profunda, subjacente igualmente, organizada em categorias e sintagmas, mas de car�ter mais abstrato." Segundo os gerativistas, a crian�a percebe primeiramente a frase como um todo, e s� posteriormente vai distinguindo as partes, como se estivessem fazendo uma an�lise sint�tica. Esquematicamente, podemos representar a frase: O urso branco � lindo, das seguintes maneiras. Estrutura superficial: F SN SV O URSO BRANCO � LINDO. Estrutura profunda: F SN SV O URSO F � LINDO SN SV urso � branco O URSO BRANCO � LINDO. Isto leva a concluir que
No estudo de uma segunda l�ngua, um dos m�todos mais usados atualmente � o m�todo do estudo comparativo dos dois sistemas da l�ngua ativa do aluno e o da l�ngua-meta. Sobre o estudo comparativo de dois sistemas, escreve Lanchec:
O estudo comparativo tem grandes vantagens, desde que seja aplicado com crit�rio seguro e amparado numa teoria segura das gram�ticas das l�nguas em quest�o, tanto da l�ngua materna do aluno quanto da sua l�ngua-meta. De outro lado, "a facilidade com que uma crian�a domina o sistema fon�tico e sint�tico de sua l�ngua materna levou alguns pedagogos a pensar que a aquisi��o de uma segunda l�ngua — t�o dif�cil quando o professor utiliza o m�todo tradicional gram�tica-tradu��o — poderia ser realizada com �xito atrav�s da utiliza��o de processos algo similares aos que s�o vividos de modo espont�neo na primeira inf�ncia." A partir dessa id�ia surgiram v�rios m�todos de alfabetiza��o chamados de m�todos naturais, que recebem nomes os mais variados. Veja, a tal respeito, o que escrevem as professoras Maria Helena Cozzilino de Oliveira e Concei��o Perkles Monteiro, em seu livro Metodologia da Linguagem. Como parece �bvio,
At� hoje, as teorias da aprendizagem desenvolvidas pelos psic�logos para explicar o processo da aprendizagem da linguagem t�m-se mostrado insuficientes, mas, felizmente, v�m se desenvolvendo gradativamente no sentido de encontrar uma solu��o adequada e eficiente.
Embora n�o seja desprovido de import�ncia, n�o faremos aqui um estudo sobre os testes e provas de l�ngua principalmente porque j� estamos tornando demasiadamente longo este trabalho. A tal respeito, no entanto, transcrevemos aqui a observa��o de Lanchec de que "a constru��o de um teste de l�ngua exige inicialmente um estudo comparativo das estruturas e sobretudo uma utiliza��o sistem�tica dos resultados obtidos pela an�lise dos erros, pois se trata de elaborar provas que permitam, na maioria dos casos, a avalia��o do n�vel de conhecimentos." Tamb�m o mesmo faremos a respeito da motiva��o e sua import�ncia no estudo da linguagem; transcreveremos apenas a opini�o de Lanchec, que trata demoradamente sobre ambos os assuntos (dos testes e da motiva��o) em seu livro citado. Defendendo o valor da escolha de um m�todo adequado e eficiente para o ensino de l�ngua, ela escreve: "O m�todo empregado conserva um papel importante, pois a apresenta��o de um novo tipo de ensino desperta o interesse dos alunos e � preciso desenvolver seu desejo de exprimir-se. Para tanto, o professor deve desenvolver os meios de satisfazer seu desejo de express�o. Gra�as � ruptura que estabelecem entre a l�ngua materna e a l�ngua-meta, os m�todos audiovisuais favorecem o desenvolvimento do interesse e facilita a aquisi��o das rela��es situa��o-l�ngua." Como estamos chegando ao fim, cabe uma observa��o sobre a import�ncia da aprendizagem da linguagem o mais perfeita poss�vel desde o in�cio da vida escolar da crian�a, para n�o voltar a jogar toda a responsabilidade sobre os pais. Ali�s, estes sempre ser�o os mais importantes mestres que a sociedade j� adquiriu, pois, mesmo transferindo sua responsabilidade � escola, eles � que escolhem (quando podem) a escola em que seus filhos v�o estudar. No seu livro, O Desenvolvimento Psicol�gico da Crian�a, Paul H. Mussen escreve que "o comportamento aprendido com o uso da linguagem � adquirido mais rapidamente, � altamente est�vel e generaliza-se amplamente, ao passo que as rea��es aprendidas sem participa��o verbal s�o relativamente inst�veis, dependem de constante refor�o e s�o rapidamente esquecidas. As crian�as de mais de cinco anos de idade atuam e controlam o comportamento primordialmente por meio de est�mulos verbais, isto �, por meio do que os psic�logos americanos chamam de generaliza��o mediata ou media��o verbal." Concluindo, lembremo-nos de que "em Ling��stica, particularmente, por mais promissoras que sejam as pesquisas, elas tentam dar uma nova orienta��o � did�tica das l�nguas com as gram�ticas gerativas e transformacionais, sem no entanto realizarem, no plano t�cnico, uma verdadeira renova��o. Entretanto, essas contribui��es te�ricas levam a crer que dentro de alguns anos nossas t�cnicas pedag�gicas sofrer�o profundas transforma��es." Como n�o desenvolverei o assunto, lembro duas obras importantes em portugu�s: Ling��stica e Ensino do Vern�culo, de L�cia Maria Pinheiro Lobato e outros, publicada pela Tempo Brasileiro, no Rio de Janeiro, em 1978; e Ling��stica e Ensino do Portugu�s, de �mile Genouvrier e Jean Peytard, traduzido por Rodolfo Ilari e publicado pela Livraria Almedina, em Coimbra, em 1974. CONCLUS�O As li��es que deste trabalho resultaram n�o poderiam ser tidas por suficientes para os esp�ritos sedentos de conhecimentos concretos e definitivos e de inova��es revolucion�rias em sua especialidade. Ali�s, a conclus�o mais segura a que chegamos ao final deste trabalho � que as pesquisas relativas ao desenvolvimento da linguagem humana ainda est�o longe de atingirem uma explica��o adequada e eficiente da sua organiza��o, aquisi��o e evolu��o na mente da crian�a. Chegamos tamb�m � conclus�o de que os professores de l�nguas e demais respons�veis pela aprendizagem da linguagem infantil deveriam estar sempre atualizados em rela��o � Psicoling��stica e � Pedagogia das L�nguas, visto que a escolha (ou cria��o) de um m�todo apropriado e bem dosado � uma das mais eficazes motiva��es para a aprendizagem. Os novos rumos tomados pela Ling��stica a partir de Chomsky, com a gram�tica gerativa e transformativa, sem d�vida t�m revolucionado os estudos psicol�gicos relativos � linguagem, acarretando, conseq�entemente, uma retomada de posi��o da Did�tica da Linguagem, nas teorias da aprendizagem e na Pedagogia em geral. Referente ao ensino de l�nguas estrangeiros (vivas), as reformas metodol�gicas mais importantes j� concretizadas em todo o mundo foram um resultado da aplica��o das teorias estruturalistas, come�ando com o uso did�tico sistem�tico de audiovisuais e �udio-orais, e da aplica��o da teoria gerativista-transformacional de Chomsky, da qual se desenvolveram diversos m�todos de alfabetiza��o, direta ou indiretamente. Entendemos facilmente que h� uma rela��o muito estreita entre o pensamento e a linguagem. Que h� mesmo uma interdepend�ncia relativa entre eles, de tal forma que muitos pensamentos e muitos conceitos seriam irrealiz�veis sem o aux�lio da linguagem e que ela �, quando exteriorizada, a simboliza��o do pensamento; quando interiorizada, o elemento b�sico de sua organiza��o. Do mesmo modo, n�o foi dif�cil compreender que todos os homens t�m uma compet�ncia ling��stica, mais ou menos evolu�da, no sentido de conseguir ou n�o um discurso mais ou menos abstrato e mais ou menos complexo, seja de modo ativo (produzindo-o), seja de maneira passiva (compreendendo-o). Compet�ncia esta que � sempre suficiente para organizar pessoalmente a gram�tica da l�ngua a partir da amostra a que se estiver exposto. E mais, que tem uma evolu��o extraordinariamente regular em toda a ra�a humana e s� na ra�a humana. Dada essa compet�ncia universal, a aquisi��o da linguagem � natural e espont�nea em todos os seres humanos normais, desde que sejam colocados em contato com outras pessoas que usam alguma linguagem durante um per�odo m�nimo. Enfim, � importante que lembremos que a aquisi��o de uma l�ngua nativa independe de cuidados especiais e mesmo os dispensam, pois o que � mesmo necess�rio � que a crian�a esteja exposta a uma l�ngua durante os primeiros anos de sua vida. E mais ainda, que a aquisi��o da linguagem (ou de uma segunda l�ngua) ser� mais dif�cil � medida que a crian�a vai avan�ando em idade, sendo mesmo muito dif�cil para um adulto, e quase imposs�vel, se pensarmos numa aprendizagem perfeita. A execu��o ou o uso de uma l�ngua n�o afeta em nada a sua organiza��o subjacente, ou seja, a sua estrutura profunda. Isto � tratado pela Psicologia como o desempenho ling��stico, ou seja, o modo pelo qual cada indiv�duo usa a sua compet�ncia ling��stica. O desempenho ling��stico � um problema de registro, de estilo ou de prefer�ncias individuais. BIBLIOGRAFIA
Qual a importância da linguagem e do trabalho para o ser humano?A linguagem humaniza o homem. Por meio dela, os seres humanos expressam sentimentos, constroem pensamentos, interagem com o ambiente e com outros indivíduos. Dominar o código linguístico é fundamental para a execução de tarefas rotineiras e para ter um bom aproveitamento no mundo acadêmico e profissional.
Qual a importância da linguagem para o desenvolvimento do ser humano?Através da aquisição da linguagem, podemos expressarmo-nos de diversas formas. Permitem-nos expressar pensamentos, emoções, sentimentos entre outros. Coisas que, se não detivéssemos esta capacidade de desenvolver palavras e frases, não seríamos capazes de exprimir.
Por que o desenvolvimento da linguagem e da língua é tão importante para nosso desenvolvimento enquanto sujeitos?O desenvolvimento da linguagem implica na aquisição plena do sistema lingüístico que nos possibilita a inserção no meio social, a possibilidade de assumir a nossa identidade, além do desenvolvimento dos aspectos cognitivos já discriminados acima.
Qual a importância da linguagem no desenvolvimento humano segundo Vygotsky?Vygotsky afirma que o desenvolvimento da linguagem implica o desenvolvimento do pensamento, pois pelas palavras o pensamento ganha existência (MIRANDA; SENRA, 2012). “A linguagem age decisivamente na estrutura do pensamento e é ferramenta básica para a construção de conhecimentos”.
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