Quais eram os interesses políticos e econômicos dos holandeses no nordeste brasileiro?

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A defesa geopolítica das possessões portuguesas na América se constituiu como base do desenvolvimento colonial. Para além da criação de um sistema de exploração de recursos e mão de obra de negros e índios, o fortalecimento do poderio militar para defesa da região foi fundamental. A criação das Capitanias Hereditárias (1534) pode ser tomada como exemplo elucidativo dessas estratégias. Dentre os colonizadores europeus que cobiçavam a região, os holandeses podem ser tomados como agentes particulares.

No contexto de crise religiosa que modificava o mapa geopolítico europeu, por consequência das Reformas Protestantes, os holandeses representavam um entrave ao poderio católico, particularmente por se constituir como estado protestante iminente. Desde a Guerra dos 80 Anos ou Revolta Holandesa (1568-1548) frente à Espanha, os holandeses lutaram pela independência. Isto lhes permitiu um crescimento econômico significativo por conta do comércio marítimo que se processou no Mundo Moderno a partir do Mercantilismo. Apesar dos conflitos entre protestantes e católicos, os holandeses desenvolveram intensas relações comerciais com os portugueses, especialmente no comércio do açúcar brasileiro, exportado em larga escala para a Europa. Em fins do século XVI, Portugal se viu submetida à Coroa espanhola, por uma relação denominada União Ibérica (1580-1640). Como consequência, suas relações com a Holanda se desgastaram profundamente. Para evitar prejuízos ao comércio açucareiro, os holandeses passaram a invadir as possessões lusas tanto na América quanto na África.

Em 1624, os holandeses invadiram o Brasil pela Bahia e ali se estabeleceram até 1625. Intentaram outra invasão, desta vez a Pernambuco (1630). Dali passaram a conquistar diversas capitanias em direção ao litoral norte colonial. Conquistaram, respectivamente, Paraíba (1634), Rio Grande do Norte (1634), Capitania Real do Ceará (1637) e São Luís, capital do Estado do Maranhão (1641), da qual foram expulsos em 1644. O mais conhecido comandante holandês foi Maurício de Nassau que governou o chamado Brasil Holandês entre 1637 e 1644. Seu governo, com capital em Recife, estabeleceu uma administração baseada no incentivo à produção de açúcar; busca pela liberdade religiosa; modernização; criação de um jardim botânico e zoológico. Nassau também ficou conhecido por ser um importante articulador político.

Conhecidos como “ousados lobos dos mares”, os holandeses estabeleceram importantes relações comerciais na região do delta amazônico (entre os estados do Amapá e Pará). Desde fins do século XVI, holandeses e indígenas fortaleceram relações econômicas que duraram até meados do século XVII. Através do escambo, os holandeses trocavam tabaco, algodão, pescados, quelônios, urucum, madeiras e muitos outros produtos locais por machados, tesouras, contas de vidro, bebidas, armas de fogo, roupas e tudo o mais que agradassem aos índios.

Os conflitos entre portugueses, holandeses e indígenas pela posse dos territórios coloniais durou até 1654 quando os holandeses foram definitivamente expulsos. Alguns consideram que a presença holandesa na América se caracterizou apenas por um processo de invasão das colônias portuguesas. No entanto, deve-se ter em mente que as relações estabelecidas entre holandeses e indígenas nas regiões do delta amazônico se constituiu por processos econômicos que não foram abalados nem mesmo pelos sangrentos conflitos no litoral nordestino. Deste modo, a presença holandesa nas colônias portuguesas deve ser vista de modo relacional, a depender do lugar e das relações estabelecidas.

Bibliografia:

FERNANDES, Fernando Roque. O teatro da guerra: índios principais na conquista do Maranhão (1637-1667). Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Amazonas, 2015. 167p. Disponível em: //ppgh.ufam.edu.br/attachments/article/197/Fernando_Fernandes_Dissert_2015.pdf; Acesso em: 19 set. 2017.

MEIRELES, Mário Martins. Holandeses no Maranhão: 1641 – 1644. São Luís: PPPG, Ed. Universidade Federal do Maranhão, 1991.

HULSMAN, Lodewijk & GUZMAN, Décio. Swaerooch: o comércio holandês com índios no Amapá (1600-1615). Revista Estudos Amazônicos, v. 6, n. 1, p. 178-202, 2011. Disponível em: //www.ufpa.br/pphist/estudosamazonicos/arquivos/artigos/1%20-%20VI%20-%208%20-%202011%20-%20Lodewijk_Hulsman.pdf; Acesso em: 19 set. 2017.

Texto originalmente publicado em //www.infoescola.com/historia/invasoes-holandesas-no-brasil/

  • O Brasil holandês

Nove anos após a expulsão dos franceses, o território colonial brasileiro sofreu uma invasão holandesa, em 1624. Os motivos que traziam os holandeses ao Brasil eram muito diferentes.

Para compreendê-los, é necessário fazer algumas considerações sobre o período em que Portugal (União Ibérica) esteve sob o domínio espanhol, bem como sobre as relações internacionais da Espanha.

Após ter emergido como potência europeia, a Espanha perseguiu o objetivo de unificar toda a península ibérica, incorporando Portugal ao seu território. Os portugueses resistiram enquanto puderam. Mas, no século 16, alguns acontecimentos contribuíram para a Espanha concretizar seus objetivos.

Em 1578, o rei dom Sebastião, último monarca da dinastia de Avis, morreu e não deixou herdeiros. Então, o cardeal dom Henrique, único sobrevivente masculino da linhagem de Avis, assumiu a regência. Com sua morte, em 1580, o rei da Espanha, Felipe 2º; da mesma linhagem familiar, achou-se no direito de ocupar o trono português e invadiu Portugal. O domínio espanhol sobre Portugal duraria 60 anos, até 1640.

Espanha e Holanda

Contudo, antes disso, Portugal já havia estabelecido relações comerciais com os ricos negociantes holandeses, que passaram a financiar a produção açucareira no Brasil e a controlar toda a sua comercialização no mercado europeu. Por outro lado, no mesmo período, a Espanha pretendia dominar todo o território dos Países Baixos, na qual a Holanda estava situada, pois a circulação de mercadorias naquela região contribuía significativamente para abastecer os cofres do tesouro espanhol.

Não obstante, em 1581, sete províncias do Norte dos Países Baixos, incluindo a Holanda, criaram a República das Províncias Unidas e passaram a lutar por sua autonomia em relação aos espanhóis. Ao incorporar Portugal, aproveitando-se do seu controle sobre o Brasil, a Espanha planejou impedir que os holandeses continuassem a comercializar o açúcar brasileiro. Era uma tentativa de sufocar economicamente a Holanda e impedir sua independência.

As invasões holandesas

Os holandeses reagiram rapidamente, concentrando seus esforços no controle das fontes dos produtos que negociavam. Surgiu assim, em 1602, a Companhia das Índias Orientais. Essa empresa, de porte enorme, se apossou dos domínios coloniais portugueses no Oriente. Em decorrência dos êxitos desse empreendimento, os holandeses criaram, em 1621, a Companhia das Índias Ocidentais. Esta ficou encarregada de recuperar o controle do açúcar brasileiro e monopolizar o seu comércio nos mercados europeus.

Para controlar a produção e comercialização do açúcar era necessário ocupar e se apoderar de partes do território colonial brasileiro onde ele era produzido. Desse modo, contando com uma frota composta de 26 navios e 500 canhões, os holandeses iniciaram sua primeira invasão do Brasil em 1624. Atacaram a cidade de Salvador, na época o centro administrativo da colônia. Mas, um ano após terem chegado, foram expulsos, sem grandes dificuldades.

Uma segunda tentativa de invasão se deu em 1630, dessa vez em Pernambuco. Os holandeses conseguiram conquistar as vilas de Olinda e Recife. Houve combates, mas os invasores holandeses resistiram e estabeleceram o controle de uma extensa parte do litoral brasileiro que ia do Sergipe ao Maranhão. A Companhia das Índias Ocidentais nomeou um governador para administrar o domínio recém conquistado, que ficou conhecido como o Brasil-holandês.

Maurício de Nassau

Para o cargo de governador, foi nomeado o conde João Maurício de Nassau, que chegou ao Recife em janeiro de 1637. No período em que governou o Brasil-holandês, entre 1637 a 1644, Nassau procurou estabelecer uma administração eficiente e um bom relacionamento com os senhores de engenho da região. Desse modo, foram colocados a disposição dos proprietários de engenho recursos financeiros, para serem utilizados na compra de escravos e de maquinário para o fabrico do açúcar.

Nassau também criou as Câmaras dos Escabinos, que eram órgãos de representação municipal, a fim de estimular a participação política da população nas decisões de interesse local. Durante o governo de Nassau, as vilas de Recife e Olinda passaram por um intenso processo de urbanização e melhoramentos que mudaram completamente a paisagem local.

Com o fim do domínio espanhol sob Portugal, em 1640; o novo rei português, D. João 4º, decidiu recuperar o Nordeste brasileiro retirando-o do domínio holandês. Esse período coincidiu com o descontentamento dos senhores de engenho do Nordeste brasileiro diante dos holandeses. Nassau já havia partido e, para explorar ao máximo a produção do açúcar brasileiro, a Holanda adotou inúmeras medidas impopulares, em especial o aumento dos impostos, o que contrariava os interesses dos proprietários de engenho.

Batalhas contra os holandeses

A luta contra os holandeses no Nordeste brasileiro foi iniciada pelos próprios senhores de engenho da região e durou cerca de dez anos. Sob iniciativa dos senhores, os colonos da região foram mobilizados e travaram várias batalhas contra os holandeses. As mais importantes foram a de Guararapes e Campina de Taborda.

Mas a expulsão definitiva dos holandeses teve início em junho de 1645, em Pernambuco, através da eclosão de uma insurreição popular liderada pelo paraibano André Vidal de Negreiros, pelo senhor de engenho João Fernandes Vieira, pelo índio Felipe Camarão e pelo negro Henrique Dias. A chamada Insurreição Pernambucana, chegou ao fim em 1654, tendo libertado o Nordeste brasileiro do domínio holandês.

Porém, a expulsão dos holandeses do território brasileiro teria um impacto negativo sobre a economia colonial. Durante o período em que estiveram no Nordeste, os holandeses tomaram conhecimento de todo o ciclo da produção do açúcar e conseguiram aprimorar os aspectos técnicos e organizacionais do empreendimento. Quando foram expulsos do Brasil, dirigiram-se para as Antilhas, ilhas localizadas na região da América Central.

O fim de um ciclo açucareiro

Lá montaram uma grande produção açucareira que, em pouco tempo, passou a concorrer com o açúcar do Brasil e logo se impôs no mercado europeu. Consequentemente, provocou a queda das exportações brasileiras. Já na segunda metade do século 17, os engenhos brasileiros estavam em decadência.

Era o fim do chamado ciclo da cana-de-açúcar na história econômica do Brasil. Restava a Portugal encontrar outros meios para explorar economicamente a Colônia. Um novo ciclo de exploração colonial teria início com a descoberta de riquezas minerais como o ouro, a prata e os diamantes, na região que ficaria conhecida como a das Minas Gerais.

Qual era o interesse dos holandeses em ocupar o Nordeste brasileiro?

Principais causas das invasões holandesas O Nordeste brasileiro era um grande produtor de cana-de-açúcar. O interesse holandês na região estava em obter o domínio de todo o processo de produção açucareira.

Quais eram os principais interesses dos holandeses?

Os holandeses tinham como objetivo montar uma colônia baseada na produção de açúcar, e a ocupação holandesa teve como grande nome o governador Maurício de Nassau, um alemão que esteve aqui de 1637 a 1643 e promoveu uma série de reformas e melhorias na cidade de Recife.

Quais eram os principais interesses dos holandeses em tomar posse de terras brasileiras?

Recife e Olinda foram tomados com o objetivo de estabelecer um entreposto de comercialização de açúcar. A campanha atingiu as capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os holandeses aqui se fixaram e passaram a dominar a produção açucareira (leia a sequência didática).

Qual foi a principal consequência da invasão holandesa no Nordeste?

Em conseqüência das invasões ao nordeste do Brasil, o capital neerlandês passou a dominar todas as etapas da produção de açúcar, do plantio da cana-de-açúcar ao refino e distribuição. Com o controle do mercado fornecedor de escravos africanos, passou a investir na região das Antilhas.

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