Por Show É comum imaginar os bárbaros como invasores violentos, que saqueavam e matavam para abrir caminho à força nos territórios do Império Romano. No entanto, graças a um conjunto de documentos conhecidos como leis bárbaras, os trabalhos mais recentes dos historiadores indicam que nem eram os bárbaros selvagens sanguinários, nem eram tão diferentes dos romanos. É o que nos conta Marcelo Cândido da Silva, professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que está lançando na França um livro que procura apresentar o que há de mais inovador sobre o tema. O livro, intitulado “Les lois barbaras. Dire le droit et le pouvoir en Occident après la disparition de l’Empire romain” (“As leis bárbaras: Dizer o direito e o poder no ocidente após o desaparecimento do Império Romano”, na tradução do organizador), é fruto de parceria de Cândido com os franceses Bruno Dumézil, da Universidade Paris IV – Paris-Sorbonne, e Sylvie Joye, da Universidade de Reims. Procura oferecer um panorama das pesquisas sobre as leis dos reinos que se consolidaram nos primeiros séculos da Idade Média. “Durante muito tempo se acreditou que as chamadas sociedades bárbaras fossem sociedades extremamente violentas, marcadas por crimes sem punição, por assassinatos, pilhagens etc. Ora, embora essa violência existisse, ela não era tão grande quanto se imaginava até a segunda metade do século 20”, conta o historiador da USP. O que as pesquisas mais atuais mostram é que, ao contrário da imagem que ficou no imaginário popular, bárbaros e romanos eram muito mais parecidos do que se costuma supor. Ciência USP conversou com Cândido sobre as descobertas dos historiadores que estudam as sociedades bárbaras. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:Ciência USP: Do que trata seu novo livro? Quem são esses autores? O que eles estudam? Já havia alguma obra que juntasse tantos trabalhos sobre povos diferentes?
Afinal, o que são as leis bárbaras? Vocês conseguem estimar a vigência dessas leis? Existe uma interpretação em disciplinas como o direito e a ciência política de que os povos não latinos teriam como costume uma lei oral, enquanto a tradição romana seria a da lei escrita. Vocês verificam essa distinção? Então, por que ainda chamamos esses povos de bárbaros? Se situarmos esses povos bárbaros em um mapa, o que poderíamos dizer sobre eles? Poderia dar um exemplo de algo que vocês sabem sobre as sociedades bárbaras a partir do estudo dessas leis? Por que se acreditava no contrário? É aquela coisa do trabalho do historiador dizer muito sobre o próprio historiador… Por Silvana Salles, do Núcleo de Divulgação Científica da USP
Leia outras matérias sobre história:Quais eram as diferenças entre os bárbaros e romanos?Os germânicos eram entendidos como bárbaros porque falavam idiomas diferentes e tinham organização política, social e econômica bem diferente da praticada pelos romanos. Para os romanos, todo aquele que habitasse além das fronteiras de seu império era um bárbaro.
Como era o modo de vida dos povos bárbaros?Nos relatos dos inimigos romanos – poucos grupos bárbaros sabiam escrever -, os bárbaros entraram para a história como sujos, sanguinários, primitivos e incontroláveis. Mas o fato é que eles eram relativamente civilizados, morando em pequenas aldeias, cultivando cereais e criando gado.
Como os romanos viviam os povos bárbaros?Essa visão, ligada à violência, foi estendida pelos romanos que passaram a nomear "bárbaros" os povos que não partilhavam de sua cultura, língua e costumes. Ainda assim, os romanos consideraram essas tribos como guerreiros destemidos e corajosos.
Quais são as principais características dos povos bárbaros?A concepção de povos bárbaros surgiu na Grécia Antiga, sendo usada inicialmente para referir-se a povos que falavam línguas ininteligíveis para os gregos. Com o tempo, o termo passou a ser associado com uma noção etnocêntrica que classificava o outro, o estrangeiro, como selvagem, inculto e incivilizado.
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