Por que o Barão de Coubertin se tornou uma das maiores personalidades do esporte *?

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Congruencia dos princ�pios do olimp�smo e jud�

    O Fen�meno desportivo moderno, resultado do processo de esportiviza��o da cultura corporal de movimento das classes populares inglesas (R�BIO, 2001), desenvolvido com inten��o de promover de vida ativa e saud�vel, foi apoiado pela necessidade de corpos robustos e saud�veis para combater as poss�veis investidas inimigas.

    Na inten��o de revalorizar os aspectos pedag�gicos do desporto grego e universalizar a institui��o desportiva, Pierre de Freddy, o Bar�o de Coubertin, buscou atrav�s do Movimento Ol�mpico Internacional (MOI) valorizar a competi��o leal e sadia, o culto ao corpo e � atividade f�sica, reflexo de sua concep��o humanista (R�BIO, 2001). Ele observava o desporto como fator direto para o equil�brio entre as qualidades f�sicas e intelectuais, e assim, conseq�entemente assegurar a paz universal (R�BIO, 2001, p.129).

    O MOI teve in�cio em 23 de junho de 1894, na Universidade de Sorbonne, a partir da proposta de Pierre de Freddy de reviver os Jogos Ol�mpicos da Antiguidade Grega (DE FRANCESCHI NETO, 1998, p.720). Concomitante a id�ia do MOI, foi institucionalizado o conceito de Olimp�smo, que idealizado pelo fundador do MOI durante o "International Athletic Congress" de Paris (BARA FILHO, 1998), sendo que ele foi caracterizado pelos princ�pios fundamentais 2 e 7 da Carta Ol�mpica de 1994.

    O segundo princ�pio fundamental caracteriza o Olimp�smo como:

"(...) uma filosofia de vida, que exalta e combina num conjunto equilibrado, as qualidades do corpo, esp�rito e mente. Misturando o esporte como cultura e educa��o, Olimp�smo busca criar um modo de vida baseado na alegria encontrada no esfor�o, no valor educacional do bom exemplo e respeito aos princ�pios �ticos universais fundamentais" (ABREU, N; DaCOSTA, L.P. 1998, p.703).

    E o s�timo princ�pio, dizendo respeito � universalidade aponta que:

"A atividade do Movimento Ol�mpico, simbolizada pelos 5 arcos entrela�ados, � universal e permanente. Ela cobre os cinco continentes. Atinge seu auge com o congressamento dos atletas mundiais na maior festa do esporte, os Jogos Ol�mpicos" (ABREU, N; DaCOSTA, L.P. 1998, p.703).

    No entanto, j� em 1898 foi desenvolvida uma Carta Ol�mpica tratando dos principais objetivos do Movimento Ol�mpico, nela Coubertin caracteriza como objetivos do Olimp�smo, referenciando o esporte moderno (VALENTE, 1997, p.169):

  • Promover o desenvolvimento das qualidades f�sicas e morais, enquanto princ�pios b�sicos do esporte;

  • Educar a popula��o jovem, atrav�s do esporte, buscando estimular-lhe um esp�rito de melhor entendimento e amizade, para a constru��o de um mundo melhor e mais pac�fico;

  • Espalhar os princ�pios ol�mpicos, pelo mundo, em um grande festival esportivo, os Jogos Ol�mpicos.

    Para M�LLER (1988) apud VALENTE (1997, p.169), o Olimp�smo caracterizado pelo Bar�o de Coubertin n�o estava ligado � estrutura organizacional do Movimento Ol�mpico nem a dos Jogos Ol�mpicos. Coubertin se fundamentou em dois grandes pilares no projeto do Olimp�smo, o amadorismo e o fair play. Observa-se atualmente que estes conceitos est�o desvirtuados de seu significado original no contexto esportivo, primeiro que o atleta que representa uma na��o tem v�nculos com patrocinadores, compromissos com a m�dia e etc., e segundo, o fair play, o "esp�rito esportivo", ou "jogar limpo" � o conjunto de princ�pios �ticos temporais (ou atemporais?) que norteiam a pr�tica esportiva competitiva.

    Apesar de sua forma��o human�sta e de vinculos aristocr�ticos, Bar�o de Coubertin sofreu fortes influ�ncias de Thomas Arnold, eclesi�stico brit�nico, catedr�tico do col�gio de Rugby, que combinava a disciplina intelectual com atividades atl�ticas, antes de impor uma severa disciplina aos jovens, ele lhes concedia uma ampla confian�a e autonomia, sendo o promotor do moderno sistema self-governement, atrav�s de pedagogia de responsabilidade individual e da solidariedade social. Por meio do esporte Thomas Arnold impunha disciplina, dom�nio de si mesmo e respeito ao advers�rio, constituindo a verdadeira esportividade (CARRAVETA, 1997, p.18).

    Assim como o Bar�o de Coubertin, Thomas Arnold acreditava no comprometimento psicof�sico, moral e social por meio do esporte, e, nos Jogos da V Olimp�ada 1912 - Estocolmo - proclama que o esporte deve estar a servi�o da educa��o moral e social, contribuindo na forma��o do indiv�duo, sendo ele o ve�culo de comunica��o, compreens�o e pacifica��o entre os povos (CARRAVETA, 1997, p.43).

    Contudo observando materiais acad�micos a respeito do Olimp�smo, e tendo como data base o ano de 1894 para in�cio do MOI e do Olimp�smo, passa-se agora a explicitar o ideal de Jigoro Kano, em meados de 1880, propondo que um mesmo conjunto de id�ias e ideias podem surgir numa mesma �poca em locais distintos, e tendo a mesma import�ncia deveriam ser igualmente reconhecidos.

    Nascido em 1860, em Mikage - Jap�o, Jigoro Kano foi um expoente da sociedade oriental. Com f�sico desprivilegiado para a maioria dos esportes buscou no antigo Ju Jutsu a compensa��o com intelig�ncia e for�a de vontade, estudando em v�rias escolas vivenciou diversas "correntes" de ensino do Ju Jutsu.

    Em 1882 se formou em Filosofia, Economia e Ci�ncia Pol�tica pela Universidade Imperial de T�quio, ano em que funda sua escola de pr�tica de lutas corporais, o KODOKAN (Escola para Estudar o Caminho), onde Jigoro Kano buscou trabalhar qualidades como o relacionamento, a fraternidade, a disciplina, o civismo e o respeito (VIRG�LIO, 2000), buscando disseminar novo m�todo de luta mais esportivo e embasado, mais seguro e sem segredos que impedissem divulga��o generalizada, podendo ser usufruido por todos, desde crian�as at� adultos em idade avan�ada; teve Jigoro Kano brilhante desenvolvimento acad�mico, social e pol�tico, sendo professor e vice presidente e reitor do Col�gio dos Nobres, secret�rio da Educa��o Nacional, diretor da Escola Normal Superior, presidente do Centro de Estudos das Artes Marciais, tendo hoje o t�tulo de Pai da Educa��o F�sica no Jap�o" (VIRG�LIO, 1994, p.20).

    Ao final do s�culo XVIII havia no Jap�o fortes movimentos de lutas corporais, a falta cordialidade, retid�o e amizade imperava entre as diversas escolas, sendo que a sobreviv�ncia delas vinha atrav�s de combates onde se valorizava a vit�ria acima de tudo, sendo a supremacia conquistada como garantia de exist�ncia, tendo no fim a justificativa dos meios, e � nesse contexto que Jigoro Kano funda o Jud� (Caminho Suave) em 1882, oportunizando a pr�tica sem distin��o de classe social, idade e condi��o f�sica, mas para isso novos valores esportivos deveriam ser sobrepostos aos antigos e atrav�s de t�cnicas menos lesivas, normas, princ�pios e filosofias ele antecipa o ideal proposto por Bar�o de Coubertin, buscando com o Jud� objetivos altos e nobres, de exalta��o do car�ter e �teis � sociedade (VIRG�LIO, 1994, CADERNO T�CNICO DE HIST�RIA E FILOSOFIA DO JUD�, 1999, KANO, J, 1994).

    No ano de 1909 ele se torna o primeiro asi�tico membro do Comit� Ol�mpico Internacional. Em 1912 Kano vai � Europa para assistir a 5� Olimp�ada, em Estocolmo, na Su�cia. Nesta situa��o � homenageado pelo rei da Su�cia por seus esfor�os para promover o desporto dentro de um esp�rito elevado. Em 1920, na B�lgica (Amberes) ele vai � Europa novamente, agora com o grande objetivo de divulgar o jud�.

    Jigoro Kano, segundo Virg�lio, 1994, prop�e atrav�s do Jud� uma "via de ceder", um "caminho suave" no sentido de aperfei�oamento moral e espiritual, al�m de f�sico e intelectual, preconizando a Paid�ia - forma��o integral do ser humano.

    O esp�rito do Jud� � composto por duas m�ximas e nove princ�pios, que segundo Virg�lo, 1994, s�o:

    Seryoku Zeny� (M�xima efic�cia com o menor desprendimento energ�tico) e Jita Kyoei (Prosperidade e benef�cios m�tuos) os quais deveriam ser praticados e levados para a sociedade, e nove princ�pios:

Conhecer-se � dominar-se, e dominar-se � triunfar.
Quem teme perder j� est� vencido.
Somente se aproxima da perfei��o que a procura com const�ncia, sabedoria e, sobretudo, humildade.
Quando verificares, com tristeza, que nada sabes, ter�s feito teu primeiro progresso no aprendizado.
Nunca te orgulhes de haver vencido um advers�rio, quem venceste hoje poder� derrotar-te amanh�, a �nica vit�ria que perdura � a que se conquista sobre a pr�pria ignor�ncia.
O judoca n�o se aperfei�oa para lutar, luta para se aperfei�oar.
O judoca � o que possui intelig�ncia para compreender aquilo que lhe ensinam e paci�ncia para ensinar o que aprendeu aos seus companheiros.
Saber cada dia um pouco mais, utilizando o saber para o bem, � o caminho do verdadeiro judoca.
Praticar o jud� � educar a mente a pensar com velocidade e exatid�o, bem como ensinar o corpo a obedecer corretamente. O corpo � uma arma cuja efici�ncia depende da precis�o com que se usa a intelig�ncia.

    Atrav�s da filosofia do Jud� transmite-se oralmente um conhecimento tradicional de qualidades saud�veis, sendo representativas, e quando levadas � mais correta jornada, leva ao indiv�duo ideal, estas atitudes saud�veis, elencadas por Virg�lio, 2000, s�o a higiene pessoal e social, disciplina, dedica��o, hist�ria do esporte, relacionamentos interpessoais, respeito aos pr�ximos, civilidade � na��o, moral, const�ncia ou persist�ncia na pr�tica e humildade social.

    Tais indicativos foram propostos concomitantemente (apesar da diferen�a de datas) por Jigoro Kano, o fundador do Jud� e por Pierre de Freddy, o Bar�o de Coubertin, fundador do Olimp�smo, deixando claro que os mesmos conceitos podem surgir numa mesma �poca em diferentes contextos.

    Para Franchini; DaCosta (2002) a proposta de Jigoro Kano, de formar indiv�duos socialmente participantes, para promo��o social, sob os princ�pios de Jita Kyoei e Seiryoku Zen'yo se tornam pr�ximos aos conceitos da cultura grega antiga de kalos kagatos (harmonia entre corpo, cultura e moral) e arete (excel�ncia), ambos recuperados pelo Bar�o de Coubertin, para forma��o do Olimpismo.

    Assim, observa-se que, enquanto Bar�o de Coubertin se organizava para e interessava em reeditar os Jogos Ol�mpicos nos anos pr�ximos a 1880, Kano sistematizava seu desporto, o jud�, sobre as bases de diversos estilos do antigo ju-jutsu, luta que estava vem destacada decad�ncia no referido per�odo (FRANCHINI, DaCOSTA; 2003).


Refer�ncias bibliogr�ficas:

  • ABREU, N; DaCOSTA, L. P. Olimp�smo e Multiculturalismo - Aproxima��o Hist�rica. VI Congresso Brasileiro de Hist�ria do Esporte, Lazer e Educa��o F�sica. Rio de Janiero : Editorial Central da UGF, 1998, p. 701 - 705.

  • BARA FILHO, M. G; DaCOSTA, L. P. O papel do olimp�smo na hist�ria do esporte do trabalhador. VI Congresso Brasileiro de Hist�ria do Esporte, Lazer e Educa��o F�sica. Rio de Janiero : Editorial Central da UGF, 1998, p. 706 - 711.

  • CADERNO T�CNICO DE HIST�RIA E FILOSOFIA DO JUD�. Federa��o Paulista de Jud�, 1999

  • DE FRANCESCHI NETO, M. Os Jogos ol�mpicos da antiguidade graga: Mitos e realidades. VI Congresso Brasileiro de Hist�ria do Esporte, Lazer e Educa��o F�sica. Rio de Janiero : Editorial Central da UGF, 1998, p. 720 - 724.

  • FRANCHINI, E.; DaCOSTA, L. P. Fundamentos do jud� aplicados � educa��o ol�mpica e ao desenvolvimento do Fair Play. IN: Turini, M; DaCosta, L. P. Colet�nea de textos em estudos ol�mpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2002, p.355-372.

  • KANO, J. KODOKAN JUDO. Tokio: Ed. Kodansha International, 1994.

  • R�BIO, K. O Atleta e o Mito do Her�i: O imagin�rio esportivo contempor�neo. S�o Paulo : Casa do Psic�logo, 2001.

  • VIRG�LLIO, S. A Arte do Jud�. 3� Ed. Porto Alegre : Ed. R�gel, 1994.

  • VIRG�LO, S. A Arte e o Ensino do Jud�. Porto Alegre : Ed. R�gel, 2000.

Qual foi a importância de Pierre de Coubertin para os Jogos Olímpicos?

Pierre de Frédy (Paris, 1 de janeiro de 1863 — Genebra, 2 de setembro de 1937), mais conhecido pelo seu título nobiliárquico de Barão de Coubertin, foi um pedagogo e historiador francês, que ficou para a história como o fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna.

Qual a importância do Barão de Coubertin para os Jogos Olímpicos modernos?

Inspirado nas Olimpíadas da Grécia Antiga, Barão de Coubertin foi o criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, que foram disputados pela primeira vez em 1896. Foi ele o responsável por colocar no papel os ideiais do Olimpismo como um estilo de vida associado ao esporte, à cultura e à educação.

Como o Barão de Coubertin foi homenageado pelo esporte?

A medalha Barão de Coubertin de Vanderlei foi uma homenagem ao espírito esportivo demonstrado durante a disputa. O brasileiro liderava a corrida a 7 km do final quando foi abraçado pelo ex-padre irlandês Cornelius Horan.

Qual era a grande missão do Barão de Coubertin?

Recebeu de um ministro francês a missão de encontrar uma forma de melhorar a educação no país. Em 1887, criou um comitê para discutir e uniformizar a prática do esporte, o Union des Sociétés Françaises des Sports Athlétiques.