Por quê a obesidade ocorre

A obesidade (CID 10 E66.0) é o acúmulo de gordura no corpo, geralmente causado por um consumo excessivo de calorias na alimentação, superior ao valor usado pelo organismo para sua manutenção e realização das atividades do dia a dia. Ou seja, a obesidade acontece quando a ingestão alimentar é maior que o gasto energético correspondente.

Para determinar um quadro de obesidade, são levados em consideração alguns fatores. O principal deles é o cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC), que avalia a relação entre o peso e a altura do indivíduo. A partir dele, a doença é dividida em diferentes graus, que vão da obesidade leve à obesidade grave ou mórbida.

É importante considerar ainda que o excesso de gordura no organismo pode levar ao desenvolvimento de uma série de doenças secundárias, como o diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, artrite, apneia e derrame. Entretanto, nem todo caso de obesidade está associado a esses quadros de saúde.

A obesidade infantil acontece quando uma criança está com peso maior que o recomendado para sua idade e altura. De acordo com o IBGE, atualmente, uma em cada três crianças no Brasil está pesando mais do que o recomendado.

As faixas de Índice de Massa Corporal (IMC) determinadas para crianças são diferentes dos adultos e variam de acordo com gênero e idade.

O excesso de peso pode ter repercussões para as crianças até a sua vida adulta, mesmo que a obesidade seja revertida nesse período. Doenças como diabetes, hipertensão e colesterol alto são algumas consequências da obesidade infantil não tratada. A condição também pode levar a baixa autoestima e depressão nas crianças.

Os dados mais recentes sobre a obesidade no Brasil constam do segundo volume da Pesquisa Nacional de Saúde 2019, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em outubro de 2020.

Segundo o levantamento, a proporção de obesos na população brasileira com 20 anos ou mais de idade mais que dobrou entre 2003 e 2019, passando de 12,2% para 26,8%. Além disso, em 2019, uma em cada quatro pessoas de 18 anos ou mais de idade no Brasil estava obesa - o que representa 41 milhões de pessoas.

Ter sobrepeso significa pesar mais do que é considerado saudável ou normal para a idade, sexo e/ou estatura. Em geral, esse quadro é reversível com algumas mudanças de hábito, que incluem a adoção de uma alimentação saudável e balanceada associada à prática frequente de exercícios físicos.

Por outro lado, a obesidade é uma condição crônica, que se caracteriza por um excesso de gordura acumulada no corpo. O tratamento da doença pode envolver intervenções mais drásticas, como dietas mais restritivas e cirurgias.

A obesidade pode, às vezes, ser atribuída a uma causa médica, como síndromes e outras doenças específicas. No entanto, esses distúrbios são raros e, em geral, as principais causas da obesidade são:

  • Inatividade:Ser pouco ou nada ativo faz a pessoa não queimar tantas calorias. Com um estilo de vida sedentário, é fácil ingerir mais calorias todos os dias do que seguindo uma rotina com exercícios e atividades diárias normais
  • Dieta não saudável e hábitos alimentares:O ganho de peso é inevitável se a pessoa comer regularmente mais calorias do que queima. Além disso, atualmente, muitas dietas são ricas em calorias “vazias”, baseadas no consumo de fast food, doces e bebidas de alto teor calórico.

Junto a essas duas causas comuns, a obesidade também pode ser considerada como o resultado de uma combinação de fatores contribuintes, como:

Genética: Os genes podem afetar a quantidade de gordura corporal que a pessoa armazena e onde essa gordura é distribuída. A genética também pode desempenhar um papel na eficiência com que o corpo converte alimentos em energia e como ele queima calorias durante um exercício físico.

Estilo de vida familiar: A obesidade tende a correr em famílias. Se um ou ambos os pais são obesos, o risco do filho ser obeso é aumentado. Isso não é só por causa da genética. Os membros da família tendem a compartilhar hábitos alimentares e de atividade semelhantes.

Problemas médicos: Em algumas pessoas, a obesidade pode ser atribuída a uma causa médica, como a síndrome de Prader-Willi, a síndrome de Cushing e outras condições. Problemas médicos, como a artrite, também podem levar à diminuição da atividade, o que pode resultar em ganho de peso.

Medicamentos: Alguns remédios podem levar ao ganho de peso como efeito colateral. Estes medicamentos incluem alguns antidepressivos, remédios anti-convulsivos, remédios para diabetes, antipsicóticos, esteróides e beta-bloqueadores.

Mudanças hormonais e metabólicas: A obesidade pode ocorrer em qualquer idade, mesmo em crianças pequenas. Mas, à medida que se envelhece, mudanças hormonais e um estilo de vida menos ativo aumentam o risco da doença. Além disso, a quantidade de músculo no corpo tende a diminuir com a idade, o que leva a uma diminuição do metabolismo.

Problemas emocionais e psicológicos: Casos de má gestão emocional, baixa autoestima e comer emocionalmente (quando a pessoa está entediada ou chateada) podem evoluir para quadros de ansiedade, depressão e até mesmo distúrbios alimentares, como a compulsão alimentar.

Em casos regulares, onde a comida é uma forma de escape emocional ou quando é ingerida de maneira intensa e descontrolada, quando combinado com sedentarismo e falta de prática de exercícios, pode causar obesidade.

Problemas para dormir: Não dormir o suficiente ou dormir demais pode causar alterações nos hormônios que aumentam o apetite. Nestes casos, a pessoa também pode desejar comer alimentos ricos em calorias e carboidratos, o que pode contribuir para o ganho de peso.

Gravidez: Durante a gravidez, o peso da mulher aumenta necessariamente. Algumas não conseguem perder esses quilos a mais depois que o bebê nasce. Esse ganho de peso, no entanto, pode contribuir para o desenvolvimento da obesidade em mulheres.

Parar de fumar: Parar de fumar é frequentemente associado ao ganho de peso. Para alguns, essa situação pode ser suficiente para um quadro de obesidade. No longo prazo, porém, parar de fumar ainda é um benefício maior para a saúde do que continuar fumando.

Substâncias químicas: Os desreguladores endócrinos (DE) ou disruptores endócrinos são substâncias químicas capazes de exercer efeito semelhante ao de hormônios presentes em nosso organismo. De acordo com uma pesquisa, existe uma relação destas substâncias com o ganho de peso e a obesidade.

Mesmo que alguém tenha um ou mais desses fatores de risco, isso não significa que ela está destinada a se tornar obesa. Isso porque é possível neutralizar a maioria desses fatores por meio de dieta equilibrada, atividade física e mudanças de comportamento.

Saiba mais: Entenda a relação entre obesidade e genética

A obesidade pode ser classificada de diversas formas, por exemplo, quanto ao tipo, sendo:

  • Homogênea: É aquela em que a gordura está depositada de forma homogênea, tanto em membros superiores e inferiores quanto na região abdominal
  • Andróide: É a obesidade em formato de maçã, mais característica do sexo masculino ou e mulheres após a menopausa e, nesse caso, há um acúmulo de gordura na região abdominal e torácica, aumentando os riscos cardiovasculares
  • Ginecóide: É a obesidade em formato de pera, mais característica do sexo feminino e, nesse caso, há um acúmulo de gordura na região inferior do corpo, se concentrando nas nádegas, quadril e coxas. Está associada a maior prevalência de artrose e varizes.

Além disso, a obesidade pode ser classificada quanto o grau do IMC:

1 - Entre 25 e 29,9 kg/m² = Sobrepeso;

2 - Entre 30 e 34,9 kg/m² = Obesidade Grau I;

3 - Entre 35 e 39,9 kg/m² = Obesidade Grau II;

4 - Acima de 40 kg/m² = Obesidade Grau III

Pode ainda ser classificada como:

  • Primária: quando o consumo de calorias é maior que o gasto energético
  • Secundária: quando é resultante de alguma doença

Caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no organismo, principalmente pela gravidade e pela localização desse acúmulo, a obesidade é uma doença que não causa sinais e sintomas, mas manifestações decorrentes da doença instalada, como:

  • Dificuldade em dormir (associada à apneia do sono)
  • Cansaço
  • Suor excessivo
  • Dores na coluna e nas articulações (braços e pernas)
  • Limitação de movimentos
  • Dificuldade em respirar
  • Problemas na pele
  • Depressão

O diagnóstico da obesidade é determinado através do Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado dividindo-se o peso (em quilos) pelo quadrado da altura (em metros). O resultado revela se o peso da pessoa está dentro da faixa ideal, abaixo ou acima do desejado - revelando sobrepeso ou obesidade.

Saiba mais: Evite os sete maiores erros no combate à obesidade

  • Menor que 18,5 - Abaixo do peso
  • Entre 18,5 e 24,9 - Peso normal
  • Entre 25 e 29,9 - Sobrepeso (acima do peso desejado)
  • Igual ou acima de 30 - Obesidade.
  • IMC = peso (kg) / altura (m) x altura (m)
  • Exemplo: João tem 83 kg e sua altura é 1,75 m
  • Altura x altura = 1,75 x 1,75 = 3,0625
  • IMC = 83 dividido por 3,0625 = 27,10
  • O resultado de 27,10 de IMC indica que João está acima do peso desejado (sobrepeso).

Saiba mais: Obesidade e sobrepeso: o que você pode fazer para evitá-los

Os exames para o diagnóstico da obesidade geralmente incluem:

  • Colesterol total e frações
  • Glicemia de jejum
  • Exames de sangue para verificar se há desequilíbrios hormonais

Se você acha que pode ser obeso e, especialmente, se estiver preocupado com problemas de saúde relacionados ao peso, consulte um médico. Desta forma, o especialista irá avaliar os riscos à sua saúde e discutir as melhores e mais adequadas opções de tratamento.

O acompanhamento médico também é importante para, por exemplo, identificar alterações que possam contribuir para o ganho de peso excessivo. Lembrando que o tratamento da obesidade deve ser multiprofissional.

Os especialistas que podem diagnosticar e tratar a obesidade são:

  • Clínico geral
  • Endocrinologista
  • Nutrólogo
  • Nutricionista

Antes de tudo, é preciso compreender que o tratamento da obesidade não pode ser visto como uma "solução" de curto prazo, mas sim como um processo contínuo ao longo da vida. Quando a obesidade é aceita como uma doença crônica, ela será tratada como outras doenças crônicas, a exemplo de diabetes e hipertensão.

Como a obesidade é provocada por uma ingestão de calorias que supera o gasto do organismo, a forma mais simples de tratamento é a adoção de um estilo de vida mais saudável, com controle na alimentação e aumento das atividades físicas. Essa mudança não só provoca redução de peso e reversão da obesidade, como facilita a manutenção do quadro saudável.

Embora a correria do dia a dia dificulte a realização de uma alimentação saudável, pequenas mudanças já podem fazer uma grande diferença na saúde:

  • Invista nas frutas, legumes e vegetais
  • Prefira os alimentos integrais aos refinados
  • Evite alimentos ricos em açúcar, sódio e gorduras, encontrados em biscoitos, bolachas e refeições prontas
  • Limite o consumo de bebidas adoçadas, artificiais e pobres em nutrientes, incluindo refrigerantes e sucos industrializados
  • Reduza o número de vezes em que a família vai comer fora, especialmente em restaurantes de fast food
  • Não exagere ao servir as próprias porções

Aumentar a prática de atividade física é uma parte essencial do tratamento da obesidade. A maioria das pessoas que conseguem manter a perda de peso por mais de um ano pratica exercício físico regular, mesmo que seja apenas caminhando. Portanto:

- Faça exercícios: o exercício regular é uma parte importante de um estilo de vida para manter um peso saudável a longo prazo. Uma dieta com alimentos saudáveis combinada à prática de atividade física ajuda a queimar calorias e a evitar mais ganho de peso.

Fazer exercícios também promove outras vantagens, como a redução na gordura abdominal, melhor controle do açúcar no sangue, melhora dos níveis de pressão arterial e redução dos riscos de doenças cardiovasculares.

- Caminhe mais: mesmo que o exercício aeróbico regular seja a maneira mais eficiente de queimar calorias e perder peso, qualquer movimento extra ajuda a queimar calorias. Fazer alterações simples ao longo do dia pode resultar em grandes benefícios.

Por exemplo, estacione mais longe das entradas das lojas, aprimore suas tarefas domésticas, faça jardinagem, levante-se e mova-se periodicamente, e use um pedômetro para acompanhar quantos passos você realmente dá ao longo de um dia.

A utilização de medicamentos contribui de forma modesta e temporária no caso da obesidade, e nunca devem ser usados sem recomendação médica e como única forma de tratamento.

Boa parte das substâncias usadas atuam no cérebro e podem provocar reações adversas, como: nervosismo, insônia, aumento da pressão sanguínea, batimentos cardíacos acelerados, boca seca e intestino preso.

Um dos riscos mais preocupantes dos remédios para obesidade é a dependência química. Por isso, o tratamento medicamentoso deve ser acompanhado com rigor e restrito a alguns pacientes.

Um dos medicamentos mais usados para o tratamento de problemas e sintomas relacionados à obesidade é o Cloridrato de sibutramina monoidratado.

ATENÇÃO: Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique.

Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.

A obesidade é uma doença crônica que pode ser tratada e controlada com acompanhamento médico, alimentação e prática de exercícios físicos, porém não tem cura.

Pessoas com obesidade mórbida e comorbidades, como diabetes e hipertensão, podem optar por fazer a cirurgia de redução de estômago para controlar o peso e sair da obesidade. Existem quatro técnicas diferentes de cirurgia bariátrica indicadas para esses casos, reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM):

  • Banda Gástrica Ajustável
  • Gastrectomia Vertical
  • Bypass Gástrico
  • Derivação Bileopancreática

A escolha da cirurgia dependerá do quadro do paciente, do grau de obesidade e das doenças relacionadas. Portanto, apenas um médico (ou grupo de especialistas) poderá determinar qual é o método mais indicado para cada caso.

A estratégia preventiva deve ter início no nascimento, reforçando que o leite materno é um fator de prevenção contra a obesidade e combatendo mitos de que a criança deve comer muito, mesmo quando está satisfeita e que criança saudável é aquela com “dobrinhas”.

As medidas de prevenção da obesidade são muito importantes, especialmente pela gravidade das consequências e incluem dois fatores principais:

1 - Adequação do consumo energético: ou seja, é necessário consumir calorias que estejam de acordo com o gasto calórico de cada um. Para quem precisa perder peso, é necessário um planejamento alimentar que priorize alimentos que deem mais saciedade e que tenham o menor valor calórico possível.

2 - Incluir atividades físicas na rotina atualmente, cerca de 80% da população é sedentária e muitos substituem as atividades físicas por atividades de lazer de baixo gasto calórico, como ver televisão, jogar videogame e ficar no computador. Isso é um fator relevante para desencadear a obesidade. Em contrapartida, o exercício físico intenso ou de longa duração promove uma série de benefícios ao organismo, como queima de calorias e efeito inibitório no apetite.

Saiba mais: Evite os sete maiores erros no combate à obesidade

Como evitar a obesidade infantil?

Independentemente dos métodos de tratamento, não é incomum que a pessoa acabe recuperando o peso após algum tempo. Prosseguir com o acompanhamento médico é essencial para que isso não aconteça. Além disso, é importante manter, ao máximo, a rotina com alimentação saudável e prática de exercícios.

Outra possibilidade é iniciar um acompanhamento com um psicólogo. A psicoterapia, na verdade, é indicada desde o início do tratamento da obesidade e pode ser um pilar importante para o sucesso e manutenção do processo.

A obesidade, seja adulta ou infantil, aumenta o risco de uma série de condições, incluindo:

  • Colesterol alto
  • Hipertensão
  • Doença cardíaca
  • Diabetes tipo 2
  • Problemas ósseos
  • Síndrome metabólica
  • Distúrbios do sono
  • Esteatose hepática não alcoólica
  • Depressão
  • Asma e outras doenças respiratórias
  • Condições de pele como brotoeja, infecções fúngicas e acne
  • Baixa autoestima
  • Problemas de comportamento.

Ministério da Saúde. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/cab12

Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Disponível em: https://www.endocrino.org.br/o-que-e-obesidade/

Mayo Clinic. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/obesity/diagnosis-treatment/drc-20375749

Cintya Bassi, nutricionista do Hospital e Maternidade São Cristóvão

Por que ocorre a obesidade?

A obesidade é o acúmulo de gordura no corpo causado quase sempre por um consumo de energia na alimentação, superior àquela usada pelo organismo para sua manutenção e realização das atividades do dia-a-dia. Ou seja: a ingestão alimentar é maior que o gasto energético correspondente.

Quais são as principais causas do aumento da obesidade no Brasil?

Um aumento no consumo de alimentos muito calóricos, ricos em gordura e açúcar; Uma redução da prática de atividades físicas e aumento do sedentarismo. O sedentarismo e a alimentação inadequada e excessiva são, portanto, as principais causas da obesidade.

Quais são as causas e as consequências da obesidade?

Entre as principais consequências da obesidade estão o aparecimento de doenças. Isso acontece, pois o excesso de peso causa processos inflamatórios em diferentes regiões do corpo, sobrecarga ou acúmulo de gordura nas artérias (infarto) e colesterol nos vasos sanguíneos (AVC), sem contar os efeitos psicológicos.