Obesidade infantil de quem é a culpa

A obesidade é um tema cercado de polêmicas. O estigma do 'gordinho preguiçoso' infelizmente ainda faz parte do senso comum. Para uma parcela da população, o obeso deveria ser mais 'disciplinado', fazer exercícios físicos e 'entrar na linha'. No universo infantil, tantas críticas podem atrapalhar o desenvolvimento físico e psíquico das crianças. 

No Brasil, 33% dos pequeninos estão acima do peso, segundo o Ministério da Saúde. "Uma criança que está obesa tem maior chance de se tornar um adulto obeso, então, é um problema de saúde pública", enfatiza a endocrinologista Lívia Marcela, mestre em Endocrinologia pela Unifesp. Ela relata que, nos últimos anos, observou uma mudança no diagnóstico das crianças que chegam ao consultório com suspeita de diabetes. De acordo com a médica, atualmente os casos que aparecem são do tipo 2 da doença. A médica observa que parte significativa da culpa é do comportamento inadequado dos pais: "Já vi casos extremos de alguns pais darem refrigerante até na mamadeira para a criança".

Jean Piaget, psicólogo que revolucionou o modo de encarar a educação, revela que as crianças constroem o próprio aprendizado. Além disso, começam a interagir por meio de ações cognitivas concretas, ou seja, a construir estruturas lógicas sobre os objetos ao redor, inclusive com os alimentos. É aí que o comportamento dos pais ganha destaque já na introdução alimentar dos bebês: "Não dá para o pai comer uma coxinha e oferecer uma maçã para a criança", destaca a nutricionista Luna Azevedo, da Clínica Nutrindo Ideais. A endocrinologista concorda e relata que é muito comum os pais tentarem compensar um dia inteiro de trabalho, longe dos filhos, com comidas prontas, como fast food ou pizza, por exemplo. A facilidade de acesso à produtos ultraprocessados, como bolachas e bolos prontos, também é um problema, segundo a especialista da Unifesp: "Quanto mais você desembalar, menos saudável você está sendo".

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de crianças e adolescentes de cinco a 19 anos com sobrepeso chega a 124 milhões em todo o mundo. Um estudo realizado pela Universidade do Colorado, em Denver, revela que pratos ilustrados com fotos das verduras e legumes ao fundo podem atrair as crianças. Os pesquisadores fizeram um teste em 235 creches e, na hora do almoço, ofereciam para metade das crianças um prato segmentado com fotos de frutas e legumes nos compartimentos. Os pequeninos deveriam colocar os alimentos conforme a indicação dos desenhos. A outra metade das crianças recebia pratos sem ilustração ao fundo. Aqueles que comeram em pratos com ilustração ingeriram 36% a mais de vegetais. 

"Comer é social e também visual. Quem não gosta de reconhecer o que come e interagir com o ato? Principalmente as crianças que estão com a imaginação a flor da pele e precisam de estímulos novos diariamente. O ato de comer também faz parte do aprendizado dos pequenos, por isso, nada mais humano, inteligente e efetivo do que juntar essas estratégias ao oferecermos comida à eles", avalia a nutricionista. Ela reforça o importante trabalho da nutrição junto com conceitos da Psicologia.

Para ajudar os pais a adotar estratégias mais atrativas para os pequeninos comerem bem, fizemos uma lista de dicas valiosas dadas pela endocrinologista Lívia Marcela e a nutricionista Luna Azevedo.

- Faça uma programação para a semana inteira e separe um dia só para cozinhar;

- Separe pelo menos uma opção de fruta para a lancheira das crianças. Os lanches prontos têm excesso de sódio e açúcares;

- Desde a introdução alimentar dos bebês, a partir dos seis meses, ofereça a comida no formato Baby Led Weaning (BLW), que estimula as cores, textura, atenção plena do bebê e a comer de forma mais independente;

- Para as crianças maiores, corte os alimentos e os ofereça com carinhas ou desenhos nos pratos;

E essa dica final vale para todos: coma junto com a família. "Nada mais atrativo para os filhos do que ter as suas refeições divididas com os seus pais. É muito difícil para a criança entender a alimentação como algo natural, se a prática não for naturalizada em casa a prática. Não dá para os pais comerem mal e acharem que seus filhos vão comer os legumes se não tiverem referência para isso", enfatiza a nutricionista Luna Azevedo. Por isso, grande parte das crianças deixa de comer alimentos saudáveis quando crescem e percebem que não é um hábito familiar.

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Atualmente enfrentamos a triste realidade de crianças com menos de cinco anos de idade diagnosticadas com obesidade. A Organização Mundial de Saúde aponta este como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo.

A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças acima do peso e obesas no mundo poderá chegar a 75 milhões, caso nada seja feito.

No Brasil, de acordo com a última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2009, cerca de 50% dos meninos e 43% das meninas de cinco a nove anos já apresentam excesso de peso sendo que 16% e 11% respectivamente são obesos.

Hoje, é possível observar em crianças o desenvolvimento de doenças antes típicas em adultos, como pressão alta e alterações no colesterol, além de problemas psicológicos e dificuldades de socialização.

Segundo Mariana Nacarato, consultora em nutrição, a obesidade infantil é decorrente de uma mistura de fatores.
É claro que o ambiente doméstico possui grande importância na constituição dos hábitos alimentares da criança. Mas em alguns casos, como os de tendência genética, por exemplo, os pais não têm tanta culpa. De todo modo, eles são responsáveis pela compra e preparo de alimentos, além de serem “exemplos” através dos seus próprios costumes diários.

“Culpar apenas a família ou determinados alimentos é fazer uma análise muito simplificada de tudo que está envolvido na alimentação infantil. Desmame precoce, alimentação excessiva, falta de atividade física e problemas familiares podem levar ao sobrepeso e, se não cuidado, à obesidade“, afirma a nutricionista.

É importante inserir na rotina dos pequenos porções diárias de carboidratos, proteínas, além de verduras, legumes e frutas. Diferentemente da imagem de vilão da saúde, o carboidrato é um nutriente essencial na alimentação infantil. Segundo o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), baseado na Organização Mundial da Saúde (OMS), a recomendação de carboidratos durante a infância é entre 55% e 75% do total de calorias consumidas diariamente.


Deficiências alimentares na infância prejudicam o processo de maturação do sistema nervoso, o desenvolvimento mental e intelectual, e aumentam a vulnerabilidade às infecções. A falta de energia ainda é a maior causadora destes problemas. Por isto a importância da oferta adequada dos carboidratos como arroz, trigo e seus derivados – massas, pães, bolos e biscoitos, que também são fontes de vitaminas e sais minerais.

“Além do fornecimento de energia necessária para o desenvolvimento e crescimento, o carboidrato se oferecido de forma correta pode ajudar a prevenir a obesidade”, completa a especialista.


A alimentação da criança acima de dois anos, por exemplo, já deve ser igual ao restante dos adultos, a única diferença é que será em menor quantidade. Envolvê-la na preparação dos pratos e realizar refeições em conjunto, são estratégias que ajudam a adquirirem hábitos saudáveis.

TREE COMUNICAÇÃO

De quem é a culpa da obesidade infantil?

Existem, ainda, as causas genéticas e hormonais. Ou seja: nem tudo é culpa da alimentação ou da televisão. Filhos de adultos obesos, por exemplo, têm maior predisposição à obesidade infantil. Quando pai e mãe são obesos, as chances do filho ser obeso também são de 70 a 80%.

Quais os fatores que contribuem para a obesidade infantil?

Na infância, algumas causas são determinantes para a obesidade infantil, como o desmame precoce e a introdução de alimentos complementares inapropriados. O sobrepeso infantil é um fator de risco para o desenvolvimento de várias doenças, como colesterol, pressão alta e outros distúrbios cardiovasculares.

Por que a obesidade que surge na infância e mais perigosa?

Nesse âmbito, a obesidade tem mais riscos em crianças do que nos adultos devido ao fato de que as crianças não estão com seus corpos totalmente formados e o organismo não está totalmente desenvolvido.

O que diz a OMS sobre a obesidade infantil?

José Augusto: Se uma criança tem seu peso 25% maior que o desejável para sua idade, ela tem o que chamamos de sobrepeso, um alerta para a obesidade. Quando o peso está 30% acima, ela já é considerada obesa. Ambas as condições podem favorecer a doenças futuras.