O brasil e um país com grandes reservas de água doce por que mesmo assim muitas regiões podem

A distribuição da água no Brasil ocorre de maneira desigual: há regiões pouco habitadas e com grande disponibilidade hídrica e regiões com escassez desse recurso.

O território brasileiro encontra-se privilegiado quando o assunto é a disponibilidade de água: 12% de toda a água doce disponível para consumo no planeta encontra-se no território brasileiro, que possui o maior rio do mundo em vazão – o Rio Amazonas – e também dois grandes e representativos aquíferos – o Guarani e o Alter do Chão. Mas isso não necessariamente significa que a totalidade do território conta com água, pois há de se considerar a distribuição da água no Brasil.

Em termos naturais, os recursos hídricos não são bem distribuídos no país, ou seja, há uma disponibilidade irregular quando comparamos as diferentes áreas. A região Norte, por exemplo, apresenta quase 70% de toda a água doce do país, além de também possuir a maior quantidade de rios preservados, haja vista que se trata da região com as menores taxas de urbanização e densidade demográfica.

Se observarmos os dados de disponibilidade hídrica per capita para cada uma das unidades federativas, podemos visualizar melhor como esse recurso encontra-se mal distribuído. A seguir, temos o ordenamento dos estados conforme essa disponibilidade, medida em m3 de água para cada habitante no período de um ano:

Riquíssima disponibilidade de água (mais de 20.000 m³/hab/ano): Acre, Amazonas, Amapá, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Muito rica disponibilidade de água (mais de 10.000 m³/hab/ano): Maranhão, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná.

Rica disponibilidade de água (mais de 5.000 m³/hab/ano): Espírito Santo e Piauí

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Situação adequada em disponibilidade de água (mais de 2.500 m³/hab/ano): Bahia e São Paulo.

Pobre em disponibilidade de água (menos de 2.500 m³/hab/ano): Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Situação crítica (menos de 1.500 m³/hab/ano): Paraíba e Pernambuco.

Se considerarmos apenas a disponibilidade de água por região em termos proporcionais, teremos a seguinte relação:

Região Norte: 68%

Região Centro-Oeste: 16%

Região Sul: 7%

Região Sudeste: 6%

Região Nordeste: 3%

Como já ressaltado, a região Norte é a que mais possui recursos hídricos e, no entanto, é a menos habitada, com apenas 7% da população brasileira. A região Nordeste, por sua vez, é a que possui menos água, lembrando que esse recurso encontra-se mal distribuído também dentro da região, concentrando-se mais nas áreas litorâneas da Zona da Mata e também no Meio Norte. Já as regiões Sul e Sudeste contam, igualmente, com um montante bastante limitado ao passo em que seus níveis de consumo são bastante acentuados.

Historicamente, uma boa parte da região Nordeste, sobretudo a região do Polígono das Secas, sofre com as secas que se sucedem ciclicamente, embora existam projetos que possam atenuar o problema. Recentemente, a falta de água também afetou a região Sudeste e, em maior grau, a região metropolitana de São Paulo, causando uma grave crise hídrica que vem afetando a vida de mais de 20 milhões de pessoas.

Por: Rodolfo F. Alves Pena

O Brasil é o país do mundo que possui maior quantidade de água doce, com 12% do total existente no planeta. É mais que todo o continente europeu ou africano, por exemplo, que detêm 7% e 10%, respectivamente. Mas será que o país mais rico em recursos hídricas faz bom uso dessa dádiva da natureza?

Para responder a questão, o UOL ouviu cinco especialistas e representantes do setor, que não têm dúvidas: o país não gere bem, planeja mal e desperdiça muita água.

O geólogo Claudionor Araújo, presidente do Conselho Estratégico do Instituto Hidroambiental Águas do Brasil, não tem dúvidas de que a gestão é ruim, mas divide a culpa entre governos e população.

“Nenhum dos segmentos cuida bem. Esse sistema é como um casamento, em que marido e mulher têm de cuidar bem da casa. Os governos, em regra, só correm atrás de tomar remédio quando a dor chega, visto essa crise atual”, afirma. “Mas água temos. Sabendo usar, não vai faltar."

Falta de planejamento

Para o meteorologista aposentado do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Carlos Molion, o Brasil ainda não aprendeu lições para cuidar bem de seu recurso hídrico. Ele acredita que faltam sistemas de armazenamento de água --que basicamente se perde indo para o oceano--, e uma legislação mais flexível para investimentos.

“Nós temos muito recurso hídrico que não é utilizado, e não há um plano para a utilização. Há também certas concepções erradas com relação ao uso. Existe outro conceito errado, de que a agricultura consome água”, comenta. “O produtor usa muita água na irrigação, mas a maior parte retorna pra atmosfera. Além disso, existe uma grande resistência da interligação das bacias.”

O professor recusa o argumento usado por muitos gestores de que a falta de chuvas é o problema. "A média global de chuva é em torno de 800 mm no ano, e são raras as regiões aqui que chovem menos que isso. Falta é planejamento estratégico a longo prazo. E a tendência é que até 2025, 2030, as chuvas reduzam de 10 a 20%”, disse. “Isso é relativamente pouco e pode ser compensado com técnicas de armazenamento e educando a população ao uso racional.”

Para o professor Itabaraci Nazareno, integrante do Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos da UFC (Universidade Federal do Ceará), a gestão das águas subterrâneas no país é ainda pior que a água superficial. “Apesar dos avanços, o país precisa investir mais em pesquisa a fim de fundamentar e saber como usar essas águas subterrâneas. Falta muito conhecimento atualizado para que possa proporcionar ao gestor modo de fazer um bom gerenciamento”, afirmou.

Nazareno deixa claro que, se houvesse um melhor planejamento e investimentos direcionados, as cidades não sofreriam os impactos da seca de forma como vêm sofrendo nos últimos três anos. “De que adianta destinar milhões e milhões de reais, entregar maquinários às prefeituras, mandar o Exército fazer poço, se necessitamos é de conhecimento? Não se faz esses investimentos de uma hora para outra. As crises que temos de água como a de São Paulo refletem bem que o homem pode ter todo conhecimento, mas se não tiver os dados para empregar, não fará nada. No Nordeste, a política emergencial nem deveria existir”, diz.

Perdas levam 37% da água

O presidente do Instituto Trata Brasil, Edson Carlos, acredita que um ponto deixa claro o mau uso dos recursos hídricos: o alto índice de perdas de água tratada, que chega a 37%. “Hoje, temos uma visibilidade do problema pela falta de água, mas essas perdas são históricas. Há décadas não tomamos cuidado com a água potável. Em dez anos de história, a redução dessas perdas foi pífia, e isso mostra que o país trata a água já tratada", afirma.

Para Carlos, os municípios deveriam se envolver mais na questão, assim como os governos estaduais e federal. “O governo deve atrelar o desembolso de recursos a índices mais decrescentes de perdas. Normalmente, não há essa obrigatoriedade, e as empresas não se sentem pressionadas. As empresas também precisam melhorar a gestão interna”, disse. “A perda de volume é perda financeira também. É como uma padaria: como sobreviveria perdendo 37 a cada cem pães? Esse recurso faz muito falta.”

Desvalorização e burocracia

O presidente da Associação Brasileira de Empresas de Saneamento Básico Estaduais, Roberto Tavares, acredita que o brasileiro dá pouco valor à água. "Aqui no Brasil se dá mais valor à telefonia celular, por exemplo”, lamenta.

Tavares aponta que existe uma hierarquia "equivocada", que nem sempre coloca como primeiro ponto de prioridade o abastecimento humano. Além disso, existiria uma redundância de regulação, que dificulta investimento das empresas de saneamento.

“No Brasil, há um arranjo institucional complexo para que o investimento aconteça. Temos múltiplas regulações, tanto ambientais, quanto de desordem urbana. Essa multiplicidade de agentes reguladores dificulta a segurança jurídica de ter retorno do investimento”, afirmou.

Para Tavares, apesar de ter muita água doce, ela está concentrada onde mora a menor parte da população. “O balanço hídrico não é bom pra o país”, completa, defendendo que o sistema de abastecimento hídrico brasileiro copie o modelo integrado do país –no qual regiões mais favorecidas socorrem locais com menos potencial.

“Não seria completamente igual, porque não precisa transportar água por tantas distâncias, mas a gente poderia ter mais sistemas integrando bacias regionais para que não se passe o que o Nordeste e São Paulo passam hoje. Nós defendemos uma proposta de integração de bacias. Essa discussão ocorre de forma muito mais atuante em outros países”, explica.

Minuto a minuto

  • Imagem: Nacho Doce/Reuters

    O brasil e um país com grandes reservas de água doce por que mesmo assim muitas regiões podem

    Imagem: Nacho Doce/Reuters

Por que mesmo assim muitas regiões podem sofrer com a falta da água?

A distribuição da água no Brasil ocorre de maneira irregular, pois há localidades pouco povoadas e com muitas reservas e outras com uma relação inversa. São conhecidos os números da distribuição da água no mundo. Apenas 3% de todos os recursos hídricos existentes no planeta são de água doce própria para consumo.

Qual região do Brasil possui a maior reserva de água doce do planeta?

O Aqüífero Guarani é talvez o maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo, estendendo-se desde a Bacia Sedimentar do Paraná – Brasil, Paraguai e Uruguai – até a Bacia do Chaco – Paraná na Argentina, principalmente.

Por que mesmo possuindo grande disponibilidade de água doce?

Devido a forma de distribuição da água. A maior parte da água doce encontra-se na região Norte do país, em estados como Amazonas e Pará.

Onde são encontradas as principais reservas de água doce?

Países mais ricos em água doce: conheça o top 10.
Brasil..
Rússia..
Canadá.
Indonésia..
China..
Colômbia..
Estados Unidos..