Momentos da vida podem ser considerados acontecimentos artísticos por quê

A História da Arte é muito vasta e complexa, pois acompanha todo o desenvolvimento do ser humano. Sendo assim, ela está dividida em vários períodos, nos quais se verificam as variadas formas de produção artística de inúmeras civilizações ao longo da história humana. Alguns historiadores entendem que a História da Arte, desde a Pré História até os nossos dias, traduz a própria história da humanidade, isto é, revela o processo de autocompreensão humana.

Um dos temas iniciais em história da arte, por exemplo, é “A Arte na Pré-História”, período no qual podem ser colhidas informações sobre os sistemas simbólicos desenvolvidos pelos homens primitivos, suas técnicas (como a arte rupestre) e os principais lugares do mundo onde esse tipo de arte pode ser encontrado atualmente.

Não podemos deixar de falar também sobre a arte desenvolvida pelas grandes civilizações da Antiguidade no Ocidente e no Oriente Médio, como a arte da Mesopotâmia, a arte do Egito Antigo, a Arte Persa, a Arte Grega, a Arte Romana, a Arte Bizantina e a Arte Cristã Primitiva, essa última divide-se entre a fase da produção artística oficial e a produção nas catacumbas romanas.

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Seguindo cronologicamente, temos a arte no período da Idade Média, com temas como a Arte Gótica, que pode ser esmiuçada no estudo dos vitrais góticos e na especificidade do gótico alemão, além das catedrais medievais e as técnicas de pinturas que estabeleceram as bases para os artistas do Renascimento.

Entre os artistas do Renascimento, destacam-se os italianos, como Michelangelo. Além disso, temos ainda a fase pós-renascentista, destacando-se a arte barroca (em especial, a pintura barroca — em que foram empregadas com maestria as técnicas de luz e sombra —) e a variação do mesmo período, conhecida como Rococó.

Outros temas também estão inseridos no campo da História da Arte, como aqueles dos séculos XVIII e XIX, isto é, o Romantismo, o Simbolismo e o Impressionismo; bem como os temas relacionados com a arte moderna, ou seja, a arte de vanguarda do século XX, sendo o surrealismo um dos exemplos prementes.


Por Me. Cláudio Fernandes

Momentos da vida podem ser considerados acontecimentos artísticos por quê
Wim Delvoye. "Les cochons tatoués" ("Os porcos tatuados") | Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Nice (França), 2010

A partir do “invento” dos ready-mades e ascensão da arte contemporânea – principalmente da arte conceitual – tivemos uma enorme subversão e ruptura no que consiste o significado de arte. O que é arte? Tudo pode ser considerado arte?

Vamos contextualizar esse debate e mostrar que não é uma questão simples de ser respondida.


No início do século XX, durante o contexto da Primeira Guerra Mundial e das transformações políticas, sociais e econômicas na Europa, tivemos o surgimento das vanguardas artísticas.

Uma delas foi o Dadaísmo, liderado por Marcel Duchamp, movimento que tinha como intuito protestar contra os estragos trazidos da guerra, denunciando de forma irônica o horror que estava acontecendo. 

Sendo a negação total da cultura, o Dadaísmo defendia o absurdo, a incoerência, a desordem, o caos.  Sua principal representação ficou marcada pelos ready-madesobjetos já fabricados presentes no cotidiano, sem valor estético, expostos como obras de arte em espaços especializados.

Em 1917, Duchamp apresentou para o Salão dos Artistas Independentes (Nova Iorque) um objeto intitulado “Fonte”. A obra foi inscrita sob um pseudônimo e não foi aceita pela organização: tratava-se de um mictório invertido, assinado e com uma data na parte inferior.

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Marcel Duchamp. A Fonte (1917)


Aquilo era arte? 

Ainda hoje isso causa estranhamento. Na época, nem se fala. Apenas pinturas e esculturas podiam ser classificadas como obras artísticas. 

O trabalho apresentado por Duchamp, contestador dos padrões hegemônicos da arte naquele momento, foi extremamente questionado e mal recebido pelo público. 

Entretanto, sua transgressão permitiu a formação de questionamentos importantíssimos, por exemplo:

  • O que é arte?
  • Por que uma pintura é arte e um mictório não? 
  • É necessária uma entidade (museu) para validar o que é um objeto artístico? Se sim, por que eles têm essa autoridade?
  • É necessária habilidade técnica para qualificar uma arte?

Essas perguntas entram em uma espiral infinita se irmos a fundo. Essa foi a grande contribuição de Duchamp. Ele abriu portas para novos estilos de artistas e obras, ressignificou o próprio conceito de arte. 


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Temos, então, o lançamento das bases para o que viria a se tornar a Arte Conceitual, um dos pilares da Arte Contemporânea.

O movimento baseia-se na noção de que a essência da arte é uma ideia ou conceito, e que podem existir distintas formas de representá-la, até mesmo na ausência de um objeto.

Questiona-se a noção de arte em si; tanto que alguns artistas acreditam que a arte é criada pelo espectador, e não pelo artista ou pela própria obra.

Como ideias são a principal característica, as preocupações estéticas e materiais passam a ter um papel secundário. Artistas conceituais reconhecem que toda arte é essencialmente conceitual.

Saiba mais sobre Arte Conceitual

Exemplos marcantes que seguem essa linha de raciocínio que rompe com os critérios tradicionais e formalistas (qualidades formais de uma obra — linha, forma e cor — são autossuficientes para sua apreciação) da arte:


1) Artist’s Shit”, ou “Merda de Artista”

Esse é um trabalho de 1961 feito por Piero Manzoni, que consiste em 90 latas cheias de fezes do artista, cada uma pesando cerca de 30 gramas e medindo 4,8×6,5 cm, rotuladas com o título da obra em diversos idiomas. A obra chegou a ser vendida por 70 mil euros durante um leilão em 2008.

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Piero Manzoni. Merda de Artista (1961)

2) Performances de Chris Burden

Chris Burden (1946 – 2015) produziu algumas das obras mais chocantes da história da arte americana do século XX.

Ele queria retratar a realidade da dor para o público em um momento em que as pessoas se tornaram insensíveis à infinidade de imagens na televisão de soldados americanos feridos e mortos no Vietnã, e ao domínio geral da violência nas imagens da mídia.

Podemos ver isso nas seguintes performances:

Na imagem da esquerda, Chris é baleado no braço; na direita, ele desliza sobre vidros quebrados – apenas de cueca – com as mãos amarradas atrás das costas.


3) Os Parangolés de Hélio Oiticica

O Parangolé é uma espécie de capa que se veste, com textos, fotos, cores e que serve como uma Obra-ação-multisensorial.

“O objetivo é dar ao público a chance de deixar de ser público espectador, de fora, para participante na atividade criadora”, diz o artista.

O Parangolé é “anti-arte por excelência”, não se pode ir numa exposição de Parangolés, o espectador veste a obra e a obra ganha vida através dele, é capacidade de auto-criação, de expansão das sensações e rompimento.

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4) “Inserções em circuitos ideológicos”, de Cildo Meireles

O objetivo do trabalho era criar um sistema de circulação e troca de informação que não dependia de nenhuma espécie de controle centralizado. As séries de inserções transmitiriam informações por uma variedade de circuitos alternativos, como garrafas de Coca-Cola, pentes para cabelos Black-Power, cédulas de dinheiro, etc.

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Cildo Meireles. Inserções em circuitos ideológicos: Projeto Coca-Cola (1970)

O contexto histórico no qual a obra circula e lhe dá sentido é o Brasil dominado por uma ditadura militar que violou o regime constitucional de 1964. O regime ditatorial, imediatamente, impôs uma forte repressão sobre as expressões artísticas, submetendo-as a uma censura que filtrava todo tipo de informação.

As séries de “inserções em circuitos ideológicos” de Cildo Meireles procuraram explorar alternativas comunicacionais e artísticas para executar uma verdadeira “guerrilha” contra o sistema repressor da ditadura militar.


O legado de Duchamp

Nas palavras de Duchamp, “O ato criador não é executado pelo artista sozinho; o público estabelece o contato entre a obra de arte e o mundo exterior, decifrando e interpretando suas qualidades inatas e, desta forma, acrescenta sua contribuição ao ato”.

Ou seja, o artista funciona apenas na propagação de ideias, e os trabalhos se completam com a subjetividade do espectador.

Como coloca Arturo Danto, a obra Brillo Box (1964), de Andy Warhol, representa uma cristalização dessa nova concepção artística.

Usando a técnica de serigrafia em madeira compensada, o Warhol realizou réplicas exatas de produtos ​​encontrados em lares e supermercados. A obra é uma coleção de peças empilhadas, esculturas que podem ser organizadas de várias maneiras.

Assim, temos a união entre o mundo da arte e o mundo cotidiano através de objetos comuns deslocados de seu verdadeiro espaço.

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Andy Warhol. Brillo Box (Soap Pads), 1964.

Conclusão (?)

Não é preciso estudar desenho para fazer arte. Seguindo a linha iniciada por Duchamp e abraçada por outros movimentos vanguardistas, você só precisa criar algo parecido com um pensamento e depois elevá-lo ao nível de um conceito.

É preciso salientar que um objeto comum é diretamente relacionado com sua finalidade. Agora, um objeto-arte, carrega uma grande reflexão; mesmo que estejamos falando do mesmo objeto.

Um mictório num shopping não é a mesma coisa que o mictório de Duchamp. As obras precisam de um contexto para serem dotadas de sentido

Se o exemplo de Duchamp for levado ao extremo, absolutamente tudo poderia ser classificado como arte, o que seria algo perigoso de se dizer.

O debate sobre o que é ou não é arte, é extremamente vasto e continua até hoje. Ainda sim, para validarmos os conceitos são necessários critérios básicos de análise, contextualizações. Caso não, tudo vira arte.

E, se tudo é arte; nada é arte.


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Fontes

  • Nexojornal
  • Folha
  • Thereviewerreport
  • Edubragapro

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O que é necessário para que algo seja considerado uma arte?

Pra que um objeto ou uma ação humana seja considerada arte é preciso que tenha sido feita com essa INTENÇÃO. É preciso que tenha um sentido, um significado. Em outras palavras, um objeto só é artístico se tiver sido feito com esse propósito.

Qual é a relação que existe entre a arte e a história?

Sem dúvida, o estudo histórico do campo artístico é bem mais amplo e complexo do que essa mera relação. Estudando a História da Arte, o pesquisador ou estudante irá perceber que uma manifestação de clara evidência “artística” pode não ser encarada como tal pelo seu autor ou sociedade em que surge.

O que se pode concluir quanto à importância da arte na história humana?

Por meio da arte a humanidade expressa suas necessidades, crenças, desejos, sonhos. Todos têm uma história, que pode ser individual ou coletiva. As representações artísticas nos oferecem elementos que facilitam a compreensão da história dos povos em cada período.

Quais fatores podem influenciar a arte?

O fazer artístico expressa muito sobre o indivíduo, que está inserido no coletivo e, portanto, influencia e é influenciado pelo meio em que vive. Por ter essa capacidade de acessar conhecimentos e sentimentos profundos, a arte pode ser usada de diferentes formas na sociedade.