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Pré-visualização | Página 20 de 50do conto de João Guimarães Rosa, Barra da Vaca, presente no livro Tutaméia. CADERNO DO PROFESSOR66 a) Analise as obras iconográficas: a fotografia de Marc Ferrez e as pinturas de Almeida Júnior. *Lembre-se do roteiro: Quais ações estão sendo representadas? Descreva os principais elementos presentes (pessoas, objetos, construções); o espaço da ação, o que está em pri- meiro plano (mais à frente) e em segundo plano (mais atrás). O que está em destaque, e o que é secundário. Relacione as informações fornecidas pela legenda da imagem (autoria, local, ano de produção) com o assunto da fonte imagética. b) As fontes imagéticas fazem referência aos mesmos contextos? O que as diferencia historica- mente, e por quê? Quais suas permanências e mudanças? Explique. c) É possível estabelecer relações entre as fontes selecionadas, tendo em vista o texto intro- dutório? Justifique. d) Ao pensarmos na história de nosso país, e em nossa diversidade cultural, o que é possível inferir sobre a vida de determinados grupos sociais e suas condições de existência no contex- to da primeira república? e) Considerando a poesia e a música, na sua opinião, há correspondências na atualidade, envol- vendo os modos de vida dos grupos sociais analisados? Acesse e assista! TV ESCOLA. Morte e Vida Severina. Animação (Completo). Direção: Afonso Serpa, Brasil, 2011. Disponível em: https://cutt.ly/eK5TaaO. Acesso em: 19 jan. 2022. Nessa segunda etapa da Situação de Aprendizagem, de forma a contextualizar e problematizar a temática, realize a leitura compartilhada do texto introdutório e propicie a produção de um glossário, caso seja pertinente. A partir dos questionamentos sugeridos, organize o momento de aprendizagem por meio da instrução por pares10, que possibilite a resolução de problemas e o trabalho colaborativo, com a troca de aprendizados e diversidade de opiniões, de forma a contribuir para a construção de um pensa- mento crítico. Para tanto, é importante o diagnóstico prévio dos estudantes para formação das duplas. A partir da leitura do texto que subsidia a reflexão, seguindo as etapas do procedimento, solicite aos estudantes a observação das imagens para que, inicialmente, com seu colega de trabalho, desen- volvam a análise sugerida pelo roteiro. Ao examinarem a fotografia de Marc Ferrez, de 1885, devem identificar uma obra ainda produzida no contexto do Segundo Reinado, na qual o fotógrafo intenciona criar uma representação idealizada sobre o Vale do Paraíba, e que valorizasse a economia cafeeira em decadência na região. Assim sendo, em muitos dos registros da série, as fotografias tinham caráter “posado”, ou seja, traziam um cotidiano que “naturalizava” a escravização de pessoas, seus instrumen- tos de trabalho, dentre outros aspectos. É importante resgatar, que os cafeicultores do sudeste foram grandes defensores da escravidão e, em seus aguerridos discursos da ruína econômica, concentra- vam grande parte de escravizados do país. No entanto, a fonte 1 pode também ser observada do ponto de vista da precariedade da população escravizada, que carregará permanências bastante evi- dentes em sua marginalização após a abolição, ou mesmo com o advento da República. Já as fontes 2 e 3, de 1894 e 1895, a despeito da formação predominantemente acadêmica, José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899), trouxe em suas telas o modo de vida interiorano, rural, articulando presente e passado, que, no contexto, teve produzidas pelas instituições artísticas e histo- 10 Peer Instruction (PI) ou Team Based Learning (TBL). Para conhecer a metodologia ativa, acesse: https://cutt.ly/iK5AAWQ. Acesso em: 04 fev. 2022. HISTóRIA 67 riográficas paulistas11, pinturas históricas que realçavam essa regionalização e reapropriavam a figura do “bandeirante” como “pioneiro, herói e desbravador valente”. Ou seja, havia o interesse em definir, principalmente pelas elites cafeeiras, uma identidade paulista.12 Nesse sentido, os “sertanejos”13 e “caipiras”14 representados por Almeida Júnior, de certa forma, revelam uma tradição mestiça do paulista e seus traços indígenas, ainda que ignore o negro nesse aspecto. Nas obras Amolação Interrompida e Nhá Chica, podem ser exploradas as evidências da cul- tura do homem do campo, seus hábitos, o tipo de trabalho desenvolvido e os traços físicos. Também a imagem do “caipira”, imortalizada por Monteiro Lobato15, na figura do Jeca Tatu, pode ser problema- tizada, trazendo elementos para reflexão sobre a associação entre “rural – atrasado” em oposição ao “progresso” das cidades litorâneas, como explicitado no texto introdutório. Esses aspectos devem possibilitar uma reflexão sobre nossas matrizes étnicas, algumas estereotipias em relação à regionali- zação e, principalmente, às manutenções de desigualdades de nosso país. No que concerne às fontes 4 e 5, os aspectos sociodescritivos das obras podem oportunizar um debate no qual os estudantes identifiquem as relações históricas e sociais do trabalhador rural, suas permanências e mudanças. A poesia de João Cabral de Melo Neto, publicada em 195516, aborda a temática do retirante em meio à morte, sua peregrinação do semiárido pastoril ao litorâneo das fazen- das de cana-de-açúcar, subsidiando a reflexão sobre a diáspora da seca, assim como a questão fun- diária no Brasil17. A canção de Chico Buarque de Holanda remete, em citações literais e alusões ao 11 Casos como o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) e o Museu Paulista, como afirma o texto: “[...] Não por acaso, surgiu em São Paulo uma vigorosa pintura histórica regionalista centrada na figura do “bandeirante”. Polo dinâmico da economia, além da demanda por arte, sentia-se ali a necessidade de criar uma personalidade própria, paulista, que a colocasse no mesmo patamar de prestígio político e cultural de oligarquias como a mineira e as nordestinas de larga história (e, por outro lado, respondesse à pressão crescente da migração intensa). Como resultado, surgiu, ao lado da figura do caipira, a represen- tação complementar do “espírito paulista” encarnada no mito historicista do bandeirante. Almeida Junior teve papel pioneiro na criação de ambas figuras. O desbravamento do Brasil era considerado pelos círculos intelectuais entrincheirados no Instituto Histórico de São Paulo como uma tarefa a ser levada a cabo pelos “paulistas”, do passado e do presente. A Província de São Paulo estava em meio a um processo vertiginoso de ocupação de seu interior (café, ferrovias). Não à toa, um pouco mais tarde, Washington Luís vai governar com o slogan ‘Governar é abrir estradas’”. In: SANTOS, F. L. de S. Almeida Júnior, Modernização e Identidade Paulista: Pintura da Vida Moderna, o Caipira e os Bandeirantes. ANPUH – XXIII Simpósio Nacional de História – Londrina, 2005. Disponível em: https://cutt.ly/LKHuhsu. Acesso em: 04 fev. 2022. 12 “[...] Assim, nesse jogo produzido pelas elites em que uma certa tradição para o Estado era gestada, os paulistas se faziam cada vez mais bandeirantes e menos caingangues. Além de se associarem ao perfil do homem republicano desde as suas origens, essas elites procuravam definir São Paulo como um lugar de homens brancos, por oposição ao país miscigenado. Não é à toa que, já no início do século XX, a política imigratória do Estado deu total preferência aos europeus”. PERUTTI, Daniela Carolina. Considerações sobre a representação do negro na obra de Almeida Júnior. Perspectivas, Revista de Ciências Sociais. São Paulo, v. 37, p. 65-85, jan./jun. 2010. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/perspectivas/article/view/3553. Acesso em: 04 fev. 2022. 13 As denominações de “sertanista/sertanejo” estiveram associadas às determinações geográficas, afastadas do litoral, ganhando contornos etimológicos dis- tintos de acordo com os projetos políticos ao longo dos séculos. Darcy Ribeiro define como o homem rural do Nordeste brasileiro, resultante do contato entre a população branca e os indígenas: “[...] Conformou também, um tipo |