Como as características físicas de uma paisagem podem influenciar a vida das sociedades?

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Na busca por um maior conforto, progresso ou simples vantagem econômica, o ser humano acaba por realocar os recursos naturais, mudando as configurações do ambiente em que vive. Isso se dá através de atividades como o corte de árvores, o tratamento do solo, criação de animais domésticos, a construção de edifícios, estradas asfaltadas, perfuração de montanhas para a abertura de minas ou túneis, ou ainda o lançamento de resíduos orgânicos e industriais no ar, rios e mares. Com essas e outras modificações, temos a paisagem geográfica que nos rodeia, misto de elementos naturais e processados.

Cientificamente, podemos conceituar o termo paisagem como resultado da combinação, em um dado território, de elementos físicos, biológicos e humanos que constituem sua unidade orgânica e se encontram estreitamente relacionados. Ou seja, é uma convivência harmônica entre humanos e elementos vivos e não-vivos, onde todos têm a possibilidade de viver normalmente.

Podemos ainda considerar o termo paisagem sob dois aspectos, o natural e cultural. Consideramos paisagem natural aquela onde não houve ação modificadora do homem, ou seja, esta conserva suas bases geológicas (geognóstica) e climáticas (vegetacional). Já a paisagem cultural é aquela modelada por meio de um grupo cultural, onde a cultura é o agente, a área natural é o meio e a paisagem cultural é o resultado.

Na antiguidade, a relação entre elementos físicos e humanos da paisagem foi notada pela primeira vez nos tratados de Estrabão e dos geógrafos da escola de Alexandria. No começo do século XIX, Carl Ritter estabeleceu a inter-relação entre a atividade do homem e o meio natural, o que deu origem à geografia humana. Surge pouco depois a escola alemã, que desenvolveu uma concepção determinista da geografia, pela qual o meio é responsável pela atividade e cultura humanas. Como contraponto, na França, temos a escola possibilista, representada por Paul Vidal de La Blache, que defende a influência do homem no meio, ao longo da evolução histórica e segundo seus próprios interesses.

No fim do século XIX, William Morris Davis define as paisagens morfológicas conforme seus processos de formação, o que leva os geógrafos a desenvolver os conceitos de paisagem natural, humanizada e geográfica global.

Hoje, a evolução de tais conceitos nos leva a entender que todos os elementos interagem: o relevo afeta o clima, que influi nas formas de vegetação, cuja maior ou menor densidade favorece ou dificulta a erosão etc. Esta relação leva a um equilíbrio dinâmico e instável, em constante transformação.

Atualmente, quase todas as paisagens da Terra, salvo as polares, os altos cumes das cordilheiras, as matas virgens e o interior dos desertos, apresentam influência humana ou cultural em maior ou menor medida. As paisagens em que a ação do homem não se impôs são predominantemente naturais e de escasso valor econômico.

O grau mais alto de transformação da paisagem ocorre na cidade, onde esta é quase absoluta. Já as paisagens rurais são qualificadas pelos usos agrícolas, pecuários e florestais do território, assim como outros fatores de caráter econômico (estradas, ferrovias, minas e indústrias).

Leia também:

  • Paisagens
  • Tipos de paisagens
  • Paisagens rurais e urbanas
  • Paisagem climatobotânica

Texto originalmente publicado em //www.infoescola.com/geografia/transformacao-das-paisagens-naturais-pelo-homem/

A erosão, o desmatamento e as queimadas são fatores recorrentes de transformação da paisagem em função do uso do solo como recurso fundamental para as práticas de atividades humanas. Esses fatores são agentes causadores de impactos ambientais na agricultura de grande escala de produção. Nesse sentido, relacione os agentes citados na coluna da esquerda aos seus respectivos impactos ambientais descritos na coluna da direita:

UM DEBATE ATRAV�S DA EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA[1]

Demian Garcia Castro - UERJ

Em momentos assim, num barco ou numa praia, pela janela de um trem ou em uma casa em um bairro qualquer, a paisagem esta sempre atraindo nossa aten��o. � como se estiv�ssemos em um teatro, diante de uma cenografia rec�m revelada por um abrir de cortinas. Bela ou feia, clara ou mal iluminada, pr�xima ou distante n�o importa somos atra�dos pela paisagem como s�o os olhares dos espectadores atra�dos pelo palco. E o que vemos ou percebemos estimula nossa imagina��o e desenvolve nossa capacidade de observa��o. Aquilo que os olhos v�em junte-se os est�mulos sonoros provenientes de uma circunst�ncia qualquer e j� n�o somos alvo apenas do que vemos, mas tamb�m do que ouvimos. (Nunes, 2002, p.216)

 

INTRODU��O

As discuss�es sobre epistemologia da geografia come�am a ganhar espa�o no cen�rio da Geografia Humana, a contribui��o de Bailly e Ferras (1997) vem no sentido de sistematizar e esclarecer coisas que costumamos enxergar de forma muito parecida. Hist�ria do Pensamento Geogr�fico, Metodologia da Geografia, Teoria da Geografia e Epistemologia da Geografia n�o s�o a mesma coisa. Podemos dizer, por exemplo, que epistemologia n�o significa hist�ria, n�o somente hist�ria, por outro lado n�o existe epistemologia sem hist�ria (Bailly & Ferras, 1997).

A palavra epistemologia etimologicamente divide-se em episteme (conhecimento cient�fico) e logia (explica��o, opini�o, raz�o, proposi��o). Algumas express�es aparecem com significado similar, tais como: Gnosiologia, Teoria do Conhecimento, Filosofia da Ci�ncia. As distin��es revelam-se de acordo com a escola de pensamento com que se est� trabalhando. No mundo Anglo-sax�o, epistemology, vincula-se a teoria do conhecimento, j� no mundo franc�s, �pist�mologie relaciona-se a filosofia da ci�ncia. Podemos definir epistemologia como o estudo das ci�ncias consideradas como realidade que se observam, se descrevem e se analisam, designando a estrutura dos conceitos, m�todos, princ�pios, hip�teses e at� mesmo o estudo do desenvolvimento hist�rico. (Machado, 2003)

Desenvolveremos a seguir um trabalho sobre Epistemologia da Geografia. A base filos�fica de interpreta��o est� relacionada as proposi��es de Habermas descritas em Unwin (1995). Habermas divide as ci�ncias em emp�rico-anal�ticas, hist�rico-hemen�uticas e cr�ticas. N�o iremos aqui discutir estas filosofias, observaremos como o conceito de paisagem pode ser inserido em cada uma destas classifica��es a partir de tr�s importantes autores da Geografia: Sauer, Duncan e Santos, tentando observar como estes s�o embasados por estas diferentes concep��es te�rico-filos�ficas. Antes, por�m, faremos uma apresenta��o a respeito do conceito de paisagem.

ALGUMAS CONSIDERA��ES SOBRE O CONCEITO DE PAISAGEM

Paisagem, palavra de uso quotidiano, que cada pessoa utiliza a seu modo; o que n�o impediu de se tornar um voc�bulo � moda. Paisagem, uma destas no��es utilizadas por um n�mero sempre crescente de disciplinas, que muitas vezes ainda se ignoram. Paisagem, enfim, um dos temas cl�ssicos da investiga��o geogr�fica. Conforme o interesse do que � objeto ou uma maneira como se encara a pr�pria no��o de paisagem difere. Se um ge�grafo, um historiador, um arquiteto se debru�arem sobre a mesma paisagem, o resultado de seus trabalhos e a maneira de conduzi-los ser�o diferentes, segundo o �ngulo de vis�o de cada um dos que a examinam. (Chantal & Raison, p.138)

 O termo paisagem � extremamente poliss�mico, e as acep��es disciplinares a ele relacionadas s�o t�o vagas quanto variadas. Para a geografia a paisagem � um conceito-chave, ou seja, um conceito capaz de fornecer unidade e identidade � geografia num contexto de afirma��o da disciplina. A import�ncia deste conceito ao longo da hist�ria do pensamento geogr�fico tem sido variada, sendo relegado a uma posi��o secund�ria, suplantada pela �nfase nos conceitos de regi�o, espa�o, territ�rio e lugar, considerados mais adequados as necessidades contempor�neas (Corr�a e Rosendahl, 1998, p.7).

Os ge�grafos produziram uma reflex�o conceitual pr�pria, seguindo os passos de Humboldt e de outros naturalistas rom�nticos. A geografia, tendo como objeto de estudo a paisagem, viabilizou-se enquanto disciplina acad�mica. Estes ge�grafos associaram a paisagem a por��es do espa�o relativamente amplas que se destacavam visualmente por possu�rem caracter�sticas f�sicas e culturais suficientemente homog�neas para assumirem uma individualidade (Holzer, 1999, p.151). O conceito varia de sentidos de acordo com a escala de observa��o e os crit�rios de classifica��o, conforme a geografia for entendida prioritariamente como ci�ncia natural ou como ci�ncia humana (Chantal & Raison, ano).

O entendimento da paisagem geogr�fica conheceu duas fases: no in�cio do s�culo XX com a escola regionalista francesa na qual a paisagem era capaz de fornecer boa carga de informa��o sobre a organiza��o social nela compreendida, e outra fase em meados do s�culo XX com o desenvolvimento dos transportes e meios de comunica��o, da circula��o de mercadorias e capitais, o que fez com que (...) a paisagem perdesse seus fundamentos locais para refletir as rela��es das redes de economia e sua simbologia universalizante. (...) Entenda-se que uma medida econ�mica situada nos centros mundiais de decis�o pode modificar a paisagem situada a milhares de quil�metros. (Y�zigi, 2002, p.19)

Depois de ser um tema central da Geografia no in�cio do s�culo XX, o conceito de paisagem teve sua import�ncia reduzida no contexto de contesta��o que a geografia cl�ssica passou com a incorpora��o de outras bases epistemol�gicas ao pensamento desta ci�ncia, como as relacionadas ao positivismo l�gico. Por�m, o conceito est� novamente em debate, mas o problema de seu significado permanece em aberto. Retomada com a emerg�ncia de uma Nova Geografia Cultural, a discuss�o sobre paisagem passou a ser revestida de novos conte�dos, devido a amplia��o dos horizontes explicativos da disciplina com a incorpora��o de no��es como percep��o, representa��o, imagin�rio e simbolismo (Castro, 2002). Esta retomada da dimens�o cultural no pensamento geogr�fico pode ser ampliada para o contexto do debate cient�fico como um todo, no �mbito de revis�o das quest�es que fundamentaram a modernidade.

Uma nota sobre o voc�bulo alem�o landschaft

Breve esclarecimento merece ainda as diferentes acep��es que o voc�bulo recebe de acordo com a l�ngua em que � empregado. Assim, landschaft (alem�o) e paysage (franc�s), certamente n�o significam a mesma coisa. A palavra alem� � mais antiga e possui um significado mais complexo que a de l�ngua latina, associada ao renascimento e, em sua origem, as artes pl�sticas. De acordo com Holzer

"Landschaft se refere a uma associa��o entre s�tio e os seus habitantes, ou se preferirmos, de uma associa��o morfol�gica e cultural. Talvez tenha surgido de Land schaffen, ou seja, criar a terra, produzir a terra. Esta palavra transmutada em Landscape chegou a geografia norte-americana pelas m�os de Sauer que, cuidadosamente, enfatizava que seu sentido continua sendo o mesmo: o de formatar (land shape) a terra, implicando numa associa��o das formas f�sicas e culturais. (1999, p.152)

 Podemos completar nos utilizando de Freitas et. al. (1999), que nos diz que landschaft n�o tem correspondente em outras l�nguas, comportando um conjunto de significados e vis�es de mundo que fornecem ao conceito uma gama de interpreta��es e utiliza��es muitas mais amplas que das demais escolas de geografia. Segundo estes autores a paisagem alem� compreende um complexo natural total, representado, de forma integrada, pela natureza e pela a��o humana (Freitas et. al., 1999, p. 31).

A pesar de amplamente utilizado na linguagem comum de diversos paises de hist�rias pol�ticas e culturais absolutamente distintas, a paisagem guarda consigo o sentido de estar associada ao olhar.

A paisagem entre visibilidade e visualidade

Sendo a paisagem o que se v�, sup�e-se necessariamente a dimens�o real do concreto, o que se mostra, e a representa��o do sujeito, que codifica a observa��o. A paisagem resultado desta observa��o � fruto de um processo cognitivo, mediado pelas representa��es do imagin�rio social, pleno de valores simb�licos. A paisagem apresenta-se assim de maneira dual, sendo ao mesmo tempo real e representa��o (Castro, 2002).

Menezes nos diz que devemos descartar os enfoques polares, realistas ou idealistas. Os primeiros pautados na materialidade e objetividade morfol�gica da paisagem em seu modo dado ou marcado pela a��o humana. Os segundos pensam a paisagem como uma proje��o do observador. Segundo o autor n�o devemos pensar em duas faces do mesmo fen�meno, uma material, inerte e outra mental, criadora. Melhor � reconhecer que ela � um dado tal como percebido, um fragmento do mundo sens�vel tal qual est� dotado de personalidade por uma consci�ncia (Lenclud apud Menezes, 2002, p. 32).

Lucr�cia Ferrara nos traz importante contribui��o ao discutir visualidade e visibilidade, categorias dos modos de ver, de natureza da imagem. A visualidade corresponde a imagem do mundo f�sico e concreto, j� a visibilidade � elabora��o reflexiva do que � fornecido visualmente transformado em fluxo cognitivo. Nas palavras da autora, se utilizando tamb�m de Jameson,

A visualidade corresponde registro um dado f�sico e referencial; a visibilidade, ao contr�rio, � propriamente, semi�tica, partindo de uma representa��o visual para gerar um processo perceptivo complexo claramente marcado como experi�ncia geradora de um conhecimento cont�nuo, individual e social (Jameson, 1994). Na visibilidade o olhar e o visual n�o se subordinam ou conectam-se um ao outro, como ocorre com a visualidade, ao contr�rio, ambos se distanciam um do outro para poder ver mais. Estrat�gico e indagativo o olhar da visibilidade esquadrinha o visual para inseri-lo, comparativamente, na pluralidade da experi�ncia de outros olhares individuais e coletivos, subjetivos e sociais, situados no tempo e no espa�o. (Ferrara, 2002, p. 74)

 Talvez como s�ntese destas quest�es possamos apresentar o brilhante pensamento de Berque, segundo o qual a paisagem � simultaneamente uma marca, uma geo-grafia, que � impressa pela sociedade na superf�cie terrestre, e ao mesmo tempo estas marcas s�o matrizes, ou seja, constituem a condi��o para a exist�ncia e para a a��o humana. Se por um lado ela � vista por um olhar pelo outro ela determina este olhar. Nas palavras do autor, (...) a paisagem � plurimodal (passiva-ativa-potencial.) como � plurimodal o sujeito para o qual a paisagem existe; (...) a paisagem e o sujeito s�o co-integrados em um conjunto unit�rio que se autoproduz e se auto-reproduz. (Berque, 1998, p.86).

Partiremos a seguir para uma discuss�o pautada no pensamento filos�fico de Habermas, apresentando suas diferentes abordagens de ci�ncia e posteriormente observando como o conceito de paisagem pode ser inserido em cada uma destas classifica��es.

 

DIFERENTES ABORDAGENS DAS CI�NCIAS

Nossas discuss�es t�m por base o pensamento de Habermas, lido atrav�s da obra de Unwin (1995), que discute a teoria da geografia a partir das contribui��es deste pensador. Aqui no Brasil tal classifica��o vem sendo utilizada, recebendo denomina��es um pouco diferenciadas, por Sp�sito (1999). Habermas divide as ci�ncias em tr�s tipos, ou seja, categorias de processo que apontam conex�o entre regras metodol�gicas e interesse do conhecimento: 1. Emp�rico-anal�tica, no qual se enquadra o positivismo cl�ssico e o positivismo l�gico; 2. Hist�rico-hermen�utica, englobando a fenomenologia, a hermen�utica e o existencialismo; 3. Cr�tica, relacionada � Marx e Freud. � claro que n�o utilizaremos esta classifica��o como uma camisa de for�a, mas buscaremos atrav�s dela elementos para uma melhor compreens�o de textos geogr�ficos.

APRESENTANDO DIFERENTES LEITURAS DO CONCEITO DE PAISAGEM: UMA DISCUSS�O EPISTEMOL�GICA

Com a retomada do conceito de paisagem na d�cada de 1970, surgiram novas defini��es embasadas em outras matrizes epistemol�gicas. Na realidade, na paisagem apresentam-se simultaneamente as diversas dimens�es que cada matriz epistemol�gica privilegia. Assim, podem ser observadas as seguintes dimens�es: morfol�gica, funcional, hist�rica, espacial e simb�lica (Corr�a & Rosendahl, 1998). Desta forma analisamos a seguir os textos de Carl Sauer, Denis Cosgrove e Milton Santos, buscando estas dimens�es.

 

Carl Sauer e a Morfologia da Paisagem

As proposi��es de C. Sauer para o estudo da paisagem estavam na tentativa de resolver os maiores problemas da geografia da �poca, isto �, suas dualidades fundamentais, geografia f�sica e Humana, Geral e Regional, e tamb�m a aus�ncia de um m�todo objetivo pr�prio. As inspira��es de Sauer s�o em grande parte provenientes de seu contato com a Geografia Alem�, e as obras de Schl�ter e Passarge. Para estes o estudo da paisagem deveria se restringir �s formas, aos aspectos vis�veis, excluindo os fatos n�o materiais da atividade humana (Gomes, 1996).

Sauer logo no come�o de seu artigo A morfologia da paisagem afirma que a ci�ncia adquire identidade atrav�s da escolha de um objeto e de um m�todo, a geografia deveria se limitar ao que � evidente da mesma forma que as outras disciplinas. Neste caso o evidente est� na paisagem, devendo esta ser o objeto fundamental da geografia.

Corr�a & Rosendahl indicam que para Sauer

a paisagem geogr�fica � vista como um conjunto de formas naturais e culturais associadas em uma dada �rea, � analisada morfologicamente, vendo-se a integra��o das formas entre si e o car�ter org�nico ou quase org�nico delas. O tempo � uma vari�vel fundamental. A paisagem cultural ou geogr�fica resulta da a��o, ao longo do tempo, da cultura sobre a paisagem natural. (1998, p.9)

A an�lise de Sauer procura sempre um plano sistem�tico mais geral, enfatizando as an�lises estruturais e funcionais, observam-se claramente as bases do pensamento positivista em sua defini��o de paisagem.

Por defini��o a paisagem tem uma identidade que � baseada na constitui��o reconhec�vel, limites e rela��es gen�ricas com outras paisagens. Sua estrutura e fun��o s�o determinadas por formas integrantes e dependentes. A paisagem � considerada, portanto, em um certo sentido, como tendo uma qualidade org�nica. (Sauer, 1998, p.23)

O que fica mais claro quando o autor nos fala da aplica��o de um m�todo morfol�gico, no qual A agrega��o e o ordenamento dos fen�menos como formas que est�o integradas em estruturas e o estudo comparativo dos dados dessa maneira organizados constituem o m�todo morfol�gico de s�ntese, um espec�fico m�todo emp�rico. (1998 p. 30-31).

As criticas efetuadas ao pensamento de Sauer referem-se ao fato de que a an�lise da paisagem n�o pode estar limitada aos sentidos. O que a confundiria com o sentido gen�rico do senso comum que serve para designar a apar�ncia de um espa�o tal como ele � imediatamente percebido, e serve tamb�m, simplesmente para designar uma parte limitada do espa�o. (Gomes, 1996, p. 239).

 

Denis Cosgrove e o Simbolismo da Paisagem

O estudo de Cosgrove destaca quest�es que de forma alguma fariam parte de uma geografia pautada no positivismo cl�ssico ou no positivismo l�gico. J� em destaque no t�tulo de seu texto, o autor nos diz que a geografia est� em toda parte, para destacar a cultura e o simbolismo nas paisagens humanas. Temos aqui temas e abordagens pr�prias de uma renova��o das ci�ncias que ganha for�a na d�cada de 1970, substituindo os ideais positivistas anteriores.

Cosgrove destaca que o ge�grafo deveria se esfor�ar para mostrar que a geografia existe para ser apreciada, e que muitas das vezes temos agido no sentido de obscurecer em vez de aumentar esse prazer. No meio de um funcionalismo utilit�rio, a explica��o geogr�fica � estritamente pr�tica. Sendo banidas da Geografia

"as paix�es inconvenientemente, �s vezes assustadoramente poderosas, motivadoras da a��o humana, entre elas as morais, patri�ticas, religiosas, sexuais e pol�ticas. Todos sabemos qu�o fundamentalmente estas motiva��es influenciamnosso comportamento di�rio. (...) Contudo na geografia humana parecemos intencionalmente ignor�-las ou neg�-las. (...) nossa geografia deixa escapar muito do significado contido na paisagem humana tendendo a reduzi-la a uma impress�o impessoal de for�as demogr�ficas e econ�micas". (Cosgrove, 1998, p.97)

 O autor prop�e-se a aplicar a interpreta��o das paisagens humanas as habilidades que empregamos ao analisar um romance, um poema, um filme ou um quadro. Assim, a tratar�amos como express�o humana composta de muitas camadas de significados, o que � bastante incomum. Desta forma o que ele se prop�e a tratar a Geografia como uma humanidade e como uma ci�ncia social.

Uma caracter�stica importante de ser ressaltada � que o autor aborda estas quest�es relacionadas ao simbolismo e a cultura, o que encaixa seu trabalho em um determinado tipo de ci�ncia, mas h� tamb�m um forte conte�do cr�tico. Observa-se como o estudo da cultura est� intimamente ligado ao estudo do poder. Revelando as rela��es de domina��o e opress�o. Segundo o autor

Um grupo dominante procurar� impor sua pr�pria experi�ncia de mundo, suas pr�prias suposi��es tomadas como verdadeiras, como a objetiva e v�lida cultura para todas as pessoas. O poder � expresso e mantido na reprodu��o da cultura. Isto � melhor concretizado quando menos vis�vel, quando as suposi��es culturais do grupo dominante aparecem simplesmente como senso comum. Isto � as vezes chamado de hegemonia cultural. H�, portanto, culturas dominantes e subdominantes ou alternativas, n�o apenas no sentido pol�tico, mas tamb�m em termos de sexo, idade e etnicidade. (Cosgrove, 1999, p.104-105).

Muito do simbolismo da paisagem reproduz as normas culturais estabelecendo os valores de grupos dominantes por toda uma sociedade.

Podemos terminar esta parte observando como o autor prop�e trabalhar as paisagens ao mesmo tempo de forma cr�tica e original, incorporando a dimens�o simb�lica, contribuindo sobremaneira ao pensamento geogr�fico

As paisagens tomadas como verdadeiras de nossas vidas cotidianas est�o cheias de significado. Grande parte da Geografia mais interessante est� em decodific�-las. (...) Porque a geografia esta em toda parte, reproduzida diariamente por cada um de n�s. A recupera��o do significado em nossas paisagens comuns nos diz muito sobre n�s mesmos. Uma geografia efetivamente humana cr�tica e relevante, que pode contribuir para o pr�prio n�cleo de uma educa��o humanista: melhor conhecimento e compreens�o de n�s mesmos, dos outros e do mundo que compartilhamos. (Cosgrove, 1999, p. 121)

Milton Santos e a distin��o entre paisagem e espa�o

O prof. Milton Santos dispensa apresenta��o, com uma postura sempre cr�tica, enxergando o mundo a partir do lugar, desenvolveu desta forma um pensamento singular sobre os pa�ses de Terceiro Mundo, reconhecido por toda comunidade geogr�fica.

Santos em seu livro a Natureza do Espa�o (2002), estabelece uma necessidade de distin��o epistemol�gica entre espa�o e paisagem. Utiliza-se de H�gerstrand, segundo o qual, "a a��o � uma a��o na paisagem, sendo a paisagem que d� forma a a��o". Santos discorda da posi��o do autor sueco, dizendo que onde este escreve paisagem teria escrito espa�o. Paisagem e espa�o n�o s�o sin�nimos. "A paisagem � um conjunto de formas que, num dado momento, exprime as heran�as que representam as sucessivas rela��es localizadas entre homem e natureza. O espa�o s�o as formas mais a vida que as anima" (2002, p.103).

O autor nos oferece como exemplo desta distin��o a bomba de n�utrons, um projeto do Pent�gono abortado por Kennedy durante a Guerra Fria. Esta bomba seria capaz de aniquilar toda a vida humana em uma dada �rea, mas mantendo as constru��es. Se esta bomba fosse utilizada ter�amos antes o espa�o e ap�s a explos�o somente a paisagem.

Define a paisagem como sendo transtemporal, pois junta objetos passados e presentes em uma constru��o transversal. J� o espa�o � sempre o presente, uma constru��o horizontal, uma situa��o �nica.

O seu car�ter de palimpsesto revela um passado j� morto que permite rever as etapas do passado numa perspectiva de conjunto. "A paisagem � hist�ria congelada, mas participa da hist�ria viva. S�o suas formas que realizam, no espa�o, as fun��es sociais" (p.107).

O autor trabalha dentro de uma perspectiva cr�tica incorporando o materialismo hist�rico e dial�tico em sua an�lise. A quest�o � que ele esvazia o conceito de paisagem em prol de uma valoriza��o do espa�o. A paisagem � o que � poss�vel de ser abarcada com a vis�o, destitu�da da sociedade, possuidora de um car�ter hist�rico em suas distintas materialidades presentes. As contradi��es se realizam na dial�tica entre espa�o e sociedade, nas palavras do autor

N�o existe dial�tica poss�vel das formas enquanto formas. Nem a rigor entre paisagem e sociedade. A sociedade se geografiza atrav�s das formas, atribuindo-lhe uma fun��o que vai mudando ao longo da hist�ria. O espa�o � a s�ntese sempre provis�ria entre o conte�do social e as formas espaciais. A contradi��o � entre sociedade e espa�o.(Santos, 2002, p.109)

Quando s�o atribu�dos valores a paisagem esta se transforma em espa�o geogr�fico. O fato de existirem simplesmente enquanto forma n�o basta. Por�m, a forma utilizada � diferente, porque seu conte�do � social. Assim, esta se torna espa�o, porque forma-conte�do.

CONSIDERA��ES FINAIS (por�m n�o conclusivas)

A defini��o mais simples de paisagem, como um espa�o abarcado por um "golpe de vista", bastante usual no senso comum, n�o d� conta da complexidade que o termo abrange. Como buscamos demonstrar neste trabalho.

Chantal & Raison almejam "que em torno deste voc�bulo, in�ado de tantas inspira��es existenciais quando de significados cient�ficos, se realize uma s�ntese eficaz das rela��es dial�ticas entre natureza e sociedade" (p.158).

O conceito de paisagem e seus significados objetivos e subjetivos, marca e matriz, real e representa��o, material e mental, tempo e cultura formatando o espa�o, impregnado de diversos s�mbolos, reveladora de rela��es de poder, etc., nos confirma a polissemia e amplitude do conceito. Revelada de acordo com a matriz epistemol�gica segundo o qual se est� embasado. Enfim, paisagem � um conceito-chave para n�s ge�grafos a partir do qual podemos construir diversificadas abordagens, as mais ricas poss�veis para a nossa ci�ncia.

Refer�ncias Bibliogr�ficas:

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COSGROVE, Denis. A geografia est� em toda parte: Cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORR�A, Roberto Lobato & ROZENDAHL, Zeny (orgs.). Paisagem, Tempo e Cultura. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998.123p. p.92-123

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MACHADO, M�nica Sampaio. Anota��es de aula da Disciplina Epistemologia da Geografia. Programa de P�s-Gradua��o em Geografia da UERJ: Rio de Janeiro, 2003.

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NUNES, Celso. A paisagem como teatro. In: Y�ZIGI, Eduardo (org.). Paisagem e Turismo. S�o Paulo: Contexto, 2002. 226p. p.215-223 (Cole��o Turismo)

SANTOS, Milton. A natureza do espa�o: t�cnica e tempo raz�o e emo��o. S�o Paulo: Edusp, 2002. 384p.

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Como uma paisagem pode nos revelar o modo de vida das sociedades?

A análise da paisagem permite-nos verificar as diferentes dinâmicas concernentes ao funcionamento das sociedades, pois ela revela ou omite informações, de forma a denunciar as características econômicas, políticas e culturais que estruturam o processo de formação e organização do espaço social.

Como a transformação da paisagem modificam o modo de viver das pessoas?

Isso se dá através de atividades como o corte de árvores, o tratamento do solo, criação de animais domésticos, a construção de edifícios, estradas asfaltadas, perfuração de montanhas para a abertura de minas ou túneis, ou ainda o lançamento de resíduos orgânicos e industriais no ar, rios e mares.

Como a paisagem se relaciona com o ser humano?

(UEFS 2011) O meio, ou paisagem, natural de uma área é formado de elementos da natureza que interagem naquele lugar, ou seja, que são interdependentes. Os seres humanos, ao ocupar esse espaço, se relacionam com esses elementos: clima, estrutura geológica e relevo, solo, vegetação e fauna originais e hidrografia.

Como é a relação da sociedade com a natureza?

As relações entre sociedade e natureza refletem e produzem as transformações ocorridas no contexto do espaço geográfico. Desde a constituição das primeiras sociedades e o surgimento das primeiras civilizações, observa-se a existência de uma intensa e nem sempre equilibrada relação entre sociedade e natureza.

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