Como a unificação da Itália e da Alemanha se relacionam com as causas da guerra?

O processo de Unificação Alemã esteve inserido na política de nacionalidades ocorrida em meados do século XIX, principalmente na Europa, como resultado da expansão do capitalismo, unindo as políticas e ideologias liberais e nacionalistas. O conservadorismo do Antigo Regime dava os seus últimos suspiros. Porém, na Alemanha, as forças aristocráticas ligadas ao Antigo Regime iriam se aliar à nascente burguesia para formar o novo Estado.

No aspecto econômico, os primeiros passos para a unificação dos diversos Estados germânicos foi a criação do Zollverein, em 1834. O Zollverein era uma zona aduaneira que unificava comercialmente diversos Estados germânicos, com o intuito de dinamizar o capitalismo alemão e criar um mercado nacional. O Zollverein foi uma amostra do prestígio e fortalecimento conseguido pela Prússia frente aos demais Estados, bem como um exemplo de como as pretensões de unificação nacional necessitavam do afastamento da Áustria de seu caminho, já que essa foi deixada de fora da união aduaneira pela diplomacia prussiana.

O governo austríaco não tinha interesse em uma unificação alemã. Essa medida havia ficado clara desde o fim das guerras napoleônicas, quando sob os auspícios da Áustria foi criada a Confederação Germânica, durante o Congresso de Viena, em 1815. Para superar esse poder austríaco, as classes dominantes prussianas contaram com a habilidade diplomática e militar de Otto von Bismarck, primeiro-ministro de Guilherme I da Prússia.

Bismarck pretendia alcançar a Unificação Alemã através do estímulo ao sentimento nacionalista germânico, principalmente com o recurso das guerras contra os inimigos nacionais. O primeiro conflito bélico nesse sentido ocorreu em 1864, durante a Guerra dos Ducados, em que os prussianos, com o apoio austríaco, pretendiam conquistar os ducados de população alemã de Slesvig e Holstein do domínio dinamarquês.

Os prussianos e austríacos conseguiram a vitória, ficando cada um com um dos ducados. Mas o governo prussiano não tinha interesse em manter essa aliança, passando a questionar a administração austríaca na Confederação Germânica. O estopim do conflito ocorreu em 1866, quando ao ocupar o Holstein, os prussianos iniciaram a Guerra Austro-Prussiana. Em sete semanas a Áustria foi derrotada, demonstrando um imenso poderio bélico dos prussianos. Esse poderio era resultado dos altos investimentos feitos na indústria bélica pelas classes dominantes da Prússia.

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Com a derrota da Áustria, foi dissolvida a Confederação Germânica através do Tratado de Praga. O resultado foi a formação da Confederação Germânica do Norte, sob a liderança do kaiser Guilherme I. Porém, os Estados germânicos do Sul não se dispuseram a compor a confederação.

Para conseguir realizar por completo o processo de criação da Alemanha era necessário ainda acabar com as interferências de Napoleão III, da França, no projeto prussiano. Apenas uma guerra contra o inimigo externo seria capaz de estimular o sentimento nacionalista capaz de unir os germânicos. O motivo para a guerra se deu quando Leopoldo Hohenzollern, primo de Guilherme I, deveria subir ao trono espanhol, mas foi impedido por Napoleão III.

Para estimular a guerra entre os dois países, Bismarck fraudou uma carta do kaiser ao embaixador francês, no documento conhecido como despacho de Ems. Sentindo-se afrontado, o governo de Napoleão declarou o início da Guerra Franco-Prussiana. Ocorrida entre 1870 e 1871, a guerra levou os Estados germânicos do Sul a se aliarem militarmente à Confederação Germânica do Norte, abrindo caminho para a formação da Alemanha.

Com a vitória prussiana, em janeiro de 1871, o kaiser Guilherme I foi declarado Imperador da Monarquia Federal Germânica, também conhecida como Segundo Reich, dentro do Palácio de Versalhes, para humilhação dos franceses. Os alemães ainda anexaram as ricas regiões francesas da Alsácia e da Lorena, além de haver a necessidade de receber uma indenização de cinco bilhões de francos.

Esse processo resultou no fortalecimento do revanchismo francês, um sentimento nacionalista coletivo que se opunha aos alemães. Esse seria um dos motivos da deflagração da Primeira Guerra Mundial. Além disso, com a unificação, a Alemanha conseguiu se desenvolver economicamente, tornando-se a principal potência europeia no início do século XX.

Aproveite para conferir a nossa videoaula relacionada ao assunto:

Como os descendentes de italianos e alemães no Brasil estão relacionados com a primavera dos povos? Descubra essa e outras histórias singulares nesse resumo de História do Curso Enem Gratuito!

O século XIX inundou a Europa com revoluções que não só transformaram sua cultura, política e fronteiras, mas também impactaram a vida humana nos outros continentes. As transformações advindas de crises políticas eram consequências do iluminismo e das revoluções francesa e americana somadas ao espírito nacionalista da época. Neste momento, é central a Primavera dos Povos, onda revolucionária iniciada em 1848 que marcou estas transformações. É nesse contexto que ocorreram a unificação italiana e alemã.

Até aquele momento, tais nações não existiam enquanto governos organizados, mas apenas como territórios autônomos que possuíam características em comum. Também não existia o italiano ou o alemão enquanto identidade nacional. Antes das unificações devemos nos referir àqueles habitantes como napolitanos, calabreses, genoveses, bávaros, saxões, etc.

Unificação italiana e alemã

As unificações também atendiam aos interesses da alta burguesia das nações envolvidas. Assim como no fim da Idade Média, territórios unificados significavam moedas únicas, pesos e medidas consensuais, diminuição das barreiras alfandegárias, menos impostos e expansão comercial. Desta forma, o movimento nacionalista está diretamente ligado aos interesses capitalistas no século XIX.

Unificação italiana

Como a unificação da Itália e da Alemanha se relacionam com as causas da guerra?
Mapa dos reinos italianos antes da unificação. Disponível em: http://twixar.me/gsNn

O desejo de controlar toda a península itálica não surgiu no século XIX, mas é durante a unificação italiana que grupos vão se mobilizar para romper as fronteiras internas daquela região. A principal liderança neste processo foi Giuseppe Mazzini, um republicano que desejava unificar a Itália para garantir sua soberania em relação às outras potenciais europeias. Na época, o império Austro-Húngaro e a França não só tinham domínios na península itálica como também exerciam forte influência política sobre a região.

A atuação de Mazzini e seus companheiros para a unificação italiana ocorreu, principalmente, por meio de sociedades secretas. Ele fez parte da Carbonária, defensora dos valores liberais, e posteriormente fundou as organizações Jovem Itália e Jovem Europa, com vistas a fortalecer as unificações e independências. Também teve papel de destaque enquanto liderança Giuseppe Garibaldi, a mesma figura que liderou os farrapos no Brasil durante o período regencial.

Republicanos, monarquistas e burgueses

Para além dos republicanos e dos monarquistas, foi a burguesia que forneceu o apoio decisivo para o sucesso da unificação, já que a classe era poderosa naquele período. É da região norte e insular da península, mais especificamente do reino de Piemonte-Sardenha, que partiu o movimento de unificação mais efetivo. A parte norte era a mais industrializada e também a mais rica. Por conta disso, era do interesse da burguesia daquela região a unificação territorial, pois poderiam expandir seus negócios e pagar menos impostos.

O rei Vitor Emanuel II e o ministro Cavour, de Piemonte, fariam a frente monarquista da unificação, expulsando os austríacos e, posteriormente, os franceses. A unificação iniciou no norte e foi em direção ao sul. Para expulsar a influência austríaca, os piemonteses firmaram uma cooperação com os franceses. No sul, Garibaldi com seu Exército dos Camisas Vermelhas unificou o reino das Duas Sicílias à Piemonte-Sardenha, num apoio a Vitor-Emanuel. As regiões que restavam eram Roma e Veneza.

Guerra Franco-Prussiana

A Guerra Franco-Prussiana foi decisiva para a anexação desses territórios, já que Veneza estava sob o domínio austríaco e Roma sob o domínio francês. Nas negociações com a Prússia ao término da guerra, a Áustria acabou entregando Veneza para os italianos, que haviam apoiado os alemães.

Já no caso francês, quando estourou a guerra, foi o momento que os italianos puderam invadir a região, aproveitando a mudança de foco de Napoleão III. O território, que foi unificado por meio da guerra, não tinha uma população que se podia chamar de italiana. Daquele momento em diante se iniciou o projeto de criação da identidade italiana sob uma monarquia liberal, sobretudo através da língua, da cultura e da história.

Unificação alemã

Assim como o caso da unificação italiana, na Alemanha o processo foi iniciado pela nação mais industrializada e rica da Europa Central: a Prússia. Esse Estado chefiava, juntamente com o Império Austro-Húngaro, a Confederação Germânica. A Confederação era formada por um conjunto de regiões que tinham o alemão como idioma. Essa forma de organização permitiu uma unificação econômica antes mesmo da unificação política. Tratava-se do Zollverein, uma política de abolição das tarifas aduaneiras entre aquelas nações instituída pela Prússia, mas não compartilhada pela Áustria.

Como a unificação da Itália e da Alemanha se relacionam com as causas da guerra?
Mapa dos reinos alemães antes da unificação. Disponível em: http://twixar.me/8sNn

O Zollverein possibilitou o enriquecimento da burguesia germânica, mas a monarquia prussiana desejava mais. Assim como Piemonte contou com o conde Cavour, a unificação alemã teve como principal líder o ministro Otto Von Bismarck. Por meio de investimentos estatais, Bismarck fortaleceu a economia e as forças armadas.

Esses costumam ser sinais de preparação para um futuro conflito – como de fato aconteceu. Para o contínuo enriquecimento da nação prussiana, a burguesia precisava ampliar sua fonte de recursos e seu mercado consumidor. A unificação territorial contribuía para isso, e Bismarck atuou justamente para este objetivo.

A estratégia adotada para ampliação do território prussiano e construção do Império Alemão foi o ingresso e vitória de três guerras planejadas: Contra a Dinamarca (Guerra dos Ducados), contra o Império-Austro Húngaro e contra a França (Guerra Franco-Prussiana).

O espírito nacionalista foi instrumentalizado por Bismarck para dar início a esses conflitos, convencendo o povo prussiano sobre seu direito aos territórios vizinhos. Além disso, Bismarck realizou e desfez alianças de maneira estratégica para ampliar os domínios prussianos aos poucos.

Para iniciar a Guerra Franco-Prussiana ele chegou a manipular um telegrama para o imperador francês Napoleão III. No mesmo conflito, o governante francês acabou prisioneiro, os prussianos cercaram Paris e venceram a guerra. Com o ressarcimento recebido, consolidaram o Império Alemão.

Veja mais sobre a unificação alemã nesta videoaula:

Para saber mais sobre o processo de unificação da Alemanha, confira a aula do professor Felipe:

Impactos no Brasil

A história da unificação italiana e alemã está diretamente ligada com a história do trabalho no Brasil. Ao longo do século XIX, o Brasil se manteve como uma nação escravagista, optando por um processo de abolição gradual. Desde a vinda da família real para cá, haviam sido assinados tratados que prometiam o fim do transporte de escravizados da África para o Brasil (1808), que só iria ser efetivamente cumprido com a Lei Eusébio de Queiróz (1850). Em seguida vieram a Lei do Ventre Livre (1871) e Lei do Sexagenário (1885), até a abolição com a Lei Áurea (1888).

O Império brasileiro tinha sua base de sustentação no latifúndio, que cresceu com base na mão de obra escravizada. Contudo, já havia a percepção de que ela tinha prazo de validade, já que muitos americanos haviam abolido o regime de trabalho, pelo menos legalmente. Por isso a opção gradual parecia mais atrativa ao Império.

Imigração europeia

O projeto de nação brasileiro, influenciado pela onda positivista, almejava equiparar-se a Europa, uma nação branca que “servia de modelo” para o resto do mundo ocidental. Para isso, incentivou-se muito a imigração de europeus, que eram atraídos com promessas de terras e sucesso econômico.

Com as revoluções europeias do século XIX, incluindo as guerras de unificação italiana e alemã, houve um aumento significativo de imigração para diversas partes do Brasil. Sobretudo no sudeste e no sul – mas não exclusivamente nestas regiões –, “italianos” e “alemães” se instalaram em cidades e zonas rurais. O fato é que não se tratavam de italianos e alemães (por isso a menção em aspas), mas de europeus vindo de regiões até então unificadas, como a Sicília, Calábria, Nápoles, etc.

Por isso que no presente as famílias que preservam o idioma de origem dos seus antepassados têm dificuldade de se comunicar com os italianos e alemães atuais. Isso acontece porque após as unificações foram reformuladas as identidades daquelas nações, o que foi feito através da unificação do idioma, o que acabou criando, praticamente, uma nova língua.

Saiba mais sobre a imigração europeia com a videoaula do professor Felipe:

Exercícios sobre a unificação italiana e alemã

Sobre o(a) autor(a):

Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.

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Qual é a relação entre a unificação italiana e alemã?

As unificações italiana e alemã alteraram profundamente o quadro político da Europa no século XIX, rearticulando um equilíbrio de forças que resultaria na I Guerra Mundial (1914 - 1918). Na base desses processos estavam os movimentos liberais, acentuadamente nacionalistas nestes países.

Como relacionar as unificações da Alemanha e da Itália com a Primeira Guerra Mundial?

A unificação da Alemanha e da Itália fragilizou o equilíbrio da Europa e inaugurou uma nova fase de concorrência econômica e interestatal que conduziria o continente à I Guerra Mundial. Com a maior parte de seu território ocupada por Israel, a Palestina tenta estabelecer um Estado soberano.

Quais as semelhanças entre o processo de unificação da Itália e da Alemanha?

Podemos apontar como semelhanças entre os processos de unificação da Alemanha e da Itália o fato de terem sido processos tardios, de terem ocorrido sob a liderança de uma das partes do país (no caso da Alemanha, a Prússia, e no caso da Itália o Piemonte-Sardenha) e de terem envolvidos conflitos militares internacionais ...

Qual a relação existente entre o nacionalismo e os processos de unificação italiana e alemã?

O nacionalismo estava muito em voga na centúria de 1800, inscrito num espírito romântico que tendia a mitificar as origens medievas das nações europeias. É neste contexto que se dá a unificação da Itália, em 1870, e da Alemanha, em 1871.