Amar o teu próximo como eu vos amei

Espiritualidade / Mov. Focolare

ESTAMOS no momento da Última Ceia. Jesus, à mesa com seus discípulos, acaba de lavar-lhes os pés. Poucas horas depois Ele seria preso, condenado à morte, crucificado. Quando o tempo é curto e a meta se aproxima, dizem-se as coisas mais importantes: deixa-se o “testamento”.

Ao narrar esse episódio, o Evangelho de João não traz o relato da instituição da Eucaristia. Em seu lugar relata o lava-pés. E é nesse enfoque que o Mandamento Novo deve ser compreendido. Jesus primeiro faz e depois ensina, e por essa razão sua palavra tem autoridade.

O mandamento de amar o próximo já constava no Antigo Testamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Mas Jesus destaca nele um aspecto novo, a reciprocidade: é o amor mútuo que cria e identifica a comunidade dos discípulos.

O amor mútuo tem sua raiz na própria vida divina, na dinâmica trinitária, que o homem é capaz de compartilhar graças ao Filho. Chiara Lubich exemplifica isso, oferecendo uma imagem que pode nos iluminar: Jesus, quando veio à terra, não veio do nada, como cada um de nós, mas veio do Céu. E assim como um migrante, quando vai para um país longínquo, se adapta ao novo ambiente, mas também leva os próprios usos e costumes e frequentemente continua a falar a sua língua, Jesus também adaptou-se aqui na terra à vida de todo homem, mas trouxe – por ser Deus – o modo de viver do Céu, da Trindade, que é amor, amor mútuo.1

“Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros.”

Aqui entramos no coração da mensagem de Jesus, que nos reconduz à vitalidade das primeiras comunidades cristãs e que ainda hoje pode ser o sinal que distingue todos os nossos grupos, as nossas associações. Em um ambiente onde a reciprocidade é uma realidade viva, experimentamos o significado de nossa existência, encontramos a força para seguir adiante nos momentos de dor e de sofrimento, recebemos sustento nas inevitáveis dificuldades, saboreamos a alegria. 

São muitos os desafios que enfrentamos todos os dias: a pandemia, a polarização, a pobreza, os conflitos: imaginemos, por um momento, o que aconteceria se conseguíssemos colocar em prática essa Palavra de Vida no nosso dia a dia: diante de nós encontraríamos novas perspectivas, aos nossos olhos se abriria o genuíno projeto da humanidade, motivo de esperança. Mas, afinal, quem nos impede de despertar essa Vida em nós mesmos e de reavivar ao nosso redor relações de fraternidade que possam se estender para cobrir o mundo inteiro?

“Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros.”

Marta é uma jovem voluntária que dá assistência a detentos na preparação para os exames universitários. Ela conta: A primeira vez que entrei na prisão, encontrei pessoas com medos e fragilidades. Tentei estabelecer um relacionamento primeiramente profissional, depois de amizade, baseado no respeito e na escuta. Logo percebi que não era só eu que estava ajudando os presos, mas que também eles me davam todo o apoio. Um dia, enquanto eu ajudava um estudante para um exame, faleceu uma pessoa da minha família e, ao mesmo tempo, o jovem teve sua condenação confirmada pelo tribunal de segunda instância. Estávamos ambos em péssimas condições. Durante as aulas eu percebi que ele remoía um grande sofrimento dentro de si. Mas conseguiu confiá-lo a mim. Carregar juntos o peso dessa dor nos ajudou a seguir em frente. Quando o exame terminou, ele veio me agradecer, dizendo que sem mim não teria chegado ao fim. Enquanto, por um lado, na minha família uma vida cessava, por outro lado eu sentia que estava salvando outra vida. Percebi que a reciprocidade torna possível criar relações verdadeiras, de amizade e de respeito.2 
 

1) LUBICH, Chiara. Maria, transparência de Deus, São Paulo: Cidade Nova, 2003, p. 87. 

2) Cf. //www.unitedworldproject.org/workshop/unesperienza-al-di-la-delle-sbarre-relazioni-di-cura-reciproca/

No Evangelho deste domingo (Mateus 22,34-40), vamos ouvir como um doutor da Lei interrogou Jesus: “Qual é o maior mandamento?” Esta pergunta feita a Jesus, “para o experimentar”, foi ocasião para o Senhor afirmar, a verdadeira hierarquia dos valores à luz de Deus. O Evangelho deste Domingo oferece-nos o ensino de Jesus sobre o mais importante de todos os mandamentos: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a alma e com todo o teu espírito”. Jesus acrescenta que o segundo mandamento é semelhante: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”

Jesus não veio revogar o Antigo Testamento, veio confirmar e completar o que já estava escrito. Na 1ª Leitura (Êxodo 22,20-26) escutamos as prescrições que se deviam observar no trato com os estrangeiros, com as viúvas, com os órfãos e com aqueles que tinham necessidade de pedir algo emprestado para viver. Este ensinamento do Antigo Testamento permanece atual: não se pode separar o amor a Deus do amor ao próximo, porque o Senhor é um Deus compassivo e cuida de todas as suas criaturas. O amor a Deus concretiza-se no amor ao próximo. Ao ser interrogado sobre qual era o maior mandamento, Jesus acrescenta também qual é o segundo, não fosse caso de pensarmos que, ao pretender amar a Deus, se poderia humilhar o próximo.

Para nós, que somos o povo da Nova Aliança, o amor ao próximo não fica apenas na ordem dada por Deus no livro do Levítico: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Levítico 19,18) Agora, temos um Mandamento Novo: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei!” (João 13,34) Sabemos que Deus nos ama, por isso, também nós devemos amar os nossos irmãos. Santa Terezinha do Menino Jesus, Doutora do Amor, ajuda-nos a compreender esta passagem da Bíblia: “Quando Deus ordenara ao seu povo que amasse o seu próximo como a si mesmo, Jesus ainda não tinha vindo à terra. Sabendo em que grau se ama a própria pessoa, não podia pedir às suas criaturas um amor maior para com o próximo. Mas quando Jesus deu aos Apóstolos um Mandamento Novo, o seu mandamento, não fala já de amar o próximo como a si mesmo, mas de o amar como Ele, Jesus, o amou, como o amará até à consumação dos séculos.”

Santo Agostinho também nos ajuda a compreender melhor o Evangelho de hoje: “Jesus sintetizou a Lei e os Profetas nos dois preceitos da caridade. Devemos amar a Deus e ao próximo. Isto continuamente se há de pensar, meditar, praticar, cumprir. O amor a Deus é o primeiro mandamento na hierarquia da obrigação, mas o amor ao próximo é o primeiro na ordem da ação. Agora ainda não vemos a Deus, mas mereceremos contemplá-lo, se amamos o próximo. Com o amor do próximo purificamos o nosso olhar, para que os nossos olhos possam contemplar a Deus, como afirma São João: “se não amas o teu irmão que vês, como poderás amar a Deus que não vês?”. Portanto, ama o teu próximo e encontrarás dentro de ti a origem do amor.”

Abandonemos os “falsos deuses”, como nos diz São Paulo na 2ª Leitura deste domingo (1º Tessalonicenses 1,5-10), buscando sermos imitadores dele, grande apóstolo do Senhor que amou tanto a Jesus a quem encontrou e que deu sua vida amorosamente pelo bem dos irmãos.

O que Jesus quis dizer com amar uns aos outros?

Jesus quer repetir com os seus, com sua comunidade, o que Deus fez com Ele. Jesus sente que Deus o ama sempre (porque Deus é amor) e uma comunidade não pode ser nada senão se fundamenta no amor sem medida: dando a vida pelos outros. Deus vive porque ama; senão amasse, Deus não existiria.

O que está escrito em Mateus 22 37?

37 E Jesus disse-lhe: aAmarás ao Senhor teu Deus de todo o teu bcoração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. 38 Este é o primeiro e grande mandamento. 39 E o segundo, semelhante a este, é: aAmarás o teu próximo como a ti mesmo.

O que está escrito em João 13 34?

Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”. Bíblia Sagrada, tradução da CNBB, 2ª ed., 2002.

O que está escrito em João 15 12?

12 O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos aamei. 13 Ninguém tem maior amor do que este: de adar alguém a sua vida pelos seus amigos. 14 Vós sereis meus aamigos, se fizerdes o que eu vos mando.

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